Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Retrô 2010: Os 20 discos brasileiros que se destacaram ao longo do ano

Em ano em que a produção fonográfica brasileira resultou bem mais interessante do que a internacional, Notas Musicais lista 20 discos nacionais que se destacaram ao longo do ano. É relação de destaques, e não de melhores. Eis a seleção do blog, exposta em ordem alfabética:

* Água - Paula Morelenbaum & João Donato
- A cantora dá mergulho contemporâneo no cancioneiro do compositor, com o aval de Donato
* Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias - Vanessa da Mata
- A artista acerta o ponto entre o romantismo e o regionalismo pop sob a produção de Kassin
* Capoeira de Besouro - Paulo César Pinheiro
- Ao celebrar um mestre da capoeira, o compositor cria música a partir do toque do berimbau
* Diminuto - Carlinhos Brown
- O tribalista surpreende neste disco melódico e calmo que trouxe até a voz de Chico Buarque
* Efêmera - Tulipa Ruiz
- Mesmo perdendo pique na segunda metade, o CD revelou uma cantora muito interessante
* Eu Menti pra Você - Karina Buhr
- A ex-Comadre Fulozinha destila fina ironia em ótimo álbum solo de tom pop contemporâneo
* Extravaganza - Silvia Machete
- A cantora e compositora lapida joias pós-tropicalistas em sedutor clima de latinidade tropical
* Fé na Festa - Gilberto Gil
- Com olhar moderno, o compositor retrata as festas de junho em excelente repertório inédito
* Feito pra Acabar - Marcelo Jeneci
- Sem medo de ser feliz e pop, o compositor se aventura como cantor em disco bem redondo
* Flor de Fogo - Chico Pinheiro
- Incensado nos Estados Unidos, o violonista transita com criatividade entre o jazz e a MPB
* Lero-Lero - Luísa Maita
- A cantora e compositora foca personagens da periferia paulistana com sua música urbana
* Melhor Assim - Teresa Cristina
- A tristeza do samba da compositora balança com leveza em primorosa gravação ao vivo
* Música de Brinquedo - Pato Fu
- O grupo soa extremamente feliz ao tocar músicas alheias com instrumentos de brinquedo
* Nas Escritas da Vida - Ivone Lara e Bruno Castro
- A compositora reafirmou a majestade de seu samba ao registrar as parcerias com Castro
* Nossa Alma Canta - Os Cariocas
- Em seu melhor disco desde a década de 60, o conjunto vocal reencontra sua alma carioca
* Orkestra Rumpilezz - Orkestra Rumpilezz
- O maestro Letieres Leite sopra novidade com seu imponente jazz de sotaque afro-baiano
* Papo de Passarim - Renato Braz e Zé Renato
- Os dois afinados canários levam belo papo sonoro que irmana os vários sotaques do Brasil
* Passageiro - Rodrigo Maranhão
- O compositor confirma sua inspiração autoral em disco perfeito que refina obra já perene
* Quando o Canto É Reza - Roberta Sá e Trio Madeira Brasil
- A cantora une sua voz às cordas do trio para tirar o cancioneiro de Roque Ferreira da roda
* Só Danço Samba - Emílio Santiago
- O cantor dá baile no óbvio ao homenagear o som suingante de Ed Lincoln em CD refinado

Fechamento da Modern Sound marca o fim de ciclo na indústria do disco

O fechamento da Modern Sound - a mais tradicional loja de discos do Rio de Janeiro (RJ) - nesta sexta-feira, 31 de dezembro de 2010, simboliza o fim de um ciclo na indústria do disco. Por mais que tenha sua morte anunciada em crônicas escritas quase diariamente, o CD ainda vai sobreviver por mais alguns anos. E, provavelmente, nunca vai desaparecer por completo - assim como o vinil, seu antecessor, hoje reavivado e transformado até em objeto de luxo. Contudo, os novos modelos de comércio (legal e ilegal) de disco impostos pela internet tornam difícil a sobrevivência de uma loja como a Modern Sound. Essencial na era pré-virtual, a loja aberta no meio de Copacabana em 1966 era o endereço certeiro para quem procurava discos importados, álbuns de música brasileira ignorados pelas multinacionais do disco e títulos raros. Era uma loja cara e não costumava mimar seus clientes com descontos. Não compensava comprar na Modern Sound um lançamento que poderia ser encontrado, por preço mais acessível, numa rede de magazines. Mas lá tinha tudo. Tinha o disco que não se encontrava em outra loja. Sobretudo se esse disco fosse de jazz ou de world music. Com vendedores especializados em cada setor, a Modern Sound foi o porto mais seguro onde ancoravam colecionadores de discos de toda parte do Brasil, ávidos por comprar ali o disco que ninguém mais vendia no Brasil. Só que esse tudo que tinha ali hoje está na internet, de forma legal ou ilegal. Por isso, a Modern Sound fecha suas portas. A loja já não é mais essencial. Mas deixa saudades. Sobretudo a saudade de uma era em que o disco não era um objeto tão banalizado. Mesmo que a loja reabra em local menor, como é a intenção de seu fundador Pedro Passos, nada mais será como antes. A Modern Sound sai de cena deixando na memória a lembrança gostosa de ter sido importante nos dias gloriosos da indústria do disco. Que descanse em paz!!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Retrô 2010: Paul e Beyoncé na intensa agenda de shows internacionais

Com o dólar em baixa, 2010 acabou sendo ano marcado por alta rotatividade de atrações internacionais em palcos brasileiros. Com o Brasil definitivamente incluído na rota das turnês mundiais, a agenda de shows estrangeiros foi intensa ao longo do ano. Paul McCartney - visto em foto de Marcos Hermes na primeira de suas duas apresentações em São Paulo - foi uma das atrações de 2010, tendo voltado ao país em novembro após 17 anos de ausência. Até pela sua importância, o Beatle foi destaque em agenda turbinada com apresentações de - por ordem de aparição - Eagle-Eye Cherry, Akon, Metallica, Craberries, Alpha Blondy, The Wailers, Beyoncé, Bat for Lashes, Coldplay, Guns N' Roses, A-Ha, Dream Theater, Franz Ferdinand, Nelly Furtado, Placebo, Simply Red, Korn, Moby, Megadeth, Johnny Rivers, Chuck Berry, Chris Brown, ZZ Top, John Pizzarelli, Aerosmith, Demi Lovato, Gloria Gaynor, Billy Paul, 50 Cent, Jorge Drexler, Ne-Yo, Simple Minds, Mariah Carey, Lionel Richie, Erykah Badu, Lauryn Hill, Stacey Kent, Scorpions, Diana Krall, Peter Frampton, Fito Paez, Pablo Milanés, America, Chicago, Bon Jovi, Gotan Project, Rush, Dave Matthes Band, Rage Against the Machine, Joss Stone, Kings of Leon, Queens of the Stone Age, Pixies, Linkin Park, Echo & the Bunnymen, Green Day, Air, Black Eyed Peas, Alejandro Sanz, Corinne Bailey Rae, Eminem, Jonas Brothers, Belle and Sebastian, Norah Jones, Massive Attack, Mika, Phoenix, Pavement, Smashing Pumpkins, Lou Reed, Scissor Sisters, Jeff Beck, Twisted Sister e Stone Temple Pilots, entre vários outros nomes. E a agenda de 2011, aberta em janeiro por Amy Winehouse, já promete.

DVD exibe 34 vídeos de 17 hits do Bon Jovi entre clipes e takes de show

Na sequência da edição em CD da terceira coletânea do Bon Jovi, Greatest Hits, a gravadora Universal Music põe nas lojas do Brasil o homônimo DVD correspondente. Bon Jovi Greatest Hits - The Ultimate Video Collection exibe 34 vídeos do grupo entre clipes e números captados em shows. A inédita What Do You Got? já integra a seleção. Eis as 34 faixas do DVD:

Clipes
1. Livin’ on a Prayer
2. You Give me Love
3. In These Arms

4. Bad Medicine
5. Born to Be my Baby

6. I’ll Be There for You
7. Lay Your Hands on me

8. It’s my Life
9. Always (versão curta)

10. Wanted Dead or Alive
11. Bed of Roses / No Dunes

12. Who Says You Can’t Go Home
13. Have a Nice Day

14. We Weren’t To Follow
15. What Do You Got?

16. Keep the Faith
17. Blaze of Glory (versão sem armas)


Números de shows
1. Livin’ on a Prayer – Live at Madison Square Garden / 2008
2. You Give Love a Bad Name – Live from London / 1995
3. In These Arms – Live at Madison Square Garden / 2008

4. Bad Medicine - Live from Lodon / 1995
5. Born to Be my Baby – Borgata Hotel Casino / 2003

6. I’ll Be There for You – Crush Tour Live 2000
7. Lay Your Hands on me – Live at Borgata Hotel Casino / 2003

8. It’s my Life – Live at Madison Square Garden / 2008
9. Always – Live At Madison Square Garden  / 2008

10. Wanted Dead or Alive – Lost Highway: The Concert (Stripped) / 2007
11. Bed of Roses / No Dunes – Live At Borgata Hotel Casino / 2003

12. Who Says You Can’t Go Home – Lost Highway: The Concert (Stripped) / 2007
13. Have a Nice Day – Live at Madison Square Garden / 2008

14. We Weren’t to Follow – Live London O2 – Rooftop / 2010
15. What Do You Got? – Live in Peru / 2010

16. Keep the Faith – Live from London /1995
17. Blaze of Glory – Live at Madison Square Garden / 2008

EP de Usher, 'Versus' vira álbum ao incorporar singles na edição mundial

Primeiro EP de Usher, lançado com nove faixas em agosto de 2010 nos Estados Unidos, Versus virou álbum na edição internacional, recém-lançada no Brasil pela gravadora Sony Music. É que às nove faixas originais do EP - promovido nos EUA pelos singles DJ Got us Fallin' in Love (com Pitbull) e Hot Tottie (faixa na qual figura Jay-Z) - foram incorporados nessa farta edição internacional o dueto de Usher com Enrique Iglesias em Dirty Dancer e os singles do último álbum de estúdio do cantor norte-americano de r & b, Raymond v. Raymond, lançado em março de 2010. Com o substancial bônus, a edição internacional de Versus totaliza 15 faixas.

Alexandre Pires canta Tim Maia no registro ao vivo do show 'Mais Além'

Oito meses após lançar seu álbum de estúdio Mais Além, posto nas lojas pela EMI Music em abril de 2010, Alexandre Pires apresenta o registro ao vivo do show baseado no disco. Editado nos formatos de CD e DVD, Mais Além ao Vivo combina músicas do disco de estúdio com sucessos do grupo Só pra Contrariar em roteiro que culmina com medley que agrega hits de Tim Maia (1942 - 1998) como Gostava Tanto de Você (1973), Sossego (1978), Do Leme ao Pontal (1981) e O Descobridor dos Sete Mares (1983). A gravação ao vivo foi feita em duas apresentações do show no Citibank Hall, no Rio de Janeiro (RJ), em 30 e 31 de julho de 2010.

Chega ao Brasil via Lab 344 álbum em que Interpol volta ao seu começo

Atualmente reduzido a um trio formado por Paul Banks (voz e guitarra), Greg Drudy (bateria) e Daniel Kessler (guitarra), o grupo norte-americano Interpol tem editado no Brasil, pelo selo Lab 344, seu quarto álbum. Intitulado Interpol e lançado nos Estados Unidos em setembro de 2010, o disco traz a banda de volta ao começo. Não somente por evocar a sonoridade densa e sombria dos dois primeiros álbuns do grupo, Turn on the Bright Lights (2002) e Antics (2004), mas também por marcar o retorno do Interpol à cena indie após breve passagem pela EMI Music, a gravadora multinacional por onde a banda lançou em 2007 seu terceiro álbum, Our Love to AdmireInterpol, o disco, foi feito pela Matador Records, a gravadora indie que editou os dois primeiros álbuns do grupo. Lights e Barricade se destacam entre as dez faixas. Vale lembrar que o Interpol completa dez anos de carreira fonográfica neste mês de dezembro, já que o seu primeiro disco - o EP Fukd ID #3 - foi lançado em dezembro de 2000.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Retrô 2010: 'Happy Rock' cresce e se alastra entre adolescentes via web

A rigor, a onda do Happy Rock começou em 2009. Mas foi em 2010 que a febre dos grupos de visual colorido e pop rock monocromático pegou as tribos de adolescentes, alastrada pelas redes sociais da internet. O grupo paulista Restart encabeçou a onda, batizada a partir de sua música Happy Rock Sunday. Tanto que, ao longo do ano, lançou CD com karaokê, DVD e álbum de figurinhas. A Banda Cine, que apareceu na mídia antes do Restart, foi outro nome da onda.

Cai na rede faixa em que Dr. Dre critica rap com Eminem, 50 Cent e Jay-Z

Caiu na rede faixa gravada pelo rapper e produtor Dr. Dre com Eminem, Jay-Z, 50 Cent, Ca$his e Status Quo. Intitulada Syllabes, a música critica a queda na qualidade nos versos dos raps e supostamente faz parte de Detox, o álbum que Dre vem preparando (e adiando) desde 2004. Se não for mais uma vez adiado, Detox tem lançamento previsto para fevereiro de 2011. O CD conta com colaborações de nomes como Akon, Snoop Dogg, La Roux e The Game.

'The Fame Monster' faz de Gaga a campeã de vendas de discos em 2010

O disco mais vendido de 2010 foi lançado em novembro de 2009. Sequência do primeiro álbum de Lady Gaga, The Fame (2008), o EP The Fame Monster foi o campeão do ano, graças ao estouro de três de suas oito faixas. Bad Romance, Telephone (faixa gravada com Beyoncé) e Alejandro fizeram o disco vender cerca de 5,8 milhões de cópias ao redor do mundo. O vice-campeão foi Recovery, o álbum que reabilitou o rapper norte-americano Eminem no mercado fonográfico dos Estados Unidos. Recovery  fechará o ano com 5,7 milhões de cópias vendidas.

'Alucinação' situa Leonardo entre chororô romântico e animação artificial

Resenha de CD
Título: Alucinação
Artista: Leonardo
Gravadora: Universal Music
Cotação: * *

Embora lacrimejante, a voz de Leonardo é das mais belas do universo sertanejo. Infelizmente, ela tem sido desperdiçada em sucessivos discos de tom populista. Sem alterar esse panorama, o recém-lançado álbum de inéditas Alucinação - 15º título da discografia solo do irmão de Leandro (1961 - 1998) - situa Leonardo entre o chororô sentimental e a animação artificial. Arranjada pelo maestro de Roberto Carlos, Eduardo Lages, a faixa-título - Alucinação, regravação do cancioneiro de Amado Batista e Reginaldo Sodré - até cai bem no universo musical do cantor. Em contrapartida, Zuar e Beber (Marquinhos Maraial e Luizinho Lino) - forró eletrônico típico das bandas fabricadas pela indústria musical do Nordeste - logo desloca o CD para nível mais rasteiro. E o fato é que o álbum resulta decepcionante mesmo se avaliado dentro do padrão popular dos discos do gênero. A viola caipira inserida no arranjo da canção Eu e a Lua (Marcos Paulo, Devair Bianco e Teodoro) evoca um mundo sertanejo e rural que reaparece de forma mais plena na guarânia Camisa Branca (Vicente P. Machado e Paraíso). Contudo, tais faixas não chegam a deslocar o CD de seu eixo habitual. Entre a canção popular romântica (Vai, balada de Simone Saback gravada por Ana Carolina em 2006 em seu álbum duplo Dois Quartos), arrasta-pé apelativo (Linguaruda) e country com toque de forró (Arreia Cerveja, do repertório da banda Calcinha Preta), Leonardo patina na mesmice. Ao fim de Alucinação, o nível até sobe um pouco com Garça Branca do Araguaia (Fátima Leão), outro resquício do mundo sertanejo, mas não a ponto de diluir a impressão ruim deixada pelo disco.

Produzido por Rubin, Groban extrapola a ópera no autoral 'Illuminations'

Resenha de CD
Título: Illuminations
Artista: Josh Groban
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * *

Se um ouvinte começar a escutar o quinto álbum de estúdio do tenor norte-americano Josh Groban pela quarta operística faixa, L'Ora Dell'Addio (Farewell Time), cantada em italiano com a habitual empostação dos tenores, vai supor equivocadamente que Illuminations é um álbum típico da discografia do cantor. Em inusitada associação com o produtor Rick Rubin, nome recorrente na gravação de CDs de rock, Groban se aventura por terreno mais pop. Basta ouvir Higher WindowHidden Away, temas entoados pelo tenor de forma menos empostada. Em qualquer tom, a voz de Groban é sedutora. Inclusive quando o cantor explora regiões vocais mais agudas, como faz ao fim de Galileo (Someone Like You). O problema de Illuminations - disco aberto com tema instrumental, The Wandering Kind (Prelude), composto pelo artista na adolescência - reside na irregularidade de seu repertório majoritariamente autoral. Boa parte das músicas está aquém do canto do tenor. Que se aventura até a cantar em português em Você Existe em mim, faixa sustentada pelo baticum da baiana Banda Didá. A gravação foi produzida por Carlinhos Brown, letrista da música composta por Groban com Lester Mendes. Entre faixa de tonalidade épica (War at Home, belo tema sobre as dores de ex-combatentes de guerra) e cover do repertório roqueiro de Nick Cave (Straight to You), Josh Groban nem sempre parece à vontade em Illuminations, CD em que o tenor vai além do universo da ópera.

Em vez de álbuns, Lobão embala 41 gravações e um DVD na caixa '81-91'

Ao ser contratado pela Sony Music em 2006 para gravar CD e DVD na série Acústico MTV, editados em 2007 com decepcionante resultado comercial, Lobão anunciou que o contrato incluía as reedições de seus álbuns dos anos 80 numa caixa. Quatro anos depois, a caixa 81/91 chega às lojas. Só que, em vez dos álbuns (já reeditados em CD, mas de forma desleixada), Lobão optou por embalar 41 gravações de sua obra fonográfica em três CDs. É a parcela "mais significativa" de tal obra, nas palavras do artista. Além dos  três CDs, a caixa embala o DVD Acústico MTV. Todos os fonogramas - que vão do seminal Cena de Cinema (1982) ao álbum O Inferno É Fogo (1991), o último da passagem do roqueiro pela gravadora RCA / BMG-Ariola - foram remasterizados pelo produtor e engenheiro de som Roy Cicala. Paralelamente à edição da caixa, Lobão disponibiliza na internet duas músicas inéditas - Song for Sampa e Das Tripas, Coração - em ação de marketing conjugada com a edição de sua autobiografia 50 Anos a Mil.
CD 1
1. Cena de Cinema
2. Doce da Vida
3. Me Chama
4. Corações Psicodélicos
5. Tô à Toa, Tokio
6. Decadence avec Elégance
7. Revanche
8. Noite e Dia
9. O Rock Errou
10. Vida Bandida
11. Vida Louca Vida
12. Blá, Blá, Blá... Eu Te Amo (Rádio Blá)
13. Chorando no Campo
14. A Deusa do Amor

CD 2
1. O Eleito
2. Por Tudo que For
3. Cuidado
4. Quem Quer Votar (O Sofisma)
5. Panamericana (Sob o Sol de Parador)
6. Essa Noite, Não (Marcha a Ré em Paqueta)
7. Toda Nossa Vontade
8. Azul e Amarelo
9. O Inferno É Fogo
10. Matou a Familia e Foi ao Cinema
11. Presidente Mauricinho
12. Bangu 1 X Policia 0
13. Tudo Veludo
14. É Tudo Pose

CD 3
1. Amor de Retrovisor
2. Love pras Dez
3. O Homem Baile
4. Robô, Roboa
5. Abalado
6. Bambina
7. Os Tipos que Eu Não Fui
8. Baby Lonest
9. Mal Nenhum
10. Glória (Junkie Bacana)
11. Girassóis da Noite
12. Pobre Deus
13. Esfinge de Estilhaços

Take That evolui em 'Progress', disco que reintegra Robbie à ex-boyband

Resenha de CD
Título: Progress
Artista: Take That
Gravadora: Polydor / Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Campeão de vendas no Reino Unido, onde ultrapassou o milhão de cópias vendidas menos de um mês após sua chegada às lojas, o sexto álbum de estúdio do Take That, Progress, reintegra o desertor Robbie Williams ao grupo. Bem, se ouvido sem preconceito por se tratar do disco de uma ex-boyband que mobilizou multidões adolescentes nos anos 90, Progress atesta a evolução do Take That. Quase não há baladas no repertório formatado por Stuart Price, o produtor do cultuado Confessions on a Dance Floor  de Madonna. E, mesmo quando há, casos de Eight Letters e da bela Flowerbed (faixa escondida após as 10 músicas oficiais de Progress), elas já nada lembram o som idiotizante de Gary Barlow, Robbie Williams e Cia. quando eles eram garotos manipulados pela indústria da música. Houve progresso nas letras e nas músicas. Parceria de Barlow com Williams, eleita o primeiro single do álbum, The Flood é exemplo de pop perfeito. Mas o que marca Progress, de fato, é a investida do Take That no pop dance. What Do You Want for me? e SOS (provável segundo single) mostram que a associação com Stuart Price fez bem ao grupo. Faixas como Underground Machine fazem bom uso de sintetizadores e recursos eletrônicos. Enfim, o Take That evoluiu. Mas é preciso se distanciar da imagem clássica da boyband para poder avaliar Progress sem um (pré)conceito.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ainda retrô, Duffy combina balada dos 50 e pop mais atual em 'Endlessly'

Resenha de CD
Título: Endlessly
Artista: Duffy
Gravadora: Polydor / Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Cantora e compositora do Pais de Gales, Duffy foi aclamada no Reino Unido em 2008 ao lançar seu primeiro álbum, Rockferry, disco de som retrô voltado para o soul dos anos 60 que lhe rendeu o hit Mercy. Mesmo esbarrando nas inevitáveis comparações com Amy Winehouse, Rockferry deixou claro o talento da artista. Dois anos depois, Duffy apresenta seu segundo álbum, Endlessly, gravado sob produção de Albert Hammond, parceiro da artista em nove das dez inéditas do repertório. Duffy ainda soa retrô, mas, talvez para fugir da sombra de Amy, a jovem galesa evoca outras trilhas do passado. Too Hurt to Dance e a faixa-título, Endlessly, são belas baladas à moda dos anos 50. Ainda no campo das baladas, Breath Away e Don't Forsake  merecem audições atentas. Em contrapartida, as faixas mais dançantes - casos de Keeping my Baby, Lovestruck, Girl e o single Well Well Well (faixa que traz Stuart Price na co-produção) - combinam tons mais contemporâneos com ar retrô que evoca o pop dos anos 60. No todo, por mais que Endlessly tenha seus bons momentos e por mais que tenha livrado Duffy da comparação com Amy, fica a sensação de que Rockferry era (ligeiramente) superior.

Retrô 2010: Janelle Monáe ganha aura hype com disco 'The ArchAndroid'

Janelle Monáe já vinha sendo incensada nos antenados meios musicais desde que debutou no mercado fonográfico, em 2007, com o EP Metropolis- Suite I (The Chase). Mas foi em 2010, com o lançamento de seu conceitual álbum The ArchAndroid - Suites II and III, que a artista norte-americana ganhou aura hype. Precedido pelo single com Tightrope, gravado com BigBoi (padrinho de Monáe) e editado em fevereiro, The ArchAndroid chegou às lojas em maio com azeitado mix de rock, funk, soul e r & b. Recém-editado no Brasil pela Warner Music, o álbum gira em torno da saga de Cindi Mayweather, heroína cibernética encarnada com visual futurista por Monáe. Incensado pela crítica, o CD reúne 18 faixas em repertório que destaca Cold War e 57821. Músicas que os brasileiros poderão ouvir ao vivo, pois, em janeiro de 2011, Monáe vai fazer shows em Florianópolis (SC), Recife (PE), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ).

Lenine já prepara para 2011 o álbum de estúdio que vai suceder 'Labiata'

Lenine vai lançar seu sexto álbum de estúdio em 2011. O artista - em foto de Nana Moraes - já prepara o sucessor de Labiata. A distribuição vai ser feita pela Universal Music, a gravadora que pôs nas lojas neste ano de 2010 a coletânea Trilhas, primeiro título da série Lenine.Doc.

30 Seconds to Mars põe faixa com West e cover de Gaga em 'This Is War'

Lançado em dezembro de 2009, o terceiro álbum de estúdio do grupo norte-americano Thirty Seconds to Mars, This Is War, ganha Deluxe Edition um ano após sua chegada às lojas. A edição é dupla e, além do DVD que exibe cenas de bastidores e clipes das faixas Closer to Edge e The Ride (Kings & Queens), adiciona três faixas-bônus ao CD original. Os bônus são Hurricane - faixa gravada com o rapper Kanye West - e covers de hits de Lady Gaga (Bad Romance) e do próprio West (Stronger), captados no programa Live Lounge, da BBC Radio 1.

Zé Ramalho reabre baú e lança gravações inéditas na 'Caixa de Pandora'

Hábil na exploração de seu acervo fonográfico, Zé Ramalho reabriu seu baú de gravações para apresentar em A Caixa de Pandora fonogramas nunca lançados em disco. Nas lojas nesta última semana de dezembro de 2010 pela gravadora Sony Music, a caixa embala quatro CDs e um DVD. Entre os registros inéditos, há seis músicas de Raul Seixas (1945 - 1989) e Paulo Coelho, gravadas pelo artista paraibano para o CD Zé Ramalho Canta Raul Seixas (2001), mas vetadas e não incluídas no disco por imbróglios referentes a direitos autorais. Gita, As ProfeciasCachorro Urubu, Água Viva, Loteria da Babilônia e A Hora do Trem Passar são as seis músicas. Entre as raridades, há versão em português de música de Lou Reed - Nobody But You, intitulada Ninguém É Você - e a regravação de Amigo (carro-chefe do álbum lançado por Roberto Carlos em 1977) feita em dueto com Fagner. Eis as faixas d'A Caixa de Pandora:
CD 1 – Sucessos Anos 70/80
1. Avôhai
2. Vila do Sossego
3. Chão de Giz
4. A dança das borboletas
5. Admirável Gado Novo
6. Jardim das Acácias
7. Frevo Mulher
8. Galope Razante
9. A Terceira Lamina
10. Ave de Prata
11. Força Verde
12. Eternas Ondas
13. Banquete de Signos
14. Taxi Lunar
  
CD 2  – Sucessos Anos 80/00  
1. Kriptônia
2. O Tolo na Colina (The Fool on the Hill)
3. Mistérios da Meia Noite
4. Zyliana  / O Guarani
5. Mulher Nova, Bonita e carinhosa Faz o Homem Gemer Sem Sentir Dor
6. Cidadão
7. Frevoador (Hurricane)
8. Cidades e Lendas
9. Batendo na Porta do Céu (Knockin' on Heaven's Door)
10. Falido Transatlântico
11. Pra Não Dizer que Não Falei das Flores (Caminhando)
12. O Trem das 7
13. Sinônimos
14. Entre a Serpente e a Estrela (Amarillo by Morning) - Ao Vivo

    
CD 3 – Canta MPB  
1. Gita
2. Amigo
3. Romaria
4. Águas de Março
5. Caçador de mim
6. O Que É o Que É
7. Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)
8. Planeta Água
9. Tempos Modernos
10. Bete Balanço
11. Um Índio (Album Version)
12. Pai e Mãe
13. Para um Amor no Recife
14. Errare Humanun Est
  
CD 4 – Raridades   
1. As Profecias
2. Água Viva
3. Cachorro Urubu
4. A Hora do Trem Passar
5. Loteria da Babilônia
6. Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás
7. Ave Maria da Rua
8. Morceguinho (O Rei da Natureza)
9. Ninguém É Você (Nobody But You)
10. Dona Chica
11. Os Segredos de Sumé
12. Meu Cariri
13. Astro Vagabundo
14. In my Life

     
DVD - Zé Ramalho ao Vivo
1. A Dança das Borboletas
2. Táxi Lunar
3. Último Pau de Arara / Bomba de Estrelas / Banquete de Signos
4. Canção Agalopada
5. Eternas Ondas
6. Avôhai
7. Vila do Sossego
8. Chão de Giz
9. Garoto de Aluguel
10. Admirável Gado Novo
11. Batendo na Porta do Céu (Knockin' on Heaven's Door)
12. Meu Nome É Trupizupe
13. Sinônimos
14. Companheira de Alta-Luz
15. Entre a Serpente e a Estrela (Amarillo by Morning)
16. Frevo Mulher
17. Mistérios da Meia-Noite
18. Medley Gonzagão: Sabiá / Asa Branca

Pagode romântico de Belo ganha a voz de Vercillo no CD 'Pra Ser Amor'

A participação de Jorge Vercillo na faixa Tanta Ira (Prateado e Luiz Cláudio Picolé) é o toque inusitado do 10º CD da carreira solo de Belo, Pra Ser Amor, recém-lançado pela gravadora Sony Music. Produzido por Prateado, fiel escudeiro de Belo, o disco bate na tecla do pagode romântico em temas como Conquista, O Meu Amor É Belo e Tudo Outra Vez. Das 15 músicas, 12 são inéditas. A faixa-título, Pra Ser Amor, tem a participação de Marina Elali. Detalhe: para tentar turbinar as vendas do último CD de Vercillo, D.N.A., a gravadora Sony Music vai relançar o álbum em 2011 em edição que trará como bônus o dueto do cantor com Belo em Tanta Ira.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Série de 'american songbooks' de Rod vai ganhar coletânea em fevereiro

Série que reabilitou Rod Stewart no mercado fonográfico ao longo dos anos 2000, atualmente no quinto volume (recém-lançado no Brasil pela gravadora Som Livre), The Great American Songbook vai ganhar coletânea. Com lançamento programado nos Estados Unidos para 1º de fevereiro de 2011, The Best of... The Great American Songbook reúne 14 regravações feitas pelo cantor na coleção editada pela J. Records, gravadora do produtor Clive Davis. Eis as faixas:

1. Long Ago and Far Away
2. Someone to Watch over me
3. They Can't Take That Away from me
4. Beyond the Sea
5. You'll Never Know
6. Time After Time
7. I Can't Get Started
8. The Way You Look Tonight
9. Bye Bye Blackbird
10. These Foolish Things
11. But Not for me
12. What a Wonderful World - com Stevie Wonder
13. My Foolish Heart
14. I'll Be Seeing You

Retrô 2010: Arcade Fire se agiganta ao retratar a desilusão dos subúrbios

Em ano marcado por poucos discos internacionais dignos de figurar entre os melhores de 2010, o Arcade Fire se agigantou ao radiografar a melancolia e a desilusão dos subúrbios em seu terceiro álbum, The Suburbs, lançado em agosto. O disco elevou o status do septeto canadense e inseriu o Arcade Fire no mainstream. Recorrendo com mais economia ao aparato instrumental que moldou seus dois primeiros álbuns, Funeral (2004) e Neon Bible (2007), o grupo optou por som mais pop e enxuto que realçou as primorosas letras em que a banda disserta sobre o entediado estado de espírito da juventude que vive nos arredores das metrópoles. The Suburbs falou com maestria de jovens atordoados com as cobranças internas e externas para se obter sucesso, fama, dinheiro e modernidade. É um grande disco do ano!!!

Reedições comemorativas de discos do Deep Purple chegam ao Brasil

A EMI Music está pondo nas lojas do Brasil, neste mês de dezembro de 2010, (re)edições comemorativas de discos do Deep Purple. Último álbum gravado com a formação clássica do grupo inglês (David Coverdale, Jon Lord, Ian Paice, Glenn Hughes e Tommy Bolin), Come Taste the Band - lançado originalmente em 1975 - volta ao catálogo em remasterizada edição dupla que festeja os 35 anos do disco. A novidade é um CD-bônus com remixes das faixas de Come Taste the Band - assinados por Kevin Shirley, conceituado produtor e engenheiro de gravação. No disco 1, há a versão de You Keep on Moving ouvida no single da música, nunca editado em CD. Já a coletânea Deepest Purple - The Very Best of Deep Purple, lançada em 1980, ganha edição comemorativa de seus 30 anos. O bônus é o DVD que exibe entrevistas da banda na TV.

Bosco e Badi acalentam a ideia de reunir seus violões e vozes em disco

Presenças recorrentes em festivais estrangeiros, os cantores, compositores e violonistas João Bosco e Badi Assad acalentam a ideia de gravar um disco juntos. Em shows, Badi canta Linha de Passe, o samba de Bosco com Aldir Blanc e Paulo Emílio que deu título ao álbum lançado por Bosco em 1979. Já o projeto do disco de Bosco com Martinho da Vila - previamente intitulado João e José, em alusão ao nome de batismo de Martinho - parece ter ficado somente na ideia.

Conexões com rappers em 'Projeto Paralelo' preservam alma do NX Zero

Resenha de CD
Título: Projeto Paralelo
Artista: NX Zero
Gravadora: Arsenal Music / Universal Music
Cotação: * * 1/2

Basta ouvir a balada Onde Estiver - uma das quatro inéditas lançadas pelo NX Zero em Projeto Paralelo - para perceber que as conexões do grupo com 28 nomes do universo hip hop do Brasil e do exterior neste CD não alteram de fato a alma sonora do quinteto. "Lute para não perder sua essência", aconselha Di Ferrero em verso de outra inédita de maior consistência, Tarde pra Desistir, tema sobre superação aditivado com o discurso positivista de Rincon Sapiência. É certo que, ao regravar sucessos de seus quatro álbuns anteriores na presença de rappers, as músicas ganharam outra pulsação. Mas é como se os raps fossem o confeito do bolo. A massa - a música do grupo - continua a mesma. Com direito a alguns  momentos saborosos. Inimigo Invisível 0.2 - faixa que junta o rapper norte-americano Kurupt e os nativos Marcelo D2, Mi e P.MC - resulta interessante. Em contrapartida, faixas como Entre Nós Dois 2.0 - turbinada com o discurso do norte-americano Smoke - soam artificiais e parecem seguir uma fórmula. Das inéditas, a veloz Corra - que agrega o norte-americano C-Rock, o carioca Gabriel O Pensador e o grupo Strong Arm Steady - é que tem maior peso. O time de convidados impressiona, indo de Chorão (Cedo ou Tarde 0.2) a Negra Li e Rappin' Hood (O Destino 0.2), passando pelo bombado Emicida (que se junta à californiana hardcore Yo Yo em Só Rezo 0.2). Entretanto, no todo, Projeto Paralelo - disco produzido por Rick Bonadio sob a direção artística de Paul Ralphes - desvia momentaneamente o NX Zero de seu trilho habitual sem alterar a essência da alma do grupo. A sensação que fica é a de que, em seu sexto álbum, o quinteto vai pegar o caminho de volta para casa como se não tivesse feito Projeto Paralelo.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Vinis de 180 gramas reavivam discos da época em que Titãs tinham peso

Chega a ser (tristemente) irônico que os três melhores discos dos Titãs - Cabeça Dinossauro (1986), Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987) e Õ Blésq Blom (1989) - estejam sendo relançados em vinis de 180 gramas pela Polysom, dentro da série Clássicos em Vinil, sem que nunca tenham ganhado reedições decentes em CD. Seja como for, os três álbuns resistem bem ao tempo e são títulos essenciais do rock brasileiro dos anos 80. Cabeça Dinossauro foi o álbum que deu cara aos Titãs, então um grupo sem peso e sem identidade na cena roqueira que dominava o mainstream na época. Com sua fúria punk, o disco atacou instituições sagradas - Igreja, Polícia e Família eram os títulos de três das 13 faixas - em repertório que renderia clássicos como Bichos Escrotos, Homem Primata, O Quê e AA UU. Na sequência, Jesus Não Dentes no País dos Banguelas roçou a genialidade de seu antecessor, destancando temas como Desordem, Lugar Nenhum e Comida. Sem abrir mão da furiosa pegada roqueira de Cabeça Dinossauro, Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas já começou a flertar com a eletrônica em união que atingiria seu auge no posterior Õ Blésq Blom, o título mais bem produzido da discografia dos Titãs. Embora tenha lançado petardos como Miséria e O Pulso, o repertório de Õ Blésq Blom - que destacou também Flores - já não se mostrava tão coeso. Contudo, a produção capitaneada por Liminha (piloto também de Cabeça e Jesus) amarrou bem os temas. Com seu som potente, as reedições em vinil de 180 gramas reavivam três grandes discos da época em os Titãs tinham peso. Em todos os sentidos.

Retrô 2010: Brown cresce em 'Diminuto' e na turnê 'Romântico Ambiente'

Em outubro, Carlinhos Brown lançou dois simultâneos discos de inéditas, sob o patrocínio do projeto Natura Musical. Adobró, eletrônico e carnavalizante, deu tom globalizado ao baticum miscigenado do artista baiano sem impactar quem já conhece sua obra. Já Diminuto, orgânico e calmo, surpreendeu a ponto de redimensionar o lugar de Brown na música brasileira. Disco melódico,  Diminuto apresentou majestosa safra de dez inéditas autorais, com destaque para a abolerada Mãos Denhas - faixa na qual o ilustre sogro de Brown, Chico Buarque, declama texto do genro, Suor Caseiro - e para a poética toada Vi, Voou, parceria do tribalista com Arnaldo Antunes. Joia de Diminuto, a canção Romântico Ambiente deu título à turnê nacional que Brown estreou ainda em outubro, reunindo com habilidade no show sons tribais e de gala.

Retrô 2010: Machete evolui no CD e show 'Extravaganza' sem armar circo

Lançado em agosto pela gravadora carioca Coqueiro Verde, o segundo álbum de estúdio de Silvia Machete, Extravaganza, sai de 2010 como um dos melhores discos do ano. Feito sob a direção antenada de Fabiano Krieger, autor da faixa Tropical Extravaganza, o primoroso CD mostrou que a boa cantora carioca tem voz, repertório e inteligência para brilhar fora do picadeiro. Machete cresceu e apareceu como cantora ao entoar joias pós-tropicalistas como Sábado e Domingo (Domenico Lancellotti e Alberto Continentino) e Manjar de Reis (Jorge Mautner e Nelson Jacobina). Como compositora, Machete também mostrou evolução ao assinar temas como O Baixo - com letra de bela sensualidade - e ao inaugurar parcerias com Erasmo Carlos (em Feminino Frágil) e Hyldon (em Coração Valente). Em fina sintonia com o disco, o show Extravaganza - estreado em São Paulo (SP) no mesmo mês de agosto - também pôs em primeiro plano a musicalidade e a voz afinada da cantora sem precisar armar o circo erguido no performático show de 2006 que projetou Machete na cena indie carioca. Notável evolução!

História de Victor & Leo é documentada em DVD que inclui CD da dupla

Dois meses depois de pôr nas lojas o quarto álbum de estúdio de Victor & Leo, Boa Sorte pra Você, a gravadora Sony Music lança neste mês de dezembro de 2010 o DVD Victor & Leo - A História. Trata-se de um DVD de caráter documental que reconstitui a trajetória musical da dupla mineira - formada em 1992 na cidade interiorana de Abre Campo (MG) - entre raras imagens de arquivo, depoimentos (de nomes como Alcione, Renato Teixeira e Chitãozinho & Xororó) e entrevistas com os irmãos. De bônus, o DVD traz o (ótimo) CD Boa Sorte pra Você.

Sentado, Roberto recicla emoções em show com samba e 'Copacabana'

Resenha de show - Gravação ao vivo de especial de TV
Título: Um Natal de Paz
Artista: Roberto Carlos (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Praia de Copacabana (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 25 de dezembro de 2010
Cotação: * * *

Embevecido diante da beleza da orla de Copacabana, "a praia mais linda do mundo", como sentenciou em cena mais de uma vez, Roberto Carlos decidiu experimentar outras emoções e cantou Copacabana, belo samba-canção de 1946 em que Braguinha e Alberto Ribeiro exaltam a Princesinha do Mar. Foi um momento lindo, mas breve, do show feito pelo Rei na praia de Copacabana na noite de Natal, 25 de dezembro de 2010, para público estimado em 400 mil pessoas. Sentado durante quase todo o show, por conta de problema no ligamento do joelho, o cantor reciclou velhas emoções em roteiro que enfileirou temas recorrentes em seus shows. Diantes das câmeras da TV Globo, que captavam o espetáculo que seria exibido ao vivo (a rigor, com meia hora de atraso) pela emissora na noite de sábado, um bem-humorado Roberto reviveu clássicos como Emoções, Além do Horizonte (soul que seria repetido em ritmo de samba durante a participação do grupo de pagode Exaltasamba), Amor Perfeito, Detalhes (ao violão, arranhado pelo próprio Rei), Cama e Mesa, Lady Laura (momento especialmente pungente por conta da morte recente da mãe do cantor), Proposta, O Concavo e o Convexo e Eu te Amo, te Amo, te Amo. Enfim, as velhas emoções de sempre, recicladas por um canto afinado, de emissão clara, que desafia os 69 anos do artista. Contudo, houve sutis novidades por conta da presença dos convidados. Com Paula Fernandes, revelação da música sertaneja exaltada por Roberto pelo estilo classificado como "único" pelo anfitrião ("Ninguém nunca vai confundir a Paula com outra cantora"), Roberto ensaiou jogo de sedução em pot-pourri que agregou Eu te Adoro meu Amor (na voz grave dela), Eu Sou Terrível (na voz dele), Eu te Darei o Céu (na dela), Na Paz do seu Sorriso (na dele) e Ciúme de Você (na dela) antes de culminar com um harmonioso dueto em Nossa Canção. Paula aproveitou a chance de projeção nacional, marcando bela presença, inclusive ao cantar sozinha Tocando em Frente, a toada de Almir Sater e Renato Teixeira que ela regravou para a trilha sonora da novela Araguaia. Em praia sertaneja mais poluída, o anfitrião receberia momentos mais tarde Bruno & Marrone, com quem formou trio para cantar Dormi na Praça antes de a dupla, sozinha, fazer dispensável abordagem de Desabafo. Ainda dentro dessa linha  populista, destoante da classe do anfitrião, o grupo Exaltasamba entrou em cena, devidamente anunciado pela base de samba que sustentou a parte final de Todos Estão Surdos. Na presença do grupo, que cantou seu pagode rasteiro, Roberto reavivou Nêga - bom, esquecido e bissexto samba de seu repertório - em número que culminou com o samba-enredo composto por Erasmo Carlos, Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle para o Carnaval 2011 da Beija-Flor. O trio perdeu para o (fraco) samba-enredo defendido por Neguinho da Beija-Flor - Roberto Carlos, A Simplicidade de um Rei - antes do bloco religioso que encerrou o show. Antes do fim já previsível com Jesus Cristo, Roberto surpreendeu e cantou Noite Feliz com o coral infantil da Escola de Música da Rocinha. No todo, apesar do pouco rigor na escolha dos convidados, foi mesmo uma noite feliz. Afinal, por seu histórico, Roberto Carlos é o artista ideal para fazer a trilha sonora de Natal de paz. 

sábado, 25 de dezembro de 2010

Retrô 2010: Roberta Sá e Trio Madeira Brasil tiram Roque Ferreira da roda

Com o (irretocável) disco em que aborda a obra do compositor baiano Roque Ferreira na companhia instrumental do Trio Madeira Brasil, Quando o Canto É Reza - Canções de Roque Ferreira, Roberta Sá colheu elogios da crítica e entronizou definitivamente seu nome no pequeno altar reservado aos poucos artistas que, driblando a anemia do mercado fonográfico, conseguiram construir carreira (e público) ao longo dos anos 2000. Lançado em agosto de 2010, o terceiro álbum de estúdio da cantora resultou fiel à ousada sonoridade mostrada pela intérprete e o trio na temporada de shows estreada em janeiro no Centro Cultural Carioca, no Rio de Janeiro (RJ), para burilar o repertório e os arranjos do álbum produzido por Pedro Luís. Sem rezar pela cartilha ortodoxa do compositor, Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil tiraram a obra de Roque Ferreira de sua roda habitual, fazendo o autor de temas como o ijexá Água Doce e o samba de roda Chita Fina alfinetar publicamente o disco em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Sem se abalar com a avaliação de Roque, Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil estrearam, no segundo semestre, a turnê nacional de Quando o Canto É Reza.

Presente de Natal do Gorillaz, álbum 'The Fall' é escala em viagem densa

Resenha de CD
Título: The Fall
Artista: Gorillaz
Gravadora: nenhuma
Cotação: * * *

Disponível para audição no site oficial do Gorillaz a partir deste sábado de Natal, 25 de dezembro de 2010, The Fall - quarto álbum de estúdio do grupo virtual criado por Damon Albarn em 1998 - é oscilante viagem da banda. Literalmente, aliás. As 15 músicas do disco foram gravadas em iPad ao longo da turnê feita pelo Gorillaz por Canadá e Estados Unidos entre 3 de outubro e 2 de novembro de 2010. Para o Gorillaz, as músicas formam espécie de diário dessa viagem pela América do Norte. Conceitos à parte, The Fall é álbum de difícil digestão, tendendo ao experimentalismo nem sempre feito com rigor. Entre o eletrônico tema instrumental que abre o disco (Phoner to Arizona), os vocais robóticos de The Joplin Spider, os efeitos de chuva que introduzem Aspen Forest (outro tema instrumental) e os fragmentos de programas de rádio que pontuam The Parish of Space Dust (embrião de boa composição que parece não ter se desenvolvido), a semiacústica Revolving Doors se impõe como uma das canções mais bonitas da safra irregular de The Fall. Adornada pelo som delicado do que parece ser um ukelele, a faixa tem o vocal mais limpo de um disco que flerta com sons futuristas, ruídos e experimentações. Revolving Doors, Amarillo - canção cuja beleza não se deixa encobrir pelas densas camadas sonoras que sustentam os temas - e  HillBilly Man (na parte acústica que precede a virada eletrônica) são as canções que mais roçam o formato pop radiofônico. Produzido pelo Gorillaz em parceria com Stephen Sedgwick, The Fall conta também com a voz soul do cantor e compositor norte-americano Bobby Womack. Solista convidado da faixa Bobby in Phoenix, outro destaque do repertório, Womack já tinha colaborado no álbum anterior do Gorillaz, Plastic Beach (2010). E, em última análise, sua presença em The Fall é coerente, já que este quarto álbum do Gorillaz parece ser mera escala da viagem iniciada em Plastic Beach, disco em que o grupo adensou seus sons e ideias.

Mariah Carey alegra festa natalina com batida de 'Merry Christmas II You'

Resenha de CD
Título: Merry Christmas II You
Artista: Mariah Carey
Gravadora: Island Def Jam Music / Universal Music
Cotação: * * *

Em 1994, quando vivia momento áureo em sua carreira fonográfica, Mariah Carey gravou songbook natalino, Merry Christmas, que vendeu alardeadas 12 milhões de cópias no embalo do sucesso da faixa All I Want for Christmas Is You. Não por acaso, tal música reaparece, em batida mais contemporânea, em Merry Christmas II You, sequência do álbum de 1994, idealizada estrategicamente em momento delicado da trajetória da artista no mundo do disco (seu CD de remixes, Angels Advocate, foi abortado pela gravadora Island Def Jam no início deste ano de 2010). Sem ignorar clássicos natalinos como The First Noel (entoado de forma terna pela cantora) e O Holy Night (em registro ao vivo captado em Los Angeles, em 2000), Merry Christmas II You apresenta quatro inéditas da lavra autoral de Carey, trazendo alegria para a festa do Natal com faixas dançantes como Oh Santa! - a melhor das novidades do repertório. Música assinada por Carey com Jermanie Dupri (integrante do time de produtores formado por Randy Jackson, James Poyser e Marc Shaiman) e Bryan-Michael Cox, Oh Santa! contagia mais do que inéditas apenas medianas como When the Christmas Comes. Contudo, a festa volta a ficar animada em Here Comes Santa Claus (Right Down Santa Claus Lane) / Housetop Celebration. Sem renegar as tradições do cancioneiro natalino, como o coro que adorna O Come All Ye Faithful / Hallelujah Chorus (medley turbinado com o canto operístico de Patricia Carey, mãe de Mariah), o time de produtores deu tom mais contemporâneo aos temas de Merry Christmas II You. E isso faz real diferença na festa natalina de Mariah Carey.

Estilosa, Lennox festeja o Natal sem pompa em 'A Christmas Cornucopia'

Resenha de CD
Título:  A Christmas Cornucopia
Artista: Annie Lennox
Gravadora: Island / Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Talvez ninguém tenha imaginado um álbum de Natal gravado por Annie Lennox. Contudo, a cantora projetada na dupla inglesa Eurythmics surpreendeu os fãs ao anunciar em 2010 que seu sexto disco solo, A Christmas Cornucopia, seria dedicado ao cancioneiro natalino tradicional, com direito a uma inédita da lavra da própria Lennox, a fraterna Universal Child. A rigor, A Christmas Cornucopia não foge do habitual formato dos songbooks natalinos. A produção e os arranjos - assinados por Lennox com Mike Stevens - se utilizam de uma orquestra (regida por Rod Dunk) e de um coro (no caso, The African Children's Choir, conduzido por Dave Robbins) como quase todo disco de Natal. Contudo, as orquestrações e as vozes resultam interessantes no álbum, valorizando temas recorrentes na memória afetiva da artista como See Amid The Winter’s Snow e Angels from the Realms of Glory (destaque absoluto de A Christmas Cornucopia). A classe o estilo de Lennox também dão valor adicional a CD que surpreende ao apresentar faixa cantada em francês, Il Est Ne Le Divin Enfant. Nem sempre evidente ao longo do álbum, a origem africana das vozes do coro infantil salta aos ouvidos em Lullay Lullay (Coventry Carol). São as crianças também que realçam a beleza atemporal de Silent Night. Enfim, Lennox não reinventa o som do Natal, mas evita que ele soe pomposo ou solene em excesso, pecado cometido pelo bom disco de Susan Boyle, The Gift.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

No padronizado CD 'The Gift', Susan Boyle celebra o Natal em tom solene

Resenha de CD
Título: The Gift
Artista: Susan Boyle
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * *

Segundo álbum de Susan Boyle, a excepcional cantora escocesa revelada em 2009 no programa de calouros Britain's Got Talent, The Gift celebra o Natal no mesmo tom solene do primeiro disco da intérprete, I Dreamed a Dream (2009), campeão de vendas do ano passado. Coros e orquestrações dão caráter grandiloquente a The Gift e, por vezes, chegam a ofuscar a voz de Boyle. Contudo, há real beleza em alguns dos dez registros formatados pelo produtor Steve Mac. Perfect Day - tema lançado pelo compositor norte-americano Lou Reed, marginal poeta das sombras, no álbum Transformer (1972) - ressurge repaginado, sem cinismo, com doçura, em gravação que, sim, beira o sublime. Em contrapartida, Hallelujah - canção do compositor canadense Leonard Cohen em 1984 - tem diluído seu sentimento diante da grandiloquência e assepsia que caracterizam The Gift, fazendo com que a gravação de Boyle sequer chegue aos pés do registro de k.d. Lang, para citar somente um nome que abordou a canção com mais êxito e emoção. Já Don't Dream It's Over - o terceiro tema pop de repertório que prioriza hinos natalinos tradicionais - resulta meramente curioso. Boyle não chega a pôr sua identidade na música lançada pelo grupo australiano Crowded House em 1986. No todo, The Gift quase deixa a voz da cantora em segundo plano. Faixas de tom sacro como Away in a Manger e O Come All Ye Faithful dão a impressão de terem sido captadas em uma missa. Boyle acerta mais quando tenta driblar a excessiva e padronizada grandiloquência da produção em temas natalinos tradicionais como Make me a Channel of your Peace e Auld Lang Syne, abordados com relativa simplicidade. Já um campeão de vendas, The Gift insiste nos erros de I Dreamed a Dream sem expor, como seu também solene antecessor, todo o brilho da voz de Susan Boyle.