Título: Bicicletas, bolos e outras alegrias
Artista: Vanessa da Mata (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Guaíra (Curitiba, PR)
Data: 30 de outubro de 2010
Patrocínio: Natura Musical
Cotação: * * * * 1/2
♪ Agenda da turnê Bicicletas, bolos e outras alegrias:
19 de novembro - Recife (PE) - Teatro da UFPE
20 de novembro - João Pessoa (PB) -
26 de novembro - Feira de Santana (BA) - Garagem
27 e 28 de novembro - Salvador (BA) - Teatro Castro Alves
10 e 11 de dezembro - São Paulo (SP) - Citibank Hall
♪ Em seu show anterior, o vibrante Perfumes de Sim (2009), Vanessa da Mata atingiu ponto de maturação em sua trajetória nos palcos - evolução reiterada e consolidada em Bicicletas, bolos e outras alegrias. Sob a direção climática de Bia Lessa, nome recorrente nas fichas técnicas de shows de cantoras como Maria Bethânia e Ana Carolina, Mata apresenta espetáculo sedutor. Valendo-se sobretudo do preto e do branco no cenário e na iluminação (cores também adotadas nos dois figurinos de Wilson Ranieri), Bia Lessa realça luzes, sombras e objetos do cancioneiro regional-cosmopolita da compositora com belos efeitos cênicos que valorizam a interpretação das músicas de um roteiro essencialmente autoral. Já no primeiro número, a balada Amado (Vanessa da Mata e Marcelo Jeneci), fica nítida a afinação da parceria da cantora com a diretora de teatro. Mata canta Amado sentada em escada alocada no canto esquerdo do cenário - sob a ótica do espectador - e, quando levanta no verso "Quero dançar com você" para bailar românticamente pelo palco, o efeito é muito sedutor. O uso de vídeos e de ilustrações digitais - projetados nos módulos brancos que compõem o cenário - reforça mensagens, sentimentos e ideias do repertório do disco mais inspirado da artista desde sua arrebatadora estreia (Vanessa da Mata, 2002). Sentimentos que passam pelo filtro romântico pop de temas como As palavras (Vanessa da Mata), provável grande hit do álbum Bicicletas, bolos e outras alegrias. A canção se inspira no romantismo de Roberto Carlos, não por acaso autor (com o amigo de fé Erasmo Carlos) da única música do roteiro que não é da lavra de Mata, A distância, balada triste de 1972 que a cantora entoa com emoção, mostrando que as aulas de canto começam a lhe dar segurança (e alguma afinação) para encarar músicas fora de seu universo autoral. E o fato é que, guiada no palco por suas emoções e por suas alegrias, a artista faz crescer em cena com vivacidade até uma música menor do disco, Moro longe (Vanessa da Mata), de tons nortistas. Nesse retrato em branco e preto, as cores surgem de forma esporádica, pontuando o clima festivo de Meu Aniversário (Vanessa da Mata) e também a poética celebração romântica da delicada canção Quando Amanhecer (Vanessa da Mata e Gilberto Gil), por exemplo. Cultivada nesse mesmo tempo da delicadeza que faz Quando amanhecer crescer lindamente em cena, Minha herança: uma flor (Vanessa da Mata) reitera a beleza interiorana em que, em essência, está imersa a música de Mata. Em mix pop de referências do campo e da cidade, o baião tropicalista Bolsa de grife (Vanessa da Mata) - um dos pontos mais altos do disco - denuncia o prazer fugaz e angustiante do consumismo com arranjo que evoca Os Mutantes. Mas a antenada banda capitaneada por Kassin (no baixo e na direção musical) - embora hábil ao transpor para o palco a sonoridade do disco - não cozinha o baião no ponto exato de fervura, talvez porque Kassin não manipule no show sua guitarra incandescente que valoriza o registro fonográfico da música (ainda assim, Bolsa de grife é um dos melhores momentos do show). Já Vá - parceria de Mata com o africano Lokua Kanza, alocada no momento enlutado do roteiro - se confirma em cena como o tema menos inspirado da safra de inéditas de Bicicletas, bolos e outras alegrias. A opção por se livrar do amor que virou peso é reiterada - ainda com algum luto - na sequência que enfileira Boa sorte / Good luck (com o tecladista Donatinho assumindo a parte vocal de Ben Harper, parceiro de Mata no tema) e Longe demais (lado B do primeiro álbum da artista). Contudo, a opção pela vida e a alegria fica explícita em O masoquista e o fugitivo (Vanessa da Mata), simbolizada - inclusive - pelo abandono do figurino preto. De novo vestida de branco, Mata celebra a paz afetiva em O tal casal e em Te Amo, número em que o vento esvoaça o vestido da cantora em outro belo efeito cênico criado por Bia Lessa. Vem, então, o bloco das outras alegrias, no qual figura Fiu fiu. Uma chuva de papel laminado cai então sobre o palco, durante o hit Ai, ai, ai... (Vanessa da Mata e Liminha), encerrando (esplendidamente) o show mais conceitual e climático de Vanessa da Mata.