Resenha de Show
Título: Ária
Artista: Djavan (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Credicard Hall (São Paulo, SP)
Data: 24 de setembro de 2010
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz no Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Brasília, DF) em 8 e 9 de outubro
Já nos breves scats e no estalar de dedos que introduzem Seduzir, música que deu título ao álbum lançado por Djavan em 1981, alocada no roteiro de Ária logo após o jazzy número de abertura (Treze de Dezembro), fica claro que ter mexido na obra alheia em seu primeiro disco de intérprete deu ao compositor uma nova visão de sua própria obra. Seduzir ganha nova divisão e outro contorno harmônico neste show de arranjos enxutos, tocados por um trio de baixo, percussão e guitarra, ao qual Djavan adiciona seu próprio violão ou guitarra. Em cena, Ária dá novos ares à obra autoral de Djavan da mesma forma que o disco renovou o canto do intérprete. Talvez por isso Eu te Devoro - o hit pop de 1998 - soe bem menos pop no show. E talvez por isso também Lambada de Serpente (Djavan e Cacaso, 1980) reapareça menos densa, com a mesma suavidade que molda o abolerado samba-canção Sabes Mentir (Othon Russo, 1953) e a bela Oração ao Tempo de Caetano Veloso - feita em cena com um pouco mais de fervor na comparação com o registro do disco Ária. Tudo está diferente, mas sem que essas sutis diferenças transfigurem o dna autoral do compositor. Tanto que aplausos se fizeram ouvir fortes na estreia da turnê (inter)nacional de Ária - na casa Credicard Hall, em São Paulo (SP), em 24 de setembro de 2010 - quando o público de imediato reconheceu no toque do violão de Djavan o molde do envolvente arranjo original de Faltando um Pedaço (1981), belo número de maior intensidade emocional e grande economia no arranjo, sobretudo na parte final, em que brilha soberana a voz do intérprete. Djavan é bicho solto no palco de Ária. Sobretudo quando dispensa o trio e fica a sós com seu violão para abordar o samba Brigas Nunca Mais (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Se a sinatriana Fly me to the Moon voa em céu de brigadeiro, na mesma rota feliz seguida no disco, a contemporânea La Noche desvenda a intensa influência ibérica que eventualmente pousa sobre a obra e o canto forte de Djavan. Aliás, o violão tocado pelo intérprete em Oceano (1989) parece atravessar um Atlântico com suas referências que extrapolam fronteiras. O natural coro da plateia em Oceano deixa o cantor à vontade para explorar seus vigorosos falsetes e começar a preparar o clima para o bloco mais dançante e caloroso do show. É quando o intérprete canta Palco - com quebradas espertas e acordes efusivos da guitarra discreta de Torcuato Mariano, só que sem o tom festivo que aclimata Sina (1982), por exemplo - e revive a obscura Transe (1984) antes de cair no seu samba com Fato Consumado (1975) - número em que salta aos ouvidos o pandeiro do percussionista Marcos Suzano - e Flor de Lis (1976). "Vamos dançar, gente?", propõe o dono da festa enquanto reapresenta Linha do Equador (1992), parceria bissexta com Caetano Veloso. Então, com o público já de pé, entram uma funkeada Samurai (1982) e - já no bis - Pétala (a balada de 1982 que desabrocha bem mais suingada por conta do baixo de André Vasconcelos) e Lilás (1984). Em Ária, o show, o artista djavaneia o que há de melhor em sua obra com a experiência de crooner adquirida nos anos 70 e aprimorada em Ária, o CD.
Título: Ária
Artista: Djavan (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Credicard Hall (São Paulo, SP)
Data: 24 de setembro de 2010
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz no Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Brasília, DF) em 8 e 9 de outubro
Já nos breves scats e no estalar de dedos que introduzem Seduzir, música que deu título ao álbum lançado por Djavan em 1981, alocada no roteiro de Ária logo após o jazzy número de abertura (Treze de Dezembro), fica claro que ter mexido na obra alheia em seu primeiro disco de intérprete deu ao compositor uma nova visão de sua própria obra. Seduzir ganha nova divisão e outro contorno harmônico neste show de arranjos enxutos, tocados por um trio de baixo, percussão e guitarra, ao qual Djavan adiciona seu próprio violão ou guitarra. Em cena, Ária dá novos ares à obra autoral de Djavan da mesma forma que o disco renovou o canto do intérprete. Talvez por isso Eu te Devoro - o hit pop de 1998 - soe bem menos pop no show. E talvez por isso também Lambada de Serpente (Djavan e Cacaso, 1980) reapareça menos densa, com a mesma suavidade que molda o abolerado samba-canção Sabes Mentir (Othon Russo, 1953) e a bela Oração ao Tempo de Caetano Veloso - feita em cena com um pouco mais de fervor na comparação com o registro do disco Ária. Tudo está diferente, mas sem que essas sutis diferenças transfigurem o dna autoral do compositor. Tanto que aplausos se fizeram ouvir fortes na estreia da turnê (inter)nacional de Ária - na casa Credicard Hall, em São Paulo (SP), em 24 de setembro de 2010 - quando o público de imediato reconheceu no toque do violão de Djavan o molde do envolvente arranjo original de Faltando um Pedaço (1981), belo número de maior intensidade emocional e grande economia no arranjo, sobretudo na parte final, em que brilha soberana a voz do intérprete. Djavan é bicho solto no palco de Ária. Sobretudo quando dispensa o trio e fica a sós com seu violão para abordar o samba Brigas Nunca Mais (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Se a sinatriana Fly me to the Moon voa em céu de brigadeiro, na mesma rota feliz seguida no disco, a contemporânea La Noche desvenda a intensa influência ibérica que eventualmente pousa sobre a obra e o canto forte de Djavan. Aliás, o violão tocado pelo intérprete em Oceano (1989) parece atravessar um Atlântico com suas referências que extrapolam fronteiras. O natural coro da plateia em Oceano deixa o cantor à vontade para explorar seus vigorosos falsetes e começar a preparar o clima para o bloco mais dançante e caloroso do show. É quando o intérprete canta Palco - com quebradas espertas e acordes efusivos da guitarra discreta de Torcuato Mariano, só que sem o tom festivo que aclimata Sina (1982), por exemplo - e revive a obscura Transe (1984) antes de cair no seu samba com Fato Consumado (1975) - número em que salta aos ouvidos o pandeiro do percussionista Marcos Suzano - e Flor de Lis (1976). "Vamos dançar, gente?", propõe o dono da festa enquanto reapresenta Linha do Equador (1992), parceria bissexta com Caetano Veloso. Então, com o público já de pé, entram uma funkeada Samurai (1982) e - já no bis - Pétala (a balada de 1982 que desabrocha bem mais suingada por conta do baixo de André Vasconcelos) e Lilás (1984). Em Ária, o show, o artista djavaneia o que há de melhor em sua obra com a experiência de crooner adquirida nos anos 70 e aprimorada em Ária, o CD.
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Já nos breves scats e no estalar de dedos que introduzem Seduzir, música que deu título ao álbum lançado por Djavan em 1981, alocada no roteiro de Ária logo após o jazzy número de abertura (Treze de Dezembro), fica claro que ter mexido na obra alheia em seu primeiro disco de intérprete deu ao compositor uma nova visão de sua própria obra. Seduzir ganha nova divisão e outro contorno harmônico neste show de arranjos enxutos, tocados por um trio de baixo, percussão e guitarra, ao qual Djavan adiciona seu próprio violão ou guitarra. Em cena, Ária dá novos ares à obra autoral de Djavan da mesma forma que o disco renovou o canto do intérprete. Talvez por isso Eu te Devoro - o hit pop de 1998 - soe bem menos pop no show. E talvez por isso também Lambada de Serpente (Djavan e Cacaso, 1980) reapareça menos densa, com a mesma suavidade que molda o abolerado samba-canção Sabes Mentir (Othon Russo, 1953) e a bela Oração ao Tempo de Caetano Veloso - feita em cena com um pouco mais de fervor na comparação com o registro do disco Ária. Tudo está diferente, mas sem que essas sutis diferenças transfigurem o dna autoral do compositor. Tanto que aplausos se fizeram ouvir fortes na estreia da turnê (inter)nacional de Ária - na casa Credicard Hall, em São Paulo (SP), em 24 de setembro de 2010 - quando o público de imediato reconheceu no toque do violão de Djavan o molde do envolvente arranjo original de Faltando um Pedaço (1981), belo número de maior intensidade emocional e grande economia no arranjo, sobretudo na parte final, em que brilha soberana a voz do intérprete. Djavan é bicho solto no palco de Ária. Sobretudo quando dispensa o trio e fica a sós com seu violão para abordar o samba Brigas Nunca Mais (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Se a sinatriana Fly me to the Moon voa em céu de brigadeiro, na mesma rota feliz seguida no disco, a contemporânea La Noche desvenda a intensa influência ibérica que eventualmente pousa sobre a obra e o canto forte de Djavan. Aliás, o violão tocado pelo intérprete em Oceano (1989) parece atravessar um Atlântico com suas referências que extrapolam fronteiras. O natural coro da plateia em Oceano deixa o cantor à vontade para explorar seus vigorosos falsetes e começar a preparar o clima para o bloco mais dançante e caloroso do show. É quando o intérprete canta Palco - com quebradas espertas e acordes efusivos da guitarra discreta de Torcuato Mariano, só que sem o tom festivo que aclimata Sina (1982), por exemplo - e revive a obscura Transe (1984) antes de cair no seu samba com Fato Consumado (1975) - número em que salta aos ouvidos o pandeiro do percussionista Marcos Suzano - e Flor de Lis (1976). "Vamos dançar, gente?", propõe o dono da festa enquanto reapresenta Linha do Equador (1992), parceria bissexta com Caetano Veloso. Então, com o público já de pé, entram uma funkeada Samurai (1982) e - já no bis - Pétala (a balada de 1982 que desabrocha bem mais suingada por conta do baixo de André Vasconcelos) e Lilás (1984). Em Ária, o show, o artista djavaneia o que há de melhor em sua obra com a experiência de crooner adquirida nos anos 70 e aprimorada em Ária, o CD.
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