Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

'Filhos de João' expõe mundo dos Novos Baianos de forma convencional

Resenha de documentário musical
Título: Filhos de João - O Admirável Mundo Novo Baiano
Direção e roteiro: Henrique Dantas
Cotação: * * *

Quarenta anos depois da edição do primeiro álbum dos Novos Baianos, É Ferro na Boneca! (RGE, 1970), o grupo tem sua história (re)contada em Filhos de João - O Admirável Mundo Novo Baiano, filme de Henrique Dantas que esteve em exibição no Festival do Rio, no Rio de Janeiro (RJ). A estrutura convencional do documentário contrasta com a inovação musical e comportamental promovida pelo grupo em única década de existência (1969 - 1979). Mesmo sem ousar na estética ou na linguagem, Dantas cumpre com eficiência o papel de documentar a passagem libertária dos filhos de João pela música brasileira dos anos 70. E cabe ao velho baiano Tom Zé - o responsável por apresentar Galvão (seu conterrâneo na cidade de Irará) a Moraes Moreira - abrir o filme para dar sua visão dessa "pequena manifestação do absurdo". Mas logo entram em cena os personagens principais da história para expor as memórias de um mundo cheio de lendas - com exceção de Baby do Brasil (outrora Baby Consuelo), que chegou a gravar entrevista para o filme, só que depois vetou a veiculação de seu depoimento em Filhos de João. João - vale informar - é João Gilberto, pai espiritual dos Novos Baianos e responsável pela forte carga de brasilidade que moldou o som pop do grupo no segundo e melhor álbum da turma, Acabou Chorare (Som Livre, 1972), obra-prima gestada no auge da vida em comunidade regida pelas leis de paz e amor do movimento hippie. Com direito a doses fartas de maconha.  "A gente só se desentendia por causa de futebol", revela Pepeu, em alusão às peladas cotidianas jogadas no momento áureo da banda. Só que a harmonia interna do grupo, aos poucos, acabou sendo posta para escanteio. Entre fartas imagens de arquivo, extraídas de filmes antigos, Filhos de João também põe em campo, em sua parte final, os descompassos que diluíram a atmosfera de paz e amor que envolveu de início Moraes, Galvão, Pepeu, Dadi, Baby, Paulinho Boca de Cantor e Cia. - sobretudo a partir do momento em que Moraes Moreira propôs sair do sítio onde os músicos viviam sem sair do grupo. Recusada a proposta, Moraes partiu em carreira solo, em 1975, e os Novos Baianos ainda resistiram por quatro anos antes de virar lenda alimentada por revivals urdidos ao longo dos últimos anos. Filhos de João não é filme admirável e tampouco novo na abordagem e na edição. A rigor, a narrativa transcorre linear com a mera alternância de depoimentos dos músicos e das imagens de arquivo. Mesmo assim, é documento interessante do grupo que pôs sua marca pop na MPB.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Quarenta anos depois da edição do primeiro álbum dos Novos Baianos, É Ferro na Boneca! (RGE, 1970), o grupo tem sua história (re)contada em Filhos de João - O Admirável Mundo Novo Baiano, filme de Henrique Dantas que esteve em exibição no Festival do Rio, no Rio de Janeiro (RJ). A estrutura convencional do documentário contrasta com a inovação musical e comportamental promovida pelo grupo em única década de existência (1969 - 1979). Mesmo sem ousar na estética ou na linguagem, Dantas cumpre com eficiência o papel de documentar a passagem libertária dos filhos de João pela música brasileira dos anos 70. E cabe ao velho baiano Tom Zé - o responsável por apresentar Galvão (seu conterrâneo na cidade de Irará) a Moraes Moreira - abrir o filme para dar sua visão dessa "pequena manifestação do absurdo". Mas logo entram em cena os personagens principais da história para expor as memórias de um mundo cheio de lendas - com exceção de Baby do Brasil (outrora Baby Consuelo), que chegou a gravar entrevista para o filme, só que depois vetou a veiculação de seu depoimento em Filhos de João. João - vale informar - é João Gilberto, pai espiritual dos Novos Baianos e responsável pela forte carga de brasilidade que moldou o som pop do grupo no segundo e melhor álbum da turma, Acabou Chorare (Som Livre, 1972), obra-prima gestada no auge da vida em comunidade regida pelas leis de paz e amor do movimento hippie. Com direito a doses fartas de maconha. "A gente só se desentendia por causa de futebol", revela Pepeu, em alusão às peladas cotidianas jogadas no momento áureo da banda. Só que a harmonia interna do grupo, aos poucos, acabou sendo posta para escanteio. Entre fartas imagens de arquivo, extraídas de filmes antigos, Filhos de João também põe em campo, em sua parte final, os descompassos que diluíram a atmosfera de paz e amor que envolveu de início Moraes, Galvão, Pepeu, Dadi, Baby, Paulinho Boca de Cantor e Cia. - sobretudo a partir do momento em que Moraes Moreira propôs sair do sítio onde os músicos viviam sem sair do grupo. Recusada a proposta, Moraes partiu em carreira solo, em 1975, e os Novos Baianos ainda resistiram por quatro anos antes de virar lenda alimentada por revivals urdidos ao longo dos últimos anos. Filhos de João não é filme admirável e tampouco novo na abordagem e na edição. A rigor, a narrativa transcorre linear com a mera alternância de depoimentos dos músicos e das imagens de arquivo. Mesmo assim, é documento interessante do grupo que pôs sua marca pop na MPB.