Título: Bicicletas, bolos e outras alegrias
Artista: Vanessa da Mata
Gravadora: Jabuticaba / Sony Music
Patrocínio: Natura Musical
Cotação: * * * * 1/2
♪ Quarto álbum de inéditas de Vanessa da Mata, mas já o quinto título de discografia que inclui registro de show editado em 2009 em CD e DVD da série Multishow ao vivo, Bicicletas, bolos e outras alegrias marca o lançamento do selo da artista, Jabuticaba, cujo nome já evoca o clima interiorano e ruralista que parece inspirar o pop da compositora nascida e criada em Mato Grosso. Talvez motivada pela autonomia mercadológica conquistada com o sucesso comercial de seus três últimos discos, a parceira de Ben Harper no hit Boa sorte / Good luck apresenta seu álbum mais inspirado desde a estreia fonográfica com o delicado Vanessa da Mata (2002). Guiada pela produção antenada de Kassin, que arregimentou músicos de ponta na cena pop nativa (como o tecladista Donatinho, o guitarrista Fernando Catatau, o baterista Stephane San Juan e o guitarrista Gustavo Ruiz, entre outros), Mata aprimora a receita de sua música, transitando geralmente inspirada entre o romantismo e o regionalismo de tom contemporâneo. Fazendo uso de recorrentes traços melódicos que já dão assinatura própria à sua obra, perceptíveis no hit radiofônico O tal casal, a compositora se mostra num momento de maturidade, assinando solitariamente dez das 12 músicas do CD, todas inéditas. Bicicletas, bolos e outras alegrias é grande disco que soa natural e verdadeiro. Já não se notam condimentos artificiais como a onipresença de Liminha na ficha técnica do irregular Essa boneca tem manual (2004) e a súbita conversão ao reggae do bom Sim (2007). E o fato é que grande parte da safra de inéditas é de ótimo nível. Entre temas saltitantes como Meu aniversário, Fiu fiu (espirituosa abordagem da luta cotidiana das mulheres contra a balança e as amigas / inimigas) e Bolsa de grife (alfinetada na febre consumista dos mundos urbanos, dada na forma de um baião de espírito tropicalista que evoca no arranjo o som dos Mutantes), a compositora apresenta dois lindos temas românticos de melhor cepa. Te amo - adornada com cordas arranjadas sem clichês pelo tecladista irlandês Sean O'Hagan, nome hype na cena pop alternativa estrangeira - e As palavras (com coro kitsch) estão entre as melhores músicas da compositora e falam às massas em idiotizá-las. Entre canção que roça a arquitetura de um pop reggae (Vê se fica bem) e tema que evoca no arranjo a latinidade tropical de João Donato (O Masoquista e o fugitivo), Mata registra parceria antiga com Lokua Kanza - Vá, também arranjada pelas cordas refinadas de Sean O'Hagan - que mais parece sobra de disco anterior. Sintomaticamente alocadas no terço final do álbum, Vá, Moro longe (urdida com timbres nortistas) e a supra-citada O Masoquista e o fugitivo são as três únicas faixas de Bicicletas, bolos e alegrias - dentre as 12 inéditas - que não atingem o ponto exato pela inspiração mais rala da compositora nesses três temas. Nada que impeça Bicicletas, bolos e outras alegrias de ser um grande disco. O melhor da artista desde que ela passou a formatar sua música com tons mais contemporâneos. E o fecho em clima interiorizado do disco - com Quando amanhecer, segunda parceria da artista com o compositor baiano Gilberto Gil, que pôs sua voz e o seu violão (único e particular) na música - somente reitera a maturidade artística de Vanessa da Mata no seu (feliz) quarto álbum de inéditas.
7 comentários:
Quarto álbum de inéditas de Vanessa da Mata, mas já o quinto título de discografia que inclui registro de show editado em 2009 em CD e DVD da série Multishow ao Vivo, Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias marca o lançamento do selo da artista, Jabuticaba, cujo nome já evoca o clima interiorano e ruralista que parece inspirar o pop da compositora nascida e criada em Mato Grosso. Talvez motivada pela autonomia mercadológica conquistada com o sucesso comercial de seus três últimos discos, a parceira de Ben Harper no hit Boa Sorte / Good Luck apresenta seu álbum mais inspirado desde a estreia fonográfica com o delicado Vanessa da Mata (2002). Guiada pela produção antenada de Kassin, que arregimentou músicos de ponta na cena pop nativa (como o tecladista Donatinho, o guitarrista Fernando Catatau, o baterista Stephane San Juan e o guitarrista Gustavo Ruiz, entre outros), Mata aprimora a receita de sua música, transitando geralmente inspirada entre o romantismo e o regionalismo de tom contemporâneo. Fazendo uso de recorrentes traços melódicos que já dão assinatura própria à sua obra, perceptíveis no hit radiofônico O Tal Casal, a compositora se mostra num momento de maturidade, assinando solitariamente dez das 12 músicas do CD, todas inéditas. Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias é grande disco que soa natural e verdadeiro. Já não se notam condimentos artificiais como a onipresença de Liminha na ficha técnica do irregular Essa Boneca Tem Manual (2004) e a súbita conversão ao reggae do bom Sim (2007). E o fato é que grande parte da safra de inéditas é de ótimo nível. Entre temas saltitantes como Meu Aniversário, Fiu Fiu (espirituosa abordagem da luta cotidiana das mulheres contra a balança e as amigas/inimigas) e Bolsa de Grife (alfinetada na febre consumista dos mundos urbanos, dada na forma de um baião de espírito tropicalista que evoca no arranjo o som dos Mutantes), a compositora apresenta dois lindos temas românticos de melhor cepa. Te Amo - adornada com cordas arranjadas sem clichês pelo tecladista irlandês Sean O'Hagan, nome hype na cena pop alternativa estrangeira - e As Palavras (com coro kitsch) estão entre as melhores músicas da compositora e falam às massas em idiotizá-las. Entre canção que roça a arquitetura de um pop reggae (Vê se Fica Bem) e tema que evoca no arranjo a latinidade tropical de João Donato (O Masoquista e o Fugitivo), Mata registra parceria antiga com Lokua Kanza - Vá, também arranjada pelas cordas refinadas de Sean O'Hagan - que mais parece sobra de disco anterior. Sintomaticamente alocadas no terço final do álbum, Vá, Moro Longe (urdida com timbres nortistas) e a supra-citada O Masoquista e o Fugitivo são as três únicas faixas de Bicicletas, Bolos e Alegrias - dentre as 12 inéditas - que não atingem o ponto exato pela inspiração mais rala da compositora nesses três temas. Nada que impeça Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias de ser um grande disco. O melhor da artista desde que ela passou a formatar sua música com tons mais contemporâneos. E o fecho mais interiorizado do disco - com Quando Amanhecer, segunda parceria da compositora com Gilberto Gil, que pôs sua voz e o seu violão na música - somente reitera a maturidade artística de Vanessa da Mata neste seu (feliz) álbum de inéditas.
"As Palavras" é a música do CD. Linda!
Vanessa apresenta o melhor trabalho da sua carreira. É incrível o talento e a humildade dessa moça. Diferentemente das suas companheiras de referência Marisa e Calcanhotto, Vanessa apresenta um cd em que ela foi lá e gravou. Simples assim. Foi lá e disse o que gente quer dizer, cantou o que a gente quer ouvir. O disco flúi de uma forma que você ouve e sorri. Desde a sua bela parceria com o Gil, até a melhor música do cd, a incrível "As Palavras" com um arranjo e letra que há muito não se via numa música inédita. Parabéns Vanessa. Cresça sempre, com sua dignidade em primeiro lugar!
Viva Vanessa da Mata!
Demorou de sair essa resenha, mas veio. Tava esperando sua opinião Mauro, como sempre faço. Gosto muito de suas críticas. As Palavras é, de fato, uma canção belíssima. Mas adoro também O Masoquista e o Fugitivo. O novo cd de Vanessa é bem saboroso.
Mauro
Parabéns pelos 4 anos do "Notas Musicais"!!
Sou frequentador assíduo e o Blog é um retrato fiel do mercado musical, internacional e nacional, principalmente!!
Gostei que agora há os marcadores com os nomes dos artistas, o que facilita a pesquisa. Por sinal, um pedido meu ha tempos atras!! Valeu!!
Longa vida ao "Notas Musicais"!!
Grande abraço
Já havia escutado "O Tal Casal". Mas, acabo de ouvir "Te Amo" e "As Palavras". Lindo! Certamente, comprarei este!
Ok. Sr Mauro, valeu a pena esperar, sua crítica ficou bem digna mais uma vez, concordo que é um cd onde ela se mostra mais madura e na certa este tb é seu melhor álbum. A única discordância é que eu acho muito bela " O masoquista e o fugitivo" e "Vá" concordo que não combina com o álbum, mas tem uma melodia boa e letra expressiva.
Valeu Sr.Mauro, mandou bem!!!!
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