Título: Elza
Direção: Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan
Roteiro: Suzana Macedo
Cotação: * * *
Em exibição no Festival do Rio
Sessões em 6 de outubro (Ponto Cine, 16h) e 7 de outubro de 2010 (Cinema Nosso, 19h)
"A verdade de Elza Soares está no canto dela. Para entender Elza, é preciso entender o seu canto...", sentencia o violonista João de Aquino em frase estrategicamente posicionada pelos diretores Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan ao fim de Elza, o documentário musical que foca Elza Soares, ora em exibição na edição de 2010 do Festival do Rio. É como se o argumento (legítimo) de Aquino absolvesse os diretores de não desvendar a lendária personagem retratada no filme. Elza foca Elza somente e sobretudo através da música. Números musicais inéditos - filmados em 2007 com nomes como Caetano Veloso (um registro emocionado de Dor-de-Cotovelo), Maria Bethânia (Rosa Morena e uma jam que entrelaça o Samba da Bênção com o Samba da Minha Terra) e Paulinho da Viola (A Flor e o Espinho - bela - e Sei Lá, Mangueira) - pontuam e valorizam o documentário entre depoimentos elogiosos que, por mais que sejam sinceros e justos, se tornam quase redundantes ao longo dos 72 minutos de projeção. Mas o canto de Elza - ouvido logo na abertura do filme, numa interpretação a capella de Lama - redime os depoentes da redundância pelo suingue ímpar. "Elza é a expressão raríssima da voz feminina num país de cantoras", define Bethânia. Alguns takes depois, a mulata sempre assanhada canta Rosa Morena diante de uma Bethânia embevecida, reiterando a veracidade do elogio. Entre depoimentos (excessivos) de Caetano Veloso e takes da cantora num baile funk, Elza expõe na tela a singularidade do canto de Elza - às vezes ouvido apenas em off (como em O Pato e É Luxo Só). Esse canto moldado pelo suingue - exemplificado no dueto com Jorge Ben Jor em País Tropical - tira o foco da cidadã Elza da Conceição Soares. A mulher que foi vítima de linchamento moral nos anos 60 por ter ser envolvido com um ídolo do futebol (Garrincha) que tinha esposa e filhos - como bem lembra a prostituta Gabriela Leite em depoimento para o filme. A propósito, embora fuja do óbvio, o heterogêneo elenco de entrevistados (Lila Rabello, Mart'nália, Hermano Vianna, Haroldo Melodia, Paulinho da Viola, Ricardo Cravo Albin) faz com que os diretores às vezes percam o foco - como no momento em que o filme gasta preciosos minutos discutindo a repressão policial sofrida pelos pioneiros sambistas do morro, já que (como ressalta Caetano Veloso) Elza logo rejeitou o rótulo e o posto de sambista que poderiam limitar sua bossa negra. E o fato é que o canto ainda revelador da brava intérprete encobriu preconceitos, injustiças, rótulos e até a assumida vaidade da dona da voz e da bossa. "Revelar a idade é jogar a toalha e eu ainda tô no ringue", argumenta a artista, do alto de uma valente história de vida que Elza apenas pincela para permitir que a música (excelente) fale por si só.
Um comentário:
"A verdade de Elza Soares está no canto dela. Para entender Elza, é preciso entender o seu canto...", sentencia o violonista João de Aquino em frase estrategicamente posicionada pelos diretores Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan ao fim de Elza, o documentário musical que foca Elza Soares, ora em exibição na edição de 2010 do Festival do Rio. É como se o argumento (legítimo) de Aquino absolvesse os diretores de não desvendar a lendária personagem retratada no filme. Elza foca Elza somente e sobretudo através da música. Números musicais inéditos - filmados em 2007 com nomes como Caetano Veloso (um registro emocionado de Dor-de-Cotovelo), Maria Bethânia (Rosa Morena e uma jam que entrelaça o Samba da Bênção com o Samba da Minha Terra) e Paulinho da Viola (A Flor e o Espinho - bela - e Sei Lá, Mangueira) - pontuam e valorizam o documentário entre depoimentos elogiosos que, por mais que sejam sinceros e justos, se tornam quase redundantes ao longo dos 72 minutos de projeção. Mas o canto de Elza - ouvido logo na abertura do filme, numa interpretação a capella de Lama - redime os depoentes da redundância pelo suingue ímpar. "Elza é a expressão raríssima da voz feminina num país de cantoras", define Bethânia. Alguns takes depois, a mulata sempre assanhada canta Rosa Morena diante de uma Bethânia embevecida, reiterando a veracidade do elogio. Entre depoimentos (excessivos) de Caetano Veloso e takes da cantora num baile funk, Elza expõe na tela a singularidade do canto de Elza - às vezes ouvido apenas em off (como em O Pato e É Luxo Só). Esse canto moldado pelo suingue - exemplificado no dueto com Jorge Ben Jor em País Tropical - tira o foco da cidadã Elza da Conceição Soares. A mulher que foi vítima de linchamento moral nos anos 60 por ter ser envolvido com um ídolo do futebol (Garrincha) que tinha esposa e filhos - como bem lembra a prostituta Gabriela Leite em depoimento para o filme. A propósito, embora fuja do óbvio, o heterogêneo elenco de entrevistados (Lila Rabello, Mart'nália, Hermano Vianna, Haroldo Melodia, Paulinho da Viola, Ricardo Cravo Albin) faz com que os diretores às vezes percam o foco - como no momento em que o filme gasta preciosos minutos discutindo a repressão policial sofrida pelos pioneiros sambistas do morro, já que (como ressalta Caetano) Elza logo rejeitou o rótulo e o posto de sambista que poderiam limitar sua bossa negra. E o fato é que o canto ainda revelador da brava intérprete encobriu preconceitos, injustiças, rótulos e até a assumida vaidade da dona da voz e da bossa. "Revelar a idade é jogar a toalha e eu ainda tô no ringue", argumenta a artista, do alto de uma valente história de vida que Elza apenas pincela para permitir que a música (excelente) fale por si só.
Postar um comentário