Resenha de Show
Título: Up and Coming Tour
Artista: Paul McCartney (em foto de Marcos Hermes)
Local: Estádio Morumbi (São Paulo, SP)
Data: 21 de novembro de 2010
Cotação: * * * * *
Show em cartaz em 22 de novembro de 2010 no Estádio Morumbi, em São Paulo (SP)
"Many times I've been alone / Many times I've cried", admite Paul McCartney em verso da balada The Long and Widing Road, cantada por ele ao piano. Enquanto o eterno Beatle revive a melancólica canção do álbum Let It Be (1970), um homem de presumíveis 50 anos chora silenciosamente na pista Prime que lhe garantia privilegiada visão do primeiro dos dois shows da Up and Coming Tour agendados por McCartney para o Estádio Morumbi, em São Paulo (SP). Não era o único. Lágrimas se misturaram com risos durante as quase três horas em que Paul percorreu novamente, com alegria e tesão, a longa e já histórica estrada que o levou à condição de ícone vitalício da música pop. Aos 68 anos, McCartney recusa a aposentadoria e a burocracia. É com alegria e prazer de menino que ele enfileirou 39 músicas em 35 números, relembrando parte emblemática da História da música pop. Com justo orgulho pela recepção calorosa das estimadas 64 mil pessoas que lotaram o Morumbi, Paul levantou as mãos (e a guitarra e o baixo...) para o alto, em sinal de triunfo. Era como se ali ainda estivesse o jovem de Liverpool ávido e grato pelas atenções dirigidas à sua musica e à sua pessoa. Simpático, o jovial McCartney se permite até reger o coro da multidão em Sing the Changes. Mas o jovem já é Sir Paul McCartney. E é por isso que o homem que chorou em The Long and Widing Road voltou a lacrimejar em Something, homenagem de Paul ao amigo George Harrison (1943 - 2001), visto no telão numa série de fotos que elevaram a emoção desse número de tom épico.
Na longa estrada, o choro de início deu lugar à pura alegria de ver McCartney entrar no palco do Morumbi e abrir a primeira apresentação paulista da Up and Coming Tour com a dobradinha Venus and Mars / Rock Show, de álbum de 1975. Na sequência, vieram a roqueira Jet e o primeiro tema do cancioneiro dos Beatles, All my Loving, retrato da face mais romântica e juvenil dos Beatles em 1963. A afiada banda - Rusty Anderson (guitarra), Brian Ray (guitarra e baixo), Paul Wix Wickens (teclados) e Abe Laboriel Jr. (bateria), que largou as baquetas para requebrar ao som de Dance Tonight - ajudou McCartney ao trilhar o longo caminho de sua História pop com fidelidade aos arranjos e ao espírito das gravações originais de músicas como Drive my Car e Let me Roll It (emendada com cover de Foxy Lady, de Jimi Hendrix). E foi ao piano que, após recordar Nineteen Hundred and Eighty-Five e Let 'Em in, Paul cantou a sua canção mais adocicada, My Love, escrita para sua "gatinha Linda", como fez questão de dizer, numa das muitas frases ditas em português ensaiado com a ajuda do teleprompter, em alusão romântica a Linda McCartney (1941 - 1998), sua mulher, morta em abril de 1998 por conta de um câncer. Na sequência, I've Just Seen a Face foi o momento para ensaiada saudação ao Brasil, "terra de música linda". E veio, então, outra canção despudoradamente romântica, And I Love Her, seguida de um improviso da plateia. "We love you. Yeah, yeah, yeah..", fizeram coro os fãs alocados nas cadeiras, citando o refrão de She Loves You, o seminal hit dos Beatles. E Paul logo retribuiu: "I love you... Yeah, yeah, yeah...".
Sim, ali estavam - já senhoris - garotos que amaram muito mais os Beatles do que os Rolling Stones. E foi por isso que o homem que chorou em The Long and Widing Road se emocionou de novo ao ouvir a versão acústica de Blackbird, solada por Paul, então solitário no palco. E as emoções estavam muito longe de chegar ao fim. No meio da longa estrada, houve tocante homenagem a John Lennon (1940 - 1980), prestada com Here Today. Emocionada, a plateia marca com palmas o ritmo da música "escrita para meu amigo John". Volta então a banda, com a qual Sir Paul canta Dance Tonight (enquanto pilota um mandolin) e Mrs. Vanderblit (um dos números mais animados do show). Momentos depois, Eleanor Rigby começa a preparar o clima para o apoteótico bloco final, repleto de clássicos irresistíveis como Band on the Run, Ob-la-di, Ob-la-dá, Back in the USSR e Paperback Writer. "E aí, galera?", pergunta Paul durante A Day in the Life, número em que a galera soltou pelo estádio balões brancos, símbolos da paz pedida no hino Give Peace a Chance, emendado após A Day in the Life. E 21 de novembro vai ser um dia especial na vida de quem foi ao Morumbi ver Paul cantar Let It Be ao piano e soltar fogos de artífico durante Live and Let Die. Era o prenúncio do fim da estrada, encerrada de início com Hey Jude. Mas ainda havia o bis no caminho, não um (com Day Tripper, Lady Madonna e Get Back), mas dois. Yesterday, Helter Skelter e Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band / The End sinalizaram, de fato, o fim da longa estrada pontuada pelo choro e pela alegria de 64 mil pessoas que, nessa noite, viram passar diante de si a História da música pop.
10 comentários:
"Many times I've been alone / Many times I've cried", admite Paul McCartney em verso da balada The Long and Widing Road, cantada por ele ao piano. Enquanto o eterno Beatle revive a melancólica canção do álbum Let It Be (1970), um homem de previsíveis 50 anos chora silenciosamente na pista Prime que lhe garantia privilegiada visão do primeiro dos dois shows da Up and Coming Tour agendados por McCartney para o Estádio Morumbi, em São Paulo (SP). Não era o único. Lágrimas se misturaram com risos durante as quase três horas em que Paul percorreu novamente, com alegria e tesão, a longa e já histórica estrada que o levou à condição de ícone vitalício da música pop. Aos 68 anos, McCartney recusa a aposentadoria e a burocracia. É com alegria e prazer de menino que ele enfileirou 40 músicas em 36 números, relembrando parte emblemática da História da música pop. Com orgulho pela recepção calorosa das estimadas 64 pessoas que lotaram o Morumbi, Paul levantou as mãos (e a guitarra e o baixo...) para o alto, em sinal de triunfo. Era como se ali ainda estivesse o jovem de Liverpool ávido e grato pelas atenções dirigidas à sua musica e à sua pessoa. Simpático, o jovial McCartney se permite até reger o coro da multidão em Sing the Changes. Mas o jovem já é Sir Paul McCartney. E é por isso que o homem que chorou em The Long and Widing Road volta a lacrimejar em Something, homenagem de Paul ao amigo George Harrison (1943 - 2001), visto no telão em série de fotos que elevaram a emoção do número.
Na longa estrada, o choro de início deu lugar à pura alegria de ver McCartney entrar no palco do Morumbi e abrir a primeira apresentação paulista da Up and Coming Tour com a dobradinha Venus and Mars / Rock Show, de álbum de 1975. Na sequência, vieram a roqueira Jet e o primeiro tema do cancioneiro dos Beatles, All my Loving, retrato da face mais romântica e juvenil dos Beatles em 1963. A afiada banda - Rusty Anderson (guitarra), Brian Ray (guitarra e baixo), Paul Wix Wickens (teclados) e Abe Laboriel Jr. (bateria), que largou as baquetas para requebrar ao som de Dance Tonight - ajudou McCartney ao trilhar o longo caminho de sua História pop com fidelidade aos arranjos e ao espírito das gravações originais de músicas como Drive my Car e Let me Roll It (emendada com cover de Foxy Lady, de Jimi Hendrix). E foi ao piano que, após recordar Nineteen Hundred and Eighty-Five e Let 'Em in, Paul cantou a sua canção mais adocicada, My Love, escrita para sua "gatinha Linda", como fez questão de dizer, numa das muitas frases ditas em português ensaiado com a ajuda do teleprompter, em alusão romântica a Linda McCartney (1941 - 1998), sua mulher, morta em abril de 1998 por conta de um câncer. Na sequência, I've Just Seen a Face foi o momento para ensaiada saudação ao Brasil, "terra de música linda". E veio, então, outra canção despudoradamente romântica, And I Love Her, seguida de um improviso da plateia. "We love you. Yeah, yeah, yeah..", fizeram coro os fãs alocados nas cadeiras, citando o refrão de She Loves You, o seminal hit dos Beatles.
Sim, ali estavam - já senhoris - garotos que amaram muito mais os Beatles do que os Rolling Stones. E foi por isso que o homem que chorou em The Long and Widing Road se emocionou de novo ao ouvir a versão acústica de Blackbird, solada por Paul, então solitário no palco. E as emoções estavam muito longe de chegar ao fim. No meio da longa estrada, houve tocante homenagem a John Lennon (1940 - 1980), prestada com Here Today. Emocionada, a plateia marca com palmas o ritmo da música "escrita para meu amigo John". Volta então a banda, com a qual Sir Paul canta Dance Tonight (enquanto pilota um mandolin) e Mrs. Vanderblit (um dos números mais animados do show). Momentos depois, Eleanor Rigby começa a preparar o clima para o apoteótico bloco final, repleto de clássicos irresistíveis como Band on the Run, Ob-la-di, Ob-la-dá, Back in the USSR e Paperback Writer. "E aí, galera?", pergunta Paul durante A Day in the Life, número em que a galera soltou pelo estádio balões brancos, símbolos da paz pedida no hino Give Peace a Chance, emendado após A Day in the Life. E 21 de novembro vai ser um dia especial na vida de quem foi ao Morumbi ver Paul cantar Let It Be ao piano e soltar fogos de artífico durante Live and Let Die. Era o prenúncio do fim da estrada, encerrada de início com Hey Jude. Mas ainda havia o bis no caminho, não um (com Day Tripper, Lady Madonna e Get Back), mas dois. Yesterday, Helter Skelter e Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band / The End sinalizaram, de fato, o fim da longa estrada pontuada pelo choro e pela alegria de 64 mil pessoas que, nessa noite, viram passar diante de si a História da música pop.
64 pessoas ??
Estou desconfiado que esse "homem de previsíveis 50 anos" que não teve vergonha de se emocionar diante de tão belo show foi o próprio Mauro. rsrs..
Eu choraria copiosamente, sem o menor pudor, se lá estivesse.
Belíssimo post, Mauro.
Apenas sugiro uma correção. Com certeza foram bem mais do que "estimadas 64 pessoas", como você digitou no início do post.
abração,
Denilson
Ludo e Denilson, grato por me alertarem do erro de digitação. Não, Denilson, o chorão da pista Prime não era eu, mas um espectador posicionado ao meu lado que eu observei durante o show e que me inspirou o tom da resenha. Abs, MauroF
queria ter estado lá. Deve ter sido mesmo emocionante!
Grande analise do evento, rapaz...
Parabens!
Acho que o Mauro quis dizer "presumíveis" em vez de "previsíveis 50 anos", não? Faz mais sentido.
Obrigado, TH. Sim, Valente, pensei "presumíveis" e escrevi "previsíveis". Grato pelo oportuno toque. Abs, MauroF
Eu fui aos dois shows e garanto que foi a melhor experiência da minha vida!
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