Mauro Ferreira no G1

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domingo, 28 de novembro de 2010

Com atraso, a 'leoa' Elba festeja 30 anos (de bravura) com o DVD 'Marco Zero'

Resenha de CD e DVD
Título: Marco Zero - Ao vivo
Artista: Elba Ramalho
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * (CD) e * * * 1/2 (DVD)

♪ A paraibana Elba Ramalho é leoa do Norte. Com bravura, a cantriz impôs seu canto forte, torto e agreste ao Brasil em rota migratória que começou com sua vinda para o Rio de Janeiro (RJ) em 1974, passou pela participação na montagem original da Ópera do malandro em 1978 e atingiu ponto de relevância em 1979 com a gravação e edição de seu primeiro álbum, Ave de prata (CBS). É no lançamento deste disco de alma nordestina que Elba estabelece o marco zero de sua carreira fonográfica, que completou 30 anos em 2009. A festa comemorativa dessas três décadas foi feita com atraso em 12 de março de 2010, quando Elba subiu ao palco armado no Marco Zero para apresentar espetáculo produzido em menos de um mês. O Marco Zero é um local emblemático do Centro Histórico de Recife (PE), cidade que sempre acolheu muito bem os discos e os shows da cantora vizinha, além de ter lhe dado apoio institucional para viabilizar o registro dessa festa dos 30 anos que, a rigor,  já são 31. A gravação do show originou o CD e DVD Marco Zero - Ao vivo, postos nas lojas pela gravadora Biscoito Fino entre outubro (o CD) e novembro (o DVD). Por não ser duplo, o CD dá ao ouvinte vaga ideia do que foi o show, apresentando 14 dos 24 números fora da ordem original do roteiro. Já o DVD é retrato fiel do resistente canto de Elba e, apesar de não ter tom exatamente retrospectivo, enfileira alguns sucessos que marcaram época na voz (hoje menos potente e mais trabalhada) da cantora ao longo desses 31 anos. E Elba faz sua festa com a presença de convidados que, acima de tudo, são amigos colecionados nessa trajetória guerreira. Com Geraldo Azevedo, Elba revive com afeto Canta coração - música de Geraldo que abriu o LP Ave de prata e que tinha sido praticamente esquecida pela intérprete nos últimos 20 anos - e a sempre bela Chorando e cantando, parceria de Geraldo com Fausto Nilo gravada por Elba em Remexer (PolyGram, 1986), um de seus álbuns mais ousados (infelizmente fora de catálogo há anos). Com Zé Ramalho, com quem Elba não dividia o palco há seis anos, o reencontro acontece na já batida Chão de giz (Zé Ramalho, 1978) - canção já registrada em disco de forma mais sedutora por Elba - e em Admirável gado novo (Zé Ramalho, 1979). Este aboio épico lançado por Zé em 1979 já tinha sido cantado por Elba em shows, mas nunca havia sido gravado pela Leoa. Infelizmente, o dueto com Zé na música ganha inadequado tom (quase) festivo que contrasta com a natureza dos versos desoladores. Com Lenine, compositor que Elba avalizou anos antes de o artista pernambucano cair nas graças da crítica musical, o dueto expansivo é em Queixa, música de Caetano Veloso (de 1982) que não chega a soar como "uma coisa diferente", como Elba a anuncia em cena, pelo fato de Maria Bethânia já ter revivido a mesma canção, em registro introspectivo, no roteiro de Amor festa devoção, show estreado em outubro de 2009 (Queixa, como tem revelado Elba em entrevistas, entrou no roteiro por sugestão de Lenine). A única real surpresa do roteiro é o maracatu Recife Nagô (J. Michiles), cantado por Elba com Chico César. Escorado na força dos tambores, o número soa mais animado do que o Forró na gafieira (Rosil Cavalcanti, 1959), dividido por Elba com Alcione, convidada também de uma abordagem de O meu amor (Chico Buarque, 1978) que se ressente da ausência de  atmosfera teatral que valorizasse o tema, cantado originalmente por Elba em dueto com a atriz Marieta Severo na Ópera do malandro (1978). Entre incursões pelo repertório de Alceu Valença (Anunciação e Tropicana, músicas de 1983 e 1982, respectivamente), Elba recebe a cantora pernambucana Cristina Amaral no Forró do Xenhenhem (Cecéu, 1985) - fecho de medley forrozeiro iniciado com Plic Plac, de João Silva, e desenvolvido com Forró pesado (Assisão e Lindolfo Barbosa, 1975), sucesso do Trio Nordestino - anuncia o cantor paraibano Flávio José na já desgastada Espumas ao vento (Accioly Neto, 1997), direciona os holofotes para o sanfoneiro Cezinha (cuja voz lembra a de Dominguinhos na balada É só você querer) e faz dueto com André Rio no frevo Chuva de Sombrinhas, parceria de André com Nega Queiroga. Entre tantos convidados, Elba põe no ritmo do xote a canção Gostoso demais (Dominguinhos e Nando Cordel, 1986), pede que a multidão estimada em 200 mil pessoas cante a toada  De volta pro aconchego (outra joia romântica de Dominguinhos com Nando Cordel, lançada por Elba em 1985) - sendo prontamente atendida pelo público - e voa em rota mais baixa com Pavão mysteriozo (Ednardo, 1974) sem os tons operísticos e a imponência  impactante com que abordava a música de Ednardo no show Leão do norte (1996), um dos melhores espetáculos da artista. Mas tudo é festa para a leoa Elba no palco do Marco Zero, no centro histórico do Recife (PE). Guerreira, ela comunga com seus fãs em músicas como Veja Margarida (Vital Farias, 1975), já certa de que venceu a batalha para projetar sua voz e seu Nordeste na cena brasileira. Bravo!!!!

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A paraibana Elba Ramalho é leoa do Norte. Com bravura, a cantriz impôs seu canto forte, torto e agreste ao Brasil em rota migratória que começou com sua vinda para o Rio de Janeiro (RJ) em 1974, passou pela participação na montagem original da Ópera do Malandro em 1978 e atingiu ponto de relevância em 1979 com a gravação e edição de seu primeiro álbum, Ave de Prata. É no lançamento deste disco de alma nordestina que Elba estabelece o marco zero de sua carreira fonográfica, que completou 30 anos em 2009. A festa comemorativa dessas três décadas foi feita com atraso em 12 de março de 2010, quando Elba subiu ao palco armado no Marco Zero para apresentar espetáculo produzido em menos de um mês. O Marco Zero é um local emblemático do Centro Histórico de Recife (PE), cidade que sempre acolheu muito bem os discos e os shows da cantora vizinha, além de ter lhe dado apoio institucional para viabilizar o registro dessa festa dos 30 anos que, a rigor, já são 31. A gravação do show originou o CD e DVD Marco Zero - Ao Vivo, postos nas lojas pela gravadora Biscoito Fino entre outubro (o CD) e novembro (o DVD). Por não ser duplo, o CD dá ao ouvinte vaga ideia do que foi o show, apresentando 14 dos 24 números fora da ordem original do roteiro. Já o DVD é retrato fiel do resistente canto de Elba e, apesar de não ter tom exatamente retrospectivo, enfileira alguns sucessos que marcaram época na voz (hoje menos potente e mais trabalhada) da cantora ao longo desses 31 anos. E Elba faz sua festa com a presença de convidados que, acima de tudo, são amigos colecionados nessa trajetória guerreira. Com Geraldo Azevedo, Elba revive com afeto Canta Coração - música de Geraldo que abriu o LP Ave de Prata e que tinha sido praticamente esquecida pelaa intérprete nos últimos 20 anos - e a sempre bela Chorando e Cantando, parceria de Geraldo com Fausto Nilo gravada por Elba em Remexer (1986), um de seus álbuns mais ousados (infelizmente fora de catálogo há anos).

Mauro Ferreira disse...

Com Zé Ramalho, com quem Elba não dividia o palco há seis anos, o reencontro acontece na já batida Chão de Giz - canção que já foi registrada em disco de forma mais sedutora por Elba - e em Admirável Gado Novo. Este aboio épico lançado por Zé em 1979 já tinha sido cantado por Elba em shows, mas nunca havia sido gravado pela Leoa. Infelizmente, o dueto com Zé na música ganha inadequado tom (quase) festivo que contrasta com a natureza dos versos desoladores. Com Lenine, compositor que Elba avalizou anos antes de o artista pernambucano cair nas graças da crítica carioca, o dueto expansivo é em Queixa, música de Caetano Veloso (de 1982) que não chega a soar como "uma coisa diferente", como Elba a anuncia em cena, pelo fato de Maria Bethânia já ter revivido a mesma canção, em registro introspectivo, no roteiro de Amor Festa Devoção, show estreado em outubro de 2009 (Queixa, como tem revelado Elba em entrevistas, entrou no roteiro por sugestão de Lenine). A única real surpresa do roteiro é o maracatu Recife Nagô (J. Michiles), cantado por Elba na companhia de Chico César. Escorado na força dos tambores, o número soa mais animado do que o Forró na Gafieira (Rosil Cavalcanti), dividido por Elba com Alcione, convidada também de uma abordagem de O Meu Amor (Chico Buarque) que se ressente da ausência de atmosfera teatral que valorizasse o tema, cantado originalmente por Elba em dueto com a atriz Marieta Severo na Ópera do Malandro (1978). Entre incursões pelo repertório de Alceu Valença (Anunciação e Tropicana), Elba recebe a cantora pernambucana Cristina Amaral no Forró do Xenhenhem (fecho de medley forrozeiro iniciado com Plic Plac, de João Silva, e desenvolvido com Forró Pesado, sucesso do Trio Nordestino), anuncia o cantor paraibano Flávio José na já desgastada Espumas ao Vento, direciona os holofotes para o sanfoneiro Cezinha (cuja voz lembra a de Dominguinhos na balada É Só Você Querer) e faz dueto com André Rio no frevo Chuva de Sombrinhas. Entre tantos convidados, Elba põe no ritmo do xote a toada Gostoso Demais (Dominguinhos e Nando Cordel), pede que a multidão estimada em 200 mil pessoas cante a toada De Volta pro Aconchego (outra joia romântica de Dominguinhos com Nando Cordel) - sendo prontamente atendida pelo público - e voa em rota mais baixa pelo Pavão Mysteriozo sem os tons operísticos e a imponência impactante com que abordava a música de Ednardo no show Leão do Norte (1996). Mas tudo é festa para a leoa Elba no palco do Marco Zero. Guerreira, ela comunga com seus fãs em músicas como Veja Margarida (Vital Farias), já certa de que venceu a batalha para projetar sua voz e seu Nordeste na cena brasileira. Bravo!!

Eduardo disse...

Com todo respeito, quero dividir algo com os leitores. Sempre gostei de Elba Ramalho, artista muito importante na nossa cultura nas últimas décadas, a quem sempre acompanhei com interesse comprando seus discos e prestigiando seus shows.

Não sou propriamente alguém que admira pessoas por sua aparência, mas já faz uns 3 ou 4 anos que não tenho mais conseguido acompanhar a carreira de Elba. Até me esforço, mas não consigo. Elba hoje, ao contrário de suas músicas, tem me passado uma certa angústia, um desconforto com a própria imagem, notadamente vitimada por algum tipo de intervenção estética.

Isso nada tem a ver com seu talento artístico, mas admito que ao vê-la atualmente em fotos ou na tv perco consideravelmente a admiração que sentia. Acho que fica lhe faltando muito da alma, da vitalidade que vem de dentro e que sempre foi seu grande combustível. Fico triste ao perceber que aquele furacão que foi Elba estar reduzida a uma mulher que parece não querer envelhecer naturalmente, como tantos grandes artistas o fazem. Ninguém será jovem para sempre.

Desculpem o desabafo (nem sei se isto será publicado), mas é algo que venho sentindo há tempos e gostaria de registrar. Não por depreciação, mas por talvez trazer alguma reflexão a estes tempos de ditadura estética tão devastadora.

Acredito que eu desagrade a muita gente (os fãs especialmente), mas minha admiração pela obra de um artista, querendo ou não, passa por sua postura diante da vida.

Abraços e, de todo coração, sucesso para Elba, que por sua trajetória é merecedora de muita reverência em nosso Brasil.

Antonio Fausto disse...

Admiro muito a artista versátil que é Elba Ramalho, cantora que, ao longo desses 30 anos, cantou em vertentes as mais diversas da música brasileira, sempre com muita personalidade.

Elba, sim, é artista guerreira e criativa num país onde cantoras emergem a todo momento, nem sempre com algo a dizer.

E o que está em questão aqui é justamente tudo o que Elba cantou e a carreira que ela construiu ao longo dos últimos 30, 31 anos, e não se a aparência dela incomoda ou deixa de incomodar alguém. Neste blog, a discussão parece ser outra. Ou parecia.

Pela aparência, Elba pode incomodar o autor do post acima, mas eu a acho uma mulher belíssima. Sinto-me até ridículo tendo que discutir a aparência de uma cantora respeitável num espaço como este. Mas, dadas as circunstâncias, foi necessário.

E uma discussão como essa ocorrer num espaço que se diz voltado para a música é, considero eu, de extremo mau gosto. Soa até como machismo.

E duvido muito que o Mauro aceitasese algum comentário que colocasse em discussão a aparência de Bethânia.

flavio ricci disse...

Tambem sempre admirei Elba e acompanha sua carreira seja através dos discos lançados ou shows assistidos. Mas de uns anos pra ca, aquela Elba parece que ecerrou sua carreira. Ao ouvir este cd ao vivo no Marco Zero, desconheci a nossa Elba Ramalho. Elba hoje em dia "apenas canta". Aquelas interpretações com garra e emoção acabaram. Escuto este cd (e alguns outros lançados há pouco) e não consigo sentir mais emoção nenhuma através daquele canto. É uma pena que uma artista da importância de Elba tenha se deixado levar por esse caminho.

Under_son* disse...

Como paraibano que sou fora da terra sinto muito orgulho do que minha conterrânea conquistou. Claro que opiniões são diferentes. É fato que há algo estranho com a aparência dela. Chega a ser constrangedor ver a capa do novo disco(Marco Zero) e achar que a foto foi mal tirada pela distorção de seus traços. por vezes parece uma caricatura. Mas, foi uma escolha de uma mulher que encara a velhice de um outro modo. Ela pode até ter sido infeliz na escolha do profissional. mas, havemos de reconhecer que para alguém que não pára e está há poucos anos de entrar na casa dos sessenta ela tem um pique invejável. A voz mudou. procurou aperfeiçoar assim como qualquer outro que se especializa na sua área. Nossas divas tem o direito de errar assim como nós. Quem não atirou pedras em Bethânia quando ela gravou 'É o amor'? Ou quando Gal gravou Sullivan e Massadas? A 'deusa' Rosana caiu no underground depois de tantas intervenções estéticas e chegar a lugar nenhum...assim vemos que todas podem errar por quererem passar o melhor ao seu público. Amo Elba. Evoé guerreira!

Diogo Santos disse...

Ela já é praticamente da minha familia!

Admito que fiquei decepcionado com esse repertório inusitado mesmo sabendo que o CD é festivo e remete aos 30 anos de carreira de Elba Ramalho - que assim como minha falecida mãe é uma paraibana e filha de pai pernambucano.


Senti falta de " Jogo de Cintura "," Felicidade Urgente"," Quem é muito querido a mim " e " Trem das ilusões" entre (várias) outras.


Um abraço a todos
Viva Elba Ramalho!
Diogo Santos



PS: Elba grave um " Elba Ramalho canta Chico Cesar "