Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Com paixão, remontagem de 'Hair' expõe dilemas e anseios ainda atuais

Resenha de musical
Título: Hair
Texto: Gerome Ragni e James Rado
Letra: Gerome Ragni e James Rado
Música: Galt MacDermot
Direção: Charles Möeller
Versão brasileira: Claudio Botelho
Elenco: Hugo Bonemer (Claude), Igor Rickli (Berger), Carol Puntel (Sheila), Letícia Colin (Jeanie), Marcel Octavio (Woof), Karin Hils (Dionne), Reynaldo Machado (Hud) e outros
Foto: Divulgação Factoria Comunicação / Guga Melgar
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro (RJ), de quinta-feira a domingo

Por mais que a história de Hair seja datada, as questões juvenis discutidas no musical - ora remontado no Brasil pela dupla Charles Möeller & Claudio Botelho - transcendem a era hippie da contracultura em que foi gerado o espetáculo de aura mítica que debutou em 1967 no circuito off-Broadway. Em 2010, o rock já não é tão psicodélico (ainda que nomes como MGMT bebam dessa fonte), as viagens de LSD saíram de moda, a nudez já está vulgarizada e os hippies já viraram caricaturas em programas de humor. Contudo, permanecem iguais - mesmo que em outro contexto sócio-político - os dilemas de qualquer jovem em qualquer lugar do mundo. Seguir seu próprio caminho, fiel às próprias leis, ou se ajustar ao sistema sempre opressor: eis a questão que se apresenta a qualquer um que ingresse na vida adulta. Isso talvez explique o sucesso perene de Hair, revitalizado nos palcos norte-americanos e ingleses a partir de 2008, em remontagens que renovaram o interesse pelo musical. Sucesso repetido no Brasil pelo vibrante espetáculo assinado pela dupla Charles Möeller & Claudio Botelho, íntima do universo da Broadway. A remontagem nacional de Hair traz à tona, com paixão, os ideais pacíficos e lisérgicos da era hippie. A velha chama se reacende no palco do Teatro Oi Casa Grande, onde o espetáculo vai ficar em cartaz, de quinta-feira a domingo, até fevereiro de 2010. Como de praxe, Botelho apresenta versões em português das músicas com fluência que faz com que os temas pareçam ter sido originalmente escritos no idioma de Camões, do primeiro (Aquarius) ao convidativo último número (Deixa o Sol Entrar, puxado de forma arrepiante por Karin Hils, integrante do extinto grupo Rouge). Os figurinos deslumbrantes de Marcelo Pies ajudam a criar o clima de encantamento que permanece inalterado ao longo da encenação. Mas é o elenco de 30 atores o motor que guia Hair em cena de forma apaixonante e apaixonada. A garra da tribo atenua o fato de a dramaturgia de Gerome Ragni e James Rado, a rigor, ser frágil (o que talvez explique a opção do cineasta Milos Forman, diretor do controvertido filme de 1979, por reconstruir a trama de forma mais convencional ao levar Hair para as telas). É a paixão do elenco que faz de Hair um espetáculo eletrizante, seja nos números musicais - quase todos vibrantes porque priorizam a união de vozes - seja na defesa da ideologia de seus personagens. A dupla de protagonistas masculinos - Claude (Hugo Bonemer, grata revelação no papel do jovem pressionado por seus caricaturizados pais a lutar na guerra do Vietnã) e Berger (Igor Rickli, com carisma suficiente para encarnar o líder da tribo) - se entrosa  harmoniosamente em cena, ofuscando involuntariamente a presença de Sheila (Carol Puntel), vértice de triângulo que não fica bem explicitado na montagem. Do time feminino, Letícia Colin - intérprete da viajante grávida Jeanie - rouba as cenas em que aparece, garantindo o riso do espectador. E, no quesito voz, é impossível não se contagiar pela força de Karin Hils, a Dionne, brilhante ao iluminar o número final, Deixa o Sol Entrar. Enfim, Hair reacende dilemas e anseios ainda atuais, o que vai fazer com que novas gerações se identifiquem com os ideais da mítica tribo.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Por mais que a história de Hair seja datada, as questões juvenis discutidas no musical - ora remontado no Brasil pela dupla Charles Möeller & Claudio Botelho - transcendem a era hippie da contracultura em que foi gerado o espetáculo de aura mítica que debutou em 1967 no circuito off-Broadway. Em 2010, o rock já não é tão psicodélico (ainda que nomes como MGMT bebam dessa fonte), as viagens de LSD saíram de moda, a nudez já está vulgarizada e os hippies já viraram caricaturas em programas de humor. Contudo, permanecem iguais - mesmo que em outro contexto sócio-político - os dilemas de qualquer jovem em qualquer lugar do mundo. Seguir seu próprio caminho, fiel às próprias leis, ou se ajustar ao sistema sempre opressor: eis a questão que se apresenta a qualquer um que ingresse na vida adulta. Isso talvez explique o sucesso perene de Hair, revitalizado nos palcos norte-americanos e ingleses a partir de 2008, em remontagens que renovaram o interesse pelo musical. Sucesso repetido no Brasil pelo vibrante espetáculo assinado pela dupla Charles Möeller & Claudio Botelho, íntima do universo da Broadway. A remontagem nacional de Hair traz à tona, com paixão, os ideais pacíficos e lisérgicos da era hippie. A velha chama se reacende no palco do Teatro Oi Casa Grande, onde o espetáculo vai ficar em cartaz, de quinta-feira a domingo, até fevereiro de 2010. Como de praxe, Botelho apresenta versões em português das músicas com fluência que faz com que os temas pareçam ter sido originalmente escritos no idioma de Camões, do primeiro (Aquarius) ao convidativo último número (Deixa o Sol Entrar, puxado de forma arrepiante por Karin Hils, integrante do extinto grupo Rouge). Os figurinos deslumbrantes de Marcelo Pies ajudam a criar o clima de encantamento que permanece inalterado ao longo da encenação. Mas é o elenco de 30 atores o motor que guia Hair em cena de forma apaixonante e apaixonada. A garra da tribo atenua o fato de a dramaturgia de Gerome Ragni e James Rado, a rigor, ser frágil (o que talvez explique a opção do cineasta Milos Forman, diretor do controvertido filme de 1979, por reconstruir a trama de forma mais convencional ao levar Hair para as telas). É a paixão do elenco que faz de Hair um espetáculo eletrizante, seja nos números musicais - quase todos vibrantes porque priorizam a união de vozes - seja na defesa da ideologia de seus personagens. A dupla de protagonistas masculinos - Claude (Hugo Bonemer, grata revelação no papel do jovem pressionado por seus caricaturizados pais a lutar na guerra do Vietnã) e Berger (Igor Rickli, com carisma suficiente para encarnar o líder da tribo) - se entrosa harmoniosamente em cena, ofuscando involuntariamente a presença de Sheila (Carol Puntel), vértice de triângulo que não fica bem explicitado na montagem. Do time feminino, Letícia Colin - intérprete da viajante grávida Jeanie - rouba as cenas em que aparece, garantindo o riso do espectador. E, no quesito voz, é impossível não se contagiar pela força de Karin Hils, a Dionne, brilhante ao iluminar o número final, Deixa o Sol Entrar. Enfim, Hair reacende dilemas e anseios ainda atuais, o que vai fazer com que novas gerações se identifiquem com os ideais da mítica tribo.

Alexandre Siqueira disse...

A montagem brasileira de "Hair" é simplesmente imperdível e viciante! Dá vontade de ver uma vez por semana, se acharmos ingresso... É emocionante!