Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Com suingue, Arícia exalta mulher negra no afro 'Onde Mora o Segredo'

Resenha de CD
Título: Onde Mora o Segredo

Artista: Arícia Mess
Gravadora: Tratore
Cotação: * * * 1/2

"Sou gingadeira / Levanto a poeira / A força que sobe do chão / Me torna simples e verdadeira / Sou mulher brasileira", se autoperfila Arícia Mess em versos de Bate Folha Jurema, parceria de Paula Pretta com essa cantora e compositora de Niterói (RJ) que transita desde os anos 90 pelo circuito alternativo carioca.  Apresentada em EP editado pela artista em 2009, Bate Folha Jurema reaparece no álbum Onde Mora o Segredo, produzido de forma independente por Arícia - com Carlos Trilha e Fernando Morello - e ora distribuído nas lojas pela Tratore neste mês de novembro de 2010. O disco reitera o suingue black dessa artista que passa a música brasileira pelo filtro do soul e do funk. Com justificado orgulho negro, Arícia exalta o balanço e a força da mulher, notadamente a afro-brasileira, religando a ponte África-Brasil em temas autorais como Onde Mora o Segredo (Ginga Rainha Quilombola de Matamba e Angola), parceria com Suely Mesquita, co-autora também do ótimo funk Hora Boa. Nesse contexto poético e musical, a regravação chique de Black Is Beautiful (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) - em que a voz e a ginga de Arícia se juntam somente ao piano e ao órgão pilotados por Carlos Trilha - se ajusta perfeitamente ao espírito de um disco que celebra o suingue da cor. Ainda dentro do naipe de regravações antenadas que pontuam Onde Mora o Segredo, há Dengue, tema da lavra mais afro de Leci Brandão, lançado em 1978 por Zezé Motta em seu primeiro álbum solo. No registro de Arícia, Dengue tem seu suingue original diluído pela densa cama eletrônica que também acomoda Preto Velho (Marcus Cabeção), outra faixa afro, previamente lançada no EP de 2009. No fim, em clima eletroacústico, Arícia joga outra luz em Clariô, música de Péricles Cavalcanti que Gal Costa lançou em 1977 no roqueiro álbum Caras & Bocas. No todo, a gingadeira vocal da cantora - musa cult do underground carioca - encoberta até a eventual irregularidade do repertório autoral registrado em Onde Mora o Segredo, esse valente álbum afro-brasileiro, fiel ao som (e às ideias...) de Arícia Mess.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

"Sou gingadeira / Levanto a poeira / A força que sobe do chão / Me torna simples e verdadeira / Sou mulher brasileira", se autoperfila Arícia Mess em versos de Bate Folha Jurema, parceria de Paula Pretta com essa cantora e compositora de Niterói (RJ) que transita desde os anos 90 pelo circuito alternativo carioca. Apresentada em EP editado pela artista em 2009, Bate Folha Jurema reaparece no álbum Onde Mora o Segredo, produzido de forma independente por Arícia - com Carlos Trilha e Fernando Morello - e ora distribuído nas lojas pela Tratore neste mês de novembro de 2010. O disco reitera o suingue black dessa artista que passa a música brasileira pelo filtro do soul e do funk. Com justificado orgulho negro, Arícia exalta o balanço e a força da mulher, notadamente a afro-brasileira, religando a ponte África-Brasil em temas autorais como Onde Mora o Segredo (Ginga Rainha Quilombola de Matamba e Angola), parceria com Suely Mesquita, colaboradora também em Hora Boa. Nesse contexto poético e musical, a regravação chique de Black Is Beautiful (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) - em que a voz e a ginga de Arícia se juntam somente ao piano e ao órgão pilotados por Carlos Trilha - se ajusta perfeitamente ao espírito de um disco que celebra o suingue da cor. Ainda dentro do naipe de regravações antenadas que pontuam Onde Mora o Segredo, há Dengue, tema da lavra mais afro de Leci Brandão, lançado em 1978 por Zezé Motta em seu primeiro álbum solo. No registro de Arícia, Dengue tem seu suingue original diluído pela densa cama eletrônica que também acomoda Preto Velho (Marcus Cabeção), outra faixa afro, previamente lançada no EP de 2009. No fim, em clima eletroacústico, Arícia joga outra luz em Clariô, música de Péricles Cavalcanti que Gal Costa lançou em 1977 no roqueiro álbum Caras & Bocas. No todo, a gingadeira vocal da cantora - musa cult do underground carioca - encoberta até a eventual irregularidade do repertório autoral registrado em Onde Mora o Segredo, esse valente álbum afro-brasileiro, fiel ao som (e às ideias) de Arícia Mess.