Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Gravado sem vibração, 'Acústico MTV II' de Lulu se escora nos 'grooves'

Resenha de CD e DVD
Título: Lulu Santos Acústico MTV II
Artista: Lulu Santos
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * *

Não, Lulu Santos não passou os anos 2000 deitado no berço em que repousa seu esplêndido cancioneiro de hits amealhados ao longo das décadas de 80 e 90 - época de seu apogeu comercial. Nos dez anos que separam seu primeiro Acústico MTV (gravado e editado em 2000) e a decisão de aderir pela segunda vez ao formato da emissora, o cantor e compositor lançou cinco álbuns de inéditas. Com maior ou menor vigor, Programa (2002), Bugalu (2003), Letra & Música (2005), Longplay (2007) e Singular (2009) mostraram que Lulu Santos não ficou parado no tempo em que foi moderno para a juventude que descobria os tesouros do pop rock brasileiro dos 80. Ora editado em CD e DVD pela Universal Music, seu Acústico MTV II não bisa o repertório do primeiro. A inevitável redundância, amenizada pelos grooves espertos da banda, vem do próprio desgaste da fórmula dos acústicos, retomados em 2010 pela MTV para festejar os 20 anos de atuação no mercado brasileiro. Lulu - que entra em cena ao som de tambores - bem que tenta dar outra cara a seus sucessos sem transfigurá-los. Já no primeiro número - E Tudo Mais, única inédita do repertório, estruturada e apresentada na levada do violão - fica reconhecível o DNA autoral do compositor, um dos maiores hitmakers do mundo, hábil na busca pela perfeição do pop. Por isso mesmo, os toques renovadores - como os sons orientais que introduzem Papo Cabeça (1990) - são sutis. Introduzida pela cuíca de Pretinho da Serrinha, Baby de Babylon (2009) é tirada de sua pista original e cai no samba com bossa. Já  Tudo Azul (1984) é reembalada com a batida do baião citado na letra na mais bem-resolvida ousadia estilística do projeto. Entre popsambalanço (Brumário e Dinossauros do Rock, 1989 e 1988), canção pop romântica (Um pro Outro, 1986) e tema funkeado (Pra Você Parar, 1990), Lulu dá voz ao seu baixista Jorge Ailton - opaco convidado de O Óbvio, tema da lavra do próprio Ailton - e recebe Marina de la Riva para pôr molho latino em Adivinha o quê? (1983), entoada em castelhano pela cantora, íntima dos sons cubanos. Mas nada contagia muito. Talvez porque não haja nesse Acústico II de Lulu a vibração que eletriza os shows do artista.  Enquadrada nas formalidades da MTV, a plateia de convidados parece apática no vídeo e impede que a gravação - feita em 23 de junho de 2010 no Estúdio Oscarito, no Pólo de Cine e Vídeo, no Rio de Janeiro (RJ) - resulte calorosa como as apresentações habituais de Lulu. Nem mesmo as incursões contemporâneas do cantor pelas searas de Gilberto Gil (Ele Falava Nisso Todo Dia, com divisão estranha que anula a pulsação do registro original de Gil), Caetano Veloso (Odara, com as vozes de Andrea Negreiros e Marina de la Riva, mas sem o esperado clima festivo) e Jorge Ben Jor (Tuareg, com Lulu em sintonia com o suingue do Zé Pretinho) alteram o quadro final. Ao "acender velas" para seus "três santos da música popular popular brasileira", Lulu Santos mostra que reza com muito mais propriedade pela própria cartilha pop.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Não, Lulu Santos não passou os anos 2000 deitado no berço em que repousa seu esplêndido cancioneiro de hits amealhados ao longo das décadas de 80 e 90 - época de seu apogeu comercial. Nos dez anos que separam seu primeiro Acústico MTV (gravado e editado em 2000) e a decisão de aderir pela segunda vez ao formato da emissora, o cantor e compositor lançou cinco álbuns de inéditas. Com maior ou menor vigor, Programa (2002), Bugalu (2003), Letra & Música (2005), Longplay (2007) e Singular (2009) mostraram que Lulu Santos não ficou parado no tempo em que foi moderno para a juventude que descobria os tesouros do pop rock brasileiro dos 80. Ora editado em CD e DVD pela Universal Music, seu Acústico MTV II não bisa o repertório do primeiro. A inevitável redundância, amenizada pelos grooves espertos da banda, vem do próprio desgaste da fórmula dos acústicos, retomados em 2010 pela MTV para festejar os 20 anos de atuação no mercado brasileiro. Lulu - que entra em cena ao som de tambores - bem que tenta dar outra cara a seus sucessos sem transfigurá-los. Já no primeiro número - E Tudo Mais, única inédita do repertório, estruturada e apresentada na levada do violão - fica reconhecível o DNA autoral do compositor, um dos maiores hitmakers do mundo, hábil na busca pela perfeição do pop. Por isso mesmo, os toques renovadores - como os sons orientais que introduzem Papo Cabeça (1990) - são sutis. Introduzida pela cuíca de Pretinho da Serrinha, Baby de Babylon (2009) é tirada de sua pista original e cai no samba com bossa. Já Tudo Azul (1984) é reembalada com a batida do baião citado na letra na mais bem-resolvida ousadia estilística do projeto. Entre popsambalanço (Brumário e Dinossauros do Rock, 1989 e 1988), canção pop romântica (Um pro Outro, 1986) e tema funkeado (Pra Você Parar, 1990), Lulu dá voz ao seu baixista Jorge Ailton - opaco convidado de O Óbvio, tema da lavra do próprio Ailton - e recebe Marina de la Riva para pôr molho latino em Adivinha o quê? (1983), entoada em castelhano pela cantora, íntima dos sons cubanos. Mas nada contagia muito. Talvez porque não haja nesse Acústico II de Lulu a vibração que eletriza os shows do artista. Enquadrada nas formalidades da MTV, a plateia de convidados parece apática no vídeo e impede que a gravação - feita em 23 de junho de 2010 no Estúdio Oscarito, no Pólo de Cine e Vídeo, no Rio de Janeiro (RJ) - resulte calorosa como as apresentações habituais de Lulu. Nem mesmo as incursões contemporâneas do cantor pelas searas de Gilberto Gil (Ele Falava Nisso Todo Dia, com divisão estranha que anula a pulsação do registro original de Gil), Caetano Veloso (Odara, com as vozes de Andrea Negreiros e Marina de la Riva, mas sem o esperado clima festivo) e Jorge Ben Jor (Tuareg, com Lulu em sintonia com o suingue do Zé Pretinho) alteram o quadro final. Ao "acender velas" para seus "três santos da música popular popular brasileira", Lulu Santos mostra que reza com muito mais propriedade pela própria cartilha pop.

Unknown disse...

Concordo com vc Mauro, achei este projeto do Lulu super sem sal, totalmente dispensável. parece disco pra cumprir contrato.

Pedro Progresso disse...

Também não gostei. O primeiro é um primor! O melhor acústico...