Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 2 de novembro de 2010

No palco, Roberta Sá entra com mais vivacidade na roda solar de Roque

Resenha de Show - Gravação do programa Palco MPB
Título: Quando o Canto É Reza
Artista: Roberta Sá (em foto de Mauro Ferreira) e Trio Madeira Brasil
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 1º de novembro de 2010
Cotação: * * * * 1/2
Agenda da turnê nacional do show Quando o Canto É Reza
2 de novembro - Palácio das Artes (Belo Horizonte, MG)
6 de novembro - Teatro Sesi (Caxias, RJ)
11 de novembro - HSBC Brasil (São Paulo, SP)

A abordagem da obra do compositor baiano Roque Ferreira por Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil gerou irretocável disco de estúdio, Quando o Canto É Reza, marcado pela precisão técnica das cordas do trio e da voz límpida da cantora, ajustada aos arranjos como um instrumento. No show, que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) em 1º de novembro de 2010 para gravação do programa Palco MPB (da rádio carioca MPB FM), tal abordagem roça e geralmente reproduz a precisão técnica do estúdio, mas ganha calor. No palco, Roberta Sá entra na roda solar de Roque com mais vivacidade, aliando à voz um elegante gestual corporal que evoca o balanço todo próprio do Recôncavo Baiano - matriz e força motriz do repertório de sambas, ijexás e chulas que compõem a obra afro-baiana do compositor. A cada show, Roberta vem mostrando maior intimidade com o palco, sendo que, em Quando o Canto É Reza, a cantora já começa a se mostrar senhora da cena. A voz - de uma emissão que beira a perfeição, como se percebe na folia de reis cantada a capella na abertura do show e também nos vocalises sedutores do samba Marejada - já parece mesmo sagrada. E o fato é que - em total sintonia com as cordas magistrais de Marcello Gonçalves (violão de sete cordas), Ronaldo do Bandolim e Zé Paulo Becker (violão e viola caipira) - Roberta Sá transita com brilho  (e com um apropriado figurino de Isabela Capeto) por ijexá (Menino), samba de roda (Chita Fina, mais envolvente ao ser repetida no bis) e samba à moda carioca (Tô Fora). No show, mais do que no disco, as percussões igualmente precisas de Zero e Paulino Dias sobressaem em números como Mandingo (parceria de Roque e Pedro Luís) e Cocada, dando a alguns temas dose maior de africanidade e brasilidade, ainda que a intenção salutar e bem-sucedida do trio seja deslocar a obra de Roque Ferreira de seu habitual eixo afro-baiano. Aliás, em rota paradoxal, o samba Água da Minha Sede, composto por Roque com Dudu Nobre e gravado por Zeca Pagodinho com levada carioca, retorna para sua roda original na interpretação de Roberta e trio. Água da Minha Sede é um dos destaques de roteiro que apresenta outro samba de Roque conhecido na voz de Pagodinho. É Samba pras Moças, citado no disco ao fim de Festejo, mas cantado inteiro no show em medley com a mesma Festejo. Fiel ao espírito do disco, o show Quando o Canto É Reza não deixa de exibir em Orixá de Frente a longa passagem instrumental que dá ao tema um clima de samba-choro. Xirê, já no bis, reitera que, mesmo sem rezar pela ortodoxa cartilha rítmica da obra de Roque Ferreira, Roberta Sá oferece com o Trio Madeira Brasil uma visão diferenciada do cancioneiro do compositor. Nem melhor nem pior do que a abordagem de cantoras como Maria Bethânia e Mariene de Castro. Apenas diferente. E bela, muito bela...

14 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A abordagem da obra do compositor baiano Roque Ferreira por Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil gerou irretocável disco de estúdio, Quando o Canto É Reza, marcado pela precisão técnica das cordas do trio e da voz límpida da cantora, ajustada aos arranjos como um instrumento. No show, que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) em 1º de novembro de 2010 para gravação do programa Palco MPB (da rádio carioca MPB FM), tal abordagem roça e geralmente reproduz a precisão técnica do estúdio, mas ganha calor. No palco, Roberta Sá entra na roda solar de Roque com mais vivacidade, aliando à voz um elegante gestual corporal que evoca o balanço todo próprio do Recôncavo Baiano - matriz e força motriz do repertório de sambas, ijexás e chulas que compõem a obra afro-baiana do compositor. A cada show, Roberta vem mostrando maior intimidade com o palco, sendo que, em Quando o Canto É Reza, a cantora já começa a se mostrar senhora da cena. A voz - de uma emissão que beira a perfeição, como se percebe na folia de reis cantada a capella na abertura do show e também nos vocalises sedutores do samba Marejada - já parece mesmo sagrada. E o fato é que - em total sintonia com as cordas magistrais de Marcello Gonçalves (violão de sete cordas), Ronaldo do Bandolim e Zé Paulo Becker (violão e viola caipira) - Roberta Sá transita com brilho (e com um apropriado figurino de Isabela Capeto) por ijexá (Menino), samba de roda (Chita Fina, mais envolvente ao ser repetida no bis) e samba à moda carioca (Tô Fora). No show, mais do que no disco, as percussões igualmente precisas de Zero e Paulino Dias sobressaem em números como Mandingo (parceria de Roque e Pedro Luís) e Cocada, dando a alguns temas dose maior de africanidade e brasilidade, ainda que a intenção salutar e bem-sucedida do trio seja deslocar a obra de Roque Ferreira de seu habitual eixo afro-baiano. Aliás, em rota paradoxal, o samba Água da Minha Sede, composto por Roque com Dudu Nobre e gravado por Zeca Pagodinho com levada carioca, retorna para sua roda original na interpretação de Roberta e trio. Água da Minha Sede é um dos destaques de roteiro que apresenta outro samba de Roque conhecido na voz de Pagodinho. É Samba pras Moças, citado no disco ao fim de Festejo, mas cantado inteiro no show em medley com a mesma Festejo. Fiel ao espírito do disco, o show Quando o Canto É Reza não deixa de exibir em Orixá de Frente a longa passagem instrumental que dá ao tema um clima de samba-choro. Xirê, já no bis, reitera que, mesmo sem rezar pela ortodoxa cartilha rítmica da obra de Roque Ferreira, Roberta Sá oferece com o Trio Madeira Brasil uma visão diferenciada do cancioneiro do compositor. Nem melhor nem pior do que a abordagem de cantoras como Maria Bethânia e Mariene de Castro. Apenas diferente. E bela, muito bela...

Isaac Oliveira disse...

Mauro, sei que sua intenção não é a de comparar a obra dessas intérpretes de Roque, mas "lá vai" a minha opiniao:

O disco de Roberta é bom (gosto e ouço este cd, mas não traduz o verdadeiro samba de roda do Recôncavo e de Roque!

Mariene de Catro fez, agora em Outubro, quatro Shows de um projeto chamado: "Meu compadre Ferreira" e ali sim é samba de roda de Roque e do Recôncavo baiano!

Se é preciso afastar a obra do compositor de suas origens, onde reside a homenagem ao mesmo?

Espero que este novo projeto de Mariene cresça e apareça, para mostrar mais e mais a canção-raiz deste pais.

Denilson Santos disse...

Ontem assisti a transmissão pela rádio MPB FM desse show e fiquei pensando com meus botões: "aposto como o Mauro Ferreira está na platéia!!!" rsrsrs

Pelo que pude ouvir, a Roberta está (finalmente) cantando com um pouco de calor, o que resultou num show muito bonito.

Mas ainda acho o canto dela muito linear, mesmo que o Mauro considere isso como "emissão que beira a perfeição".

Belo post, Mauro. Parabéns.

abração,
Denilson

Unknown disse...

Mauro, só vc e o critíco do JB falaram bem desse disco da Roberta Sá. O maldição foi tão grande que o JB em seguida fechou as portas. Com ele foi a crítica para o arquivo morto. Os Orixás da Bahia não são de brincadeira. Parabéns, vc continua solitário e convicto de que Roberta arrasou nesta homenagem ao Roque.

Guilherme disse...

O Paulo não lê jornais de São Paulo...

Denilson Santos disse...

Paulo,

Desculpe, mas sou obrigado a discordar de você. O crítico do jornal O Globo, João Pimentel, também classificou como ótimo o cd da Roberta Sá e do Trio Madeira Brasil em homenagem ao Roque Ferreira.

Você pode consultar aqui http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/08/02/roberta-sa-o-trio-madeira-brasil-homenageiam-com-classe-baiano-roque-ferreira-917298169.asp

abração,
Denilson

Vinny disse...

Eu assisti o lançamento desse show aqui na Bahia, no TCA e posso afirmar que foi um show à altura de Roque Ferreira. Roberta emocionou, cativou e deixou a platéia embasbacada com sua voz e o seu talento. Se o CD é maravilhoso, o show é bem mais sedutor.

E pra mim, Roberta já é uma das melhores cantoras do Brasil, sem dúvida!

Estalactites hemorrágicas disse...

A Menina manda bem e, segue os passos de Elis e M. Monte. Canta bem? Regra número um para qualquer cantora que as duas citadas adotaram: pega, fica, namora ou casa com músico bom. Com certeza a qualidade do repertório e dos arranjos mudam da água para o vinho. A homenagem ao Roque é válida e pertinente, afinal ela se propõe a ser uma interprete e esta é a sua leitura para a obra do baiano. Agora uma curiosidade Mauro: no show, Roberta continua usando aqueles vestidos que precisam de grua pra montar e desmontar?

falsobrilhante disse...

Concordo com o Mauro Ferreira, mas confesso que levei um susto quando ouvi o disco, porém depois fui ouvindo e ouvindo e ouvindo e ouvindo, acho lindo, não me canso. Do meu ponto de vista a proposta não é afastar a obra da origem, mas fazer uma outra leitura possível da obra do compositor. Tanto possível que aconteceu. Prá que fazer igual a Mariene de Castro, prá ser acusada de repetitiva? Mariene faz ótimo do geito dela. A Roberta fez muito bem do jeito dela e do Trio Madeira Brasil.
Salve Roque,
Salve Mariene,
Salve o Trio,
Salve Roberta,
Viva a Bahia.

Unknown disse...

Amo a Roberta, mas ainda penso que mais vale uma desafinação com calor do que um canto frio.
MAs, confesso, que quero assistir a este espetáculo novamente, pois não simpatizei com este cd, achei que foi como se a Roberta tivesse dado um passo a trás, porém ao vivo passei a ver este trabalho com uma aprovação maior, no show ela fez o cd brilhar um pouco mais.
Parabéns Roberta e SR.Mauro.

Carlos Cardoso disse...

Boa Tarde Galera

Achei o disco muito bacana, o ouço quase todos os dias, me traz uma paz incrível. A Voz de Roberta realmente é celestial.
No entanto percebi discreta evolução vocal, embora eu ame o canto dela do jeito que está.
Vi este show no TCA e no municipal de Niterói(este não conta pois ela estava sem voz, foi quase constrangedor) e deixo aqui registrado: Há muito para evoluir em performance no palco, este show precisa de mais pimenta. Neste quesito ela poderia ter umas Aulas com Mariene sim.
Mas ainda assim amo a Roberta!
Salve o samba de Roque!!

Jorge Reis disse...

Não quero mais saber deste povo da Bahia, com o tempo se tornaram "os mercadores do templo"...
Mas este disco é o que há de melhor na MPB, desde "Brasileirinho" de MB.
Gente, não é musica regional, é mundial, excetuando-se os improvisos, não fica nada a dever para o jazz, a Voz de roberta é mais um instrumento somado as notas infernais do Trio Madeira...
Não acho frio, acho quente, Mauro não está sozinho, tenho certeza que tem tanta gente vidrada no CD que neme se dá conta de sair em sua defesa...
Dá-lhe Roberta, Mostre ao que veio!

Unknown disse...

Mauro, fiquei extasiado com seu comentário! Assisti esse show em Salvador e confesso que me emocionei com ele! Seus comentários são por demais pertinentes... Robertá Sá e trio madeira brasil nos surpreenderam com essa obra... e o que essa voz da Roberta?? Está linda demais!!!
Parabéns pelos comentários, te leio sempre!!!!
Rodrigo.

Wilma Araújo disse...

Eu adoro esse cd da Roberta.Ouço sempre.Me encanta o repertório, os arranjos e a execução maravilhosa do Trio Madeira Brasil(eles são demais!!).Louca pra ver o show.

Wilma Araújo