Mauro Ferreira no G1

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domingo, 14 de novembro de 2010

Rei posto dos bailes se (re)apresenta solar no CD 'Prazer, Eu Sou Bebeto'

Resenha de CD
Título: Prazer, Eu Sou Bebeto
Artista: Bebeto
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * 1/2

Rei dos bailes periféricos entre a segunda metade dos anos 70 e a primeira dos 80, Roberto Tadeu de Souza, o Bebeto, se reapresenta feliz às novas gerações em seu primeiro disco de inéditas em 15 anos. Produzido com elegância por Clemente Magalhães, Prazer, Eu Sou Bebeto é o melhor álbum pós-auge deste artista que, a despeito de ter nascido em São Paulo (SP), sempre fez um som que traduz a ensolarada alma carioca. Mulher, praia e futebol formam o básico tripé temático do cancioneiro de Bebeto, perpetuado neste CD que enfileira 14 inéditas em 15 faixas. A exceção é Água, Água (Bebeto e Teodoro), alarmista (mas visionário) alerta ambiental, gravado originalmente no segundo álbum do cantor, Esperanças Mil (1977). E o fato é que, com seu suingue valorizado por músicos contemporâneos como o trombonista Marlon Sette, arranjador dos metais de temas como o festivo Buraco Quente (Bebeto e Mombaça), este rei posto dos bailes da pesada - redescoberto por DJs nos últimos anos - reivindica a coroa a reboque de seu samba-rock, ritmo dominante de Herdeiros da Raça, faixa que revive com orgulho negro a parceria de Bebeto com Rubens, compositores de sucessos postos outrora na pista black das periferias carioca e  fluminense. "Que sol é esse, hein?", pergunta Bebeto de improviso logo no início de Charme (Thiago Corrêa e Allan Dias Castro),  faixa que abre o disco com o suingue e o alto astral típicos desse artista, ambos reiterados no bom tema seguinte, De Bem com a Vida (Vadinho e Bebeto). "Tô de bem com a vida / Só não quero encontrar uma bala perdida", ressalta Bebeto no refrão, atualizado com a violência que nubla cotidianamente a ensolarada cidade do Rio de Janeiro. Fiel à ideologia do artista, Bagunçando na Área (Bebeto, Flávio Lima e Mitta Garcia) narra jogo complicado com  uma mulher difícil, usando metaforicamene o jargão do futebol. Compositores recorrentes no repertório, Thiago Corrêa e Allan Dias Castro citam nominalmente Jorge Ben Jor em Tudo Bem (Big Ben), mas é em Cara Casado - outra inédita da dupla - que fica nítido o fato de Bebeto se portar em alguns momentos como mero diluidor do suingue personalíssimo do Zé Pretinho. Fã jovem do balanço de Bebeto, Davi Moraes põe a marca de sua guitarra em Valorizando a Vida (Bebeto, Flávio Lima e Mitta Garcia), balada de menor voltagem rítmica. O mesmo Davi toca violão em Eterno Poeta (Bebeto, Rubens e Dadá), samba suave de balanço mais tradicional em que o cantor celebra Noel Rosa (1910 - 1937) em tributo bem inusitado. Em  rota geográfica diversa, Com Sotaque do meu Samba (Bebeto e Mombaça) procura unir a batida do samba-reggae com a pegada do samba-rock, mas a fusão não se concretiza, talvez pela ausência do baticum que sustenta o ritmo baiano. Bebeto seduz mais quando não se afasta de sua praia...

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Rei dos bailes periféricos entre a segunda metade dos anos 70 e a primeira dos 80, Roberto Tadeu de Souza, o Bebeto, se reapresenta feliz às novas gerações em seu primeiro disco de inéditas em 15 anos. Produzido com elegância por Clemente Magalhães, Prazer, Eu Sou Bebeto é o melhor álbum pós-auge deste artista que, a despeito de ter nascido em São Paulo (SP), sempre fez um som que traduz a ensolarada alma carioca. Mulher, praia e futebol formam o básico tripé temático do cancioneiro de Bebeto, perpetuado neste CD que enfileira 14 inéditas em 15 faixas. A exceção é Água, Água (Bebeto e Teodoro), alarmista (mas visionário) alerta ambiental, gravado originalmente no segundo álbum do cantor, Esperanças Mil (1977). E o fato é que, com seu suingue valorizado por músicos contemporâneos como o trombonista Marlon Sette, arranjador dos metais de temas como o festivo Buraco Quente (Bebeto e Mombaça), este rei posto dos bailes da pesada - redescoberto por DJs nos últimos anos - reivindica a coroa a reboque de seu samba-rock, ritmo dominante de Herdeiros da Raça, faixa que revive com orgulho negro a parceria de Bebeto com Rubens, compositores de sucessos postos outrora na pista black das periferias carioca e fluminense. "Que sol é esse, hein?", pergunta Bebeto de improviso logo no início de Charme (Thiago Corrêa e Allan Dias Castro), faixa que abre o disco com o suingue e o alto astral típicos desse artista, ambos reiterados no bom tema seguinte, De Bem com a Vida (Vadinho e Bebeto). "Tô de bem com a vida / Só não quero encontrar uma bala perdida", ressalta Bebeto no refrão, atualizado com a violência que nubla cotidianamente a ensolarada cidade do Rio de Janeiro. Fiel à ideologia do artista, Bagunçando na Área (Bebeto, Flávio Lima e Mitta Garcia) narra jogo complicado com uma mulher difícil, usando metaforicamene o jargão do futebol. Compositores recorrentes no repertório, Thiago Corrêa e Allan Dias Castro citam nominalmente Jorge Ben Jor em Tudo Bem (Big Ben), mas é em Cara Casado - outra inédita da dupla - que fica nítido o fato de Bebeto se portar em alguns momentos como mero diluidor do suingue personalíssimo do Zé Pretinho. Fã jovem do balanço de Bebeto, Davi Moraes põe a marca de sua guitarra em Valorizando a Vida (Bebeto, Flávio Lima e Mitta Garcia), balada de menor voltagem rítmica. O mesmo Davi toca violão em Eterno Poeta (Bebeto, Rubens e Dadá), samba suave de balanço mais tradicional em que o cantor celebra Noel Rosa (1910 - 1937) em tributo bem inusitado. Em rota geográfica diversa, Com Sotaque do meu Samba (Bebeto e Mombaça) procura unir a batida do samba-reggae com a pegada do samba-rock, mas a fusão não se concretiza, talvez pela ausência do baticum que sustenta o ritmo baiano. Bebeto seduz mais quando não se afasta de sua praia...