Título: Samba de Roque
Artista: Clécia Queiroz (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 11 de novembro de 2010
Cotação: * * * *
♪ Verdadeira baiana, Clécia Queiroz mexe, remexe, dá nó nas cadeiras e revira os olhinhos - como diz o samba de Geraldo Pereira (1918 - 1955) - ao mostrar no palco o repertório do álbum Samba de Roque (Independente, 2009), dedicado ao repertório do atualmente celebrado compositor baiano Roque Ferreira. Por ser também atriz e dançarina, a cantora domina a cena com teatralidade e vivacidade, contagiando o (pequeno) público que teve o privilégio de assistir ao primeiro show de Clécia Queiroz em terras cariocas. E o fato é que, ainda parafraseando a letra do samba de Geraldo Pereira, todo mundo bateu palma e, ao fim do show, abriu literalmente a roda no meio da plateia do Teatro Rival para dançar chulas e sambas no ritmo do Recôncavo Baiano. Com voz suave, de leveza perceptível já no primeiro número, Lua de beiradeiro (Roque Ferreira), Clécia foi aos poucos conquistando o público com vivaz presença cênica. Com a autoridade de ser também pesquisadora da cultura afro-baiana, com mestrado em universidade dos Estados Unidos, a cantora foi explicando ao público - ao longo do show - os significados e origens da palavra samba nos dialetos africanos. O tom didático dessas breves explanações não diluiu a alegria que regeu o show Samba de Roque, cujo roteiro destacou temas como Xirê (Roque Ferreira) - ambientado em leve clima de gafeira que não anulou a batida do samba-de-roda - e Licuri (Roque Ferreira). Aliás, em Licuri e em outros números da metade final do show, as dançarinas Edeise Gomes e Laís Rocha contribuíram para aumentar o brilho da cena com coreografias afro-baianas desenvolvidas em sintonia com os passos de Clécia no palco. Elaborada, a dança traduziu visualmente e ampliou a força do universo musical afro-baiano. E a artista mergulhou fundo nas raízes desse universo, apresentando até um semba (ritmo africano que deu origem ao samba), Omim-ô (Roque Ferreira), número em que uma das dançarinas espalhou rosas pelo palco, em belo efeito visual. Em sintonia com a celebração da cultura afro-baiana, Clécia ainda pôs na roda de Roque sambas que fizeram sucesso nos anos 1970 nas vozes de Alcione (Ilha de Maré, de Walmir Lima e Lupo, 1977), Clara Nunes (Conto de Areia, de Romildo e Toninho, 1974) e Fafá de Belém (Filho da Bahia, de Walter Queiroz, 1975). Detalhe: em Ilha de Maré, Clécia recorreu aos dotes de atriz e fingiu estar bêbada ao cantar o samba, homenageando uma habitual espectadora pinguça das apresentações que faz no Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador (BA). Entre estes sucessos dos anos 1970, a intérprete inseriu a chula Pimenteira (Roque Ferreira), Olori (Roque Ferreira) - tema mais romântico de tom resignado que roçou o clima de um samba-choro com sonoridade que evocou os conjuntos regionais em voga na música brasileira da primeira metade do século 20 - e Samba pras Moças (Roque Ferreira e Grazielle), popularizado na voz de Zeca Pagodinho em 1995. Enfim, pela intimidade da artista com a cultura afro-baiana e pela vivacidade teatral com que a intérprete mexeu e remexeu em cena, dando nó nas cadeiras, o samba de Roque Ferreira se ajustou com perfeição ao canto gracioso da - verdadeira - baiana Clécia Queiroz.
10 comentários:
Verdadeira baiana, Clécia Queiroz mexe, remexe, dá nó nas cadeiras e revira os olhinhos - como diz o samba de Geraldo Pereira (1918 - 1955) - ao mostrar no palco o repertório de seu CD Samba de Roque (2009), dedicado ao repertório do celebrado compositor baiano Roque Ferreira. Por ser também atriz e dançarina, a cantora domina a cena com teatralidade e vivacidade, contagiando o (pequeno) público que teve o privilégio de assistir ao primeiro show de Clécia Queiroz em terras cariocas. E o fato é que, ainda parafraseando a letra do samba de Geraldo, todo mundo bateu palma e, ao fim do show, abriu literalmente a roda no meio da plateia do Teatro Rival para dançar chulas e sambas no ritmo do Recôncavo Baiano. Com sua voz suave, de leveza perceptível já no primeiro número, Lua de Beiradeiro (Roque Ferreira), Clécia foi aos poucos conquistando o público com sua vivaz presença cênica. Com a autoridade de ser também uma pesquisadora da cultura afro-baiana, com mestrado em universidade dos Estados Unidos, a cantora foi explicando ao público - ao longo do show - os significados e origens da palavra samba nos dialetos africanos. O tom didático dessas breves explanações não dilui a alegria que rege o show Samba de Roque, cujo roteiro destacou temas como Xirê (Roque Ferreira) - ambientado num leve clima de gafeira que não anulou a batida do samba-de-roda - e Licuri (Roque Ferreira). Aliás, em Licuri e em outros números da metade final do show, as dançarinas Edeise Gomes e Laís Rocha contribuem para aumentar o brilho da cena com suas coreografias afro-baianas desenvolvidas em sintonia com os passos de Clécia no palco. Elaborada, a dança traduz visualmente e ampliaa força do universo musical afro-baiano. E a artista mergulha fundo nas raízes desse universo, apresentando até um semba (ritmo africano que deu origem ao samba), Omim-ô (Roque Ferreira), número em que uma das dançarinas espalha rosas pelo palco, em belo efeito visual. Em sintonia com a celebração da cultura afro-baiana, Clécia ainda põe na roda de Roque sambas que fizeram sucesso nos anos 70 nas vozes de Alcione (Ilha de Maré, de Walmir Lima e Lupo, 1977), Clara Nunes (Conto de Areia, de Romildo e Toninho,1974) e Fafá de Belém (Filho da Bahia, de Walter Queiroz, 1975). Detalhe: em Ilha de Maré, Clécia recorre aos seus dotes de atriz e finge estar bêbada ao cantar o samba, homenageando uma habitual espectadora pinguça das apresentações que faz no Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador (BA). Entre tais sucessos dos anos 70, a intérprete insere a chula Pimenteira (Roque Ferreira), Olori (Roque Ferreira) - tema mais romântico de tom resignado que roça o clima de um samba-choro com sonoridade que evoca os conjuntos regionais em voga na música brasileira da primeira metade do século 20 - e Samba pras Moças (Roque Ferreira e Grazielle), popularizado na voz de Zeca Pagodinho em 1995. Enfim, pela intimidade da artista com a cultura afro-baiana e pela vivacidade teatral com que a intérprete mexe e remexe em cena, dando nó nas cadeiras, o samba de Roque Ferreira se ajusta com perfeição ao canto gracioso da (verdadeiríssima) baiana Clécia Queiroz.
Sabemos todos que as comparações são às vezes injustas e descabidas... mas, entre Clécia e Roberta, com quem é que vocês ficam? Eu fico com as duas!
Eu fico com Gal. Essa sim é a VERDADEIRA baiana... rs (e com Caymmi, claro).
Mauro,
Fui no show da Clécia Queiroz no Rival e fiquei simplesmente pirada com ela. Que mulher é essa? Que cantora extraordinária!! E a perfomance, então? Olha, poucas vezes vi uma artista com tamanho talento no palco. Ela chegou de mansinho cmo você bem disse e deixou todo mundo atônito quando anunciou a última música. Ninguém queria sair dali, completamente contagiado por ela. Saí completamente transformada de alegria dali. Parabéns pelo seu comentário! Foi na mosca
Mauro,
muito sensivel sua leitura sobre o show de Clécia, ela, uma artista de multiplos talentos vem ao longo do tempo aprimorando seu cantar. Uma das vozes mais amadas aqui na Bahia principalmente por conta da ética com que ela trata sua voz, seu repertório e seu público. Independente de comparações e referências ela merece seu lugar entre as divas da música boa popular brasileira.
Mauro,
Clécia é uma diva. Lembra a classe de Maria Bethânia, consegue preencher o palco como poucos artistas. Ao mesmo tempo sabe ser muitas em cena: moleca, divertida, audaciosa, mas sempre fina, uma dama. Que os orixás abram o caminho dela e a revelem para o mundo!
Escrevo daqui de Curitiba, Mauro. Li sua resenha do show de Clécia no Rival e a informação de que ela vinha para o Guaíra e fui conferir. Nunca vi o povo curitibano agir como fez na terça-feira. Clécia é tão extraordinária que conseguiu arrancar mais do que calorosos aplausos. Até se ouviu no meio do show um grito de uma criança de mais ou menos 9 anos de idade: "Linda!" ao que Clécia reverenciou como uma autêntica dama que é. O Guairinha se levantou, Mauro! Ela levou todo a platéia pro palco no final. Foi uma roda de samba de tirar o fôlego. A moça é mesmo poderosa. Voz linda, uma presença de palco estonteante e uma alegria... Ganhei minha noite. Comprei 3 CDs para dar de presente. O Brasil precisa conhecer Clécia Queiroz. Confesso que fiquei grato a você e completamente surpreso. Muitíssimo obrigado!
Fui uma dos privilegiados que assistiram ao show de Clécia no Rival. O que vi foi de pura exuberância. Ela é maravilhosa, mas não é "maravilhosa" dos cantores de trio do carnaval que costumam pintar por aqui, não. Ela é leveza, baianidade, nagô e banto, Barroquinha e Pelourinho, sagrada e profana, mais sagrada do que humana. O amarelo do vestido me encantou e encantou a todos e todas, sem gênero, ela foi plena, olhos, garganta, boca, corpo inteiro e pés. Lindos pés nas pontas dos dedos e nos calcanhares que nem as meninas lá do terreiro, da roda encantada.
Deu vontade de não ir embora com medo que algo me desviasse do encanto e de volta encarasse a realidade. O show acabou, mas o encanto ficou dentro de mim, com certeza pra sempre.
Opa, opa, a baianinha está bantante incensada, mas de fato confetes não vão faltar para jogar nela. Eu também estive lá no Rival. Que surpresa, hiem, rapaz? Na verdade eu tava ali por acaso e eu já estava saindo com minha mulher quando ela entrou, totalmente linda. A gente foi ficando, ficando, ficando... e depois caimos na roda. Salve a Bahia!!!
Concordo com você, Luciano. Salve a Bahia! No entanto, as verdadeiras pérolas da terra não caem no gosto da mídia. Os blocos de carnaval só contratam mulheres brancas e sem a verdadeira baianidade. Admiro Clécia Queiroz e acompanho o trabalho dela faz tempo. Por que o Brasil ainda não conhece ela? Se saúdo a BA, não faço o mesmo com os donos da mídia baiana. Deixo aqui o meu protesto.
Nem todo crítico é sério como você, Mauro.
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