Mauro Ferreira no G1

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domingo, 7 de novembro de 2010

Voz de Corinne emerge bela entre as emoções densas do show 'The Sea'

Resenha de Show
Título: The Sea Tour

Artista: Corinne Bailey Rae (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: HSBC Arena (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 6 de novembro de 2010
Cotação: * * * *

Aos 31 anos, Corinne Bailey Rae já é uma senhora cantora. Em sua primeira vinda ao Brasil, a artista britânica mostrou ao vivo que sua voz de grande extensão emerge com vigor no mar de emoções que adensa o show da turnê inspirada em seu segundo álbum, The Sea, lançado em janeiro deste ano de 2010. The Sea Tour incorpora no roteiro de suas apresentações alguns highlights do primeiro álbum da cantora, Corinne Bailey Rae (2006), de tom mais pop e solar. Contudo, nem as lembranças inevitáveis dos hits Put on Records on e Like a Star - alocados na parte final do show feito pela artista na HSBC Arena, no Rio de Janeiro (RJ), em 6 de novembro de 2010 - diluem a salutar densidade do atual repertório autoral de Corinne, composto sob o efeito da perda de seu marido, o saxofonista escocês Jason Rae (1976 - 2008), encontrado morto em março de 2008, vítima de suposta overdose provocada por mistura de drogas. Como no disco, músicas como Are You Here? e Closer logo confirmam no show o amadurecimento de Corinne Bailey Rae como compositora, hábil ao expor sentimentos mais profundos que contrastam com a leveza de sua voz límpida. Dentro dessa atmosfera densa, a tristonha balada Love's on Its Way se impôs no roteiro da apresentação carioca da The Sea Tour. De tom mais suave, Feels Like the First Time também foi outro belo momento do show que contentou o público, insuficiente para lotar as mesas e cadeiras da HSBC Arena. Entre o soul e o pop, com certa influência de jazz e gospel, Corinne se permite requintes estilísticos no show. Diving for Hearts é introduzida em cena por percussão suave que remete ao arsenal de instrumentos artesanais do grupo mineiro Uakti. Mais adiante, a cantora tira Is This Love? (Bob Marley) do universo do reggae e o transporta para um ambiente de soul. No bis, ainda mais ousada, Corinne aproxima Trouble Sleeping da levada do samba e encorpa Que Sera, Sera (Whatever Will Be, Will Be) - parceria de Jay Livingston e Ray Evans, popularizada na voz de Doris Day a partir de 1956 - em pulsação jam que dá outra moldura rítmica à música ao mesmo tempo em que desmonta a beleza ingênua do tema. Entre muitos belos momentos (como The Sea), uns poucos números cansativos (caso da balada I'd Do It All Again) e alguns breves instantes mais ensolarados (como a pop Paris Night / New York Morning), o show denso de Corinne Bailey Rae deixa ótima impressão. A segurança da cantora, a pegada firme da banda e a qualidade do repertório tornam insignificante a ausência de cenário em show marcado pelo sentimento verdadeiro que emana da voz da cantora e das músicas de sua lavra.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Aos 31 anos, Corinne Bailey Rae já é uma senhora cantora. Em sua primeira vinda ao Brasil, a artista britânica mostrou ao vivo que sua voz de grande extensão emerge com vigor no mar de emoções que adensa o show da turnê inspirada em seu segundo álbum, The Sea, lançado em janeiro deste ano de 2010. The Sea Tour incorpora no roteiro de suas apresentações alguns highlights do primeiro álbum da cantora, Corinne Bailey Rae (2006), de tom mais pop e solar. Contudo, nem as lembranças inevitáveis dos hits Put on Records on e Like a Star - alocados na parte final do show feito pela artista na HSBC Arena, no Rio de Janeiro (RJ), em 6 de novembro de 2010 - diluem a salutar densidade do atual repertório autoral de Corinne, composto sob o efeito da perda de seu marido, o saxofonista escocês Jason Rae (1976 - 2008), encontrado morto em março de 2008, vítima de suposta overdose provocada por mistura de drogas. Como no disco, músicas como Are You Here? e Closer logo expõem no show o amadurecimento de Corinne Bailey Rae como compositora, hábil ao expor sentimentos mais profundos que contrastam com a leveza de sua voz límpida. Dentro dessa atmosfera densa, a tristonha balada Love's on Its Way se impôs no roteiro da apresentação carioca da The Sea Tour. De tom mais suave, Feels Like the First Time também foi outro belo momento do show que contentou o público, insuficiente para lotar as mesas e cadeiras da HSBC Arena. Entre o soul e o pop, com certa influência de jazz e gospel, Corinne se permite requintes estilísticos no show. Diving for Hearts é introduzida em cena por percussão suave que remete ao arsenal de instrumentos artesanais do grupo mineiro Uakti. Mais adiante, a cantora tira Is This Love? (Bob Marley) do universo do reggae e o transporta para um ambiente de soul. No bis, ainda mais ousada, Corinne aproxima Trouble Sleeping da levada do samba e encorpa Que Sera, Sera (Whatever Will Be, Will Be) - parceria de Jay Livingston e Ray Evans, popularizada na voz de Doris Day a partir de 1956 - em pulsação jam que dá outra moldura rítmica à música ao mesmo tempo em que desmonta a beleza ingênua do tema. Entre muitos belos momentos (como The Sea), uns poucos números cansativos (caso da balada I'd Do It All Again) e alguns breves instantes mais ensolarados (como a pop Paris Night / New York Morning), o show denso de Corinne Bailey Rae deixa ótima impressão. A segurança da cantora, a pegada firme da banda e a qualidade do repertório tornam insignificante a ausência de cenário em show marcado pelo sentimento verdadeiro que emana da voz da cantora e das músicas de sua lavra.