Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Caixa com discos de Tim mostra como cantor foi do soul nativo ao brega

Resenha de caixa de CDs
Título: Tim Universal Maia
Artista: Tim Maia
Gravadora: Universal Music
Cotação da caixa: * * * *
Cotação dos álbuns: Tim Maia 1970 (* * * * *), Tim Maia 1971 (* * * * *), Tim Maia 1972 (* * * *), Tim Maia 1973 (* * * * 1/2), Tim Maia 1976 (* * * 1/2), Tim Maia 1980 (* * *),
O Descobridor dos Sete Mares (* * 1/2) e Sufocante (* *)

A voz de trovão de Tim Maia (1942 - 1998) ressoou com força no Brasil ao longo de 40 anos. Ao voltar dos Estados Unidos impregnado do soul e também do funk que nascia na década de 60 sob a égide de James Brown (1933 - 1976), o cantor iniciou carreira fonográfica em 1968 com gravação de compacto que não chegou a deslanchar. Mas já em 1969 um dueto de Tim com Elis Regina (1945 - 1982), em These Are the Songs, abriu caminho para que o cantor  ganhasse projeção nacional com soul e funk à moda brasileira. A caixa Tim Universal Maia joga luz sobre o glorioso início de carreira do Síndico ao embalar os oito álbuns pertencentes ao acervo da gravadora Universal Music. Entre estes oito títulos, há os quatro primeiros álbuns do cantor, base de obra que permanece original quatro décadas após sua criação. Lançados originalmente entre 1970 e 1973, todos com o nome do cantor no título, estes quatro álbuns são ainda hoje a mais perfeita tradução nacional da soul music norte-americana. Relançados em reedições remasterizadas, com reprodução das letras no encarte e fidelidade à arte gráfica original, estes discos voltam ao catálogo com o devido esmero. A qualidade da remasterização - feita por Luigi Hoffer - é ótima e faz com que haja real ganho em relação às desleixadas reedições anteriores dos discos. Desses quatro títulos iniciais, Tim Maia - o álbum de 1970 que trouxe as baladas Azul da Cor do Mar, Primavera (Vai Chuva) e Eu Amo Você (as duas últimas assinadas por Cassiano, soulman nativo que jaz em injusto esquecimento) - é o clássico dos clássicos do artista. Neste trabalho seminal, gravado com a guitarra de Cassiano, Tim cruzou o balanço norte-americano com a pegada da música nordestina, em mix que destacou a releitura do baião Coroné Antonio Bento (João Vale e Luiz Wanderley). Essa fusão renderia outra faixa antológica, Padre Cícero, e seria desenvolvida no álbum seguinte - o igualmente arrebatador Tim Maia de 1971 - na música A Festa do Santo Reis, destaque de repertório que enfileirou petardos como o soul Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar), a balada Você, o funkaço Não Vou Ficar (lançado por Roberto Carlos em 1969) e I Don't Know What to Do with Myself. Detalhe: a guitarra do disco foi tocada por Hyldon, soulman que dominaria as paradas em 1975, ano em que Tim estaria recolhido, ligado à seita Universo em Desencanto. Na sequência, o álbum Tim Maia, de 1972, impressiona mais pela sonoridade - formatada por músicos que ganhariam  projeção anos depois ao criar a banda Black Rio - do que pelo repertório, ainda que traga Canário do Reino e O Que me Importa (balada de Cury que Marisa Monte, sempre atenta ao baú de Tim Maia, reviveria em 2000 no disco Memórias, Crônicas e Declarações de Amor). Detalhe: a faixa Lamento teve sua letra reproduzida de forma truncada na reedição. Em 1973, com fôlego renovado, o cantor adicionou o balanço do samba à levada do soul, gerando clássicos como Réu Confesso, Gostava Tanto de Você (da lavra de Edson Trindade, colega de Tim no conjunto juvenil Os Sputniks) e, em menor escala, Compadre. Ainda no campo das fusões, New Love - cantada em inglês - se destaca por ser espécie de bossa-soul. Mas a joia perdida deste disco é A Paz no meu Mundo É Você, linda balada de Mita que pede urgente regravação para virar hit. Na sequência, em 1976, já desiludido com a seita Universo em Desencanto, o cantor voltou à gravadora Polydor para gravar Tim Maia, álbum black embebido no funk que já começava a gerar a disco music. Rodésia e Brother, Father, Sister and Mother foram os destaques de repertório menos sedutor que não gerou hits. Quatro anos e quatro discos depois, em 1980, o Síndico estava novamente de volta à gravadora que o projetou para lançar Tim Maia, álbum impregnado do balanço funk da dupla Lincoln Olivetti e Robson Jorge. O repertório novamente se mostrou irregular, mas, ao menos, gerou um clássico obrigatório nos shows de Tim, Você e Eu, Eu e Você (Juntinhos). Irregularidade que norteou também O Descobridor dos Sete Mares (1983) - álbum que reabilitou Tim no mercado e nas rádios graças ao irresistível funk que deu nome ao disco e à balada Me Dê Motivo (Michael Sullivan e Paulo Massadas) - e, sobretudo, Sufocante (1984), álbum em que o som de Tim começou a ficar pasteurizado e já contaminado pelo vírus brega que dizimou a MPB ao longo dos anos 80. Contudo, mesmo em seus piores discos, sempre havia uma ou outra faixa boa. E sempre havia também a voz de trovão que ressoou de forma inimitável ao longo de 40 anos. Viva Tim Maia!

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A voz de trovão de Tim Maia (1942 - 1998) ressoou com força no Brasil ao longo de 40 anos. Ao voltar dos Estados Unidos impregnado do soul e também do funk que nascia na década de 60 sob a égide de James Brown (1933 - 1976), o cantor iniciou carreira fonográfica em 1968 com gravação de compacto que não chegou a deslanchar. Mas já em 1969 um dueto de Tim com Elis Regina (1945 - 1982), em These Are the Songs, abriu caminho para que o cantor ganhasse projeção nacional com soul e funk à moda brasileira. A caixa Tim Universal Maia joga luz sobre o glorioso início de carreira do Síndico ao embalar os oito álbuns pertencentes ao acervo da gravadora Universal Music. Entre estes oito títulos, há os quatro primeiros álbuns do cantor, base de obra que permanece original quatro décadas após sua criação. Lançados originalmente entre 1970 e 1973, todos com o nome do cantor no título, estes quatro álbuns são ainda hoje a mais perfeita tradução nacional da soul music norte-americana. Relançados em reedições remasterizadas, com reprodução das letras no encarte e fidelidade à arte gráfica original, estes discos voltam ao catálogo com o devido esmero. A qualidade da remasterização - feita por Luigi Hoffer - é ótima e faz com que haja real ganho em relação às desleixadas reedições anteriores dos discos. Desses quatro títulos iniciais, Tim Maia - o álbum de 1970 que trouxe as baladas Azul da Cor do Mar, Primavera (Vai Chuva) e Eu Amo Você (as duas últimas assinadas por Cassiano, soulman nativo que jaz em injusto esquecimento) - é o clássico dos clássicos do artista. Neste trabalho seminal, gravado com a guitarra de Cassiano, Tim cruzou o balanço norte-americano com a pegada da música nordestina, em mix que destacou a releitura do baião Coroné Antonio Bento (João Vale e Luiz Wanderley). Essa fusão renderia outra faixa antológica, Padre Cícero, e seria desenvolvida no álbum seguinte - o igualmente arrebatador Tim Maia de 1971 - na música A Festa do Santo Reis, destaque de repertório que enfileirou petardos como o soul Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar), a balada Você, o funkaço Não Vou Ficar (lançado por Roberto Carlos em 1969) e I Don't Know What to Do with Myself. Detalhe: a guitarra do disco foi tocada por Hyldon, soulman que dominaria as paradas em 1975, ano em que Tim estaria recolhido, ligado à seita Universo em Desencanto.

Mauro Ferreira disse...

Na sequência, o álbum Tim Maia, de 1972, impressiona mais pela sonoridade - formatada por músicos que ganhariam projeção anos depois ao criar a banda Black Rio - do que pelo repertório, ainda que traga Canário do Reino e O Que me Importa (balada de Cury que Marisa Monte, sempre atenta ao baú de Tim Maia, reviveria em 1990 no disco Memórias, Crônicas e Declarações de Amor). Detalhe: a faixa Lamento teve sua letra reproduzida de forma truncada na reedição. Em 1973, com fôlego renovado, o cantor adicionou o balanço do samba à levada do soul, gerando clássicos como Réu Confesso, Gostava Tanto de Você (da lavra de Edson Trindade, colega de Tim no conjunto juvenil Os Sputniks) e, em menor escala, Compadre. Ainda no campo das fusões, New Love - cantada em inglês - se destaca por ser espécie de bossa-soul. Mas a joia perdida deste disco é A Paz no meu Mundo É Você, linda balada de Mita que pede urgente regravação para virar hit. Na sequência, em 1976, já desiludido com a seita Universo em Desencanto, o cantor voltou à gravadora Polydor para gravar Tim Maia, álbum black embebido no funk que já começava a gerar a disco music. Rodésia e Brother, Father, Sister and Mother foram os destaques de repertório menos sedutor que não gerou hits. Quatro anos e quatro discos depois, em 1980, o Síndico estava novamente de volta à gravadora que o projeto para lançar Tim Maia, álbum impregnado do balanço funk da dupla Lincoln Olivetti e Robson Jorge. O repertório novamente se mostrou irregular, mas, ao menos, gerou um clássico obrigatório nos shows de Tim, Você e Eu, Eu e Você (Juntinhos). Irregularidade que norteou também O Descobridor dos Sete Mares (1983) - álbum que reabilitou Tim no mercado e nas rádios graças ao irresistível funk que deu nome ao disco e à balada Me Dê Motivo (Michael Sullivan e Paulo Massadas) - e, sobretudo, Sufocante (1984), álbum em que o som de Tim começou a ficar pasteurizado e já contaminado pelo vírus brega que dizimou a MPB ao longo dos anos 80. Contudo, mesmo em seus piores discos, sempre havia uma ou outra faixa boa. E sempre havia também a voz de trovão que ressoou de forma inimitável ao longo de 40 anos. Viva Tim Maia!

Flávio disse...

Quatro anos e quatro discos depois, em 1980, o Síndico estava novamente de volta à gravadora que o "projetou" para lançar Tim Maia, álbum impregnado do balanço funk da dupla Lincoln Olivetti e Robson Jorge.

Mauro Ferreira disse...

Grato, Flávio, por me fazer ver que faltava o 'u'em 'projetou. Abs, MauroF

Diogo Santos disse...

Mauro, " Memórias, Crônicas e Declarações de Amor " foi gravado em 1999 e lançado em 2000 por Marisa Monte. Também é de 1999 a regravação do Ira! pra " O que me importa ".

PS: Procede a informação de que esse compositor é o saudoso apresentador Edson 'Bolinha' Cury?

Mauro Ferreira disse...

Grato, Diogo, pensei '2000' e escrevi '1990'. Sim, acredito que seja o mesmo Cury. Abs, MauroF

Denilson Santos disse...

Mauro,

O Cury, autor da bela música "O Que Me Importa", não é o saudoso "Bolinha".

Lembro-me que, na época do lançamento do disco, Marisa Monte deu entrevista dizendo que tinha vontade de conhecer o autor dessa música, totalmente obscuro e incógnito. Poucos dias depois, ele apareceu e o jornal, numa atitude muito legal, reuniu os dois. Ele era um funcionário aposentado do Banco do Brasil e compunha nas horas vagas, nunca assumindo o lado profissional da composição. A matéria com os dois foi superbacana e a Marisa até propôs que eles fizessem uma parceria juntos.

Lembro-me muito bem disso, pois foi uma matéria muito legal, coisa rara na imprensa brasileira. rsrsrs

abração,
Denilson

portal dos cartoes disse...

Ele tem face. Vejam...
https://www.facebook.com/cury.heluy?fref=ts