Título: VH1 Apresenta Arnaldo Antunes ao Vivo Lá em Casa
Artista: Arnaldo Antunes
Gravadora: Rosa Celeste / Microservice
Cotação: * * * *
Em 2009, Arnaldo Antunes foi nome certo em todas as listas de melhores do ano na música por conta de Iê Iê Iê, disco e show em que fez revigorante releitura do gênero que semeou a cultura pop na primeira metade dos anos 60. No palco, o Iê Iê Iê de Arnaldo pulsou com efervescência em show que ganha registro ao vivo em CD e DVD ora editados pelo selo do cantor, Rosa Celeste, com distribuição da Microservice. O diferencial da gravação é o fato de o show ter sido captado em palco improvisado na laje da casa do titã do iê iê iê, em São Paulo (SP), em 9 de agosto de 2010. Pelo fato de a apresentação ter sido feita a céu aberto, ao cair da noite, as imagens registradas pelas lentes do diretor Andrucha Waddignton não primam pela beleza plástica e tampouco exploram as cores do cenário de Marcelo Sommer e Márcia Xavier, urdido com camisas penduradas ao fundo do palco que evocam a plasticidade da pop art e traduzem bem o conceito de show em que o pop dos anos 60 é atualizado sem purismos. Contudo, o som é perpetuado em vídeo com excelente áudio pilotado pelo baixista Betão Aguiar, com a mesma atmosfera de sedução do palco e com alguns convidados especiais. Nome essencial da Jovem Guarda, a tradução nacional do iê iê iê, Erasmo Carlos é convocado para reviver com Arnaldo um de seus sucessos dos anos 70 - Sou uma Criança Não Entendo Nada (Erasmo Carlos e Giuseppe Ghiaroni) - e um rock de sua lavra recente, Jogo Sujo, lançado em seu revitalizante álbum Rock'n'Roll (2009). A introdução de Jogo Sujo remete aos riffs do rock'n'roll projetado mundialmente na década de 50, mas o Iê Iê Iê de Arnaldo celebra sem saudosismo - e em tom contemporâneo - os sons dos 60. Evocados sobretudo pelo órgão pilotado por Marcelo Jeneci - cuja sonoridade pontua músicas como a funkeada Vem Cá (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte) e A Casa É Sua (Arnaldo Antunes e Ortinho). Jeneci, a propósito, é parceiro de Arnaldo em Longe, uma das mais belas baladas românticas de todos os tempos, destaque de roteiro que enfileira pérolas como Envelhecer, Invejoso - com a guitarra personalíssima de Fernando Catatau, produtor do CD Iê Iê Iê e convidado também de Cachimbo (Edvaldo Santana e Osnofa) - e a balada Um Quilo (inspirada pelas trilhas sonoras de filmes de faroeste). Pena que algumas licenças poéticas do roteiro não surtam o efeito esperado. Parcerias de Arnaldo com Jorge Ben Jor, As Árvores e Cabelo soam destoantes no DVD, mesmo valorizadas pela presença em cena do Zé Pretinho (que também transitou pela Jovem Guarda antes de reencontrar o tom e o sucesso em 1969 com o álbum em que gravou País Tropical). Música obscura do primeiro álbum de Luiz Melodia (Pérola Negra, 1973), Pra Aquietar também não soa tão confortável no universo de Iê Iê Iê quanto Consumado, a canção da lavra de Arnaldo com seus parceiros tribalistas Carlinhos Brown e Marisa Monte. Em contrapartida, Arnaldo acerta ao trazer para seu mundo pop tanto um samba - Vou Festejar (Jorge Aragão, Dida e Neoci), transmutado em rock - quanto um forró do repertório de Dorgival Dantas, Americana (Frank Carlos). Sem falar na canção de Odair José, Quando Você Decidir, alocada na parte final do roteiro, aberto pelos Demônios da Garoa. Sim, cabe ao tradicional grupo paulista esquentar o clima ao som de Já Fui uma Brasa (Adoniran Barbosa e Marcos César), samba dos anos 60 em que os autores, com certa nostalgia de sua modernidade e juventude, falam do sucesso dos " "meninos deste tal de iê iê iê". No bis (depois que se vê os créditos da gravação ao som de Cachimbo), de volta ao começo, Arnaldo e sua entrosada banda revivem Já Fui uma Brasa, fechando de forma irônica e inteligente o show em que reprocessa sem preconceito o tal do iê iê iê, primo-irmão desse tal de rock'n'roll.
5 comentários:
Em 2009, Arnaldo Antunes foi nome certo em todas as listas de melhores do ano na música por conta de Iê Iê Iê, disco e show em que fez revigorante releitura do gênero que semeou a cultura pop na primeira metade dos anos 60. No palco, o Iê Iê Iê de Arnaldo pulsou com efervescência em show que ganha registro ao vivo em CD e DVD ora editados pelo selo do cantor, Rosa Celeste, com distribuição da Microservice. O diferencial da gravação é o fato de o show ter sido captado em palco improvisado na laje da casa do titã do iê iê iê, em São Paulo (SP), em 9 de agosto de 2010. Pelo fato de a apresentação ter sido feita a céu aberto, ao cair da noite, as imagens registradas pelas lentes do diretor Andrucha Waddignton não primam pela beleza plástica e tampouco exploram as cores do cenário de Marcelo Sommer e Márcia Xavier, urdido com camisas penduradas ao fundo do palco que evocam a plasticidade da pop art e traduzem bem o conceito de show em que o pop dos anos 60 é atualizado sem purismos. Contudo, o som é perpetuado em vídeo com excelente áudio pilotado pelo baixista Betão Aguiar, com a mesma atmosfera de sedução do palco e com alguns convidados especiais. Nome essencial da Jovem Guarda, a tradução nacional do iê iê iê, Erasmo Carlos é convocado para reviver com Arnaldo um de seus sucessos dos anos 70 - Sou uma Criança Não Entendo Nada (Erasmo Carlos e Giuseppe Ghiaroni) - e um rock de sua lavra recente, Jogo Sujo, lançado em seu revitalizante álbum Rock'n'Roll (2009). A introdução de Jogo Sujo remete aos riffs do rock'n'roll projetado mundialmente na década de 50, mas o Iê Iê Iê de Arnaldo celebra sem saudosismo - e em tom contemporâneo - os sons dos 60. Evocados sobretudo pelo órgão pilotado por Marcelo Jeneci - cuja sonoridade pontua músicas como a funkeada Vem Cá (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte) e A Casa É Sua (Arnaldo Antunes e Ortinho). Jeneci, a propósito, é parceiro de Arnaldo em Longe, uma das mais belas baladas de todos os tempos, destaque de roteiro que enfileira pérolas como Envelhecer, Invejoso - com a guitarra personalíssima de Fernando Catatau, produtor do CD Iê Iê Iê e convidado também de Cachimbo (Edvaldo Santana e Osnofa) - e a balada Um Quilo (inspirada pelas trilhas sonoras de filmes de faroeste). Pena que algumas licenças poéticas do roteiro não surtam o efeito esperado. Parcerias de Arnaldo com Jorge Ben Jor, As Árvores e Cabelo soam destoantes no DVD, mesmo valorizadas pela presença em cena do Zé Pretinho (que também transitou pela Jovem Guarda antes de reencontrar o tom e o sucesso em 1969 com o álbum em que gravou País Tropical). Música obscura do primeiro álbum de Luiz Melodia (Pérola Negra, 1973), Pra Aquietar também não soa tão confortável no universo de Iê Iê Iê quanto Consumado, a canção da lavra de Arnaldo com seus parceiros tribalistas Carlinhos Brown e Marisa Monte. Em contrapartida, Arnaldo acerta ao trazer para seu mundo pop tanto um samba - Vou Festejar (Jorge Aragão, Dida e Neoci), transmutado em rock - quanto um forró do repertório de Dorgival Dantas, Americana (Frank Carlos). Sem falar na canção de Odair José, Quando Você Decidir, alocada na parte final do roteiro, aberto pelos Demônios da Garoa. Sim, cabe ao tradicional grupo paulista esquentar o clima ao som de Já Fui uma Brasa (Adoniran Barbosa e Marcos César), samba dos anos 60 em que os autores, com certa nostalgia de sua modernidade e juventude, falam do sucesso dos " "meninos deste tal de iê iê iê". No bis (depois que se vê os créditos da gravação ao som de Cachimbo), de volta ao começo, Arnaldo e sua entrosada banda revivem Já Fui uma Brasa, fechando de forma irônica e inteligente o show em que reprocessa sem preconceito o tal do iê iê iê, primo-irmão desse tal de rock'n'roll.
Arnaldo chegou ao seu formato mais perfeito: musica pop da melhor qualidade, banda de primeira, letras geniais. Ninguém pode perder.
Pra mim, o melhor cd/dvd do ano, disparado. Arnaldo está o fino do pop e ainda surpreende. Imperdível mesmo.
Eu estava pensando em uma coisa...
De fato, "Iê Iê Iê" e seus desdobramentos trouxeram um frescor, uma coisa jovial, como Arnaldo nunca experimentara em sua carreira. Os elogios têm sido muitos.
Assim como Nando conseguiu o que queria na carreira solo: um público fiel, composições continuamente elogiadas (em que pese o trabalho meio estranho que é "Bailão do Ruivão"), uma postura de palco cada vez mais firme...
E, logo aí em baixo, o "SP55" de Sérgio Britto é elogiado. Sem contar os ótimos trabalhos solo que Paulo Miklos já fez.
Isso quer dizer alguma coisa. Mas eu não sei o que é.
Felipe dos Santos Souza
Um dos álbuns do ano novamente. Arnaldo só tem evoluído.
E é aquilo que eu disse: os Titãs correm o risco de acabarem como dupla sertaneja.
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