Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Em tempo de delicadeza, Salgueiro (se) volta para canções de sua terra

Resenha de Show
Título: Voltarei à Minha Terra

Artista: Tereza Salgueiro (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Oi Casa Grande (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 1º de dezembro de 2010
Cotação: * * * * 1/2

Depois de transitar pela música brasileira em CD (Você e Eu, 2007) gravado com o Septeto de João Cristal, a cantora portuguesa Tereza Salgueiro - mundialmente conhecida como "a voz do Madredeus" - se voltou para a música de sua terra em álbum (Matriz, 2009) em que aborda temas lusitanos em ampla seleção que vai do período medieval até os dias atuais. Extensão de Matriz, disco gravado com o grupo Lusitânia Ensemble, o show Voltarei à Minha Terra é também um prenúncio do álbum que Salgueiro finaliza para lançar em 2011. Em cena, a cantora se apresenta com quarteto hábil na construção de uma ambiência minimalista que evidencia a elegância dos arranjos inventivos, urdidos a partir da união de sons acústicos de acordeom, contrabaixo, violão e bateria. Em sintonia com esse belo tempo de delicadeza, a voz de soprano de Salgueiro expõe sutilezas de cancioneiro sedutor que inclui joias como Acordai (Fernando Lopes Graça e José Gomes Ferreira), libelo contra o conformismo que prolonga injustiças. Embora nem sempre esteja presente em cena, o baterista Rui Lobato se destaca no quarteto tanto ao marcar com firmeza a batida de Senhora do Almurtão - tema de domínio público - como ao se valer de percussão sutil para simular sons praieiros na bela Fui à Beira do Mar, uma das músicas do compositor português José Alfonso (1929 - 1987) que compõem o roteiro do show Voltarei à Minha Terra, cuja música-título é um fado encantador da lavra de Armandinho e Tiago Torres da Silva. Sim, ao se voltar para o repertório de sua terra, Tereza Salgueiro entoa cantigas e - claro- fados. Um deles, Recordação (Rafael Mota e Alberto Costa), celebra a tradição da guitarra portuguesa no mais conhecido ritmo de Lisboa. Outro, O Fado de Cada Um, evoca o canto imortal de Amália Rodrigues (1920 - 1999), referência universal do gênero. Um terceiro, Balada de Outono (José Afonso), enfatiza a tradição do fado de Coimbra - cidade onde o gênero não é tão popular como em Lisboa, como relata Salgueiro em cena. Na sequência, após lindo intermezzo instrumental do quarteto, a cantora enfileira outro tema de Afonso, Cantigas de Maio, e incursiona pela obra de Fausto Bordalo Dias, de quem apresenta Por que Não me Vês? e Por Este Rio Acima. Tudo sem sair do tempo sutil da delicadeza. No bis, Salgueiro revive O Pastor - a música do Madredeus mais conhecida no Brasil por ter sido propagada na trilha sonora da minissérie Os Maias (2001) - e Valsinha (Chico Buarque e Vinicius de Moraes), sedimentando a atmosfera de encantamento que pontua todo este show em que "a voz do Madredeus" expande os seus horizontes lusitanos.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Depois de transitar pela música brasileira em CD (Você e Eu, 2007) gravado com o Septeto de João Cristal, a cantora portuguesa Tereza Salgueiro - mundialmente conhecida como "a voz do Madredeus" - se voltou para a música de sua terra em álbum (Matriz, 2009) em que aborda temas lusitanos em ampla seleção que vai do período medieval até os dias atuais. Extensão de Matriz, disco gravado com o grupo Lusitânia Ensemble, o show Voltarei à Minha Terra é também um prenúncio do álbum que Salgueiro finaliza para lançar em 2011. Em cena, a cantora se apresenta com quarteto hábil na construção de atmosfera minimalista que evidencia a elegância dos arranjos inventivos. Em sintonia com esse belo tempo de delicadeza, a voz de soprano de Salgueiro expõe sutilezas de cancioneiro sedutor que inclui joias como Acordai (Fernando Lopes Graça e José Gomes Ferreira), libelo contra o conformismo que prolonga injustiças. Embora nem sempre esteja presente em cena, o baterista Rui Lobato se destaca no quarteto tanto ao marcar com firmeza a batida de Senhora do Almurtão - tema de domínio público - como ao se valer de percussão sutil para simular sons praieiros na bela Fui à Beira do Mar, uma das músicas do compositor português José Alfonso (1929 - 1987) que compõem o roteiro do show Voltarei à Minha Terra, cuja música-título é um fado encantador da lavra de Armandinho e Tiago Torres da Silva. Sim, ao se voltar para o repertório de sua terra, Tereza Salgueiro entoa cantigas e - claro- fados. Um deles, Recordação (Rafael Mota e Alberto Costa), celebra a tradição da guitarra portuguesa no mais conhecido ritmo de Lisboa. Outro, O Fado de Cada Um, evoca o canto imortal de Amália Rodrigues (1920 - 1999), referência universal do gênero. Um terceiro, Balada de Outono (José Afonso), enfatiza a tradição do fado de Coimbra - cidade onde o gênero não é tão popular como em Lisboa, como relata Salgueiro em cena. Na sequência, após lindo intermezzo instrumental do quarteto, a cantora enfileira outro tema de Afonso, Cantigas de Maio, e incursiona pela obra de Fausto Bordalo Dias, de quem apresenta Por que Não me Vês? e Por Este Rio Acima. Tudo sem sair do tempo sutil da delicadeza. No bis, Salgueiro revive O Pastor - a música do Madredeus mais conhecida no Brasil por ter sido propagada na trilha sonora da minissérie Os Maias (2001) - e Valsinha (Chico Buarque e Vinicius de Moraes), sedimentando a atmosfera de encantamento que pontua todo este show em que "a voz do Madredeus" expande os seus horizontes lusitanos.

Eulalia Moreno disse...

Maravilhosa Tereza Salgueiro resgatando músicas históricas de José Afonso, o grande compositor e intérprete das músicas chamadas de intervenção na época do salazarismo e pai da " Grandola, Vila Morena", a segunda senha para o início da Revolução dos Cravos. Tereza até pode cantar bem em " brasileiro", mas eu a prefiro com o seu timbre único imortalizando músicas do cancioneiro de Portugal.
Mais uma vez, e sempre, obrigada Mauro pela sua atenção a música daquele país à beira -mar,quase esquecido.
Abraço
Eulalia