Sem afrontar memória de Jackson, 'Michael' surpreende por sua unidade

Resenha de CD
Título: Michael
Artista: Michael Jackson
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * *

Em 2001, ao lançar aquele que seria o último álbum de sua vida, Invincible, Michael Jackson (1958 - 2009) decepcionou o mundo pop ao apresentar um disco mediano, em que não se via nem sombra do artista genial que marcara época com trabalhos antológicos como Off the Wall (1979) e Thriller (1982). Apresentado nove anos depois de Invincible, Michael - o disco póstumo de Jackson que a gravadora Sony Music está lançando esta semana em escala mundial - tampouco chega perto da genialidade da fase áurea do autoproclamado Rei do Pop. Mas é, sim, um bom disco, a despeito de toda desconfiança gerada por ter sido finalizado postumamente a partir de gravações feitas por Jackson a partir de 2007 e de eventuais sobras de álbuns anteriores. Sem jamais afrontar a memória do artista, como era de se esperar de um disco oportunista produzido para faturar com a saudade que o mundo sente de Jackson, Michael tem certa unidade e algumas boas faixas. Uma das melhores é Hold my Hand, estrategicamente eleita o primeiro single oficial do álbum. A balada foi composta por Giorgio Tuinfort e Claude Kelly com o rapper Akon, com quem Jackson a gravou em dueto feito em 2008 em Las Vegas (EUA). Vazada nesse mesmo ano em versão inacabada, Hold my Hand ganha seu primeiro registro fonográfico, evidenciando o domínio que Akon tem do idioma pop. Na sequência, a também bacana  Hollywood Tonight é introduzida por coro sacro que logo dá lugar à batida funkeada típica das músicas mais animadas de Jackson. Composta pelo astro na época do álbum Invincible (2001), Hollywood Tonight foi retomada em 2007 pelo cantor, que recrutou o rapper norte-americano Theron Neff-U Feemster para trabalhar na produção da faixa. Neff-U finalizou também a balada (I Like) The Way You Love me, única faixa já lançada anteriormente em disco (em versão demo, incluída em coletânea de 2004). Já a balada Keep Your Head up - composta por Jackson em 2007, em New Jersey (EUA), em parceria com Eddie Cascio e James Porte - é bom tema sobre superação que tem os dedos do produtor inglês Tricky Stewart na produção e que tem todo jeito de single. Um coro encorpa a faixa em que Jackson arrisca alguns agudos no final. Faixa que mais explicita as conexões recentes de Jackson com o universo do hip hop, Monster começa com a batida funkeada que identifica o som de Michael no imaginário coletivo e deságua no rap feito pelo marrento 50 Cent. Monster é da mesma sessão de gravação feita em 2007 em New Jersey (EUA) e, tal como Keep Your Head up, foi composta por Jackson com Eddie Cascio e James Porte. Na sequência de Monster, Michael apresenta Best of Joy, título mais fraco da safra de baladas. Talvez por ter sido uma das últimas músicas feitas pelo artista (Michael planejava burilar a música na turnê que marcaria sua volta aos palcos em julho de 2009). Já Breaking News - outra música de sessão de gravação em New Jersey (EUA) de 2007 - impressiona pelo tom corrosivo dos versos em que Michael ataca a mídia, se referindo a ele mesmo na terceira pessoa. Na sequência, o CD traz (I Can't Make It) Another Day, tema composto por Lenny Kravitz e gravado por Jackson com Kravitz em demo feita  na época de Invincible. A música tem levada funkeada e certa vibe roqueira, dada pela bateria de Dave Grohl. Por sua vez, Behind the Mask - faixa que tem aplausos e vibração de números ao vivo - é tema da Yellow Magic Orchestra, banda japonesa de eletropop que inclui na formação o tecladista japonês Ryiuchi Sakamoto, a quem Jackson pediu autorização para acrescentar versos na música. Por fim, Much Too Soon - bela balada composta na época de Thriller - fecha Michael em delicado clima camerístico, reiterando a boa qualidade deste disco surpreendentemente fiel à obra e ao som de Michael Jackson E que resulta digno, dada as circunstâncias em que o CD foi produzido.