Resenha de CD
Título: Brasileirice
Artista: Dorina
Gravadora: Rob Digital
Cotação: * * * *
Em 1996, ao batizar e lançar seu primeiro disco, Dorina se apropriou de um tema de Paulinho da Viola e do título de um álbum do artista, Eu Canto Samba, para se posicionar no mercado fonográfico. Quinze anos depois, Dorina continua à margem desse mercado cada vez mais imediatista, mas já conseguiu respeito entre os bambas. Sétimo título da coerente discografia da cantora carioca, produzido por Marcus Fernando para a gravadora Rob Digital dentro das tradições do gênero, Brasileirice reitera a fidelidade da artista ao samba colhido nos quintais mais nobres do Rio de Janeiro. Sim, Dorina canta o melhor samba, aquele que - não fosse por vozes resistentes como a de Zeca Pagodinho - já tinha sido posto para escanteio no jogo sempre violento da indústria do disco. "Faz parte do jogo e deixa rolar / O choro é clássico do perdedor", sentencia Dorina em Brasileirice, samba choradinho onde, em tabelinha perfeita com o parceiro Luiz Carlos Máximo, o saudoso poeta Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008) faz paralelo entre o samba e o futebol em linhas sempre bem traçadas. "Eu sou do babado / sou do rebolado / E sei dizer no pé", reitera Dorina, imodesta, em Soberana (Cláudio Guimarães e Evandro Lima), samba cheio de ginga (bem) dividido por Dorina com a sempre manemolente Mart'nália. É com essa brasilidade soberana que Dorina aceita o convite para o Pagode da Dona Ivone, tributo a Ivone Lara prestado por Roque Ferreira e Mauro Diniz. Ode que termina em samba de roda com citações de Sonho Meu, Tiê e Alguém me Avisou, sucessos do cancioneiro majestoso de Ivone. Em clima igualmente animado, mas em diversa rota geográfica, Cantar do Rio (Ricardo Villas) celebra a bossa carioca em samba sublinhado pelo clarinete de Dirceu Leite. Carioca da gema, Dorina dá voz e vez em Brasileirice a grandes sambas que já jaziam no baú do gênero. O melancólico Dor de Amor (Délcio Carvalho e Dedé da Portela) é joia fina da discografia de Roberto Ribeiro (1940 - 1996), cantor que lançou o dolente samba em álbum de 1983. Toda Minha Verdade - samba belo, lançado pelo grupo Fundo de Quintal em seu quarto álbum, Seja Sambista Também (1984) - tem o DNA nobre da obra de seu autor Wilson Moreira. Já Cândidas Neves é da lavra igualmente nobre de Zé Renato com Nei Lopes, tendo sido lançado por Zé em seu álbum Cabô (2000). Entre tema romântico e popular de Serginho Meriti, Adaulto Magalha e Claudemir (O Verdadeiro Amor) e destoante canção ruralista (Flor Voadeira, com versos declamados pelo poeta Lucas Dain), Dorina apresenta samba-choro de Monarco e Mauro Diniz (Mercado da Ilusão) e revive samba bissexto de Fagner com Belchior (Noves Fora) sem o brilho especial que há em Festa da Vida - parceria de Dorina, compositora bissexta, com Roberto Chama (arranjador de seis das 14 faixas do disco) e Perninha - e no esperançoso samba Velha Dor da Madrugada, fruto saboroso do quintal de Arlindo Cruz, Acyr Marques e Franco. No fim, Dorina se autoperfila em Porta-Voz da Alegria, partido alto de Roberto Chama. "Fiz meu destino e hoje cumpro a minha missão", avisa Dorina, embebida na fé e na brasilidade que traçam seu árduo caminho de devoção ao samba em 15 anos de disco.
Em 1996, ao batizar e lançar seu primeiro disco, Dorina se apropriou de um tema de Paulinho da Viola e do título de um álbum do artista, Eu Canto Samba, para se posicionar no mercado fonográfico. Quinze anos depois, Dorina continua à margem desse mercado cada vez mais imediatista, mas já conseguiu respeito entre os bambas. Sétimo título da coerente discografia da cantora carioca, produzido por Marcus Fernando para a gravadora Rob Digital dentro das tradições do gênero, Brasilidade reitera a fidelidade da artista ao samba colhido nos quintais mais nobres do Rio de Janeiro. Sim, Dorina canta o melhor samba, aquele que - não fosse por vozes resistentes como a de Zeca Pagodinho - já tinha sido posto para escanteio no jogo sempre violento da indústria do disco. "Faz parte do jogo e deixa rolar / O choro é clássico do perdedor", sentencia Dorina em Brasilidade, samba choradinho onde, em tabelinha perfeita com o parceiro Luiz Carlos Máximo, o saudoso poeta Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008) faz paralelo entre o samba e o futebol em linhas sempre bem traçadas. "Eu sou do babado / sou do rebolado / E sei dizer no pé", reitera Dorina, imodesta, em Soberana (Cláudio Guimarães e Evandro Lima), samba cheio de ginga dividido por Dorina com a sempre manemolente Mart'nália. É com essa brasilidade soberana que Dorina aceita o convite para o Pagode da Dona Ivone, tributo a Ivone Lara prestado por Roque Ferreira e Mauro Diniz. Ode que termina em samba de roda com citações de Sonho Meu, Tiê e Alguém me Avisou, sucessos do cancioneiro majestoso de Ivone. Em clima igualmente animado, mas em diversa rota geográfica, Cantar do Rio (Ricardo Villas) celebra a bossa carioca em samba sublinhado pelo clarinete de Dirceu Leite. Carioca da gema, Dorina dá voz e vez em Brasilidade a grandes sambas que já jaziam no baú do samba. O melancólico Dor de Amor (Délcio Carvalho e Dedé da Portela) é joia fina da discografia de Roberto Ribeiro (1940 - 1996), cantor que lançou o dolente samba em álbum de 1983. Toda Minha Verdade - samba belo, lançado pelo grupo Fundo de Quintal em seu quarto álbum, Seja Sambista Também (1984) - tem o DNA nobre da obra de seu autor Wilson Moreira. Já Cândidas Neves é da lavra igualmente nobre de Zé Renato com Nei Lopes, tendo sido lançado por Zé em seu álbum Cabô (2000). Entre tema romântico e popular de Serginho Meriti, Adaulto Magalha e Claudemir (O Verdadeiro Amor) e destoante canção ruralista (Flor Voadeira, com versos declamados pelo poeta Lucas Dain), Dorina apresenta samba-choro de Monarco e Mauro Diniz (Mercado da Ilusão) e revive samba bissexto de Fagner com Belchior (Noves Fora) sem o brilho especial que há em Festa da Vida - parceria de Dorina, compositora bissexta, com Roberto Chama (arranjador de seis das 14 faixas do disco) e Perninha - e no esperançoso samba Velha Dor da Madrugada, fruto saboroso do quintal de Arlindo Cruz, Acyr Marques e Franco. No fim, Dorina se autoperfila em Porta-Voz da Alegria, partido alto de Roberto Chama. "Fiz meu destino e hoje cumpro a minha missão", avisa Dorina, embebida na fé e na brasilidade que traçam seu árduo caminho de devoção ao samba em 15 anos de disco.
ResponderExcluirMauro, parabéns pelo artigo e o excelente blog. A qualidade dos textos realmente me impressionou.
ResponderExcluirSou do Ambiente Musical (http://www.ambientemusical.net) e gostaria de falar contigo sobre alguns projetos nossos.
Como é possível? Pode me adicionar no MSN faleconosco@ambientemusical.net ?
Abraços
Mauro, o nome do disco é Brasilidade ou Brasileirice?
ResponderExcluirRenan, me mande um e-mail seu pelo comentário (que não vou publicar) para a gente entrar em contato.
ResponderExcluirRafael, grato por me avisar do meu lapso. O nome do disco, como exposto na capa, é Brasileirice. Mas volta e meia eu escrevo Brasilidade.
abs, mauroF
Esse disco é demais! Não me canso de ouvir Noves fora e flor voadeira!
ResponderExcluirA carreira da Dorina é, realmente, singular. Seus CDs sempre nos surpreendem seja pelo repertório e interpretação, seja pelo brilho, entusiasmo e honestidade que se percebe ao ouvir seu trabalho.
ResponderExcluir"Dor de "amor", "Velha dor da madrugada" e "Porta-voz da alegria" são execuções emocionantes.
Parabéns Dorina e que venham o oitavo, o nono, o décimo, etc...
Parabéns, Dorina!
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