Resenha de show
Título: Melhor Assim
Artista: Teresa Cristina (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 7 de janeiro de 2011
Cotação: * * * *
Show em cartaz no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, somente até 8 de janeiro de 2011
Quem te viu, quem te vê. Como diz o título do samba de Chico Buarque, de quem Teresa Cristina entoa Sem Açúcar em registro quase adocicado, a cantora desenvolta que entra em cena para fazer seu show Melhor Assim pouco ou nada lembra a artista tímida e quase imóvel de apresentações feitas em seu início de carreira. Cada vez melhor no palco, Teresa já se permite entrar até no universo teatral de Chico. Música feita pelo compositor para Maria Bethânia, que a lançou em 1975 no antológico show dividido com Chico, Sem Açúcar é uma novidade do roteiro do show Melhor Assim. Já na reta final da turnê originada do CD e DVD Melhor Assim, gravados ao vivo em outubro de 2009, Teresa está leve e solta. E é assim que voa alto quando canta um samba-choro como A Borboleta e o Passarinho (Teresa Cristina), outra novidade do roteiro aberto com interpretação a capella de A Voz de uma Pessoa Vitoriosa (Caetano Veloso e Waly Salomão). E o fato é que, aliada à evolução da artista em cena, a alta qualidade do repertório autoral de Teresa faz de Melhor Assim um grande show nesse momento em que ele, o show, já está mais depurado e azeitado. E, se é preciso um bocado de tristeza para se fazer um samba, como sentenciou o poeta, Teresa Cristina a tem de sobra. Guardo em mim (Teresa Cristina e Edu Krieger) e Lembrança (Teresa Cristina), em especial, são belos temas embebidos em fina melancolia. Mesmo quando celebra a chegada do amor, como em Poesia (Teresa Cristina), há alguma tristeza embutida nessa parcela mais intimista da obra da compositora. Obra que cresce em qualidade e quantidade, a ponto de os sambas de Teresa ficarem no mesmo alto nível da bissexta parceria de Paulinho da Viola com Candeia (1935 - 1978), Coisas Banais, registrada em disco por Teresa em dueto com Arlindo Cruz. Outro bônus de estúdio da gravação ao vivo, Trégua Suspensa (Teresa Cristina e Lula Queiroga) também foi integrado ao roteiro do show. Que continua gerando aplausos fortes quando Teresa, graciosa, esboça ar de diva e mulher fatal para recontar A História de Lily Braun (Chico Buarque e Edu Lobo). Ao evocar com propriedade o universo noturno deste fox de tom bluesy, Teresa explicita seus progressos em cena. Mesmo que não consiga expressar no seu canto a carga dramática de Sem Açúcar (Chico Buarque), a intérprete se mostra à vontade no palco. Prova é sua envolvente abordagem do samba A Felicidade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), unido com sagacidade a Convite à Tristeza (Teresa Cristina). Na sequência, O que Vier Eu Traço (Alvaiade e Zé Maria) é o veículo perfeito para a cantora exibir destreza vocal ao agilizar progressivamente o andamento deste samba cheio de bossa, lançado em 1945. No fim, o bloco de tom afro destaca Morada Divina (Arlindo Cruz e Teresa Cristina) antes do bis carnavalesco em que a cantora entrelaça músicas de Noel Rosa (1910 - 1937) e Braguinha (1907 - 2006) - se equivocando ao dizer que 2010 foi o ano do centenário de João de Barro - antes de receber sua mãe, Dona Hilda, presença afetiva que interpreta Carinhoso (Pixinguinha e Braguinha) com vivacidade. Fechando o roteiro e o bis, vem então o belíssimo samba Beijo Sem, em que a autora, Adriana Calcanhotto, insere a mulher sem culpas no mundo orgiástico da Lapa, o efervescente bairro carioca que projetou a voz microfônica - e já bem desinibida - de Teresa Cristina. Se cantar é vestir-se com a voz que se tem, Teresa Cristina se apresenta no palco portando um modelo de alta costura que lhe cai cada vez melhor no corpo e na voz.
Quem te viu, quem te vê. Como diz o título do samba de Chico Buarque, de quem Teresa Cristina entoa Sem Açúcar em registro quase adocicado, a cantora desenvolta que entra em cena para fazer seu show Melhor Assim pouco ou nada lembra a artista tímida e quase imóvel de apresentações feitas em seu início de carreira. Cada vez melhor no palco, Teresa já se permite entrar até no universo teatral de Chico. Música feita pelo compositor para Maria Bethânia, que a lançou em 1975 no antológico show dividido com Chico, Sem Açúcar é uma novidade do roteiro do show Melhor Assim. Já na reta final da turnê originada do CD e DVD Melhor Assim, gravados ao vivo em outubro de 2009, Teresa está leve e solta. E é assim que voa alto quando canta um samba-choro como A Borboleta e o Passarinho (Teresa Cristina), outra novidade do roteiro aberto com interpretação a capella de A Voz de uma Pessoa Vitoriosa (Caetano Veloso e Waly Salomão). E o fato é que, aliada à evolução da artista em cena, a alta qualidade do repertório autoral de Teresa faz de Melhor Assim um grande show nesse momento em que ele, o show, já está mais depurado e azeitado. E, se é preciso um bocado de tristeza para se fazer um samba, como sentenciou o poeta, Teresa Cristina a tem de sobra. Guardo em mim (Teresa Cristina e Edu Krieger) e Lembrança (Teresa Cristina), em especial, são belos temas embebidos em fina melancolia. Mesmo quando celebra a chegada do amor, como em Poesia (Teresa Cristina), há alguma tristeza embutida nessa parcela mais intimista da obra da compositora. Obra que cresce em qualidade e quantidade, a ponto de os sambas de Teresa ficarem no mesmo alto nível da bissexta parceria de Paulinho da Viola com Candeia (1935 - 1978), Coisas Banais, registrada em disco por Teresa em dueto com Arlindo Cruz. Outro bônus de estúdio da gravação ao vivo, Trégua Suspensa (Teresa Cristina e Lula Queiroga) também foi integrado ao roteiro do show. Que continua gerando aplausos fortes quando Teresa, graciosa, esboça ar de diva e mulher fatal para recontar A História de Lily Braun (Chico Buarque e Edu Lobo). Ao evocar com propriedade o universo noturno deste fox de tom bluesy, Teresa explicita seus progressos em cena. Mesmo que não consiga expressar no seu canto a carga dramática de Sem Açúcar (Chico Buarque), a intérprete se mostra à vontade no palco. Prova é sua envolvente abordagem do samba A Felicidade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), unido com sagacidade a Convite à Tristeza (Teresa Cristina). Na sequência, O que Vier Eu Traço (Alvaiade e Zé Maria) é o veículo perfeito para a cantora exibir destreza vocal ao agilizar progressivamente o andamento deste samba cheio de bossa, lançado em 1945. No fim, o bloco de tom afro destaca Morada Divina (Arlindo Cruz e Teresa Cristina) antes do bis carnavalesco em que a cantora entrelaça músicas de Noel Rosa (1910 - 1937) e Braguinha (1907 - 2006) - se equivocando ao dizer que 2010 foi o ano do centenário de João de Barro - antes de receber sua mãe, Dona Hilda, presença afetiva que intepreta Carinhoso (Pixinguinha e Braguinha) com vivacidade. Fechando o roteiro e o bis, vem então o belíssimo samba Beijo Sem, em que a autora, Adriana Calcanhotto, insere a mulher sem culpas no mundo orgiástico da Lapa, o efervescente bairro carioca que projetou a voz microfônica - e já bem desinibida - de Teresa Cristina. Se cantar é vestir-se com a voz que se tem, Teresa Cristina se apresenta no palco portando um modelo de alta costura que lhe cai cada vez melhor no corpo e na voz.
ResponderExcluirConcordo com tudo que Mauro diz, principalmente com o que tange a altíssima qualidade da obra de Teresa como compositora. Mesmo que, como cantora, Teresa não tivesse seus encantos próprios (e sua timidez e melancolia são parte deles), somente a beleza de músicas como "Cantar" já seriam suficiente para Teresa ser apontada como uma grande artista. Diferentemente de várias cantoras-compositoras que surgem com frequencia, os CDs de Teresa jamais perdem o pique quando chega uma faixa da pena da própria cantora, muitas vezes ocorre exatamente o contrário.
ResponderExcluirComo criador do site Cantoras do Brasil, Teresa chegou para aumentar minha crença de que o Brasil é, mesmo e definitivamente, o país das cantoras. AMO essa moça!
Vida loga à Teresa Cristina.
Teresa Cristina e Mariana Bernardes - cadê o primeiro cd, mocinha? - são as duas melhores cantoras que surgiram no samba nessa última década.
ResponderExcluirE Teresa ainda é uma compositora de mão cheia.
PS: Bacana ela tá mais desenvolta, mas aquela timidez era bem interessante. Charmosa.
Era uma espécie de Paulinho da Viola de saias. Não à toa ela começou gravando O CARA.
me desculpem fãs de teresa mas sem açúcar é música pra bethânia, elba, pra cantora dramática mesmo,nada a ver com teresa
ResponderExcluirO show "Melhor Assim" está muito bom mesmo!
ResponderExcluirVi três vezes ano passado em SP e, se voltar, vejo de novo.
Valeu pela resenha, Mauro.