Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Com bossa, Marovatto traz Titãs e Asa de Águia para a sua praia carioca

Resenha de CD
Título: Aquele Amor Nem me Fale
Artista: Mariano Marovatto
Gravadora: Bolacha Discos
Cotação: * * * 1/2

Em 1991, sem rumo, os Titãs gravaram um dos discos mais desorientados de sua carreira. Ignorado pelo tempo, o álbum Tudo ao Mesmo Tempo Agora tem um de seus temas, Não É por Não Falar, revivido em ritmo de samba por Mariano Marovatto no seu surpreendente primeiro álbum, Aquele Amor Nem me Fale, recém-lançado pelo selo Bolacha Discos. Com cordas arranjadas de forma inusitada, a guitarra suingante de Davi Moraes e o prato e faca percutidos por Moreno Veloso, a faixa mostra a personalidade deste cantor, compositor e poeta carioca. Produzido pelo próprio Mariano Marovatto, com Jonas Sá no posto de co-piloto, o álbum agrega na ficha técnica um time hypado de músicos da cena indie carioca. Gente como o guitarrista Pedro Sá, o baterista Marcelo Callado e o baixista Ricardo Dias Gomes, ou seja, o trio que forma a BandaCê, responsável pelo rejuvenescimento do som e do público de Caetano Veloso. Já na autoral canção de amor que abre o disco, Tanto, fica nítido que o som refinado de Marovatto é mix cool de samba, Bossa Nova e pop indie que evoca o som de Los Hermanos, Kassin e Cia. - ou seja, nada tão novo assim. Mas tudo feito paradoxalmente com personalidade. A influência da Bossa Nova é explicitada na moldura que envolve Pra Ela, outra canção autoral que dá o tom romântico do álbum. Já Volta por Cima é pop até a medula com seus ecos de Lulu Santos e Paralamas do Sucesso. A propósito, Pequena Flor é balada que usa e abusa da semelhança com o cancioneiro amoroso de Herbert Vianna. Mas quem há de negar a personalidade de Marovatto depois de ouvir Não Tem Lua, tema de Durval Lélys? Sim, o poeta traz para sua praia carioca a música do repertório do grupo Asa de Águia. E não é que, por trás de toda a vulgaridade da banda baiana, se esconde uma melodia bonita e uma letra de romantismo singelo? O mesmo romantismo, aliás, no qual estão embebidos os versos poéticos de Alice. "Alice tem os olhos da cor do meu jardim / Alice tem sorvete nos dentes / E abraça o braço em mim", diz Marovatto, a respeito de sua musa, a poeta Alice Sant'Anna, encerrando Aquele Amor Nem me Fale no tom plácido que caracteriza este seu oportuno primeiro álbum.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em 1991, sem rumo, os Titãs gravaram um dos discos mais desorientados de sua carreira. Ignorado pelo tempo, o álbum Tudo ao Mesmo Tempo Agora tem um de seus temas, Não É por Não Falar, revivido em ritmo de samba por Mariano Marovatto no seu surpreendente primeiro álbum, Aquele Amor Nem me Fale, recém-lançado pelo selo Bolacha Discos. Com cordas arranjadas de forma inusitada, a guitarra suingante de Davi Moraes e o prato e faca percutidos por Moreno Veloso, a faixa mostra a personalidade deste cantor, compositor e poeta carioca. Produzido pelo próprio Mariano Marovatto, com Jonas Sá no posto de co-piloto, o álbum agrega na ficha técnica um time hypado de músicos da cena indie carioca. Gente como o guitarrista Pedro Sá, o baterista Marcelo Callado e o baixista Ricardo Dias Gomes, ou seja, o trio que forma a BandaCê, responsável pelo rejuvenescimento do som e do público de Caetano Veloso. Já na autoral canção de amor que abre o disco, Tanto, fica nítido que o som refinado de Marovatto é mix cool de samba, Bossa Nova e pop indie que evoca o som de Los Hermanos, Kassin e Cia. - ou seja, nada tão novo assim. Mas tudo feito paradoxalmente com personalidade. A influência da Bossa Nova é explicitada na moldura que envolve Pra Ela, outra canção autoral que dá o tom romântico do álbum. Já Volta por Cima é pop até a medula com seus ecos de Lulu Santos e Paralamas do Sucesso. A propósito, Pequena Flor é balada que usa e abusa da semelhança com o cancioneiro amoroso de Herbert Vianna. Mas quem há de negar a personalidade de Marovatto depois de ouvir Não Tem Lua, tema de Durval Lélys? Sim, o poeta traz para sua praia carioca a música do repertório do grupo Asa de Águia. E não é que, por trás de toda a vulgaridade da banda baiana, se esconde uma melodia bonita e uma letra de romantismo singelo? O mesmo romantismo, aliás, no qual estão embebidos os versos poéticos de Alice. "Alice tem os olhos da cor do meu jardim / Alice tem sorvete nos dentes / E abraça o braço em mim", diz Marovatto, a respeito de sua musa, a poeta Alice Sant'Anna, encerrando Aquele Amor Nem me Fale no tom plácido que caracteriza este seu oportuno primeiro álbum.

Anônimo disse...

Putz, eu ADORO o Tudo Ao Mesmo Tempo Agora.
Discaço!!!
Acha-o super subestimado.
É que nesse época - ainda uma banda de culhões - os Titãs estavam meio que brigadinhos com a imprensa musical, aí o disco pegou essa pecha de ruim. Sem ser!
Como diria Pauinho da Viola: Coisas do mundo, minha nêga.

PS: Esse cara(Mariano) parece bom, pelo menos anda bem acompanhado.

Luca disse...

é preciso coragem mesmo para gravar música do Asa de Águia

Pedro Progresso disse...

É preciso coragem pra regravar Asa de águia? Sim, especialmente quando a versão ficou inferior à do Asa.

Ficou beeem inferior na verdade. Não gostei. As outras músicas tão bacanas. Mas ainda começo o ano com os paulistas, os cariocas da turminha do Kassin já tavam me anjoando há tempos.

Agora é Jeneci que não sai do meu radinho.

Felipe dos Santos disse...

Primeiro, sobre o disco resenhado. Parece bacana, até pelo bom acompanhamento instrumental (sim, esse pessoal que fica no circuito Banda Cê-Do Amor-underground carioca toca bem). Só essa coisa de usar uma música dita "popular" e torná-la cult é que está se tornando uma coisa meio cansativa...

Agora, pegando o assunto que Zé Henrique colocou em pauta: racionalmente, concordo com Mauro. "Tudo ao mesmo tempo agora" (o TAMTA, como dizem os fãs) é um disco em que os Titãs, entorpecidos pela bajulação quase unânime a "Õ Blésq Blom", tocaram um rock burro, de letras simplórias.

Os próprios Titãs meio que tratam o disco de qualquer jeito. Branco Mello já falou: "Fizemos um disco muito só para a gente, uma virada radical demais", ao passo que Sérgio Britto foi curto e grosso: "Foi feito numa época de muita cheiração e um astral duvidoso." Tanto é que a asfixia roqueira foi decisiva para Arnaldo Antunes sair da banda (e iniciou o processo lento que levaria à saída de Nando).

Agora, ora bolas, como diz o mote do Notas Musicais: música é "a mais emocional das formas de arte", não é "a mais racional". E aí, estou com Zé Henrique e não abro. Discaço! Hormonal, virulento, pesado. "Isso para mim é perfume" é das coisas mais catárticas que já ouvi.

Quem duvidar, veja o show do Hollywood Rock de 1992. Os Titãs jantaram Jesus Jones, Seal, Paralamas e quem mais se apresentasse naquela noite de janeiro de 1992. Colocaram fogo na Praça da Apoteose.

Felipe dos Santos Souza

Anônimo disse...

Realmente Felipe, está mais do que manjado e cansativo pegar um sucesso popular e, como outra roupagem, torná-lo cult.
É que essa rapaziada é pupila de Mano Caetano, aí se explica fácil tal recurso. rsrsr
Essas frases do Branco e Britto devem ter sido recentes, né?
Eu já não levo em conta o que eles fazem ou dizem desde o acústico. Aliás, muito bom.
Essa frase que vc cunhou do Britto se encaixa à perfeição ao Exile On Main Street. Pra muitos - inclusive eu - o melhor disco dos Stones. Sendo assim...
Além do mais, pouco importa o que os artitas dizem sobre sua obra.
Eles, como nós, vão mudando com o tempo. Alguns bem pra pior.

PS: Tinha esse show em VHS...
Showzaço!

Abraço!

Anônimo disse...

Ahhh, Felipe, não entendi tua colocação de rock burro.
"Saia de mim" é das letras mais sábias do rock brazuca.
"Já", "Agora", "Não é por não falar"
são bem boas.
Enfim, bom papear contigo.