quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Com dramaturgia rala, 'Nara' revive em cena a trajetória imortal de Nara

Resenha de musical
Título: Nara
Elenco: Fernanda Couto, Guiherme Terra, Rodrigo Sanches e William Guedes
Direção: Márcio Araújo
Foto: Divulgação / Lenise Pinheiro
Cotação: * * *
Em cartaz no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro (RJ)
De quinta-feira a domingo, às 19h30m. Até 27 de fevereiro de 2011

Nara Leão (1942 - 1989) tinha um fio de voz. Mas por esse fio passaram alguns dos momentos, artistas e composições mais marcantes da Música Popular Brasileira. Nara - o singelo musical paulista que aportou no Rio de Janeiro (RJ) para temporada que se estende até 27 de fevereiro de 2011 no Teatro II do CCBB - revive em cena parte da trajetória imortal de uma cantora celebrizada tanto por sua opinião forte quanto por sua atuação relevante na cena musical brasileira dos anos 50, 60, 70 e 80. Urdido sem uma dramaturgia propriamente dita, o texto expõe passagens importantes da vida de Nara sem recorrer ao aparato hi-tech dos musicais feitos à moda da Broadway. Nara é musical de tom mais íntimo que resulta simpático porque Fernanda Couto encarna a cantora de forma crível. Sob a direção musical de Pedro Paulo Bogossian, a atriz consegue evocar a presença de Nara, secundada por três atores-músicos (Guiherme Terra, Rodrigo Sanches e William Guedes) que se revezam sem um brilho especial nos papéis dos homens que marcaram a vida profissional e afetiva de Nara. Entre eles, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli (1928 - 1994) e Cacá Diegues. Com ênfase na obra construída por Nara entre os anos 60 e 70, o texto aborda, ainda que superficialmente, os fatos marcantes da carreira da cantora que recusou o posto de Musa da Bossa Nova - gravando somente em 1971 um songbook do gênero - e praticamente fundou com seu primeiro álbum (Nara, 1964) o estilo que seria rotulado como MPB nos festivais da canção que agitaram os já turbulentos anos 60. Com estilo e personalidade, Nara ajudou a popularizar a música do então iniciante Chico Buarque, inovou ao gravar álbum de duetos (Meus Amigos São um Barato, 1977) e foi o primeiro nome da MPB a dedicar um disco ao cancioneiro de Roberto Carlos e Erasmo Carlos (...E que Tudo Mais Vá pro Inferno, 1978) quando a dupla ainda era silenciosamente discriminada pelas elites musicais brasileiras. De 1979 a 1989, ano de sua morte, Nara conviveu com tumor no cérebro, mas a doença não a impediu de gravar álbuns relevantes - Meu Samba Encabulado (1983), omitido no musical, é um deles - e de fazer turnês pelo Japão com o fiel escudeiro Roberto Menescal. Sempre pioneira, Nara também foi o primeiro nome do Brasil a gravar um CD (Garota de Ipanema, 1986). Tudo isso é pincelado em Nara, entre a recordação de músicas como Diz que Fui por Aí, A Banda, Nasci para Bailar, Opinião e Com Açúcar, com Afeto. O musical é simples, mas feito com tanto afeto que a ausência de uma dramaturgia propriamente dita não impede que a encenação seja de fato prazerosa, além de cumprir seu papel de reviver em cena a importância da imortal Nara Leão.

5 comentários:

  1. em 86 já tinha cd no Brasil? pensei que cd tivesse chegado aqui em 88.

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  2. Qualquer homenagem a Nara é sempre bem vinda.
    Taí o exemplo de que voz não é tudo, pelo contrário, mais vale personalidade.
    Nara foi os Beatles do Brasil, o primeiro em várias coisas. rsrsrs

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  3. uma pena que quase tudo da Nara esteja fora de catálogo! A caixa Nara chegou a ser vendida por 500 dolares na amazon tempos atrás. Discografia completa acho que só no Japão.... e assim caminha pro fim nossa indústria do disco....

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  4. O disco que Nara lançou com músicas do Roberto se chamava "...e que tudo mais vá pro inferno". Depois é que mudaram o nome.

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  5. Tem razão, Luca. Já tinha sido alertado por e-mail e já corrigi o texto. Abs, MauroF

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