Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

'Deja la Vida Volar' é fiel registro póstumo do canto humanitário de Sosa

Resenha de CD
Título: Deja la Vida Volar - En Gira
Artista: Mercedes Sosa
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 1/2

A voz engajada de Mercedes Sosa (1935 - 2009) já não tinha todo o alcance de tempos idos quando a cantora argentina - símbolo perene da resistência dos povos da América Latina na luta contra ditaduras e outras formas de opressão - cruzou oceanos em sua última turnê mundial. Já debilitada, a intérprete se apresentava quase sempre sentada. Mas sua alma estava inteira em cena. E, por isso, há real beleza no CD Deja la Vida Volar - En Gira, registro ao vivo dessa derradeira turnê de Sosa. É a turnê que passou pelo Brasil em novembro de 2008, ano em que foram captados, em shows na Argentina e na Europa, os 17 números reunidos neste álbum póstumo que saiu em setembro de 2010 na terra natal da cantora e que chega ao Brasil neste início de 2011 em edição da Sony Music. É fato que o disco não capta toda a força da intérprete no palco (clique aqui para ler a resenha do show). Ainda assim, é testemunho fiel do canto resistente e humanitário da intérprete que propagou temas como Gracias a la Vida (Violeta Parra). "Amo cantar, amo tudo que canto", reitera Mercedes em cena ao fim de Piedra y Camino (Atahualpa Yupanqui), momentos antes de reviver o tema que batiza o disco, Deja la Vida Volar, da lavra politizada do chileno Víctor Jara, poeta e compositor assassinado pelo governo ditatorial de Augusto Pinochet (1915 - 2006) - como Sosa faz questão de lembrar em cena. O disco deixa transparecer o entusiasmo e a gana com que La Negra desfia repertório que inclui duas músicas inéditas em sua voz, Me Hace Bien (do uruguaio Jorge Drexler) e La Celedonia Batista (Teresa Parodi). Ao introduzir Como la Cigarra (María Elena Walsh), tema vertido por Silvia Machete para seu álbum Extravaganza (2010), Sosa incentiva o coro do público. "Essa é uma canção diretamente para o coração, como todas que canto", enfatiza a intérprete. O discurso soa coerente quando se percebe que é sobretudo com coração que Mercedes entoa Guitarra Dimelo Tú (Atahualpa Yupanqui) - faixa em que a voz da cantora soa especialmente pungente - e a brasileira Gente Humilde (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque), entoada em espanhol e ambientada em clima bossa-novista. No fim, Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant) fecha o show e este disco que expõe a aguçada consciência social de Mercedes Sosa, cantora dotada de carga de espiritualidade tão grande que miniminza o fato de sua voz já não soar tão potente neste belo registro póstumo.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A voz engajada de Mercedes Sosa (1935 - 2009) já não tinha todo o alcance de tempos idos quando a cantora argentina - símbolo perene da resistência dos povos da América Latina na luta contra ditaduras e outras formas de opressão - cruzou oceanos em sua última turnê mundial. Já debilitada, a intérprete se apresentava quase sempre sentada. Mas sua alma estava inteira em cena. E, por isso, há real beleza no CD Deja la Vida Volar - En Gira, registro ao vivo dessa derradeira turnê de Sosa. É a turnê que passou pelo Brasil em novembro de 2008, ano em que foram captados, em shows na Argentina e na Europa, os 17 números reunidos neste álbum póstumo que saiu em setembro de 2010 na terra natal da cantora e que chega ao Brasil neste início de 2011 em edição da Sony Music. É fato que o disco não capta toda a força da intérprete no palco (clique aqui para ler a resenha do show). Ainda assim, é testemunho fiel do canto resistente e humanitário da intérprete que propagou temas como Gracias a la Vida (Violeta Parra). "Amo cantar, amo tudo que canto", reitera Mercedes em cena ao fim de Piedra y Camino (Atahualpa Yupanqui), momentos antes de reviver o tema que batiza o disco, Deja la Vida Volar, da lavra politizada do chileno Víctor Jara, poeta e compositor assassinado pelo governo ditatorial de Augusto Pinochet (1915 - 2006) - como Sosa faz questão de lembrar em cena. O disco deixa transparecer o entusiasmo e a gana com que La Negra desfia repertório que inclui duas músicas inéditas em sua voz, Me Hace Bien (do uruguaio Jorge Drexler) e La Celedonia Batista (Teresa Parodi). Ao introduzir Como la Cigarra (María Elena Walsh), tema vertido por Silvia Machete para seu álbum Extravaganza (2010), Sosa incentiva o coro do público. "Essa é uma canção diretamente para o coração, como todas que canto", enfatiza a intérprete. O discurso soa coerente quando se percebe que é sobretudo com coração que Mercedes entoa Guitarra Dimelo Tú (Atahualpa Yupanqui) - faixa em que a voz da cantora soa especialmente pungente - e a brasileira Gente Humilde (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque), entoada em espanhol e ambientada em clima bossa-novista. No fim, Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant) fecha o show e este disco que expõe a aguçada consciência social de Mercedes Sosa, cantora dotada de carga de espiritualidade tão grande que miniminza o fato de sua voz já não soar tão potente neste belo registro póstumo.

Eulalia Moreno disse...

Belíssima resenha Mauro! Saudades de La Negra...

Diogo Santos disse...

Impressiona como a (já) saudosa Sosa gravou muitas de nossas canções e com muitos de nossos nomes. É incrivel como mesmo não sendo brasileira ela era uma das maiores interpretes da MPB. Tal qual Sarah Vaughan.


Ela estaria no album politizado de Beth Carvalho. Enfim, uma perda sem precedentes!