Não é fácil ser cantora no país das cantoras. Intérpretes sem uma obra autoral que lhes dê identidade - e lhes garanta alguma autonomia artística na indústria fonográfica - geralmente ficam à mercê dos critérios às vezes questionáveis de diretores artísticos de gravadoras. Além da voz, é preciso ter personalidade forte, como as de Maria Bethânia e Nana Caymmi, por exemplo, para driblar direcionamentos dúbios e impor a verdade de seu canto. A explosão do pop rock nacional em 1982 implodiu o conceito de MPB - criado nos festivais dos anos 60 e solidificado ao longo da década de 70 - e piorou ainda mais a situação. Foi quando diversas cantoras, como Joanna e Fafá de Belém, por exemplo, partiram para o brega para garantir vendas e visibilidade nas paradas. Nos anos 2000, a própria implosão da indústria do disco - vitimada pela pirataria física e virtual - afunilou o mercado mainstream e empurrou a dita MPB para o circuito indie. É nesse contexto que a gravadora Joia Moderna - aberta pelo DJ Zé Pedro - entra efetivamente no mercado em fevereiro de 2011 para dar voz, sobretudo, a cantoras marginalizadas por um mercado que deu tiro em seu próprio pé ao adotar visão imediatista. Não é por acaso que, no lote inicial de lançamentos da Joia Moderna, há bem-vindos álbuns de Zezé Motta e Cida Moreira. Zezé despontou como atriz e cantora nos anos 70, chegando a gravar discos arrojados. Contudo, por ser negra, logo foi enquadrada pela Warner Music no nicho das sambistas - nicho redutor, no caso específico de Zezé. Dedicado aos repertórios de Jards Macalé e Luiz Melodia, o álbum Negra Melodia pode vir a reposicioná-la no mundo da música. Já Cida Moreira nunca esteve propriamente no mainstream, tendo feito discos pelas extintas gravadoras Kuarup (pioneira no mercado indie brasileiro, espécie de Biscoito Fino de sua época) e Continental. Contudo, por sua coerência e personalidade, Cida deveria ter tido uma carreira fonográfica mais regular, desenvolvida sob os holofotes da mídia, e não construída à margem do mercado. Que a Joia Moderna dê brilho e oportunidades a essas vozes e lapide outros diamantes verdadeiros, alguns encobertos pela poeira do tempo e da acomodação. Antes de ser DJ, Zé Pedro sempre foi fã apaixonado de cantoras. Como tal, sabe identificar vícios e virtudes dessas joias que, uma vez lapidadas, podem voltar a brilhar e fazer discos a que o tempo se encarregará de dar o real valor se a crítica não o fizer de imediato.
Guia jornalístico do mercado fonográfico brasileiro com resenhas de discos, críticas de shows e notícias diárias sobre futuros lançamentos de CDs e DVDs. Do pop à MPB. Do rock ao funk. Do axé ao jazz. Passando por samba, choro, sertanejo, soul, rap, blues, baião, música eletrônica e música erudita. Atualizado diariamente. É proibida a reprodução de qualquer texto ou foto deste site em veículo impresso ou digital - inclusive em redes sociais - sem a prévia autorização do editor Mauro Ferreira.
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7 comentários:
Não é fácil ser cantora no país das cantoras. Intérpretes sem uma obra autoral que lhes dê identidade - e lhes garanta alguma autonomia artística na indústria fonográfica - geralmente ficam à mercê dos critérios às vezes questionáveis de diretores artísticos de gravadoras. Além da voz, é preciso ter personalidade forte, como as de Maria Bethânia e Nana Caymmi, por exemplo, para driblar direcionamentos dúbios e impor a verdade de seu canto. A explosão do pop rock nacional em 1982 implodiu o conceito de MPB - criado nos festivais dos anos 60 e solidificado ao longo da década de 70 - e piorou ainda mais a situação. Foi quando diversas cantoras, como Joanna e Fafá de Belém, por exemplo, partiram para o brega para garantir vendas e visibilidade nas paradas. Nos anos 2000, a própria implosão da indústria do disco - vitimada pela pirataria física e virtual - afunilou o mercado mainstream e empurrou a dita MPB para o circuito indie. É nesse contexto que a gravadora Joia Moderna - aberta pelo DJ Zé Pedro - entra efetivamente no mercado em fevereiro de 2011 para dar voz, sobretudo, a cantoras marginalizadas por um mercado que deu tiro em seu próprio pé ao adotar visão imediatista. Não é por acaso que, no lote inicial de lançamentos da Joia Moderna, há bem-vindos álbuns de Zezé Motta e Cida Moreira. Zezé despontou como atriz e cantora nos anos 70, chegando a gravar discos arrojados. Contudo, por ser negra, logo foi enquadrada pela Warner Music no nicho das sambistas - nicho redutor, no caso específico de Zezé. Dedicado aos repertórios de Jards Macalé e Luiz Melodia, o álbum Negra Melodia pode vir a reposicioná-la no mundo da música. Já Cida Moreira nunca esteve propriamente no mainstream, tendo feito discos pelas extintas gravadoras Kuarup (pioneira no mercado indie brasileiro, espécie de Biscoito Fino de sua época) e Continental. Contudo, por sua coerência e personalidade, Cida deveria ter tido uma carreira fonográfica mais regular, desenvolvida sob os holofotes da mídia, e não construída à margem do mercado. Que a Joia Moderna dê brilho e oportunidades a essas vozes e lapide outros diamantes verdadeiros, alguns encobertos pela poeira do tempo e da acomodação. Antes de ser DJ, Zé Pedro sempre foi fã apaixonado de cantoras. Como tal, sabe identificar vícios e virtudes dessas joias que, uma vez lapidadas, podem voltar a brilhar e fazer discos a que o tempo se encarregará de dar o real valor se a crítica não o fizer de imediato.
Parabéns ao Zé Pedro pela ousadia, e por revigorar pessoas que não acham seu devido espaço nas grandes! Esse tipo de iniciativa sim, é muito digna!
Sorte nossa, não?
Ansioso desde já pelos lançamentos do selo, só posso torcer pra que esse "sonho" do Zé Pedro nos brinde com outras pérolas escondidas ou esquecidas por esse Brasil.
A parceria com o pesquisador Thiago Marques Luiz ainda dá mais credibilidade à toda essa empreitada.
Além das citadas e de Silvia Maria, o projeto "A voz da mulher na obra de ..." que começa com Taiguara já é o meu cd mais esperado do momento.
E pros curiosos de plantão que ficaram tão ansiosos quanto eu, os cds serão distribuídos pela excelente Tratore (ou seja, facílimo de adquirir).
Todo sucesso do mundo pra Jóia Moderna e torcida pra que outras cantoras tenham voz e talento reconhecidos (ou mesmo projetos mais direcionados) como Evinha, Vanusa, Fátima Guedes, Sueli Costa, Márcia, Marília Medalha, Edith Veiga, Eliete Negreiros e tantas outras...
Na torcida!
Mauro,
Os discos sairão em box ou separados?
Mauro,
Eu formulei minha pergunta de forma incorreta. Estou querendo saber se os discos serão vendidos juntos embalados na caixinha constante na foto ou se serão vendidos separadamente. A foto dá a impressão de serão embalados na caixa.
Oi, Claudio, os discos serão vendidos separadamente nas lojas. O box - até onde sei - foi idelizado para jornalistas, artistas e demais formadores de opinião. Abs, MauroF
Que seja muito bem-vinda a gravadora Joia Moderna. Parabéns ao Zé Oedro, que é o máximo. E VIVA essa geração de produtores e pesquisadores (Thiago Marques Luiz, Rodrigo Faour, Zé Pedro, etc) que está dedicada a resgatar nossas cantoras!!!
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