domingo, 9 de janeiro de 2011

Luz de Elba ilumina show tenso marcado por apagão e arranjos insípidos

Resenha de show
Título: Marco Zero
Artista: Elba Ramalho (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 8 de janeiro de 2011
Cotação: * * 1/2

A volta de Elba Ramalho ao palco de uma grande casa carioca transcorreu em clima de tensão. Quando a intérprete cantava Não lhe Solto Mais, forró de Antonio Barros e Cecéu, as luzes da casa Vivo Rio se apagaram. E não seria o primeiro apagão ao longo do show apresentado por Elba na noite de 8 de janeiro para promover os recém-lançados CD e DVD Marco Zero ao Vivo, gravados em megashow no Centro Histórico de Recife (PE). Ao fim do maracatu Que Baque É Esse? (Lenine), um novo apagão reativou a tensão entre público, artista, banda e a direção da casa. Valente, a leoa do Norte cantou a capella a toada De Volta pro Aconchego (Dominguinhos e Nando Cordel) - puxando o coro da plateia - e, com a banda posicionada na beira do palco, improvisou ao violão e no gogó versão radicalmente acústica de Chão de Giz que emocionou o público pela bravura da artista. Na sequência, com a iluminação parcialmente restabelecida, a cantora pulou o bloco de canções de Chico Buarque - O Meu Amor e Folhetim, entre elas -  e foi direto para os frevos Banho de Cheiro (Carlos Fernando) e Frevo Mulher (Zé Ramalho) antes de cantar Tropicana (Alceu Valença e Vicente Barreto) em tom de forró e  sair de cena ao som de bela e anticlimática Ave Maria. Não houve sequer bis, pois não havia clima.

A luz e a energia de Elba Ramalho iluminaram um show tenso por conta dos apagões. Contudo, verdade seja dita, Marco Zero - como já sinalizou o DVD posto nas lojas pela gravadora Biscoito Fino - é show aquém do padrão cênico e musical da intérprete. Falta luz também nos arranjos, quase todos insípidos. A direção musical de Cezinha do Acordeom quase nunca explora as nuances dos instrumentos da (boa) banda. Ouve-se uma massa sonora que embala de forma quase padronizada xotes (como Fuxico, de Flávio Leandro), toadas (caso de Gostoso Demais, da lavra de Dominguinhos e Nando Cordel), frevos e baiões. A vivacidade de Elba ao reviver sucessos como Bate Coração (Cecéu) dribla o tom insosso dos arranjos, mas não a impressão de que a cantora deveria a recorrer a produtores como Lula Queiroga e Robertinho de Recife -  com os quais a cantora fez grandes discos - para retomar o padrão de qualidade de sua obra nos próximos trabalhos. Sem a teatralidade, o conceito e a força musical de shows antológicos como Popular Brasileira (1990), Leão do Norte (1996) e Baioque (1997), todos dirigidos por Jorge Fernando, Marco Zero acaba funcionando como mera retrospectiva dos 30 anos de carreira fonográfica que, a rigor, já são 32. A propósito, sem precisão para datas, Elba afirma equivocadamente em cena que Banquete de Signos (Zé Ramalho) é música de seu primeiro disco, Ave de Prata (1979), quando na realidade a composição foi o destaque de seu segundo álbum, Capim do Vale (1980). Efemérides à parte, a voz ainda está lá, um pouco menos potente, mas ainda vibrante e firme. A bravura da leoa espanta o tom  pasteurizado dos arranjos quando Elba canta o caboclinho  Leão do Norte (Lenine e Paulo César Pinheiro), o hit popular Espumas ao Vento (Accioly Neto) e o medley que une os xotes  Qui Nem Jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e Eu Só Quero um Xodó (Dominguinhos e Anastácia). Mas já é hora de Elba zerar tudo, procurar um bom produtor musical e fazer grande disco/show à altura de seu histórico. É preciso ser valente também fora de cena para manter a força e o prestígio.

11 comentários:

  1. A volta de Elba Ramalho ao palco de uma grande casa carioca transcorreu em clima de tensão. Quando a intérprete cantava Não lhe Solto Mais, forró de Antonio Barros e Cecéu, as luzes da casa Vivo Rio se apagaram. E não seria o primeiro apagão ao longo do show apresentado por Elba na noite de 8 de janeiro para promover os recém-lançados CD e DVD Marco Zero ao Vivo, gravados em megashow no Centro Histórico de Recife (PE). Ao fim do maracatu Que Baque É Esse? (Lenine), um novo apagão reativou a tensão entre público, artista, banda e a direção da casa. Valente, a leoa do Norte cantou a capella a toada De Volta pro Aconchego (Dominguinhos e Nando Cordel) - puxando o coro da plateia - e, com a banda posicionada na beira do palco, improvisou ao violão e no gogó versão radicalmente acústica de Chão de Giz que emocionou o público pela bravura da artista. Na sequência, com a iluminação parcialmente restabelecida, a cantora pulou o bloco de canções de Chico Buarque - O Meu Amor e Folhetim, entre elas - e foi direto para os frevos Banho de Cheiro (Carlos Fernando) e Frevo Mulher (Zé Ramalho) antes de cantar Morena Tropicana (Alceu Valença) em tom mais forrozeiro e de sair de cena ao som de bela e anticlimática Ave Maria. Não houve sequer bis, pois não havia clima.


    A luz e a energia de Elba Ramalho iluminaram um show tenso por conta dos apagões. Contudo, verdade seja dita, Marco Zero - como já sinalizou o DVD posto nas lojas pela gravadora Biscoito Fino - é show aquém do padrão cênico e musical da intérprete. Falta luz também nos arranjos, quase todos insípidos. A direção musical de Cezinha do Acordeom quase nunca explora as nuances dos instrumentos da (boa) banda. Ouve-se uma massa sonora que embala de forma quase padronizada xotes (como Fuxico, de Flávio Leandro), toadas (caso de Gostoso Demais, da lavra de Dominguinhos e Nando Cordel), frevos e baiões. A vivacidade de Elba ao reviver sucessos como Bate Coração (Cecéu) dribla o tom insosso dos arranjos, mas não a impressão de que a cantora deveria a recorrer a produtores como Lula Queiroga e Robertinho de Recife - com os quais a cantora fez grandes discos - para retomar o padrão de qualidade de sua obra nos próximos trabalhos. Sem a teatralidade, o conceito e a força musical de shows antológicos como Popular Brasileira (1990), Leão do Norte (1996) e Baioque (1997), todos dirigidos por Jorge Fernando, Marco Zero acaba funcionando como mera retrospectiva dos 30 anos de carreira fonográfica que, a rigor, já são 32. A propósito, sem precisão para datas, Elba afirma equivocadamente em cena que Banquete de Signos (Zé Ramalho) é música de seu primeiro disco, Ave de Prata (1979), quando na realidade a composição foi o destaque de seu segundo álbum, Capim do Vale (1980). Efemérides à parte, a voz ainda está lá, um pouco menos potente, mas ainda vibrante e firme. A bravura da leoa espanta o tom pasteurizado dos arranjos quando Elba canta um caboclinho como Leão do Norte (Lenine), um sedutor tema romântico como Espumas ao Vento (Accioly Neto) ou um medley de xotes como Qui Nem Jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e Eu Só Quero um Xodó (Dominguinhos e Anastácia). Mas já é hora de Elba zerar tudo, procurar um bom produtor musical e fazer grande disco/show à altura de seu histórico. É preciso ser valente também fora de cena para manter seu prestígio.

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  2. é uma grande tristeza o Rio não ter uma grande e COMPETENTE casa de espetáculos. Isso inclui, bom som, bom ar condicionado, cadeiras confortáveis, boa comida e bom atendimento. Tarefa quase impossível se tratando de Rio de Janeiro.

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  3. Acho que suas palavras foram bastante oportunas, Mauro! Acompanho Elba desde sempre e ontem minha sensação no VivoRio era de uma estranheza em relação ao rumo que Elba está dando à sua carreira. Incomoda-me que ela tem feito sempre as mesmas coisas nos shows. Onde está a ousadia cênica que sempre foi um diferencial de Elba? O excelente trabalho Qual assunto mais lhe interessa provou que Elba ainda pode se superar artisticamente. Não fosse o carisma ímpar dessa fantástica cantora, o show teria sido um total desastre. Eu já sabia que Elba é uma profissional com P maiúsculo. Muitos outros teriam dado xiliques pela falta de energia na casa de shows, mas Elba, em total respeito ao público, se comportou de forma muito digna. Vergonhoso é a falta de competência da administração da casa de shows que permite que "apações" (3 pra ser exato!)ocorram durante um show. A administração do VivoRio deveria vir a público se retratar sobre tal acidente.

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  4. Mauro,

    Se possível o novo DVD do Rosa de Saron, intitulado de Horizonte Distante ao vivo, merece uma resenha.O Rock nacional carece disso.

    Site da banda:
    http://www.rosadesaron.com.br/discografia/

    Leandro,

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  5. Que triste! Lembro do show "Leão do Norte" quando ela soltava aquela voz cantando Beradero do Chico César.
    Li no "O Globo" dessa semana que ela tem intenção de lançar um CD de forró neste ano. E Chico Buarque? Desistiu?
    Ela deveria se voltar para MPB, já lançou muitos CDs focados no forró.

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  6. Uma correção: a música "Leão do Norte" é uma parceria de Lenine com Paulo César Pinheiro, e não uma composição solo do ótimo pernambucano.

    No mais, (mais) uma monumental pisada na bola do Vivo Rio.

    Abraço!

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  7. Luis, grato pela correção. Tinha me esquecido que a letra do 'Leão do Norte' é do Paulo César Pinheiro. Abs, mauroF

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  8. Mauro, o Rio não tem casa de show competente. É lamentável. A Elba não merecia isso, é muita falta de respeito. Ramalho é um show em cena. Esse negócio de cantora trabalhar com namorado ou marido nunca é bacana. Elba precisa de um grande produtor para fazer um grande disco. Show ela é! É nossa grande estrela de palco e arrasa em disco tb. Elba precisa de um show a altura de seu talento. Ela canta e dança muito bem. Tem uma voz linda e poderosa. Meu amor Elba!

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  9. Mauro,

    Fiquei com uma dúvida.

    O nome correto da música "Morena Tropicana" que você citou não seria "Tropicana", de autoria do Alceu Valença em parceria com Vicente Barreto, lançada no disco "Cavalo de Pau" de 1982?

    A menos que seja outra música, a qual não conheço...

    No mais, não é a primeira vez que shows são bastante comprometidos pelo desrespeito que essa casa (Vivo Rio) tem com os artistas e com o público. Fico profundamente revoltado e, por isso, resisto muito a frequentá-la.

    Elba não merecia isso...

    abração,
    Denilson

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  10. Tem toda razão, Denilson. Grato por me alertar do erro nos créditos de Tropicana. Abs, MauroF

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  11. Mauro.

    Com relação a "Tropicana" e/ou "Morena Tropicana", as duas formas estão corretas; quando a música foi gravada no início dos anos 80 era apenas "Tropicana"; porém com o passar dos anos ela tornou-se conhecida como "Morena Tropicana" e o próprio Alceu Valença já registra da seguinte maneira nas suas recentes regravações e/ou coletâneas: Tropicana (Morena Tropicana).

    Abraços.

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