Mauro Ferreira no G1

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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Beto Guedes revive timidamente 'Outros Clássicos' no seu segundo DVD

Resenha de CD e DVD
Título: Outros Clássicos - Beto Guedes ao Vivo
Artista: Beto Guedes
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *

Definitivamente, Beto Guedes não nasceu para brilhar em cena. A timidez do artista e sua total ausência de carisma diluem o brilho de seu segundo DVD, Outros Clássicos, filmado em show feito por Guedes em 14 de julho de 2010, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG). Editado também no formato de CD pela gravadora Biscoito Fino, o registro ao vivo evidencia o fato de o artista mineiro - vocacionado para a arte da composição, mas não para o canto - nunca parecer à vontade enquanto apresenta as 17 músicas de um roteiro esperto. Sim, com aguçado senso ético, Beto descarta neste segundo DVD os verdadeiros clássicos de sua obra, já reunidos em seu primeiro DVD, 50 Anos ao Vivo, filmado em setembro de 2001 com participações de Milton Nascimento, Toni Garrido, Jota Quest e Lô Borges. O que Beto chama de Outros Clássicos é, na verdade, o lado B de sua obra coerente e poética. Entraram neste DVD as músicas que não couberam no anterior. Algumas ainda são razoavelmente conhecidas - casos de O Medo de Amar É o Medo de Ser Livre (Beto Guedes e Fernando Brant), A Página do Relâmpago Elétrico (Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e Veveco, Panelas e Canelas (Milton Nascimento e Fernando Brant). Mas a maioria foi pouco ouvida ao longo dos anos, o que aumenta o valor documental do DVD. Trata-se, em sua maioria, de baladas que combinam influências de Beatles e do pop mineiro - como manda o estatuto do lendário Clube da Esquina do qual Guedes é sócio vitalício. Os arranjos de Wagner Tiso - em temas como Tudo em Você (Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e  Boa Sorte (Luiz Guedes, Thomas Roth e Márcio Borges) - respeitam os cânones desse clube mineiro de melodias e harmonias refinadas. Pena que falte a Beto Guedes voz e brilho para lapidar joias como Olhos de Jade (Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e Rio Doce (Beto Guedes e Ronaldo Bastos). Tanto que o belo tema instrumental Nena (Beto Guedes) - adornado com quarteto de cordas - acaba sendo um dos números de maior rigor estilístico. Outro destaque é a inspirada canção ruralista Meu Ninho (Wagner Tiso e Ronaldo Bastos), revivida com adesões de Daniela Mercury, Wagner Tiso (ao piano) e de Célio Balona (no acordeom). Fora da praia baiana, a cantora nem sempre empolga mas sua participação em Meu Ninho e em Luz e Mistério - a parceria bissexta de Beto com Caetano Veloso - resulta harmoniosa. Convencional, a filmagem do show tem sua maior bossa ao apresentar takes dos ensaios da gravação entre um número e outro. Tal edição disfarça o desconforto de Beto Guedes ao pisar no palco em que timidamente revive seus outros clássicos.

13 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Definitivamente, Beto Guedes não nasceu para brilhar em cena. A timidez do artista e sua total ausência de carisma diluem o brilho de seu segundo DVD, Outros Clássicos, filmado em show feito por Guedes em 14 de julho de 2010, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG). Editado também no formato de CD pela gravadora Biscoito Fino, o registro ao vivo evidencia o fato de o artista mineiro - vocacionado para a arte da composição, mas não para o canto - nunca parecer à vontade enquanto apresenta as 17 músicas de um roteiro esperto. Sim, com aguçado senso ético, Beto descarta neste segundo DVD os verdadeiros clássicos de sua obra, já reunidos em seu primeiro DVD, 50 Anos ao Vivo, filmado em setembro de 2001 com participações de Milton Nascimento, Toni Garrido, Jota Quest e Lô Borges. O que Beto chama de Outros Clássicos é, na verdade, o lado B de sua obra coerente e poética. Entraram neste DVD as músicas que não couberam no anterior. Algumas ainda são razoavelmente conhecidas - casos de O Medo de Amar É o Medo de Ser Livre (Beto Guedes e Fernando Brant), A Página do Relâmpago Elétrico (Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e Veveco, Panelas e Canelas (Milton Nascimento e Fernando Brant). Mas a maioria foi pouco ouvida ao longo dos anos, o que aumenta o valor documental do DVD. Trata-se, em sua maioria, de baladas que combinam influências de Beatles e do pop mineiro - como manda o estatuto do lendário Clube da Esquina do qual Guedes é sócio vitalício. Os arranjos de Wagner Tiso - em temas como Tudo em Você (Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e Boa Sorte (Luiz Guedes, Thomas Roth e Márcio Borges) - respeitam os cânones desse clube mineiro de melodias e harmonias refinadas. Pena que falte a Beto Guedes voz e brilho para lapidar joias como Olhos de Jade (Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e Rio Doce (Beto Guedes e Ronaldo Bastos). Tanto que o belo tema instrumental Nena (Beto Guedes) - adornado com quarteto de cordas - acaba sendo um dos números de maior rigor estilístico. Outro destaque é a inspirada canção ruralista Meu Ninho (Wagner Tiso e Ronaldo Bastos), revivida com adesões de Daniela Mercury, Wagner Tiso (ao piano) e de Célio Balona (no acordeom). Fora da praia baiana, a cantora nem sempre empolga mas sua participação em Meu Ninho e em Luz e Mistério - a parceria bissexta de Beto com Caetano Veloso - resulta harmoniosa. Convencional, a filmagem do show tem sua maior bossa ao apresentar takes dos ensaios da gravação entre um número e outro. Tal edição disfarça o desconforto de Beto Guedes ao pisar no palco em que timidamente revive seus outros clássicos.

Vladimir disse...

Gosto muito do Beto Guedes como compositor e cantor. Seu CD "Em algum lugar" de 2004 é simplesmente maravilhoso!! Além do conjunto de sua obra, claro!

Mas esse "filão" de DVD está ficando chato!!
Ivete Sangalo (quem me lembro agora) até "criou" um "formato" diferente desse lugar comum de show... Talvez, pelo perfil de Beto Guedes, se enquadrasse melhor... Daria oportunidade dele falar mais e talvez contar histórias que muitos, como eu, desconhecem!!

Fora isso, ter um cuidado melhor na "apresentação" da capa do CD/DVD também poderia ser melhor, porque essa, ficou medonha!! rs

Alexandre Siqueira disse...

Concordo com o Vladimir. A capa tá dando medo...

Unknown disse...

Beto Guedes gravando de novo as mesmas músicas? Putz, que saco!!

Neto disse...

Que bom.As musicas que faltaram no Primeiro DVD estão todas aqui e isto é otimo.Tomara Que Sirva de exemplo para outros que insistem em gravar os musicas de sempre.

blogdoclubedaesquina disse...

Beto Guedes é um ícone musical. Sua genialidade não é alcançada por nós pobres normal.
Foi assim sempre assim. Nem o famoso disco Clube da Esquina foi aceito imediatamente.

Pedro Rossi
Blog do Clube da Esquina

Antonio Siqueira disse...

Sinceramente: acho que só deveriam permitir que pessoas que entendam algo de musica ou, ao menos, toque algum instrumento com alguma competência. Saber ouvir, que é um dos dons essenciais, não anda bastando.

Aldo Dinucci disse...

Desde criança ouço coisas como "a voz do beto é ruim", "é muito tímido", "não vale no palco", etc. E, no entanto, já se passaram décadas e ele continua aí, enquanto boa parte dos "gênios da música" alardeados pela "crítica musical" (existe isso ainda?) sumiram na poeira há muito tempo. É que ele algo que quem é só "entendido em música" não entende, que é uma lírica que transcende a própria música e vai dar na pura poesia. Beto na verdade não canta como se hoje entende o "cantar", mas recita as músicas, como faria um aedo com sua lira recitando um poema na Grécia ou na Roma antiga. E quando se fala coisas do fundo do coração, não se pode fazer isso sem pudor, sem cuidado, porque são coisas ao esmo tempo frágeis e delicadas, poderosas e voláteis, e poucas pessoas são capazes de fazer isso fluir de si mesmas para assim iluminar a humanidade. Para fazer isso num mundo como o que vivemos é preciso extrema coragem, porque é cantar o contrário do que o mundo é, é cantar o que ele poderia ser se mais pessoas tivessem uma grande capacidade de amar. A poesia de Beto é como aqueles versos de Vinícius do "Soneto de Orfeu":

Uma mulher que é feita de música,
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita
Uma mulher que é como a própria lua:Tão linda que só espalha sofrimento,Tão cheia de pudor que vive nua.

Aldo Dinucci disse...

esde criança ouço coisas como "a voz do beto é ruim", "é muito tímido", "não vale no palco", etc. E, no entanto, já se passaram décadas e ele continua aí, enquanto boa parte dos "gênios da música" alardeados pela "crítica musical" (existe isso ainda?) sumiram na poeira há muito tempo. É que ele algo que quem é só "entendido em música" não entende, que é uma lírica que transcende a própria música e vai dar na pura poesia. Beto na verdade não canta como se hoje entende o "cantar", mas recita as músicas, como faria um aedo com sua lira recitando um poema na Grécia ou na Roma antiga. E quando se fala coisas do fundo do coração, não se pode fazer isso sem pudor, sem cuidado, porque são coisas ao esmo tempo frágeis e delicadas, poderosas e voláteis, e poucas pessoas são capazes de fazer isso fluir de si mesmas para assim iluminar a humanidade. Para fazer isso num mundo como o que vivemos é preciso extrema coragem, porque é cantar o contrário do que o mundo é, é cantar o que ele poderia ser se mais pessoas tivessem uma grande capacidade de amar. A poesia de Beto é como aqueles versos de Vinícius do "Soneto de Orfeu":

Uma mulher que é feita de música,
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita
Uma mulher que é como a própria lua:Tão linda que só espalha sofrimento,Tão cheia de pudor que vive nua.

Luís Cláudio Azeredo disse...

Vamos falar a verdade. Beto Guedes perdeu há muito tempo sua voz. A partir do disco "Andaluz" percebi a mudança. Uma pena! O resultado eu percebi nos shows. A banda canta mais por ele do que o próprio.

André Gamma disse...

Desse Outros Clássicos, gostei muito da capa! Ficou bem "pop"! Mais rock, quase "underground". Foi essa a ideia. Sou fã do Beto. Ouço desde de minha adolescência... O disco A Página Do Relâmpago Elétrico é um clássico absoluto! Fez parte de minha estória. É uma obra prima do rock brasileiro. Podes crer! Quem ouviu sabe o que digo! E curiosa é a sua "logo" em seus discos, o "pequi", sacada ideológica de marketing pop para "encantar" uma comunicação particular com seus fãs, dar o clima bucólico de uma fruta que não nasce plantada, só nasce naturalmente. Tem "fisolofia" ai, hein!? Interessante! E para quem escuta os seus discos, muito bem produzidos por sinal... Com cuidadosos arranjos pop e de identidade única, como no disco Contos Da Lua Vaga e Sol de Primavera... Realmente se decepciona ao vê-lo ao vivo no palco! O show dele é fraquinho... Não a sua banda, que sempre é uma puta banda azeitadíssima de músicos de primeira linha! Mesmo o disco ao vivo de 1987, foi fraco, em comparação aos seus discos de estúdio, pareciam que os backs vocais se sobrepuseram em cima de sua voz. No seu disco de estreia, na "Página...", Beto canta com a boca, alma e coração! É impressionante seus falsetes de vozes e suas técnicas vocais que poderiam facilmente reproduzi-las ao vivo. Na música O Sal Da Terra, a versão de estúdio é quase um protesto pró natureza pelo o poder de sua voz... Um grito! Uma súplica "pop"! Mas essa cantada ao vivo fica muito inferior da versão de estúdio! Imaginaríamos a sua eterna voz de "garoto" ouvida nos discos, duas vezes mais poderosa ao vivo que nos estúdios. Mas Beto Guedes é Beto Guedes! E hoje não precisa provar nada a ninguém, concordemos que na música mineira, depois dos discos Clube da Esquina I e II de Milton, nada superaram os três primeiros discos do Guedes em questão de impacto, tanto comercial como artístico, são clássicos. Logo assim, esse artista tem muito crédito e moral! Mesmo com sua timidez ao vivo... Timidez mineira, de menino bucólico. Mas só pela capa desse "outros clássicos", que achei estilosa e "underground", vou ouvir com carinho, pois é Beto Guedes! ;)

André Gamma disse...

Olhaí !! Não é que comprei esse CD Outros Clássicos e me surpreendi! Faz uns três dias que não sai do som do meu carro. E foi gravado em 2010... Faziam uns quinze anos ou mais que não ouvia Beto Guedes, vício de adolescência, em plenos anos noventa! Descordo com o senhor crítico em relação a esse registro hein!? Tudo bem, que já se passou 5 anos... Mas nesse, até a sua voz, mesmo com 57 anos (na época), ficou acima da média. A Biscoito Fino gosta mesmo de fazer coisas assim, diferente da mesmísse. Som legal, capa legal... Tudo bem "rock", de preferencia "underground", já que o repertório é composto de lados B. Taí ó, É seu melhor disco ao vivo! Podes crer! Bem... Não vi o DVD, não sou fã de DVD. Mas o áudio, cá entre nós, ficou top de mercado! ;)

Unknown disse...

O Beto Guedes é um daqueles gênios da raça...a quem diariamente podemos dispor de sua obra para acalentar nossas angústias e curtir pura poesia...obrigado pela obra.
Nelfisio Oliveira, 53 anos.