Mauro Ferreira no G1

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sábado, 19 de fevereiro de 2011

'Expresso 2222' de Gil circula vibrante pelas vias juninas no verão do Rio

Resenha de Show
Evento: Verão do Rio
Título: Fé na Festa
Artista: Gilberto Gil (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Marina da Glória (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 19 de fevereiro de 2011
Cotação: * * * * *

Após circular pela Europa e pelo Nordeste no segundo semestre de 2010, o expresso junino de Gilberto Gil entrou em trilhos cariocas. Atração da segunda semana do evento Verão do Rio, que mistura música e cinema, o show Fé na Festa esquentou a Marina da Glória já na madrugada deste sábado, 19 de fevereiro de 2011. Vibrante, o Expresso 2222 de Gil transitou sem desvios de rota pelas trilhas juninas que pavimentaram o último primoroso álbum de inéditas do cantor, Fé na Festa (2010). Já na partida, dada com a faixa-título do CD que revitalizou o cancioneiro de Gil, ficou claro que a tripulação - uma superbanda que incluía Toninho Ferragutti (acordeom), Sergio Chiavazzoli (guitarra), Nicolas Krassik (violino e rabeca), Gustavo di Dalva (percussão), Jorginho Gomes (zabumba) e Arthur Maia (baixo) - estava preparada para fazer a viagem por xotes, baiões, xaxados e toadas. Ritmos que compõem o universo musical nordestino das festas juninas. A animação do público jovial que enchia a pista levava a crer que o baião ainda era a Dança da Moda, como apregoava o título do baião composto em 1950 por Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e Zé Dantas (1921 - 1962). Mas, ciente de que os anos 2000 já ditam o ritmo da moda e da música, Gil fez o Expresso 2222 circular entre as modernidades e as tradições, estas evocadas pela série de músicas do repertório de Gonzagão (Qui nem Jiló, Respeita Januário, Baião, Asa Branca, Olha pro Céu, Baião da Penha, O Xote das Meninas) que pontuam o roteiro caloroso, coeso e irretocável. Com um pé no passado (Estrela Azul do Céu, tema suave que exala a nostalgia dos balões que iluminavam os céus de junho) e outro no presente (O Livre Atirador e a Pegadora, xote que aborda sem julgamento o troca-troca e  a pluralidade sexual dos casais contemporâneos), Gil apresenta um show acelerado que nunca sai dos trilhos pela pegada forte e pelo entrosamento da banda. A propósito, em Lamento Sertanejo, número que serve de pretexto para Gil exaltar o desenvolvimento significativo do legado de Gonzaga por Dominguinhos, Nicolas Krassik sola e sobressai nessa banda em que - como Gil ressalta em cena - faz o papel do rabequeiro, figura fundamental no universo musical nordestino, exemplo da influência da música árabe na rítmica da região. Seis números mais tarde, Krassik - francês de alma brasileira - se revela endiabrado ao comandar o instrumental O Casamento da Raposa, momento arrebatador do show. Enfim, Gilberto Gil aprendeu a fazer a festa junina com o Rei do Baião - como deixa claro já no título do xote Aprendi com o Rei, de João Silva - e, por isso, a safra autoral de Fé na Festa resulta tão sedutora. Aliadas ao repertório infalível de Gonzação e a alguns temas anteriores do cancioneiro do próprio Gil, como Madalena e o Expresso 2222, as boas novas do compositor garantem a animação contínua da festa. Se o Expresso 2222 passar por sua cidade, não perca a chance de oiar Gil xaxando, renovado e em boa forma vocal (atestada pelos falsetes do xaxado Assim, Sim) e levantar a poeira que nem sempre esteve tão alta. Seu show é perfeito!

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Após circular pela Europa e pelo Nordeste no segundo semestre de 2010, o expresso junino de Gilberto Gil entrou em trilhos cariocas. Atração da segunda semana do evento Verão do Rio, que mistura música e cinema, o show Fé na Festa esquentou a Marina da Glória já na madrugada deste sábado, 19 de fevereiro de 2011. Vibrante, o Expresso 2222 de Gil transitou sem desvios de rota pelas trilhas juninas que pavimentaram o último primoroso álbum de inéditas do cantor, Fé na Festa (2010). Já na partida, dada com a faixa-título do CD que revitalizou o cancioneiro de Gil, ficou claro que a tripulação - uma superbanda que incluía Toninho Ferragutti (acordeom), Sergio Chiavazzoli (guitarra), Nicolas Krassic (violino e rabeca), Gustavo di Dalva (percussão), Jorginho Gomes (zabumba) e Arthur Maia (baixo) - estava preparada para fazer a viagem por xotes, baiões, xaxados e toadas. Ritmos que compõem o universo musical nordestino das festas juninas. A animação do público jovial que enchia a pista levava a crer que o baião ainda era a Dança da Moda, como apregoava o título do baião composto em 1950 por Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e Zé Dantas (1921 - 1962). Mas, ciente de que os anos 2000 já ditam o ritmo da moda e da música, Gil fez o Expresso 2222 circular entre as modernidades e as tradições, estas evocadas pela série de músicas do repertório de Gonzagão (Qui nem Jiló, Respeita Januário, Baião, Asa Branca, Olha pro Céu, Baião da Penha, O Xote das Meninas) que pontuam o roteiro caloroso, coeso e irretocável. Com um pé no passado (Estrela Azul do Céu, tema suave que exala a nostalgia dos balões que iluminavam os céus de junho) e outro no presente (O Livre Atirador e a Pegadora, xote que aborda sem julgamento o troca-troca e a pluralidade sexual dos casais contemporâneos), Gil apresenta um show acelerado que nunca sai dos trilhos pela pegada forte e pelo entrosamento da banda. A propósito, em Lamento Sertanejo, número que serve de pretexto para Gil exaltar o desenvolvimento significativo do legado de Gonzaga por Dominguinhos, Nicolas Krassic sola e sobressai nessa banda em que - como Gil ressalta em cena - faz o papel do rabequeiro, figura fundamental no universo musical nordestino, exemplo da influência da música árabe na rítmica da região. Seis números mais tarde, Krassic - francês de alma brasileira - se revela endiabrado ao comandar o instrumental O Casamento da Raposa, momento arrebatador do show. Enfim, Gilberto Gil aprendeu a fazer a festa junina com o Rei do Baião - como deixa claro já no título do xote Aprendi com o Rei, de João Silva - e, por isso, a safra autoral de Fé na Festa resulta tão sedutora. Aliadas ao repertório infalível de Gonzação e a alguns temas anteriores do cancioneiro do próprio Gil, como Madalena e o Expresso 2222, as boas novas do compositor garantem a animação contínua da festa. Se o Expresso 2222 passar por sua cidade, não perca a chance de oiar Gil xaxando, renovado e em boa forma vocal (atestada pelos falsetes do xaxado Assim, Sim) e levantar a poeira que nem sempre esteve tão alta. Seu show é perfeito!

Luca disse...

nunca entendi os críticos babarem tanto por esse cd...