Título: Asé
Artista: Thalma de Freitas (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Solar de Botafogo (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 2 de fevereiro de 2011
Cotação: * * *
Até o momento mais conhecida no meio musical por sua atuação como vocalista da Orquestra Imperial, Thalma de Freitas ainda deve um disco que marque sua real identidade na cena pop brasileira. Os números que abrem e fecham seu novo show Asé - idealizado por Thalma para saudar Yemanjá no dia do orixá das águas, 2 de fevereiro - mostram um caminho e sinalizam que há uma cantora já pronta para se dissociar de seus colegas. Thalma se revela intérprete inteligente e interessante quando abre o show com abordagem de Dois de Fevereiro - em que o confronto de sua voz com a guitarra eletroacústica de Nelson Jacobina acentua a beleza do tema em que Dorival Caymmi (1914 - 2008) celebra a Rainha do Mar - e quando fecha a apresentação com registro intimista de Água que valoriza os versos do tema caribenho de Kassin. Contudo, entre um número e outro, nem tudo funciona a contento no show Asé. Até porque o repertório autoral da artista está aquém de sua voz afinada. Músicas como Um Tempo a Mais - parceria de Thalma com Quincas Moreira - jogam o show para baixo logo em seu começo. Se o saldo é positivo, é porque há sacações espertas no roteiro que prega boas vibrações e energia positiva entre grooves de soul, funk e pop. Propagada por Thalma em tom exteriorizado, Onda (Cassiano e Paulo Zdanovski, 1976) é a maior delas porque é joia bela e verdadeira do inexplorado baú de Cassiano, um dos pioneiros da soul music nativa. Alfômega - tema de Gilberto Gil que Caetano Veloso gravou em 1969 - é outra. Já Grilos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1972) não é tão surpreendente asssim - embora caia bem no registro suave de Thalma - ao passo que Tranquilo (Kassin) soa quase óbvio. Enfim, há em Asé o embrião de um disco que, se vingar, pode dar uma cara a Thalma na música brasileira. A entrada em cena de Cibelle deu outro rumo ao show com a viajante abordagem de Dia de Yemanjá, tema de Cibelle, autora também da menos sedutora Escute Bem. Na sequência, a adesão de Iara Rennó - a partir de Desengano da Vista (Pedro Santos) - deu tom comunitário ao show. Foi como se Asé se tornasse um show (também) de Iara, autora de músicas como Salve e Oriki. Contudo, justiça seja feita, a união das vozes de Thalma, Iara e Cibelle em Amor Imenso (parceria de Iara com Thalma) resultou num dos momentos mais bonitos do show. Pena que, após reviver o Tim Maia da cepa Racional (O Caminho do Bem), o trio tenha improvisado um tema a partir das cartas do tarô introduzido em cena por Cibelle. A banda - que incluía Rubinho Jacobina nos teclados - até se virou bem, mas o número logo se tornou enfadonho e excessivo. Asé - palavra que significa "nós realizamos" na língua Iorubá - é show que precisa de ajustes, embora seu conceito indique um bom caminho a ser seguido por Thalma de Freitas.
5 comentários:
Até o momento mais conhecida no meio musical por sua atuação como vocalista da Orquestra Imperial, Thalma de Freitas ainda deve um disco que marque sua real identidade na cena pop brasileira. Os números que abrem e fecham seu novo show Asé - idealizado por Thalma para saudar Yemanjá no dia do orixá das águas, 2 de fevereiro - mostram um caminho e sinalizam que há uma cantora já pronta para sair da sombra dos colegas. Thalma se revela intérprete inteligente e interessante quando abre o show com abordagem de Dois de Fevereiro - em que o confronto de sua voz com a guitarra eletroacústica de Nelson Jacobina acentua a beleza do tema em que Dorival Caymmi (1914 - 2008) celebra a Rainha do Mar - e quando fecha a apresentação com registro intimista de Água que valoriza os versos do tema caribenho de Kassin. Contudo, entre um número e outro, nem tudo funciona a contento no show Asé. Até porque o repertório autoral da artista está aquém de sua voz afinada. Músicas como Um Tempo a Mais - parceria de Thalma com Quincas Moreira - jogam o show para baixo logo em seu começo. Se o saldo é positivo, é porque há sacações espertas no roteiro que prega boas vibrações e energia positiva entre grooves de soul, funk e pop. Propagada por Thalma em tom exteriorizado, Onda (Cassiano e Paulo Zdanovski, 1976) é a maior delas porque é joia bela e verdadeira do inexplorado baú de Cassiano, um dos pioneiros da soul music nativa. Alfômega - tema de Gilberto Gil que Caetano Veloso gravou em 1969 - é outra. Já Grilos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1972) não é tão surpreendente asssim - embora caia bem no registro suave de Thalma - ao passo que Tranquilo (Kassin) soa quase óbvio. Enfim, há em Asé o embrião de um disco que, se vingar, pode dar uma cara a Thalma na música brasileira. A entrada em cena de Cibelle deu outro rumo ao show com a viajante abordagem de Dia de Yemanjá, tema de Cibelle, autora também da menos sedutora Escute Bem. Na sequência, a adesão de Iara Rennó - a partir de Desengano da Vista (Pedro Santos) - deu tom comunitário ao show. Foi como se Asé se tornasse um show (também) de Iara, autora de músicas como Salve e Oriki. Contudo, justiça seja feita, a união das vozes de Thalma, Iara e Cibelle em Amor Imenso (parceria de Iara com Thalma) resultou num dos momentos mais bonitos do show. Pena que, após reviver o Tim Maia da cepa Racional (O Caminho do Bem), o trio tenha improvisado um tema a partir das cartas do tarô introduzido em cena por Cibelle. A banda - que incluía Rubinho Jacobina nos teclados - até se virou bem, mas o número logo se tornou enfadonho e excessivo. Asé - palavra que significa "nós realizamos" na língua Iorubá - é show que precisa de ajustes, embora seu conceito indique um bom caminho a ser seguido por Thalma de Freitas.
Quem canta Tim Maia Racional e Cassiano tem a minha simpatia.
Boa sorte, mocinha.
Dessa novíssima geração de cantoras, Thalma é a única que tem as reais chances de se tornar uma diva.
Thalma não está na lista de "novíssimas" cantoras. Ela canta há mais de 10 anos, embora seu primeiro CD seja de 2004. Bela voz!
na verdade, thalma começou cantando (pelo menos no palco) em 1992, numa banda de covers que eu formei com ela e com Marcelo Dino, no extinto Adelino's (e também no Bar da Praia e outros lugares) que acabou em 93 quando me mudei pra NY - são 18 anos de cantoria. Ela virou atriz por puro acaso - e um bom puro acaso - mas música veio sempre antes. Teve disco gravado pela sony music por volta de 95, parte no brasil, produzido por max de castro e daniel carlomagno (antes de max lançar seu primeiro cd) e em NY por tuta aquino, mas a sony não soube como lançar, e foi arquivado - eu tenho a cópia, e acho que só; se bobear, nem a thalma tem mais esse disco. Diva, sim - e merece uma projeção bem maior, mas vai ter, acredito nisso.
Mauro Tatini
Postar um comentário