Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sem foco, Moura desperdiça mulheres, canções e sua boa voz feminina

Resenha de CD
Título: Mulheres e Canções
Artista: Markinhos Moura
Gravadora: Lua Music
Cotação: *

Markinhos Moura foi dotado pela genética com boa voz de timbre feminino. Não é uma voz marcante como a de Ney Matogrosso ou extremamente potente como a de Edson Cordeiro. Mas é uma voz afinada e por vezes até bonita. Contudo, um cantor não se faz somente com uma boa voz. É preciso ter a inteligência dos grandes intérpretes para não banalizar seu canto e desperdiçar emoções. Projetado no mercado brega dos anos 80 com hits adocicados como Meu Mel, Moura sumiu na poeira das estradas até reaparecer com este inusitado Mulheres e Canções, disco produzido por Thiago Marques Luiz para a Lua Music. Aberto com o registro solo de A Feminina Voz do Cantor (Milton Nascimento e Fernando Brant, 2002), o CD enfileira onze duetos de Moura com cantoras de diversas escolas, estilos e gerações. Quase todas as mulheres do disco (Cida Moreira, Jane Duboc, Vânia Bastos, Amelinha, Claudya, Maria Alcina, Fabiana Cozza e Zezé Motta, entre outras) já exerceram com inteligência seu dom de cantar. As canções são bonitas, em sua maioria. Mas, no todo, o disco resulta equivocado, sem foco. Chega a ser constrangedor ouvir Ombro Amigo (1977) - datada música de Leci Brandão que somente fazia sentido nos tempos em que a tribo GLS ainda vivia dentro do armário ou confinada em guetos - com Zezé Motta e Moura. Já Doce de Pimenta (1978), música feita para Elis Regina (1945 - 1982) por Rita Lee e Roberto de Carvalho, soa sem sabor sob base eletrônica que esconde até a verve de Maria Alcina, convidada da faixa. A beleza do samba Nasci para Sonhar e Cantar (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1972) também se perde no registro que une Moura e Verônica Ferriani. Talvez porque faltou um conceito que unisse as mulheres e as canções. É preciso ser um intérprete muito sagaz para reunir num mesmo disco músicas tão díspares quanto Coito das Araras (Cátia de França, 1979, com Amelinha) e Minha Nossa Senhora (Fátima Guedes, 1995, com Tetê Cavalcanti) sem cair na vala do exotismo puro e simples. Resultado: até cantoras geralmente interessantes - caso de Márcia Castro, convidada de Grand' Hotel (1991) - soam banais. Há um ou outro momento isoladamente bonito - em especial, Mulher Eu Sei (1995), canção de Chico César, revivida por Moura com Fabiana Cozza em registro suave de tom ruralista, dado pelo acordeom de Gustavo Sarzi. O mesmo Sarzi toca o piano que embasa Me Acalmo Danando (Ângela Ro Ro, 1979), faixa que também se destaca em Mulheres e Canções pela interpretação de Cida Moreira. Contudo, o fato é que - sem foco e sem um conceito que justifique a reunião dessas canções - Markinhos Moura atira para todos os lados e, entre mortos e feridos, fica a sensação de quase nada se salva no disco.

17 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Markinhos Moura foi dotado pela genética com boa voz de timbre feminino. Não é uma voz marcante como a de Ney Matogrosso ou extremamente potente como a de Edson Cordeiro. Mas é uma voz afinada e por vezes até bonita. Contudo, um cantor não se faz somente com uma boa voz. É preciso ter a inteligência dos grandes intérpretes para não banalizar seu canto e desperdiçar emoções. Projetado no mercado brega dos anos 80 com hits adocicados como Meu Mel, Moura sumiu na poeira das estradas até reaparecer com este inusitado Mulheres e Canções, disco produzido por Thiago Marques Luiz para a Lua Music. Aberto com o registro solo de A Feminina Voz do Cantor (Milton Nascimento e Fernando Brant, 2002), o CD enfileira onze duetos de Moura com cantoras de diversas escolas, estilos e gerações. Quase todas as mulheres do disco (Cida Moreira, Jane Duboc, Vânia Bastos, Amelinha, Claudya, Maria Alcina, Fabiana Cozza e Zezé Motta, entre outras) já exerceram com inteligência seu dom de cantar. As canções são bonitas, em sua maioria. Mas, no todo, o disco resulta equivocado, sem foco. Chega a ser constrangedor ouvir Ombro Amigo (1977) - datada música de Leci Brandão que somente fazia sentido nos tempos em que a tribo GLS ainda vivia dentro do armário ou confinada em guetos - com Zezé Motta e Moura. Já Doce de Pimenta (1978), música feita para Elis Regina (1945 - 1982) por Rita Lee e Roberto de Carvalho, soa sem sabor sob base eletrônica que esconde até a verve de Maria Alcina, convidada da faixa. A beleza do samba Nasci para Sonhar e Cantar (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1972) também se perde no registro que une Moura e Verônica Ferriani. Talvez porque faltou um conceito que unisse as mulheres e as canções. É preciso ser um intérprete muito sagaz para reunir num mesmo disco músicas tão díspares quanto Coito das Araras (Cátia de França, 1979, com Amelinha) e Minha Nossa Senhora (Fátima Guedes, 1995, com Tetê Cavalcanti) sem cair na vala do exotismo puro e simples. Resultado: até cantoras geralmente interessantes - caso de Márcia Castro, convidada de Grand' Hotel (1991) - soam banais. Há um ou outro momento isoladamente bonito - em especial, Mulher Eu Sei (1995), canção de Chico César, revivida por Moura com Fabiana Cozza em registro suave de tom ruralista, dado pelo acordeom de Gustavo Sarzi. O mesmo Sarzi toca o piano que embasa Me Acalmo Danando (Ângela Ro Ro, 1979), faixa que também se destaca em Mulheres e Canções pela interpretação de Cida Moreira. Contudo, o fato é que - sem foco e sem um conceito que justifique a reunião dessas canções - Markinhos Moura atira para todos os lados e, entre mortos e feridos, fica a sensação de quase nada se salva no disco.

Estalactites hemorrágicas disse...

Que pena
passear de A à Z
e pelo que li se perdeu num projeto que acabou na na letra M


Ricardo Sérgio

Ale Mello disse...

Mauro, não ouvi o CD, conheço vagamente o cantor, mas sei bem do que você fala.
Um artista precisa muito mais do que uma 'boa voz'. Sem conceito, estilo, personalidade, inteligência e sensibilidade a coisa patina num 'virtuosismo' de domingos no quintal de casa.
E olha que tá 'assim' por aí - pois não sai da fornada uma nova cantora a cada mês?

Lamento pq Cida Moreira e Zezé Mota são daquelas ARTISTAS que têm algo a dizer (vivendo).

Marcelo disse...

Mauro, eu não entendo uma coisa... Pq, necessariamente precisa se ter um foco, uma linha, um conceito...??? Eu ainda não ouvi o cd mas de repente a proposta era justamente essa. Talvez o artista quisesse somente juntar cantoras e canções que ele gostasse e só. Cantar com elas pelo simples prazer de cantar e músicas que lhe dizem alguma coisa. O primeiro disco da Marisa Monte também não tinha conceito...era um samba do crioulo doido e a crítica adorou!! Estou apenas fazendo uma observação...
um abraço!

Unknown disse...

E' LAMENTAVEL que ainda em pleno sec XXI a ocupaçâo mal colocada de certos criticos musicais ainda arrasta na mesma rede aqueles que ainda tem preguiça de ouvir a obra de um artista e julga la por si proprios.Sempre achei que qquer expert de respeito poderia ou deveria avaliar qquer obra,por menor que fosse,com mais isenção pessoal,sem ter que forçar opiniões no grito da maledicencia pura.Eu passei a admirar a voz de Markinhos Moura como interprete a partir desse grande disco.E,afinal,me respondam...todas essas grandes interpretes que participam do disco,estariam equivocadas em participar do projeto...creio que não!!! Que tal emprestar os ouvidos da sensibilidade para uma audição mais acurada e respeitosa.

Anônimo disse...

Pô, a Márcia Castro só entra em barca furada.
Alguém precisa orientar essa moça.

Vladimir disse...

Também não ouvi o CD e desconhecia a sua existência, mas concordo com o Marcelo, que talvez o propósito não foi em ter coerência... Até porque a escolha das cantoras também não seguiu nenhuma coerência... rs

De qualquer forma, fica a critério de cada um se o resultado foi bom ou não!!

Grande abraço

KL disse...

ele poderia - e deveria - gravar um álbum dedicado ao repertório de Elis, sua musa inspiradora. Nos EUA, há dezenas de álbuns assim, de artistas que se moldaram nos mestres e demostraram publicamente sua gratidão a eles. No Brasil, é costume (feio) esconder isso para não dar bandeira que, na verdade, copiam o estilo dos outros. Mesmo que fosse meio 'cover', Moura seria 300 vezes melhor do que qualquer uma dessas cantoras aí que imitam Regina e fingem que não.

Natival disse...

Eu ouvi duas gravações desse disco e não gostei. E não foi pela falta de um conceito, até porque Renata Arruda, Vânia Bastos e Verônica Sabino, por exemplo, já fizeram isso. O que ficou ruim, pra mim, foram os arranjos. Algumas coisas muito óbvias. E Markinhos, por mais que queira se desvencilhar da imagem popularesca, existe muita pieguice na forma como ele canta.

Sobre Marcia Castro, eu acho que de fato, essa foi uma barca furada, mas não acho que ela só entra em projetos errados. Nas demais parcerias com Thiago Marques Luiz, ela esteve muito bem. No cd de Tom Zé, no Som Brasil de Moraes (que saiu agora em DVD) e no show sobre Sérgio Sampaio, ela também esteve muito bem. Enfim, não acho que ela esteja precisando de orientação. Mas tudo é uma questão de visão.

Anônimo disse...

Então, Natival, acho que a Márcia tinha/tem pontecial pra ser bem mais que uma maldita.

PS: Marquinhos Moura me lembra o velho guerreiro. rsrsrsrs

Natival disse...

Ah, entendi, Zé. Eu também acho. Tenho tido algumas informações do novo disco. Acho que isso vai mudar. Mas tudo é uma questão de oportunidade. Aguardemos!

Diogo Santos disse...

Tirando uma que não conheço o trabalho e outra que não curto, achei a lista muito boa.Mas entendo o que o Mauro colocou.

CN disse...

Mauro e amigos, todos temos direito a opinião, mas, como dizia a grande Maysa: tudo é pessoal. Não conheço Markinhos Moura pessoalmente,não somos amigos, mas somos colegas. Particularmente, gosto de seu timbre e é inegável que seu material vocal é expressivo, tem qualidades e afinação impecável. Ouvi seu disco recente e gosto. Tem leveza e flui. Ele não gravava há algum tempo e me parece que a idéia do projeto é algo leve, até despretensioso, mas bem cuidado e percebo este resultado. Ele merece ser ouvido. Carlos Navas, cantor.

ouisa55 disse...

Queria dizer algumas coisas mas o Carlos Navas e o Marcelo falaram por mim. Existem trabalhos que nos agradam e outros não. Só pela lista de mulheres participants já vale o disco mas o Markinhos tem uma voz linda. Detalhe, eu ainda não ouvi o disco mas vou comprar e curtir com certeza!

Heron Coelho disse...

É NO MÍNIMO IRÔNICO O COMENTÁRIO AMISTOSO DO SR. CARLOS NAVAS, POIS NA QUARTA-FEIRA DA SEMANA PASSADA (23/02), O PRÓPRIO ENCAMINHOU A CRÍTICA PARA MIM E VÁRIOS, DE MODO A DIVULGAR A VISÃO DO JORNALISTA MAURO, CUJA POSTURA SE LEGITIMA DIANTE DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO QUE VIGORA EM NOSSA DEMOCRACIA. PORÉM, O USO DESSE OLHAR PARA AVILTAR, EM GRANDE ESCALA, O TRABALHO DE UM ARTISTA COMO MARCOS MOURA, QUE AGORA ENCONTRA O MOMENTO DE DEMONSTRAR SEU TALENTO EM REPERTÓRIO PROPÍCIO E DE BOM GOSTO, CONTANDO COM PARCERIAS DE IMPORTANTES CANTORAS (ESTE UM PONTO DE VISTA MEU), DE FATO, RATIFICA NÃO APENAS UMA APETENTE CRUELDADE, MAS TAMBÉM UMA PERVERSIDADE SEM COERÊNCIA E INCOMPREENSÍVEL EM TEMPOS NO QUAL A CLASSE ARTÍSTICA DEVE SE UNIR.

ATENCIOSAMENTE

HERON COELHO

Unknown disse...

SINCERAMENTE...
LAMENTAVELMENTE...
COMPREM COTONETE PARA ALÉM DE LIMPAR OS OUVIDOS, DESPOLUÍREM OS GASES VENENOSOS DO CÉREBRO DE VOCÊS.
O CD É LINDO...
SR. MAURO FERREIRA, SUBA NO PALCO E FAÇA MELHOR.
FÁCIL CRITICAR... DIFÍCIL É TER COMPETÊNCIA PARA FAZER.

Unknown disse...

Chamo essa crítica nada construtiva desse senhor Mauro de preguiça musical, pessoa bem desinformada, eu tenho o cd, está lindo, quem ouve cada faixa, viaja, pela bela produção, arranjo, Markinhos, como sempre, dando banho de interpretação, cada projeto que todo artista lança, nasce como um filho, e esse, foi um parto muito difícil que eu sei, mas, nasceu, e está crescendo, se desenvolvendo, antes de criticar, deveria no mínimo ouvir, e não escrever clichês, e coisas repetidas da internet, e viva o ctrl + c e ctrl + v, ne mauro?