Assis Valente (1911 - 1958) era baiano, tendo nascido na mesma interiorana cidade de Santo Amaro da Purificação que gerou Caetano Veloso e Maria Bethânia três décadas mais tarde. Mas construiu e deixou obra musical impregnada do suingue e da malícia carioca - como nenhum outro compositor baiano conseguiria fazer, nem mesmo o polivalente Caetano. Nascido em 19 de março de 1911, Assis Valente poderia - quem sabe? - ter chegado aos 100 neste sábado se a idéia fixa do suicídio (tentado diversas vezes e consumado, enfim, por envenenamento em 6 de março de 1958) não tivesse encerrado precocemente sua vida atribulada. Os tormentos da vida de Assis - gerados em parte pela homossexualidade dissimulada com casamento que o levou a adotar vida dupla - contradizem a alegria e a vivacidade que pontuam boa parte da obra desse mulato baiano que compôs sambas antológicos como Camisa Listrada (1937), Brasil Pandeiro (1941) - revivido com propriedade nos anos 70 pelos pós-tropicalistas Novos Baianos - e ...E o Mundo Não se Acabou (1938). Assis - visto no traço de André Koehne - viveu o auge do sucesso nos anos 30 e foi primeiramente gravado por Aracy Cortes (1904 - 1985), cantora que lançou em 1932 o samba Tem Francesa no Morro (recentemente regravado por Zeca Baleiro com acento afrobeat no CD que traz o registro ao vivo do show Concerto). Mas foi Carmen Miranda (1909 - 1955) - que também viveu seus melhores momentos artísticos nos anos 30 - quem mais deu voz a Assis Valente. Que morou em Salvador (BA) antes de migrar para o Rio de Janeiro (RJ), onde criou seu cancioneiro cheio de verve, suingue e brasilidade. Compositor assiduamente presente nas paradas carnavalescas dos anos 30, Assis extrapolou com maestria o universo da folia. Sua tristonha marcha Boas Festas - composta em 1932 e lançada em 1933 pelo cantor Carlos Galhardo (1913 - 1985) - se tornou o maior e mais perene clássico natalino criado no Brasil. Na seara junina, Assis deu ao povo a marcha Cai, Cai, Balão, lançada em 1933 pela irmã de Carmen, Aurora Miranda (1915 - 2005), em dueto com Francisco Alves (1898 - 1952). Em essência, contudo, Assis Valente passou para a História da música brasileira como um dos compositores que mais bem souberam traduzir em música a alegria do povo brasileiro, essa gente bronzeada que não vem dando o merecido valor a Assis Valente no ano em que se comemora, em silêncio, o centenário de nascimento do compositor.
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Assis Valente (1911 - 1958) era baiano, tendo nascido na mesma interiorana cidade de Santo Amaro da Purificação que gerou Caetano Veloso e Maria Bethânia três décadas mais tarde. Mas construiu e deixou obra musical impregnada do suingue e da malícia carioca - como nenhum outro compositor baiano conseguiria fazer, nem mesmo o polivalente Caetano. Nascido em 19 de março de 1911, Assis Valente poderia - quem sabe? - ter chegado aos 100 neste sábado se a idéia fixa do suicídio (tentado diversas vezes e consumado, enfim, por envenenamento em 6 de março de 1958) não tivesse encerrado precocemente sua vida atribulada. Os tormentos da vida de Assis - gerados em parte pela homossexualidade dissimulada com casamento que o levou a adotar vida dupla - contradizem a alegria e a vivacidade que pontuam boa parte da obra desse mulato baiano que compôs sambas antológicos como Camisa Listrada (1937), Brasil Pandeiro (1940) - revivido com propriedade nos anos 70 pelos pós-tropicalistas Novos Baianos - e ...E o Mundo Não se Acabou (1938). Assis - visto no traço de André Koehne - viveu o auge do sucesso nos anos 30 e foi primeiramente gravado por Aracy Cortes (1904 - 1985), cantora que lançou em 1932 o samba Tem Francesa no Morro (recentemente regravado por Zeca Baleiro com acento afrobeat no CD que traz o registro ao vivo do show Concerto). Mas foi Carmen Miranda (1909 - 1955) - que também viveu seus melhores momentos artísticos nos anos 30 - quem mais deu voz a Assis Valente. Que morou em Salvador (BA) antes de migrar para o Rio de Janeiro (RJ), onde criou seu cancioneiro cheio de verve, suingue e brasilidade. Compositor assiduamente presente nas paradas carnavalescas dos anos 30, Assis extrapolou com maestria o universo da folia. Sua tristonha canção Boas Festas - composta em 1932 e lançada em 1933 pelo cantor Carlos Galhardo (1913 - 1985) - se tornou o maior e mais perene clássico natalino criado no Brasil. Na seara junina, Assis deu ao povo a marcha Cai, Cai, Balão, lançada em 1933 pela irmã de Carmen, Aurora Miranda (1915 - 2005), em dueto com Francisco Alves (1898 - 1952). Em essência, contudo, Assis Valente passou para a História da música brasileira como um dos compositores que mais bem souberam traduzir em música a alegria do povo brasileiro, essa gente bronzeada que não vem dando o merecido valor a Assis Valente no ano em que se comemora, em silêncio, o centenário de nascimento do compositor.
Um viva ao Assis. Deixou incrustada sua marca e canções eternas na música popular brasileira. Quem há de esquecer "Boas Festas" e "..e o mundo não se acabou" ?
E ainda quando se pensa esquecer, alguém nos lembra como "Camisa Listrada", "tem francesa", " uva de caminhão" são atuais e vibrantes. Como Carmem e Assis SÃO modernos e chacoalhantes.
li no Globo hoje que o Faour tá produzindo um cd para homenagear o Assis.
Que pena que a obra de Assis Valente já foi gravada a exaustão, porque seria uma ótima oportunidade de revisitar a obra desse gigante compositor brasileiro cheio de letras maliciosas e melodias maravilhosas
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