Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 2 de março de 2011

'Dentro do meu Olhar' dilui voz de Spindel entre padrões e temas banais

Resenha de CD
Título: Dentro do meu Olhar
Artista: Roberta Spindel
Gravadora: Danneman Discos / Universal Music
Cotação: * *

Cantora projetada no musical Por uma Noite - Um Sonho nos Bastidores da Broadway, sucesso do teatro carioca em 2010, Roberta Spindel desperdiça sua boa voz entre músicas banais e padrões já desgastados pela indústria do disco. Em tempo em que cantoras se aproveitam da liberdade artística do mercado indie para fazer álbuns pessoais, Spindel debuta no mercado fonográfico com CD enquadrado em velha fórmula de  indústria corroída que já perdeu muito poder face às revoluções digitais. Capitaneada por Max Pierre, a produção é luxuosa. Dentro do meu Olhar tem ficha técnica recheada de músicos com serviços prestados para astros norte-americanos do primeiro time. Contudo, a perfeição técnica do disco não atenua a irregularidade do repertório gravado pela cantora. Entre temas trivais da lavra industrializada de compositores como Maurício Gaetani, autor da balada Inteira pra te Amar e parceiro de Léo Gasper na faixa-título, Dentro do Meu Olhar patina num tom asséptico que dilui a carga emocional de músicas como Esquinas (Djavan, 1984) e Se Eu Quiser Falar com Deus (Gilberto Gil, 1981). Percebe-se que a cantora tem boa artilharia vocal quando interpreta temas como And I Am Telling You I'm Not Going, canção da versão original do musical Dreamgirls que fez Spindel se destacar entre o elenco do musical Por uma Noite. Contudo, a exemplo de suas colegas norte-americanas que jogam nota fora em repertório e arranjos padronizados, Spindel soa fria dentro dessa assepsia que nivela por baixo até  melodiosa música do compositor gaúcho Nei Lisboa, Pra te Lembrar. Nesse contexto desanimador, o dueto com Caetano Veloso em Como 2 e 2 - o tema que Caetano deu para Roberto Carlos em 1971 - soa como a cereja do bolo solado. O arranjo de Bill Brendell evoca a era de ouro das big-bands. Com tanta riqueza, até o belo coro à moda gospel que adorna Can't Help Falling in Love with You parece inserido na música pela simples razão de ostentar o luxo da produção. Pena que tanto luxo tenha sido posto a serviço de repertório que por vezes beira o lixo e banaliza o CD.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Cantora projetada no musical Por uma Noite - Um Sonho nos Bastidores da Broadway, sucesso do teatro carioca em 2010, Roberta Spindel desperdiça sua boa voz entre músicas banais e padrões já desgastados pela indústria do disco. Em tempo em que cantoras se aproveitam da liberdade artística do mercado indie para fazer álbuns pessoais, Spindel debuta no mercado fonográfico com CD enquadrado em velha fórmula de indústria corroída que já perdeu muito poder face às revoluções digitais. Capitaneada por Max Pierre, a produção é luxuosa. Dentro do meu Olhar tem ficha técnica recheada de músicos com serviços prestados para astros norte-americanos do primeiro time. Contudo, a perfeição técnica do disco não atenua a irregularidade do repertório gravado pela cantora. Entre temas trivais da lavra industrializada de compositores como Maurício Gaetani, autor da balada Inteira pra te Amar e parceiro de Léo Gasper na faixa-título, Dentro do Meu Olhar patina num tom asséptico que dilui a carga emocional de músicas como Esquinas (Djavan, 1984) e Se Eu Quiser Falar com Deus (Gilberto Gil, 1981). Percebe-se que a cantora tem boa artilharia vocal quando interpreta temas como And I Am Telling You I'm Not Going, canção da versão original do musical Dreamgirls que fez Spindel se destacar entre o elenco do musical Por uma Noite. Contudo, a exemplo de suas colegas norte-americanas que jogam nota fora em repertório e arranjos padronizados, Spindel soa fria dentro dessa assepsia que nivela por baixo até melodiosa música do compositor gaúcho Nei Lisboa, Pra te Lembrar. Nesse contexto desanimador, o dueto com Caetano Veloso em Como 2 e 2 - o tema que Caetano deu para Roberto Carlos em 1971 - soa como a cereja do bolo solado. O arranjo de Bill Brendell evoca a era de ouro das big-bands. Com tanta riqueza, até o belo coro à moda gospel que adorna Can't Help Falling in Love with You parece inserido na música pela simples razão de ostentar o luxo da produção. Pena que tanto luxo tenha sido posto a serviço de repertório que por vezes beira o lixo e banaliza o CD.

Unknown disse...

Estereotipar a cantora como fazendo parte da indústria do disco e definir como necessário um background indie para garantir um selo de qualidade a um artista revela uma certa preguiça intelectual do jornalista. A cantora deve ser avaliada pelo que é, e não ser rotulada de maneira tão óbvia. Quanto a escolha do repertório e discussões sobre arranjos, não há questionamento sobre técnica, mas apenas quanto ao gosto pessoal do crítico. Gosto este diferente do meu, que achei o disco excelente.