Resenha de CD
Título: Bibi Ferreira Brasileira - Uma Suíte Amorosa
Artista: Bibi Ferreira
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2
"E por falar em beleza / Onde anda a canção / Que se ouvia na noite / Dos bares de então?", perguntaram Vinicius de Moraes e Toquinho em 1975, ano em que a dupla gravou o nostálgico tema Onde Anda Você? - composto com a adesão de Hermano Silva. Tais canções atemporais - ao menos, 24 delas - estão reunidas no disco que Bibi Ferreira está lançando pela gravadora Biscoito Fino, Bibi Ferreira Brasileira - Uma Suíte Amorosa. Como o subítulo do disco já anuncia, a intérprete - majestosa atriz que sempre se valeu do canto nos 70 anos de carreira que festeja em 2011 - apresenta suíte de tonalidade romântica que encadeia 24 músicas, a maioria dos anos 50 e 60, numa única longa faixa (embora seja possível acessar no CD-player cada música por seu número específico). Fora do universo da música amorosa tradicional, há uns poucos temas mais contemporâneos, da lavra de compositores até então nunca associados à trajetória de Bibi. São músicas como Ponte Aérea (a refinada composição de José Miguel Wisnik que abre o disco), Vambora (a suplicante canção de Adriana Calcanhoto, lançada em 1998 e revivida em tom levemente dramático pela atriz) e Todo Amor que Houver Nessa Vida (uma das obras-primas de Frejat e Cazuza, abordada por Bibi em tom quase declamado que ressalta a beleza poética dos versos de Cazuza). Seja qual for a origem e o universo da canção, todas são irmanadas pela voz de Bibi, já menos potente por conta dos 88 anos da artista, mas ainda precisa no entendimento e na exposição do significado de cada verso. A suíte é conduzida pelo piano de Francis Hime - que sola Minha (Francis Hime e Ruy Guerra) e Minha Namorada (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes) - e pontuada pelos sopros de Dirceu Leite. Atriz com total domínio do idioma musical, Bibi abolera o samba-canção Nem Eu (Dorival Caymmi), ameniza a dramaticidade do Samba em Prelúdio (Baden Powell e Vinicius de Moraes) e põe toda sua emoção em Meiga Presença (Paulo Valdez e Otávio de Moraes), samba-canção do repertório de Elizeth Cardoso (1920 - 1990), reminiscência de show da cantora dirigido por Bibi nos anos 70. Do cancioneiro da Divina, a suíte amorosa de Bibi inclui também o samba-canção Nossos Momentos (Haroldo Barbosa e Luiz Reis). Nessa suíte na qual Tom Jobim (1927 - 1994) e Vinicius de Moraes (1913-1980) são os compositores mais recorrentes, Bibi expõe com habilidade sentimentos do eterno vaivém amoroso, eventualmente até em clima seresteiro, como em Serenata de uma Mulher (Chiquinha Gonzaga e Paulo César Pinheiro). No todo, entretanto, temas como Olha (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1975) e Pra Você (Silvio César, 1965) soam mais apropriados para serem ouvidos no escuro de uma boate, pois, em última análise, a suíte amorosa de Bibi Ferreira é uma declaração ao ser amado, um pedido doído de 'volta pra mim' - no caso, feito por intérprete sempre sagaz, senhora absoluta das palavras e das cenas.
Mauro, a música Nossos Momentos que deu título ao show de Maria Bethânia, só foi gravada por ela em 1984, no disco A beira e o mar. Em 1982, Bethânia cantou uma música feita por Caetano, que tem o mesmo título!
ResponderExcluirGrato pelo alerta, Valderio. Eu tinha acabado de ser avisado da confusão com os nomes das músicas por outro leitor, via e-mail. Já consertei o texto. Abs, MauroF
ResponderExcluirEngraçado, Mauro, você fala tão bem do disco e dá uma cotação relativamente baixa para tanto elogio...
ResponderExcluirA melodia de "Onde anda você?" é plágio: seria 'arte' de Vinícius ou de Hermano Silva? Além de ser a única canção registrada em nome do segundo, quem seria Hermano Silva? Quem souber, por favor, escreva alguma coisa aqui.
ResponderExcluirObrigado.