Resenha de CD
Título: Insensato Coração
Artista: Vários
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * *
A notícia de que Maria Bethânia gravaria Trocando em Miúdos (Francis Hime e Chico Buarque, 1977) especialmente para a trilha sonora nacional da novela Insensato Coração gerou alta expectativa. Embora não carregue a emoção que caracteriza as melhores gravações da intérprete, o bom registro valoriza trilha que paira acima da média do gênero. Assinada por Mariozinho Rocha, diretor musical da TV Globo, a seleção nacional de Insensato Coração é calcada na MPB e em seus medalhões - como é do gosto do autor da trama, Gilberto Braga. Nem todos os 18 fonogramas têm conexão direta com a história - a exemplo de A Tonga da Mironga do Kabuletê (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1971), samba ouvido em gravação que junta Toquinho, Vinicius de Moraes e Monsueto. Contudo, o CD transcorre sempre sedutor entre fonogramas inéditos, recentes e antigos. Se Maria Rita cai no samba com propriedade ao regravar Coração em Desalinho (Monarco e Ratinho, 1986), sua mãe Elis Regina (1945 - 1982) expõe ressaca existencial no definitivo registro de 20 Anos Blues (Sueli Costa e Vítor Martins, 1972). 20 Anos Blues é obra-prima como Sem Poupar Coração (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 2009), tema que deu título ao último álbum de inéditas de Nana Caymmi. Ambas as músicas mereciam mesmo ser propagadas em trilha de novela para serem ouvidas em todo o Brasil. É o caso também de Ela É Minha Cara, delicioso e desencanado samba do último álbum de estúdio de Mart'nália, Madrugada (2008). Leve, o samba é da lavra refinada de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, dupla que assina também Ela Vai pro Mar, música ouvida na trilha na voz aveludada de Luiz Melodia. A gravação de Melodia é trunfo de disco que também apresenta gravações inéditas de Ney Matogrosso e Zeca Baleiro. Ney dá nobreza a um samba-canção, Verdade da Vida (Concessa Lacerda e Raul Mascarenhas, 1963), que flerta com o dramalhão em evidência na música brasileira pré-Bossa Nova (Só Louco, presente na trilha na voz de Dori Caymmi, é exemplo de como o samba-canção pode refinar o drama). Já Baleiro dá clima cigano a Homem com H, música que Ney gravou em 1981 em tom forrozeiro. Embora tire a malícia do tema de Antônio Barros, Baleiro reitera a personalidade com que costuma abordar repertório alheio. Falta um pouco de malícia também no registro do samba Pra que Discutir com Madame? (Haroldo Barbosa e Janet de Almeida, 1956) feito por Diogo Nogueira para a novela. Mesmo assim, a gravação é bacana e tem o mérito de distanciar Diogo da banda podre do samba. Ritmo que Simone também abraça em Love (Paulo Padilha), fonograma de seu arejado álbum Na Veia (2009). Em trilha dominada pela MPB que rebobina até versão de voz-e-violão de Super Homem, a Canção (Gilberto Gil, 1979) feita por Caetano Veloso, a indignação da Legião Urbana no politizado rock Que País É Este? (Renato Russo, 1978) fica destoante em seleção que soa conservadora, mas nem por isso menos interessante. A lamentar somente a ausência de ficha técnica mais detalhada que identificasse no encarte os músicos e arranjadores das gravações - pecado indesculpável sobretudo nos registros inéditos.
A notícia de que Maria Bethânia gravaria Trocando em Miúdos (Francis Hime e Chico Buarque, 1977) especialmente para a trilha sonora nacional da novela Insensato Coração gerou alta expectativa. Embora não carregue a emoção que caracteriza as melhores gravações da intérprete, o bom registro valoriza trilha que paira acima da média do gênero. Assinada por Mariozinho Rocha, diretor musical da TV Globo, a seleção nacional de Insensato Coração é calcada na MPB e em seus medalhões - como é do gosto do autor da trama, Gilberto Braga. Nem todos os 18 fonogramas têm conexão direta com a história - a exemplo de A Tonga da Mironga do Kabuletê (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1971), samba ouvido em gravação que junta Toquinho, Vinicius de Moraes e Monsueto. Contudo, o CD transcorre sempre sedutor entre fonogramas inéditos, recentes e antigos. Se Maria Rita cai no samba com propriedade ao regravar Coração em Desalinho (Monarco e Ratinho, 1986), sua mãe Elis Regina (1945 - 1982) expõe ressaca existencial no definitivo registro de 20 Anos Blues (Sueli Costa e Vítor Martins, 1972). 20 Anos Blues é obra-prima como Sem Poupar Coração (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 2009), tema que deu título ao último álbum de inéditas de Nana Caymmi. Ambas as músicas mereciam mesmo ser propagadas em trilha de novela para serem ouvidas em todo o Brasil. É o caso também de Ela É Minha Cara, delicioso e desencanado samba do último álbum de estúdio de Mart'nália, Madrugada (2008). Leve, o samba é da lavra refinada de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, dupla que assina também Ela Vai pro Mar, música ouvida na trilha na voz aveludada de Luiz Melodia. A gravação de Melodia é trunfo de disco que também apresenta gravações inéditas de Ney Matogrosso e Zeca Baleiro. Ney dá nobreza a um samba-canção, Verdade da Vida (Concessa Lacerda e Raul Mascarenhas, 1963), que flerta com o dramalhão em evidência na música brasileira pré-Bossa Nova (Só Louco, presente na trilha na voz de Dori Caymmi, é exemplo de como o samba-canção pode refinar o drama). Já Baleiro dá clima cigano a Homem com H, música que Ney gravou em 1981 em tom forrozeiro. Embora tire a malícia do tema de Antônio Barros, Baleiro reitera a personalidade com que costuma abordar repertório alheio. Falta um pouco de malícia também no registro do samba Pra que Discutir com Madame? (Haroldo Barbosa e Janet de Almeida, 1956) feito por Diogo Nogueira para a novela. Mesmo assim, a gravação é bacana e tem o mérito de distanciar Diogo da banda podre do samba. Ritmo que Simone também abraça em Love (Paulo Padilha), fonograma de seu arejado álbum Na Veia (2009). Em trilha dominada pela MPB que rebobina até versão de voz-e-violão de Super Homem, a Canção (Gilberto Gil, 1979) feita por Caetano Veloso, a indignação da Legião Urbana no politizado rock Que País É Este? (Renato Russo, 1978) fica destoante em seleção que soa conservadora, mas nem por isso menos interessante. A lamentar somente a ausência de ficha técnica mais detalhada que identificasse no encarte os músicos e arranjadores das gravações - pecado indesculpável sobretudo nos registros inéditos.
ResponderExcluirÔ Mauro, dizer que a gravação de Bethânia não carrega a mesma emoção de seus melhores momentos é mero eufemismo. Qual o problema de dizer que ficou aquém da expectativa? Uma oportunidade perdida de mostrar que Maria Bethânia, como tantas outras boas cantoras da MPB, não acerta sempre... É normal! Pode ser até implicância minha, mas parece que essa mesma polidez não á aplicada a todos os artistas no blog, que recebem avaliações, positivas ou negativas, sem essa polidez desnecessária.
ResponderExcluirOlá, Mauro, tudo bem?
ResponderExcluirO repertório do CD é bem legal, mas, ainda não consegui gostar nem um pouco da regravação de "Coração em desalinho", feita pela Maria Rita.
Espero que ela não faça um "Samba meu" vol 2.
Grande abraço!
Em setembro desse ano sai um novo de Maria Rita né ?
ResponderExcluirTambem acho imperdoável a falta de informação do encarte.
ResponderExcluirLouvo Zeca Baleiro que nos encartes dos seus CDS, alem de registrar tudo detalhadamente ainda registra agradecimentos até ao caseiro de sua produtora pelos serciços prestados.
Respeito pelo trabalho dos outros e reconhecimento é bonito e eu gosto!
Izabel Schneider
Mauro, faltou falar de "Domingo Azul do Mar", gravação de Leila Pinheiro e Oscar Castro-Neves, da bela canção de Tom Jobim. A faixa ao vivo, gravada num show em Tokio, está muito bonita.
ResponderExcluir"Ela é a minha cara", ironicamente, é 'a cara' de uma canção chamada "Eu só posso assim", de Pingarilho e Marcos Vasconcellos, lançada pelo Som 3 e regravada recentemente pelo próprio autor. O trecho suspeito começa com a frase "Tira onda de grã-fina...". Quem quiser conferir que ouça as duas gravações (a do Som 3 é mais direta, e está no álbum "Tobogã", que fez parte da série Odeon 100 Anos). Clap, clap, clap...
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