domingo, 20 de março de 2011

Sem perder a ternura, doce jardim de Tiê floresce em 'A Coruja e o Coração'

Resenha de CD
Título: A Coruja e o Coração
Artista: Tiê
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * 1/2

As cores sutis na capa assinada pela estilista Rita Wainer sinalizam que o doce jardim de Tiê floresceu no segundo disco da cantora e compositora paulistana, A Coruja e o Coração, nas lojas até o fim deste mês de março de 2011 via Warner Music. De fato, basta ouvir a primeira faixa, Na Varanda da Liz (Plínio Profeta, João Cavalcanti e Tiê), para perceber que a adição de uma bateria (no caso, a de Naná Rizzini) no som de Tiê gerou uma nova pulsação para a música da artista. Por isso mesmo, é difícil resistir à tentação de sentenciar que A Coruja e o Coração representa uma evolução em relação a Sweet Jardim (2009), o primeiro álbum de Tiê, calcado no violão e em canções melancólicas que remetiam ao universo folk. Na verdade, A Coruja e o Coração deve ser encarado como um desenvolvimento natural de Sweet Jardim sem que o primeiro seja necessariamente superior ao segundo. Até porque temas como Piscar o Olho (Plínio Profeta, Tiê, Rita Wainer e Karina Zeviani) e Te Mereço (canção confessional com contornos de valsa que encerra o disco e que é assinada somente por Tiê) reiteram a delicadeza melódica e poética que caracteriza o som da artista. E o fato é que Tiê passa com louvor na sempre temida prova do segundo disco. A abordagem em clima de cabaré de Só Sei Dançar com Você - música de Tulipa Ruiz, lançada pela autora em seu incensado primeiro álbum, Efêmera (2010) - mostra que Tiê começa a se tornar também uma intérprete de personalidade. Ainda que, em contrapartida, a recriação em tom flamenco de Você Não Vale Nada soe meramente curiosa. Propagado em escala nacional em 2009 quando a gravação da banda Calcinha Preta tocava na novela Caminho das Índias, o tema forrozeiro de Dorgival Dantas nada ganha com o tom levemente dramático do canto de Tiê e com as palmas e o violão flamenco de Emiliano Castro. Fora de sua seara autoral, Tiê soa mais sedutora ao reviver sem ousadias Mapa Múndi, tema de seu amigo Thiago Pethit, lançado pelo autor em seu álbum Berlim, Texas (2010). O toque gracioso da regravação fica por conta do coro que reúne as vozes de Tulipa Ruiz, Karina Zeviani (a Ka, parceria de Tiê em três das doze faixas do disco) e do próprio Pethit. Tulipe e Ka também engrossam o coro da ensolarada Pra Alegrar o meu Dia (Tiê, Ka e Rafael Barion), faixa que ganha toque country por conta do banjo de Emerson Villani. O mesmo toque country é dado pelo banjo de Plínio Profeta - produtor do CD - a Hide and Seek (Tiê e Thiago Pethit), faixa veloz que, ao contrário do que faz supor seu título, é cantada em português (uma versão em inglês da música é o bônus da edição digital do álbum ao lado da regravação de Ando Meio Desligado, hit do grupo Os Mutantes). A faixa verdadeiramente em inglês de A Coruja e o Coração é For You and For me (Tiê), balada envolta pelo cello tocado por Luciano Correa. Enquanto Já É Tarde (Tiê e Ka) roça a trivialidade do pop mais banal, a balada Perto e Distante (Tiê, Pedro Granato e Plínio Profeta) esboça clima denso em instrumental de início minimalista que fica encorpado na medida em que a faixa avança. Já habituado a fazer conexões com artistas do Brasil, o uruguaio Jorge Drexler canta com Tiê a letra que culmina com o verso "Quem garante que o que você é é o que o outro enxerga?".  O sol já bate no doce jardim de Tiê sem cobrir a sombra.

4 comentários:

  1. As cores sutis na capa assinada pela estilista Rita Wainer sinalizam que o doce jardim de Tiê floresceu no segundo disco da cantora e compositora paulistana, A Coruja e o Coração, nas lojas até o fim deste mês de março de 2011 via Warner Music. De fato, basta ouvir a primeira faixa, Na Varanda da Liz (Plínio Profeta, João Cavalcanti e Tiê), para perceber que a adição de uma bateria (no caso, a de Naná Rizzini) no som de Tiê gerou uma nova pulsação para a música da artista. Por isso mesmo, é difícil resistir à tentação de sentenciar que A Coruja e o Coração representa uma evolução em relação a Sweet Jardim (2009), o primeiro álbum de Tiê, calcado no violão e em canções melancólicas que remetiam ao universo folk. Na verdade, A Coruja e o Coração deve ser encarado como um desenvolvimento natural de Sweet Jardim sem que o primeiro seja necessariamente superior ao segundo. Até porque temas como Piscar o Olho (Plínio Profeta, Tiê, Rita Wainer e Karina Zeviani) e Te Mereço (canção confessional com contornos de valsa que encerra o disco e que é assinada somente por Tiê) reiteram a delicadeza melódica e poética que caracteriza o som da artista. E o fato é que Tiê passa com louvor na sempre temida prova do segundo disco. A abordagem em clima de cabaré de Só Sei Dançar com Você - música de Tulipa Ruiz, lançada pela autora em seu incensado primeiro álbum, Efêmera (2010) - mostra que Tiê começa a se tornar também uma intérprete de personalidade. Ainda que, em contrapartida, a recriação em tom flamenco de Você Não Vale Nada soe meramente curiosa. Propagado em escala nacional em 2009 quando a gravação da banda Calcinha Preta tocava na novela Caminho das Índias, o tema forrozeiro de Dorgival Dantas nada ganha com o tom levemente dramático do canto de Tiê e com as palmas e o violão flamenco de Emiliano Castro. Fora de sua seara autoral, Tiê soa mais sedutora ao reviver sem ousadias Mapa Múndi, tema de seu amigo Thiago Pethit, lançado pelo autor em seu álbum Berlim, Texas (2010). O toque gracioso da regravação fica por conta do coro que reúne as vozes de Tulipa Ruiz, Karina Zeviani (a Ka, parceria de Tiê em três das doze faixas do disco) e do próprio Pethit. Tulipe e Ka também engrossam o coro da ensolarada Pra Alegrar o meu Dia (Tiê, Ka e Rafael Barion), faixa que ganha toque country por conta do banjo de Emerson Villani. O mesmo toque country é dado pelo banjo de Plínio Profeta - produtor do CD - a Hide and Seek (Tiê e Thiago Pethit), faixa veloz que, ao contrário do que faz supor seu título, é cantada em português (uma versão em inglês da música é o bônus da edição digital do álbum ao lado da regravação de Ando Meio Desligado, hit do grupo Os Mutantes). A faixa verdadeiramente em inglês de A Coruja e o Coração é For You and For me (Tiê), balada envolvida pelo cello tocado por Luciano Correa. Enquanto Já É Tarde (Tiê e Ka) roça a trivialidade do pop mais banal, a balada Perto e Distante (Tiê, Pedro Granato e Plínio Profeta) esboça clima mais denso em instrumental de início minimalista que vai ficando encorpado à medida em que a faixa avança. Já habituado a fazer conexões com artistas do Brasil, o uruguaio Jorge Drexler canta com Tiê a letra que culmina com o verso "Quem garante que o que você é é o que o outro enxerga?". O sol bate no doce jardim de Tiê sem cobrir as sombras.

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  2. Boa crítica, Mauro. Não ouvi o disco todo, ainda, mas vou no show do Ibirapuera.

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  3. Quem se encantou com o primeiro disco da Tiê não vai acreditar no quanto ela ainda poderia se superar. Uma surpresa atrás da outra: letras mais maduras, arranjos ainda melhores, regravações necessárias. Sem medo de eleger, já, como um dos melhores do ano de 2011.

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  4. A Tiê mostrou seu potencial nas suas primeiras dez músicas. Chegou de mansinho, com poucas canções e divulgações. Mas seu segundo disco veio pra torná-la conhecida por um público maior, e este fato já pode ser percebido.
    E acho, assim como o Jose, que esse disco será eleito como um dos melhores do ano.
    Muito boa crítica.

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