Título: Minha Cara
Artista: Mart'nália (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 27 de abril de 2011
Cotação: * * * *
Show em cartaz no Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ) até 29 de abril de 2011, às 21h30m
Mart'nália tem duas caras musicais. A atual surgiu em 2002 com o sucesso hype do álbum Pé do meu Samba (2002) e se cristalizou em 2005 com a popularidade do CD Menino do Rio (2005), que emplacou o samba Cabide (Ana Carolina) na trilha sonora da novela Paraíso Tropical (2006). A Mart'nália de agora cai no samba com leveza pop. A artista de antes do sucesso bebia mais na fonte do funk e do soul sem jamais desprezar o samba, berço de sua existência musical. É esta cara antiga de Mart'nália que reaparece no show Minha Cara, em cartaz no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), até sexta-feira, 29 de abril de 2011. No show, dirigido por Martinho da Vila, Mart'nália revive o repertório de Minha Cara, seu segundo CD, lançado originalmente em 1997 pela ZFM Records e reeditado em 2009 pela gravadora Biscoito Fino. O show é sedutor e requintado. Mart'nália se permitiu o luxo de convocar para o show os músicos que gravaram Minha Cara. Estão com a cantora no palco do Rival o baixista Ivan Machado (produtor do disco e diretor musical do show), o baterista Paulinho Black, o violonista Cláudio Jorge, o tecladista Itamar Assiére (autor dos arranjos) e o também tecladista Jorjão Barreto (requisitado eventualmente para os vocais de temas como o samba baiano Nas Águas de Amaralina). Morto em novembro de 2010, o percussionista Ovidio Brito (1945 - 2010) é representado em cena por seu neto, Menino Brito, também percussionista, integrante da banda de Mart'nália já há alguns anos. E o fato é que, sob a direção segura de Martinho da Vila, Mart'nália apresenta um de seus melhores shows. O bloco solo inicial já cativa de cara: a sós com seu tamborim, a cantora entoa Pé do meu Samba (Caetano Veloso). Na sequência, troca o tamborim pelo pandeiro e revive Cabide. Em seguida, pega o violão para cantar Para um Amor no Recife (Paulinho da Viola) e - então já com o auxílio luxuoso da percussão de Menino Brito - Preciso me Encontrar, obra-prima de Candeia (1935 - 1978), mestre de quem Mart'nália gravou A Flor e o Samba no disco Minha Cara. Tal como no CD, A Flor e o Samba desabrocha no show ao lado de um samba antigo de Martinho da Vila, Parei na Sua, pretexto para Mart'nália sambar no palco enquanto a cortina se fecha. Entre o minimalista bloco inicial e este esfuziante número final, Mart'nália mostra que sua alma musical extrapola a roda de samba. Se Não me Balança Mais (Mart'nália e Viviane Mosé) ginga no suingue cubano, Pra que Vou Recordar o que Chorei? (Carlos Dafé) cai para o charm sem perder sua alma soul. E por falar em soul, Coleção - sucesso de um mestre do gênero, o sumido Cassiano - prova que, como intérprete, Mart'nália jamais deve ser enquadrada no rótulo de sambista. Embora o samba pontue o show com números como Grande Amor (Martinho da Vila) e Conto de Areia (Toninho e Romildo). Artista diplomada nos mais nobres quintais do Rio de Janeiro (RJ), Mart'nália põe na avenida até um belo samba-enredo, O Samba É a Minha Escola (Cláudio Jorge, Mart'nália, Agrião e Paulinho da Aba), derrotado na disputa para representar a escola de samba Unidos de Vila Isabel no Carnaval de 1997. Enfim, o show é fiel à cara de Mart'nália naquele ano de 1997. Mesmo quando extrapolam o repertório do disco - ao reviver o samba Nas Águas de Amaralina (Martinho da Vila, gravado por Mart'nália no CD Menino do Rio) e ao tocar um tema instrumental de George Benson, por exemplo - Mart'nália e banda dão às músicas a cara de Minha Cara. Disco que apresentou a primeira boa parceria da cantora com Mombaça, Entretanto. É fato que uma ou outra música soa pouco inspirada - notadamente Calma (Arthur Maia e Mart'nália) - mas isso não tira o brilho de um show coeso que, no bis, inclui abordagem de Deixa Eu Cantar, música de Dudu Falcão que foi gravada em 1988 por Nana Caymmi para o álbum Nana. Dudu - para quem não sabe - é o compositor da música que deu nome a Minha Cara, disco em que Mart'nália se mostrou cheia de charme, com a alma encharcada de chão e soul. Ainda no bis, o samba pop Ela É a Minha Cara (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos) encerra de vez o show mostrando a cara atual de Martn'ália, leve e já sapeca.
2 comentários:
Mart'nália tem duas caras musicais. A atual surgiu em 2002 com o sucesso hype do álbum Pé do meu Samba (2002) e se cristalizou em 2005 com a popularidade do CD Menino do Rio (2005), que emplacou o samba Cabide (Ana Carolina) na trilha sonora da novela Paraíso Tropical (2006). A Mart'nália de agora cai no samba com leveza pop. A artista de antes do sucesso bebia mais na fonte do funk e do soul sem jamais desprezar o samba, berço de sua existência musical. É esta cara antiga de Mart'nália que reaparece no show Minha Cara, em cartaz no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), até sexta-feira, 29 de abril de 2011. No show, dirigido por Martinho da Vila, Mart'nália revive o repertório de Minha Cara, seu segundo CD, lançado originalmente em 1997 pela ZFM Records e reeditado em 2009 pela gravadora Biscoito Fino. O show é sedutor e requintado. Mart'nália se permitiu o luxo de convocar para o show os músicos que gravaram Minha Cara. Estão com a cantora no palco do Rival o baixista Ivan Machado (produtor do disco e diretor musical do show), o baterista Paulinho Black, o violonista Cláudio Jorge, o tecladista Itamar Assiére (autor dos arranjos) e o também tecladista Jorjão Barreto (requisitado eventualmente para os vocais de temas como o samba baiano Nas Águas de Amaralina). Morto em novembro de 2010, o percussionista Ovidio Brito (1945 - 2010) é representado em cena por seu neto, Menino Brito, também percussionista, integrante da banda de Mart'nália já há alguns anos. E o fato é que, sob a direção segura de Martinho da Vila, Mart'nália apresenta um de seus melhores shows. O bloco solo inicial já cativa de cara: a sós com seu tamborim, a cantora entoa Pé do meu Samba (Caetano Veloso). Na sequência, troca o tamborim pelo pandeiro e revive Cabide. Em seguida, pega o violão para cantar Para um Amor no Recife (Paulinho da Viola) e - então já com o auxílio luxuoso da percussão de Menino Brito - Preciso me Encontrar, obra-prima de Candeia (1935 - 1978), mestre de quem Mart'nália gravou A Flor e o Samba no disco Minha Cara. Tal como no CD, A Flor e o Samba desabrocha no show ao lado de um samba antigo de Martinho da Vila, Parei na Sua, pretexto para Mart'nália sambar no palco enquanto a cortina se fecha. Entre o minimalista bloco inicial e este esfuziante número final, Mart'nália mostra que sua alma musical extrapola a roda de samba. Se Não me Balança Mais (Mart'nália e Viviane Mosé) ginga no suingue cubano, Pra que Vou Recordar o que Chorei? (Carlos Dafé) cai para o charm sem perder sua alma soul. E por falar em soul, Coleção - sucesso de um mestre do gênero, o sumido Cassiano - prova que, como intérprete, Mart'nália jamais deve ser enquadrada no rótulo de sambista. Embora o samba pontue o show com números como Grande Amor (Martinho da Vila) e Conto de Areia (Toninho e Romildo).
Artista diplomada nos mais nobres quintais do Rio de Janeiro (RJ), Mart'nália põe na avenida até um belo samba-enredo, O Samba É a Minha Escola (Cláudio Jorge, Mart'nália, Agrião e Paulinho da Aba), derrotado na disputa para representar a escola de samba Unidos de Vila Isabel no Carnaval de 1997. Enfim, o show é fiel à cara de Mart'nália naquele ano de 1997. Mesmo quando extrapolam o repertório do disco - ao reviver o samba Nas Águas de Amaralina (Martinho da Vila, gravado por Mart'nália no CD Menino do Rio) e ao tocar um tema instrumental de George Benson, por exemplo - Mart'nália e banda dão às músicas a cara de Minha Cara. Disco que apresentou a primeira boa parceria da cantora com Mombaça, Entretanto. É fato que uma ou outra música soa pouco inspirada - notadamente Calma (Arthur Maia e Mart'nália) - mas isso não tira o brilho de um show coeso que, no bis, inclui abordagem de Deixa Eu Cantar, música de Dudu Falcão que foi gravada em 1988 por Nana Caymmi para o álbum Nana. Dudu - para quem não sabe - é o compositor da música que deu nome a Minha Cara, disco em que Mart'nália se mostrou cheia de charme, com a alma encharcada de chão e soul. Ainda no bis, o samba pop Ela É a Minha Cara (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos) encerra de vez o show mostrando a cara atual de Martn'ália, leve e já sapeca.
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