Resenha de CD
Título: Cine Privê
Artista: Domenico Lancellotti
Gravadora: Coqueiro Verde Records
Cotação: * * * 1/2
Encerrada a trajetória do trio + 2, com o qual gravou o disco experimental Sincerely Hot (2004), Domenico Lancellotti começa a esboçar uma carreira solo com o lançamento do CD Cine Privê, editado pela gravadora Coqueiro Verde Records. Antes de se tornar um dos bateristas mais requisitados pelos músicos e cantores de sua geração, Domenico foi pintor. O que ajuda a entender a associação entre som e imagem perserguida pelo artista neste primeiro disco solo. As 10 músicas não chegam a formar um roteiro conexo de filme, mas Cine Privê consegue o link entre som e imagem em temas como Os Pinguinhos (Tomás Ferreira e Domenico Lancellotti), faixa cujo instrumental delicado está em fina sintonia com os versos cinematográficos. Como já sinaliza a faixa-título que abre o CD e ganha efeitos no fim, Cine Privê é disco de canções. A dose de experimentação - alta em Sincerely Hot - é rala, mas existe e pauta o flerte com a poesia concreta em Pedra e Areia, faixa que traz no refrão a voz de Adriana Calcanhotto, co-autora do tema ao lado de Pedro Sá, Alberto Continentino, Moreno Veloso - músicos recorrentes na ficha técnica - e do próprio Domenico. Como também já sinaliza a faixa 5 Sentidos (Domenico Lancellotti e Moreno Veloso), Cine Privê é um disco em que o conceito supera por vezes as canções. Mas que brilha quando a música está no mesmo alto nível do conceito - caso de Fortaleza (Domenico Lancellotti), faixa em que os músicos simulam o som da "corda que rangia" na beira do mar - imagem recorrente na letra. Na mesma onda e cenário, mas com mais vivacidade rítmica, Zona Portuária (Domenico Lancelotti e Kassin) forja o som do apito de um navio a partir do sax barítono de Thiago Queiroz. No todo, a narrativa do disco-filme transcorre em tonalidade zen, a exemplo de Receita, parceria de Domenico com Jorge Mautner. Opção acertada, já que a voz pequena do pseudo-cantor se ajusta bem a essa sonoridade suave. Com direito à bela e felliniana canção composta e entoada em italiano, Su Di Te (Alberto Continentino e Domenico Lancellotti), Cine Privê tem mais poesia do que melodia em temas como Sua Beleza (Marlon Sette e Domenico Lancellotti). No fim, Hugo Carvana - tema instrumental batizado com o nome do ator de emblemática carreira no cinema - põe suingue na trilha deste filme imaginário que reitera o talento esboçado por Domenico desde os anos 90, década em que formou o grupo Mulheres Q Dizem Sim. Cine Privê tende a ser superestimado por parte da mídia por conta da turma hype envolvida na produção, capitaneada pelo próprio Domenico com auxílio de Moreno Veloso, mas é um bom disco nos momentos em que a qualidade da música de fato se equipara ao conceito.
Encerrada a trajetória do trio + 2, com o qual gravou o disco experimental Sincerely Hot (2004), Domenico Lancellotti começa a esboçar uma carreira solo com o lançamento do CD Cine Privê, editado pela gravadora Coqueiro Verde Records. Antes de se tornar um dos bateristas mais requisitados pelos músicos e cantores de sua geração, Domenico foi pintor. O que ajuda a entender a associação entre som e imagem perserguida pelo artista neste primeiro disco solo. As 10 músicas não chegam a formar um roteiro conexo de filme, mas Cine Privê consegue o link entre som e imagem em temas como Os Pinguinhos (Tomás Ferreira e Domenico Lancellotti), faixa cujo instrumental delicado está em fina sintonia com os versos cinematográficos. Como já sinaliza a faixa-título que abre o CD e ganha efeitos no fim, Cine Privê é disco de canções. A dose de experimentação - alta em Sincerely Hot - é rala, mas existe e pauta o flerte com a poesia concreta em Pedra e Areia, faixa que traz no refrão a voz de Adriana Calcanhotto, co-autora do tema ao lado de Pedro Sá, Alberto Continentino, Moreno Veloso - músicos recorrentes na ficha técnica - e do próprio Domenico. Como também já sinaliza a faixa 5 Sentidos (Domenico Lancellotti e Moreno Veloso), Cine Privê é um disco em que o conceito supera por vezes as canções. Mas que brilha quando a música está no mesmo alto nível do conceito - caso de Fortaleza (Domenico Lancellotti), faixa em que os músicos simulam o som da "corda que rangia" na beira do mar - imagem recorrente na letra. Na mesma onda e cenário, mas com mais vivacidade rítmica, Zona Portuária (Domenico Lancelotti e Kassin) forja o som do apito de um navio a partir do sax barítono de Thiago Queiroz. No todo, a narrativa do disco-filme transcorre em tonalidade zen, a exemplo de Receita, parceria de Domenico com Jorge Mautner. Opção acertada, já que a voz pequena do pseudo-cantor se ajusta bem a essa sonoridade suave. Com direito à bela e felliniana canção composta e entoada em italiano, Su Di Te (Alberto Continentino e Domenico Lancellotti), Cine Privê tem mais poesia do que melodia em temas como Sua Beleza (Marlon Sette e Domenico Lancellotti). No fim, Hugo Carvana - tema instrumental batizado com o nome do ator de emblemática carreira no cinema - põe suingue na trilha deste filme imaginário que reitera o talento esboçado por Domenico desde os anos 90, década em que formou o grupo Mulheres Q Dizem Sim. Cine Privê tende a ser superestimado por parte da mídia por conta da turma hype envolvida na produção, capitaneada pelo próprio Domenico com auxílio de Moreno Veloso, mas é um bom disco nos momentos em que a qualidade da música de fato se equipara ao conceito.
ResponderExcluirNão sei se o disco é bom, mas a capa é incrível!
ResponderExcluirMauro,
ResponderExcluir"Sua Beleza" é totalmente mais melodia do que poesia!
Mauro,
ResponderExcluir"Sua Beleza" é totalmente mais melodia do que poesia.