Título: Salve São Francisco
Artista: Geraldo Azevedo e convidados
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *
Projeto de Geraldo Azevedo, Salve São Francisco vem à tona anos após sua idealização com a pretensão de ser um filme dirigido por Lara Velho sobre o rio São Francisco, o Velho Chico. Contudo, o que o DVD - editado pela gravadora Biscoito Fino neste mês de abril de 2011 - exibe não merece o status de documentário. O roteiro de Bruno de Carvalho costura takes de Azevedo em estúdio com seus convidados - todos nascidos nos cinco Estados (Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe) banhados pelo rio - com falas rasas do anfitrião e dos cantores que entoam com ele músicas que falam sobre o Velho Chico. Se Salve São Francisco não afunda com tantos depoimentos rasos que exaltam o rio com frases-clichês como "O São Francisco não alimenta só a terra e os indivíduos, mas a alma da gente", é por conta da qualidade do repertório temático, embalado com elegância acústica pelo produtor Robertinho de Recife sob a direção musical de Azevedo. Há músicas realmente bonitas no cancioneiro que mistura títulos inéditos com regravações de músicas como Riacho do Navio (Luiz Gonzaga e Zé Dantas), faixa que agrega as vozes de Azevedo e Alceu Valença. Parceria de Geraldo Azevedo com Carlos Fernando, Santo Rio - a toada que Azevedo canta com a voz e o acordeom de Dominguinhos - é exemplo da inspiração do compositor pernambucano. Da safra inédita, vale destacar também a melodiosa Águas Daquele Rio, tema do qual Geraldo Amaral é autor e convidado. Amaral, aliás, é parceiro de Azevedo e Clóvis Nunes em Opara (São São Francisco), faixa de tom bossa-novista que se ajusta bem à voz miúda da amapaense-mineira Fernanda Takai. Opara ilustra em Salve São Francisco a influência que o canto divisor de águas de João Gilberto causou em Azevedo. Fora de sua seara autoral do compositor, Azevedo abarca músicas como O Ciúme (Caetano Veloso) - entoada com cordas em dueto suave com Ivete Sangalo - e Francisco Francisco (Roberto Mendes e Capinam), joia que soa sem brilho nas vozes de Mendes e Azevedo. Talvez fosse até difícil perceber toda a beleza do tema se não houvesse o registro soberano feito por Maria Bethânia no CD Pirata (2006). Íntima desse universo interionado banhado pelo Velho Chico, Bethânia é a apropriada convidada de Carranca que Chora, poética parceria de Azevedo com Capinam. Bethânia se impõe em time de intérpretes que inclui ainda Djavan - que embarca sem a força habitual em Barcarola do São Francisco (Geraldo Azevedo e Carlos Fernando) - e Moraes Moreira, que revive Petrolina e Juazeiro, sua parceria com Azevedo que propaga a união entre Pernambuco e Bahia, dois Estados banhados pelo São Francisco. Há ainda Saudade do Vapor, tema pop de Vavá Cunha, gravado com a participação do autor em arranjo que destaca a guitarra de Robertinho de Recife. Enfim, a música salva uma produção que jamais chega a ser um filme sobre o rio e sobre os problemas ambientais que ameaçam o Velho Chico, muso inspirador de tantas belas canções. Por isso, prefira logo o CD editado simultaneamente com os áudios das 12 gravações.
3 comentários:
Projeto de Geraldo Azevedo, Salve São Francisco vem à tona anos após sua idealização com a pretensão de ser um filme dirigido por Lara Velho sobre o rio São Francisco, o Velho Chico. Contudo, o que o DVD - editado pela gravadora Biscoito Fino neste mês de abril de 2011 - exibe não merece o status de documentário. O roteiro de Bruno de Carvalho costura takes de Azevedo em estúdio com seus convidados - todos nascidos nos cinco Estados (Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe) banhados pelo rio - com falas rasas do anfitrião e dos cantores que entoam com ele músicas que falam sobre o Velho Chico. Se Salve São Francisco não afunda com tantos depoimentos rasos que exaltam o rio com frases-clichês como "O São Francisco não alimenta só a terra e os indivíduos, mas a alma da gente", é por conta da qualidade do repertório temático, embalado com elegância acústica pelo produtor Robertinho de Recife sob a direção musical de Azevedo. Há músicas realmente bonitas no cancioneiro que mistura títulos inéditos com regravações de músicas como Riacho do Navio (Luiz Gonzaga e Zé Dantas), faixa que agrega as vozes de Azevedo e Alceu Valença. Parceria de Geraldo Azevedo com Carlos Fernando, Santo Rio - a toada que Azevedo canta com a voz e o acordeom de Dominguinhos - é exemplo da inspiração do compositor pernambucano. Da safra inédita, vale destacar também a melodiosa Águas Daquele Rio, tema do qual Geraldo Amaral é autor e convidado. Amaral, aliás, é parceiro de Azevedo e Clóvis Nunes em Opara (São São Francisco), faixa de tom bossa-novista que se ajusta bem à voz miúda da acreana-mineira Fernanda Takai. Opara ilustra em Salve São Francisco a influência que o canto divisor de águas de João Gilberto causou em Azevedo. Fora de sua seara autoral do compositor, Azevedo abarca músicas como O Ciúme (Caetano Veloso) - entoada com cordas em dueto suave com Ivete Sangalo - e Francisco Francisco (Roberto Mendes e Capinam), joia que soa sem brilho nas vozes de Mendes e Azevedo. Talvez fosse até difícil perceber toda a beleza do tema se não houvesse o registro soberano feito por Maria Bethânia no CD Pirata (2006). Íntima desse universo interionado banhado pelo Velho Chico, Bethânia é a apropriada convidada de Carranca que Chora, poética parceria de Azevedo com Capinam. Bethânia se impõe em time de intérpretes que inclui ainda Djavan - que embarca sem a força habitual em Barcarola do São Francisco (Geraldo Azevedo e Carlos Fernando) - e Moraes Moreira, que revive Petrolina e Juazeiro, sua parceria com Azevedo que propaga a união entre Pernambuco e Bahia, dois Estados banhados pelo São Francisco. Há ainda Saudade do Vapor, tema pop de Vavá Cunha, gravado com a participação do autor em arranjo que destaca a guitarra de Robertinho de Recife. Enfim, a música salva uma produção que jamais chega a ser um filme sobre o rio e sobre os problemas ambientais que ameaçam o Velho Chico, muso inspirador de tantas belas canções. Por isso, prefira logo o CD editado simultaneamente com os áudios das 12 gravações.
Mauro, uma pequena correção geográfica: Fernanda Takai não é uma acreana-mineira, mas uma amapaense-mineira, tendo em vista que nasceu em Serra do Navio.
Zenira, tem toda razão. Grato por me alertar do erro, já corrigido. Abs, MauroF
Postar um comentário