Nana Caymmi chega aos 70 anos na próxima sexta-feira, 29 de abril de 2011, com uma integridade e uma coerência raras na cena musical brasileira. Anunciada pela EMI Music, a caixa com os discos gravados pela cantora para a Odeon ainda não chegou às lojas. Já Rio Sonata - o documentário impressionista do francês-suíço Georges Gachot - entrou em cartaz no Brasil, expondo toda a grandeza do canto de Nana. Grandeza que logo fez sua voz sair da sombra gigante de seu pai, um certo Dorival Caymmi (1914 - 2008), ainda que a filha-fã tenha estado sempre perto da obra do patriarca de uma das famílias mais musicais do mundo. Essa voz é tão pessoal, tão única, que ninguém ousa comparar Nana com outras cantoras. Nana é Nana. Ponto. E o fato é que Dinair Tostes Caymmi - vista em foto de Lívio Campos - completa sete décadas de vida já entronizada no primeiro time de intérpretes nacionais. A voz intensa a credencia especialmente a entoar temas de alta voltagem emocional. Poucas cantoras sabem retratar todas as emoções contidas nas letras de um samba-canção ou de um bolero. Nana sabe. Contudo, Nana nunca faz drama. De início um diamante bruto que foi sendo lapidado com o tempo, a voz de Nana derrama sentimento sem jamais passar do ponto. Seu canto é refinado sem ser rebuscado. Eterno porque nunca pretendeu ser moderno. Algumas de suas gravações mais emblemáticas - Beijo Partido (1975), Se Queres Saber (1977), Contrato de Separação (1979), Mudança dos Ventos (1980) e Resposta ao Tempo (1998), entre muitas outras - estão aí para mostrar o quanto o canto de Nana Caymmi é atemporal. Inclusive porque sua coesa discografia - impecável, sem nenhuma concessão ao repertório popularesco - também adquiriu valor atemporal. Os ventos do mercado fonográfico mudaram. Mas Nana Caymmi não mudou. Ouça Medo de Amar (Vinicius de Moraes) - na arrepiante tomada feita para o filme Rio Sonata - e perceba que nesse recente take de estúdio há a mesma intensa emoção da gravação de Meu Silêncio (Claúdio Nucci e Luiz Fernando Gonçalves) feita por Nana para seu álbum de 1980, Mudança dos Ventos. Tal registro - na qual a cantora transmite na voz a tristeza e o vazio deixados pela ausência de um amigo - é apenas um exemplo de como há pérolas a serem pescadas no baú fonográfico de Nana Caymmi, intérprete de peito aberto.
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10 comentários:
Nana Caymmi chega aos 70 anos na próxima sexta-feira, 29 de abril de 2011, com uma integridade e uma coerência raras na cena musical brasileira. Anunciada pela EMI Music, a caixa com os discos gravados pela cantora para a Odeon ainda não chegou às lojas. Já Rio Sonata - o documentário impressionista do francês-suíço Georges Gachot - entrou em cartaz no Brasil, expondo toda a grandeza do canto de Nana. Grandeza que logo fez sua voz sair da sombra gigante de seu pai, um certo Dorival Caymmi (1914 - 2008), ainda que a filha-fã tenha estado sempre perto da obra do patriarca de uma das famílias mais musicais do mundo. Essa voz é tão pessoal, tão única, que ninguém ousa comparar Nana com outras cantoras. Nana é Nana. Ponto. E o fato é que Dinair Tostes Caymmi - vista em foto de Lívio Campos - completa sete décadas de vida já entronizada no primeiro time de intérpretes nacionais. A voz intensa a credencia especialmente a entoar temas de alta voltagem emocional. Poucas cantoras sabem retratar todas as emoções contidas nas letras de um samba-canção ou de um bolero. Nana sabe. Contudo, Nana nunca faz drama. De início um diamante bruto que foi sendo lapidado com o tempo, a voz de Nana derrama sentimento sem jamais passar do ponto. Seu canto é refinado sem ser rebuscado. Eterno porque nunca pretendeu ser moderno. Algumas de suas gravações emblemáticas - Beijo Partido (1975), Se Queres Saber (1977), Contrato de Separação (1979), Mudança dos Ventos (1980) e Resposta ao Tempo (1998), entre muitas outras - estão aí para mostrar o quanto o canto de Nana Caymmi é atemporal. Inclusive porque sua coesa discografia - impecável, sem nenhuma concessão ao repertório popularesco - também adquiriu valor atemporal. Os ventos do mercado fonográfico mudaram. Mas Nana Caymmi não mudou. Ouça Medo de Amar (Vinicius de Moraes) - na arrepiante tomada feita para o filme Rio Sonata - e perceba que nesse recente take de estúdio há a mesma intensa emoção da gravação de Meu Silêncio (Claúdio Nucci e Luiz Fernando Gonçalves) feita por Nana para seu álbum de 1980, Mudança dos Ventos. Tal registro - na qual a cantora transmite na voz a tristeza e o vazio deixados pela ausência de um amigo - é apenas um exemplo de como há pérolas a serem pescadas no baú fonográfico de Nana Caymmi, intérprete de peito aberto.
Concordo com absolutamente tudo! Nana é maravilhosa, impecável!! Que ainda venham muitos outros anos de música, pra nosso prazer!
E, é oficial, hein?! Esse é o ano dos setentões! Ohh sorte! o/
Lindo texto, Mauro.
Nana merece!
E que em 2011 venha o alardeado cd/dvd ao vivo produzido pelo José Milton.
E ainda tenho a esperança de um dia escutar um "Nana Caymmi canta Roberto Carlos".
Nana é simplesmente única, como você deixa claro Mauro, seu canto vem da linha das grandes intérpretes de voz encorpada como Elizeth Cardoso, Nora Ney, Maysa; sofre influência das negras americanas sem, no entanto, copiá-las. É um canto personalíssimo que já nos brindou com registros preciosos. Espero que um dia ainda chegue à luz, não apenas o DVD ora idealizado pelo José Milton, como o registro do show especial - Voz e suor - Nana e César Camargo Mariano que ocorreu por volta de 1983-84.
Assino embaixo!! A voz e o canto de Nana é de uma beleza fora do comum! Exatamente como você escreveu, é impressionante como ela consegue passar as emoções contidas nas letras, emoções super-intensas, sem transformar num drama! Algumas cantoras tentam "interpretar" tanto o texto de suas canções, que acabam soando como atrizes daqueles dramalhões mexicanos. Nana não! Ela consegue ser absurdamente natural e transmitir a emoção completa, sem passar do ponto mas também sem ficar nada abaixo dele. É precisa em suas interpretações, sem falar na beleza de seu tímbre!
Abraços!!!
Apoiado, Mauro. A gigante Nana Caymmi merece o topo de tudo. Discografia realmente impecável e qualquer comparação a outra cantora da MPB é mero engano.
Mauro,
Seu texto foi de uma felicidade absurda. Como sempe... e como nunca. Você simplesmente disse de Nana tudo aquilo que pensam todos aqueles que amam o seu canto.
Acho que a caixa deveria ser completa, incluindo o CD que ela gravou para a RCA (com a capa original, é óbvio!), Elenco, Universal, som livre e CID com encartes uniformes como a caixa de Ney Matogrosso. Acredito que para uma artista ímpar como é Nana, a gravadora master (EMI) deveria abrir exceção e permitir a reedição de sua obra completa.
Parabéns pelo texto!
Também tô na torcida para sair logo esse dvd ao vivo
Eu amo a voz da Nana!
parabéns, superdiva de voz desalterante!
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