Título: Monique Kessous
Artista: Monique Kessous (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de abril de 2011
Cotação: * * * 1/2
♪ Foi obra do acaso, mas pareceu até provocação: no momento em que o público começou a ocupar as mesas do Teatro Rival, para ver o show apresentado por Monique Kessous na noite de 26 de abril de 2011, começou a tocar Ainda lembro, gravação feita por Marisa Monte para seu álbum Mais (1991). Acaso se transformou em ironia pelo fato de o (bom) show reiterar e acentuar a espantosa semelhança de Kessous com Marisa, já evidente no terceiro álbum da cantora, Monique Kessous, produzido por Rodrigo Vidal e lançado em novembro de 2010 pela Sony Music. No show, essa incômoda similaridade salta não somente aos ouvidos - pelas vozes de timbres parecidos e pela maneira de cantar - mas também aos olhos. Dona de beleza esbelta, Kessous lembra Marisa por esse porte esguio e até pela postura corporal em cena - o uso das mãos, por exemplo, remente ao gestual da artista que, em maior ou menor escala, tem servido de matriz para as cantoras surgidas a partir de 1990. Basta ver um registro audiovisual de números do show como Coração (Monique Kessous, 2010) e o medley que agrega A quantas anda (Monique Kessous, 2010) e Levo a minha vida assim (Monique Kessous, 2010) para comprovar essa semelhança que ultrapassa o estágio de mera influência. Se esse vínculo com Marisa for natural, é preciso trabalhar a postura cênica de Kessous para diminuí-lo. Se for estratégia da gravadora Sony Music (que fez mistério sobre a identidade de Kessous ao lançar o single de Frio), esse marketing precisa ser repensado. Até porque o show ratifica o talento da artista carioca como cantora e como compositora. Como cantora, Kessous já exibe segurança precoce em cena. É uma cantora de verdade - afinada, sem truques de estúdio - que dá a impressão de ter tido formação lírica. Como compositora, ela parece ter bom domínio do idioma pop, com ênfase na canção popular romântica - gênero com o qual dialoga, por exemplo, sua música Calma aí, alocada no roteiro após a melodiosa Frio, hit radiofônico por excelência. Não foi por acaso que um dos números mais aplaudidos do show foi sua releitura de Espumas ao vento (Accyoli Neto, 1997), tema popular abordado com classe por Kessous. A propósito, sempre que canta repertório alheio, Kessous o faz com personalidade. Na sua voz de soprano, o frevo Bloco do prazer (Moraes Moreira e Fausto Nilo, 1979) sai mais devagar para que se possa apreciar a letra. Disritmia (Martinho da Vila, 1974) também reaparece com pulsação diferente da habitual num dos poucos números que Kessous mostra que, se quiser, pode se distanciar da matriz-Marisa. Em contrapartida, o clima portenho da abordagem de Sonhos (Peninha, 1977) se diluiu no show. De todo modo, Sonhos já soa batida após tantas interpretações. Kessous contagia mais quando, longe da obviedade, rebobina com suingue Qual é, baiana? (Moacyr Albuquerque e Caetano Veloso, 1971), tema lançado por Caetano Veloso no compacto duplo O Carnaval do Caetano (Philips, 1971) e regravado por Gal Costa sete anos depois no disco Água viva (Philips, 1978). Também surpreende, mas sem contagiar tanto, a abordagem do r & b Ain't no Sunshine (Bill Withers, 1971) em ritmo que tangencia a levada do reggae. E, surpresa por surpresa, a causada pela aparição no roteiro de Swing de Campo Grande (Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Galvão, 1972) é boa, mas também é má pelo fato de o cancioneiro d'Os Novos Baianos ser referência fundamental do universo de ninguém menos do que ela, Marisa Monte, influência presente em demasia num show cuja direção musical, elegante e contemporânea, recusa mudernices para não tirar o foco da voz e do repertório (pop)ular de Monique Kessous. A banda é boa, a cantora é boa, enfim, o show é bom, apesar do bis morno com Tempo - música de 2010, assinada por Kessous com Charles Silva - e O tic-tac do meu coração (Alcyr Pires Vermelho e Valfrido Silva, 1935). Contudo, enquanto o fantasma da comparação com Marisa Monte continuar rondando Monique Kessous, a compositora da linda valsa Noites sem luar (Monique Kessous, Denny Kessous e Fernanda Shcolnik, 2010) - apresentada no show de 26 de abril em inebriante dueto com Moska - não vai marcar a própria identidade no país das cantoras. Uma pena, já que, ao cantar o xote-rock Revendo amigos (Jards Macalé e Waly Salomão, 1972) em clima de baioque, Monique Kessous mostra que também seduz o espectador quando consegue ser somente... Monique Kessous.
20 comentários:
Foi obra do acaso, mas pareceu até provocação: no momento em que o público começou a ocupar as mesas do Teatro Rival, para ver o show apresentado por Monique Kessous na noite de 26 de abril de 2011, começou a tocar Ainda Lembro, gravação feita por Marisa Monte para seu álbum Mais (1991). Acaso se transformou em ironia pelo fato de o (bom) show reiterar e acentuar a espantosa semelhança de Kessous com Marisa, já evidente no terceiro álbum da cantora, Monique Kessous, produzido por Rodrigo Vidal e lançado em novembro de 2010 pela Sony Music. No show, essa incômoda similaridade salta não somente aos ouvidos - pelas vozes de timbres parecidos e pela maneria de cantar - mas também aos olhos. Dona de beleza esbelta, Kessous lembra Marisa por esse porte esguio e até pela postura corporal em cena - o uso das mãos, por exemplo, remente ao gestual da artista que, em maior ou menor escala, tem servido de matriz para as cantoras surgidas a partir de 1990. Basta ver um registro audiovisual de números do show como Coração (Monique Kessous) e o medley que agrega A Quantas Anda (Monique Kessous) e Levo a Minha Vida Assim (Monique Kessous) para comprovar essa semelhança que ultrapassa o estágio de mera influência. Se esse vínculo com Marisa for natural, é preciso trabalhar a postura cênica de Kessous para diminuí-lo. Se for estratégia da gravadora Sony Music (que fez mistério sobre a identidade de Kessous ao lançar o single de Frio), esse marketing precisa ser repensado. Até porque o show ratifica o talento da artista carioca como cantora e como compositora.
Como cantora, Kessous já exibe segurança precoce em cena. É uma cantora de verdade, afinada, sem truques de estúdio que dá a impressão de ter tido formação lírica. Como compositora, ela parece ter bom domínio do idioma pop, com ênfase na canção popular romântica - gênero com o qual dialoga, por exemplo, sua música Calma Aí, alocada no roteiro após a melodiosa Frio, hit radiofônico por excelência. Não foi por acaso que um dos números mais aplaudidos do show foi sua releitura de Espumas ao Vento (Acyoli Neto), tema popular abordado com classe por Kessous. A propósito, sempre que canta repertório alheio, Kessous o faz com personalidade. Na sua voz de soprano, o frevo Bloco do Prazer (Moraes Moreira e Fausto Nilo) sai mais devagar para que se possa apreciar a letra. Disritmia (Martinho da Vila, 1974) também reaparece com pulsação diferente da habitual num dos poucos números que Kessous mostra que, se quiser, pode se distanciar da matriz-Marisa. Em contrapartida, o clima portenho da abordagem de Sonhos (Peninha) se diluiu no show. De todo modo, Sonhos já soa batida após tantas interpretações. Kessous contagia mais quando, longe da obviedade, rebobina com suingue Qual É, Baiana? (Moacyr Albuquerque e Caetano Veloso), tema lançado por Caetano Veloso no compacto duplo O Carnaval do Caetano (1971) e regravado por Gal Costa sete anos depois no disco Água Viva (1978). Também surpreende, mas sem contagiar tanto, a abordagem do r & b Ain't no Sunshine (Bill Withers) em ritmo que tangencia a levada do reggae. E, surpresa por surpresa, a causada pela aparição no roteiro de Swing de Campo Grande (Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Galvão) é boa, mas também má pelo fato de o cancioneiro d'Os Novos Baianos ser referência fundamental do universo de ninguém menos do que ela, Marisa Monte, influência presente em demasia num show cuja direção musical, elegante e contemporânea, recusa mudernices para não tirar o foco da voz e do repertório (pop)ular de Monique Kessous. A banda é boa, a cantora é boa, enfim, o show é bom (apesar do bis morno com Tempo e O Tic Tac do meu Coração). Contudo, enquanto o fantasma da comparação com Marisa Monte continuar rondando Monique Kessous, a compositora da linda valsa Noites sem Luar (Monique Kessous, Denny Kessous e Fernanda Shcolnik) - apresentada no show de 26 de abril em inebriante dueto com Moska - não vai marcar sua identidade no país das cantoras. Uma pena, já que, ao cantar o xote-rock Revendo Amigos (Jards Macalé e Waly Salomão) em clima de baioque, Monique Kessous mostra que tamnbém consegue ser apenas... Monique Kessous.
Antes de escutar esse último disco da Kessous não notava a semelhança com a Marisa, escutava as músicas dos outros discos e sempre achava distante.
Mas quando escutei o disco lançado ano passado me espantei muito, Kessous faz algumas notas exatamente igual a Marisa, semelhança espantosa mesmo. Obviamente q esse espanto deve-se ao fato de n ser uma coisa forçada.
Enfim, uma maravilha ter conhecido (através desse blog, iclusive)essa cantora e compositora maravilhosa!
Se for "marquetingue", como disse o Mauro, deve - tb ao ver - ser repensado.
Eu, por exemplo, fico sem o mínimo interesse. Mas, enfim, não sei qual o público alvo que eles pensam. Há muitos incautos por aí.
Agora, é incrível o poder/influência que a Marisa exerce em todas essas mocinhas cantantes.
É por isso que sou fanzaço de Céu!
Mas mesmo Céu - que não emula seu som, sua fórmula(samba e sons contemporâneos) ou seu gestual - a tem como referência na postura fora dos palcos.
Marisa está no imaginário das mocinhas como exemplo a ser seguido. Seja de um modo ou de outro.
Nao vamos esquecer (e todo mundo sabe disso muito bem), Marisa começou sendo MUITO comparada com Gal Costa, no canto, gestual, fotos, roupas etc. Depois de um bom tempo se distanciou. Concordo com uma coisa, a semelhança do último álbum da Kessous é grande com a Marisa Monte. O que fica é que Gal Costa é ÚNICA, seu canto, timbre, gestuais e etc sao únicos, nunca foi parecido com ninguém, sempre teve personalidade, podem dizer o que quiserem dela, menos isso. Gal sempre Gal.
Cara... complicado esse lançe de copia. Até pq Kessous e Marisa nem são tão diferentes assim em idade. Pode-se dizer que elas possuem referências parecidas e (in)felizmente timbres semelhantes. Amo a Marisa, mas sinceramente tenho achado a Monique melhor do que ela. Achei seu disco lançado pela Sony muitoo coeso, e maravilhoso de se escutar. E no mais quem ganha somos nós, em ter nesse país duas cantoras, compositoras no nipe de MArisa e Monique. Se é copia ou nao, eu sou super fã da Monique... mas como dito, é preciso rever esse conceito!
Monique é muito mais bonita que Marisa. Realmente nesse último cd ta muito parecida, especialmente nos UUUhhh UUUhhh UUHhhh que a Marisa adora fazer
Não siga a seta: Gal Gosta < Marisa Monte < Adriana Calcanhotto < Vanessa da Mata < Roberta Sá < Monique Kessous...
Haja complexo de inferioridade.
Comparações demais! Cansa a beleza de qualquer um! Putz, até tu Mauro!
Fato q isso de achar q a Marisa está acima de todas e EM todas é insuportável! Algo "Fã de Elis Regina". Marisa é incrível/absurda/maravilhosa e eu amo. Mas é mto desagradável ficar lendo TODAS as cantoras serem comparadas à Marisa! Sempre penso que as pessoas tem um check list com tooodas as características da Maria e fica, item-à-item buscando semelhanças com as outras cantoras. Pq n é possível. É preciso entender q as pessoas SÃO parecidas e tem as mesmas possibilidades. Não é difícil comparar, o difícil é aceitar q Marisa pode n ser aceita, q alguém possa nunca ter visto um show da mesma ou escutado um disco inteiro!
Certa vez saiu na Veja uma matéria sobre cantoras e tinha a geração: Imitadoras de Marisa Monte, na qual até Cássia Eller se encontrava!
Complicado...
Das resenhas mais absurdas que eu já li... Há mais referências a Marisa Monte que ao show resenhado! O que um ego inflado não faz... Já virou patologia o fato de enxergar Marisa Monte em tudo e em todas.
Falar de Monique Kessous relacionando-a a uma "matriz-Marisa" é um desrespeito desmedido! Há muito que a bajulação é explícita, mas chegar a tal nível é um pouco demais... A própria Marisa deve rir de absurdos como esse.
Só pra constar, sou fã de Marisa e grande admirador de sua obra, apesar de considerar os dois últimos discos uma porcaria, a não ser pelas intervenções de Adriana Calcanhotto. Em se tratando de Marisa Monte, admiração pode ser sinônimo de fanatismo. Esta resenha que o diga...
Enfim, não sei se o comentário será aceito, mas decerto que será lido, pelo menos.
Falar de música sem comparação é como falar de futebol sem gozação.
Coisa de gente chata.
PS: KL Talibã, eu sigo a seta até a quarta curva.
Então continuem comparando, acho que a Marina de La Riva também deve ser uma cópia barata da Super Hiper Mega MARISA MONTE!!!!
Não vi o show mas tem cabimento essas comparações. Monique - que eu gosto - é a cantora que mais lembra Marisa Monte. Tirou o lugar que era da Roberta Sá ...
Outras que (me) lembram Marisa Monte: Carmina Juarez,Alexia Bomtempo e Vanessa da Matta ( em especial quando ouço "Ainda Bem"). O engraçado é que Anna Ratto e Eliana Printtes,por exemplo, são fãs declaradas de Marisa Monte mas não a copiam no canto,divisões e posturas cênicas ...
Soube que algumas cantoras de timbres graves como Cassia Eller,Zélia Duncan e Ivete Sangalo tiveram alguns albuns e/ou gravações inspirados (?)nos de Marisa Monte.
Falando em comparaçoes. Tava vendo uma entrevista com a Monique, ela falando tem a voz identica com a Roberta Sa, o sorriso tb.
Zé Henrique,
Adorei o cognome "Talibã da Música"! Originalidade é tudo, e clone de clone não está com nada.
Gente, o Diogo tá certo. Sei que o Mauro endeusa a Marisa, um arroto dela deve ser música pros ouvidos dele. Agora, ouvi Frio, a música da Monique, e acho igual a Marisa mesmo. Não sei se é de propósito, mas que é igual, é. Não vi o show,logo não posso fazer comparação de gestual. Mas a semelhança do canto vai além da mera influência. Não dá pra culpar o Mauro, não.
Quem se inspira, imita ou tem timbre parecido com a minha musa Marisa já é ótima cantora pra mim. Gosto da Kessous desde quando gravou sucessos dos Beatles em ritmo de bossa nova no CD “Liverpool Bossa". Melhor do que se inspirar em axezeiras baianas, que já deu o que tinha que dar. Toda voz linda e afinada é bem-vinda, sobretudo com o repertório bacana.
Só ontem conheci o trabalho da Monique e cheguei ao seu blog porque me espantou o fato de, ser um admirador das cantoras brasileiras, incluindo as recém chegadas, e nunca, repito, nunca, ter escutado sequer falar de MK. Parabéns pela crítica respeitosa e honesta, vi vários vídeos da Monique de ontem para cá e a absurda semelhança mais me apavora do que atrai. O final da sua crítica diz tudo: Quando ela se descolar de MM será simplesmente MK e será maravilhosa. Esperemos com celeridade. Abraços
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