Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Show mostra que Spindel precisa de direção fora da trilha dos musicais

Resenha de show
Título: Dentro do meu Olhar
Artista: Roberta Spindel (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Fashion Mall (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 5 de abril de 2011
Cotação: * 1/2
Show em cartaz às quintas-feiras de abril de 2011 na casa Lapinha (Rio de Janeiro, RJ)

Revelada no musical Por uma Noite - Um Sonho nos Bastidores da Broadway, sucesso do teatro carioca em 2010, Roberta Spindel tem boa voz. Mas essa voz potente e afinada ainda não fez de Spindel um boa cantora. O show de lançamento de seu CD Dentro do meu Olhar - que estreou no Teatro Fashion Mall, na noite de 5 de abril de 2011 - indica que a cantora ainda tem um longo caminho a percorrer fora da trilha dos musicais. Embora ostente produção rica, assinada por Max Pierre, o disco é ruim e soa velho por seguir os já desgastados padrões radiofônicos em voga na indústria fonográfica antes da devastação causada pelas piratarias física e virtual. Já o show não desfaz a má impressão. No roteiro, Spindel continua se debatendo entre a MPB e a canção sentimental mais trivial. Mas falta maturidade no canto e, sobretudo, um entendimento do significado das músicas que interpreta, desperdiçando sua voz. Ao juntar dois sucessos de Tim Maia (1942 - 1998) em 1970, Azul da Cor do Mar e Primavera, Spindel ignora toda a melancolia que há no primeiro e desbota Azul da Cor do Mar. Talvez pela falta de um diretor de teatro, que lhe ensinasse o real sentido das letras, a cantora entoa o rock Se Você Pensa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968) com mais alegria do que atitude. Da mesma forma que joga mais técnica do que real emoção em Esquinas (Djavan, 1984) e em Se Eu Quiser Falar com Deus (Gilberto Gil, 1981). Como 2 e 2 (Caetano Veloso, 1971) ainda ganha colorido especial pela harmoniosa combinação da voz de Spindel com o canto de seus dois vocalistas. Mas o primeiro momento realmente bom do show vem com Black Is Beautiful (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1971). O número começa minimalista - somente com a voz de Spindel e os teclados de Dudu Trentin - e vai ganhando intensidade e outros instrumentos à medida em que avança. Menos pode ser (bem) mais no caso de uma cantora que peca por excessos e que parece de fato fora de sintonia ao cantar Ando Meio Desligado (Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, 1970). Fora da seara dos sucessos, a única canção digna de nota é Pra te Lembrar (Nei Lisboa), que tem todo jeito de hit. Somente no fim, quando revive And I Am Telling You I'm Not Going (canção da versão original do musical Dreamgirls que era o grande momento de Spindel na encenação de Por uma Noite), Spindel mostra alguma emoção e um entendimento pleno da música sobre a qual dispara sua artilharia vocal. Talvez pelo fato de essa música e essa emoção já ter sido trabalhada em cena. Enfim, apesar de toda sua segurança vocal, Roberta Spindel precisa trabalhar muito sua interpretação em cena - algo que pode ser resolvido com a entrada em cena de um diretor - e também decidir qual linha de repertório vai realmente adotar. Do contrário, vai continuar sendo uma cantora que tem somente a potência vocal para exibir, casos de Tânia Mara e de Marina Elali.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Revelada no musical Por uma Noite - Um Sonho nos Bastidores da Broadway, sucesso do teatro carioca em 2010, Roberta Spindel tem boa voz. Mas essa voz potente e afinada ainda não fez de Spindel um boa cantora. O show de lançamento de seu CD Dentro do meu Olhar - que estreou no Teatro Fashion Mall, na noite de 5 de abril de 2011 - indica que a cantora ainda tem um longo caminho a percorrer fora da trilha dos musicais. Embora ostente produção rica, assinada por Max Pierre, o disco é ruim e soa velho por seguir os já desgastados padrões radiofônicos em voga na indústria fonográfica antes da devastação causada pelas piratarias física e virtual. Já o show não desfaz a má impressão. No roteiro, Spindel continua se debatendo entre a MPB e a canção sentimental mais trivial. Mas falta maturidade no canto e, sobretudo, um entendimento do significado das músicas que interpreta, desperdiçando sua voz. Ao juntar dois sucessos de Tim Maia (1942 - 1998) em 1970, Azul da Cor do Mar e Primavera, Spindel ignora toda a melancolia que há no primeiro e desbota Azul da Cor do Mar. Talvez pela falta de um diretor de teatro, que lhe ensinasse o real sentido das letras, a cantora entoa o rock Se Você Pensa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968) com mais alegria do que atitude. Da mesma forma que joga mais técnica do que real emoção em Esquinas (Djavan, 1984) e em Se Eu Quiser Falar com Deus (Gilberto Gil, 1981). Como 2 e 2 (Caetano Veloso, 1971) ainda ganha colorido especial pela harmoniosa combinação da voz de Spindel com o canto de seus dois vocalistas. Mas o primeiro momento realmente bom do show vem com Black Is Beautiful (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1971). O número começa minimalista - somente com a voz de Spindel e os teclados de Dudu Trentin - e vai ganhando intensidade e outros instrumentos à medida em que avança. Menos pode ser (bem) mais no caso de uma cantora que peca por excessos e que parece de fato fora de sintonia ao cantar Ando Meio Desligado (Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, 1970). Fora da seara dos sucessos, a única canção digna de nota é Pra te Lembrar (Nei Lisboa), que tem todo jeito de hit. Somente no fim, quando revive And I Am Telling You I'm Not Going (canção da versão original do musical Dreamgirls que era o grande momento de Spindel na encenação de Por uma Noite), Spindel mostra alguma emoção e um entendimento pleno da música sobre a qual dispara sua artilharia vocal. Talvez pelo fato de essa música e essa emoção já ter sido trabalhada em cena. Enfim, apesar de toda sua segurança vocal, Roberta Spindel precisa trabalhar muito sua interpretação em cena - algo que pode ser resolvido com a entrada em cena de um diretor - e também decidir qual linha de repertório vai realmente adotar. Do contrário, vai continuar sendo uma cantora que tem somente a potência vocal para exibir, casos de Tânia Mara e de Marina Elali.

anderson_marx disse...

Mauro, ainda não vi sua resenha do cd de Patricia Marx e Bruno E. Já ouviu? Vai postar?

Denilson Santos disse...

Eu já não tinha gostado do cd...

Que pena.. Fico triste, pois torço sempre para que os novos artistas tragam algo bacana pra se apreciar. Parece que não é o caso.

abração,
Denilson