Título: Ensaio de Cores
Artista: Ana Carolina (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 13 de maio de 2011
Cotação: * * * 1/2
Show em cartaz até sábado, 14 de maio de 2011, na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ)
Ana Carolina sempre assumiu posições na música e na vida, despertando amores e ódios na mesma intensa proporção de seu canto grave. Celebração da mulher, explicitada já na música inspiradora As Telas e Elas, o show Ensaio de Cores expõe o tom forte com que esta cantora e compositora se joga na música e no palco. Em cena, há apenas mulheres. Um trio feminino formado por Délia Fischer (piano), Gretel Paganini (violoncelo) e LanLan (percussão) reforça a intenção básica do show que voltou esta semana ao Rio de Janeiro (RJ) com o mesmo molde original (clique aqui para ler a resenha da estreia carioca de Ensaio de Cores). É um show coeso, de roteiro mais sedutor do que o do espetáculo anterior N9ve (2009), apesar de toda a parafernália hi-tech deste show dirigido por Bia Lessa. Talvez porque, em Ensaio de Cores, Ana Carolina se exponha mais como intérprete - e ela é boa intérprete de músicas alheias. A ironia com que encara os versos de Entre Tapas e Beijos - o sucesso da dupla Leandro & Leonardo que Ana entrelaça em inusitado pot-pourri com músicas compostas com aura intencionalmente kitsch por Chico César (Feriado) e Tom Zé (O Amor É Rock) - expõe sua habilidade para revelar nuances em obras dos outros. É essa intérprete sagaz que redesenha Azul (Djavan) em outros tons - em número de voz & baixo, pilotado pela própria Ana - e que esculpe Violão (Sueli Costa e Paulo César Pinheiro) com cores suaves e seresteiras que indicam que, no caso dessa cantora passional pela própria natureza, menos é quase sempre mais. É fato que Rai das Cores (Caetano Veloso) ainda desbota com Ana, apesar de o número soar superior em relação à estreia carioca de Ensaio das Cores. Mas é fato também que Todas Elas Juntas num Só Ser (Lenine e Carlos Rennó) já parece feita para ela. Assim como a voz tamanha da cantora se ajusta bem a Força Estranha (Caetano Veloso). Já a compositora - cuja produção resultou irregular em seus dois últimos álbuns de estúdio - dá algum sinal de recuperação ao juntar forças com o inspirado Edu Krieger no bom samba Pra Tomar Três. Enfim, Ana Carolina está em momento decisivo. É uma artista que ainda canta para casas cheias, mas que já parece ter vivido seu pico de popularidade. Ensaio de Cores expõe uma artista que soa mais interessante quando não carrega nas tintas para tentar manter essa popularidade. Tomara que esse show seja o prenúncio de um próximo álbum mais revigorante, sem o tom moderninho e artificial de N9ve e com músicas realmente relevantes. A abertura de uma parceria com Guinga - não incluída no show, mas já gravada pelos artistas para o CD da trilha sonora de filme ainda inédito - indica que ainda está em tempo de Ana Carolina recuperar o tempo perdido com hits populistas e redesenhar sua imagem e sua obra em tela tão bela quando as que pinta e expõe no saguão das casas em que apresenta Ensaio de Cores.
6 comentários:
Ana Carolina sempre assumiu posições na música e na vida, despertando amores e ódios na mesma intensa proporção de seu canto grave. Celebração da mulher, explicitada já na música inspiradora As Telas e Elas, o show Ensaio de Cores expõe o tom forte com que esta cantora e compositora se joga na música e no palco. Em cena, há apenas mulheres. Um trio feminino formado por Délia Fischer (piano), Gretel Paganini (violoncelo) e LanLan (percussão) reforça a intenção básica do show que voltou esta semana ao Rio de Janeiro (RJ) com o mesmo molde original (clique aqui para ler a resenha da estreia carioca de Ensaio de Cores). É um show coeso, de roteiro mais sedutor do que o do espetáculo anterior N9ve (2009), apesar de toda a parafernália hi-tech deste show dirigido por Bia Lessa. Talvez porque, em Ensaio de Cores, Ana Carolina se exponha mais como intérprete - e ela é boa intérprete de músicas alheias. A ironia com que encara os versos de Entre Tapas e Beijos - o sucesso da dupla Leandro & Leonardo que Ana entrelaça em inusitado pot-pourri com músicas compostas com aura intencionalmente kitsch por Chico César (Feriado) e Tom Zé (O Amor É Rock) - expõe sua habilidade para revelar nuances em obras dos outros. É essa intérprete sagaz que redesenha Azul (Djavan) em outros tons - em número de voz & baixo, pilotado pela própria Ana - e que esculpe Violão (Sueli Costa e Paulo César Pinheiro) com cores suaves e seresteiras que indicam que, no caso dessa cantora passional pela própria natureza, menos é quase sempre mais. É fato que Rai das Cores (Caetano Veloso) ainda desbota com Ana, apesar de o número soar superior em relação à estreia carioca de Ensaio das Cores. Mas é fato também que Todas Elas Juntas num Só Ser (Lenine e Carlos Rennó) já parece feita para ela. Assim como a voz tamanha da cantora se ajusta bem a Força Estranha (Caetano Veloso). Já a compositora - cuja produção resultou irregular em seus dois últimos álbuns de estúdio - dá algum sinal de recuperação ao juntar forças com o inspirado Edu Krieger no bom samba Pra Tomar Três. Enfim, Ana Carolina está em momento decisivo. É uma artista que ainda canta para casas cheias, mas que já parece ter vivido seu pico de popularidade. Ensaio de Cores expõe uma artista que soa mais interessante quando não carrega nas tintas para tentar manter essa popularidade. Tomara que esse show seja o prenúncio de um próximo álbum mais revigorante, sem o tom moderninho e artificial de N9ve e com músicas realmente relevantes. A abertura de uma parceria com Guinga - não incluída no show, mas já gravada pelos artistas para o CD da trilha sonora de filme ainda inédito - indica que ainda está em tempo de Ana Carolina recuperar o tempo perdido com hits populistas e redesenhar sua imagem e sua obra em tela tão bela quando as que pinta e expõe no saguão das casas em que apresenta Ensaio de Cores.
Adorei a delicadeza da resenha para com o projeto, a Ana e sua carreira, Mauro.
Vi o "Ensaio de Cores" três vezes (os 2 dias de estréia no Rio e, mais recentemente, aqui em Brasília dia 29/04)o projeto é muito especial, é muita arte, é muita Ana!
As telas são lindas, muitas muito impactantes como a - já vendida - "Traição", que Ana pintou com o próprio sangue.
No show Ana acerta em tudo, mais intensamente delicada ou delicadamente intensa que nunca! A banda é um show à parte, fodástica! O roteiro consegue mostrar a grandiosidade da intérprete, a sensibilidade e qualidade da compositora, e a (multi)instrumentista super competente. Imperdível!
p.s.: Definitivamente nunca entenderei os critérios dessas cotações!
Ouvi Ana cantando Força estranha no show do Roberto Carlos e gostei, mas a música dela me cansa a beleza...
Concordo que Ana ganha muito quando baixa o tom. E, realmente, a compositora andou derrapando feio, embora tenha algumas composições bem impactantes.
Ana Carolina é diva e ponto .
Concordo com o Beato Léo. Ana Carolina acima de tudo é uma DIVA e ponto final.
Se ela derrapou ou não, só sei que ela sempre arrasa...
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