Mauro Ferreira no G1

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domingo, 29 de maio de 2011

Exceto por 'Passarela', Martins desfila o óbvio (com elegância) em 'SPB'

Resenha de CD
Título: Samba Popular Brasileiro - SPB
Artista: Augusto Martins
Gravadora: Mills Record
Cotação: * * 1/2

Posto em escaninho à parte do som que se convencionou chamar de MPB, o samba é o ritmo popular que identifica o Brasil no imaginário (inter)nacional - até porque, em essência, a globalizada bossa nova nada é mais do que uma estilização da batida do samba. Bom cantor carioca, nascido num dos berços do samba, Augusto Martins cria a sigla SPB, parte do título de seu álbum Samba Popular Brasileiro. O disco começa de forma esplêndida com belo e obscuro samba de Carlos Dafé, Passarela, lançado por Nana Caymmi em 1975 - no primeiro dos dois LPs que fez para a gravadora Cid - e registrado pelo compositor em 1979 no álbum Malandro Dengoso. Contudo, à medida que avança, o CD vai se tornando um desfile de obviedades. Em vez de pescar mais pérolas raras no baú do samba, em garimpo que poderia resultar em disco de fato importante, Martins solta sua voz afinada em temas já exaustivamente cantados. Por mais que a produção musical e os arranjos do violonista Josimar Monteiro procurem dar um toque de originalidade aos registros, como a batida do ijexá inserida com propriedade em Dois de Fevereiro (Dorival Caymmi, 1957), Samba Popular Brasileiro acaba soando como mais um dos tantos discos dedicados ao gênero. Mas, justiça seja feita, as abordagens são elegantes. Até porque Martins nunca cantou tão bem como neste CD em que põe sua voz em clássicos como o Samba do Avião (Tom Jobim, 1962) - que voa no sopro do trompete de Roberto Marques - e Feitio de Oração (Noel Rosa e Vadico, 1933). O registro dessa obra-prima de Noel e Vadico expõe a afinação exemplar do cantor neste disco que peca somente pelo repertório déjà vu. Até porque o time de músicos colaboradores é formado por craques como o violonista Zé Paulo Becker, convidado de Samba e Amor (Chico Buarque, 1969) e Você Não Entende Nada (Caetano Veloso, 1972). Outro destaque, dentro do repertório óbvio, é Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966), que, na gravação de Martins, soa menos solene, menos afro e mais samba. Enfim, o cantor é bom, os sambas são de linhagem nobre e os arranjos são elegantes. Só que a opção por repertório tão batido impede que Samba Popular Brasileiro seja o grande disco que Augusto Martins ainda não fez. 

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Posto em escaninho à parte do som que se convencionou chamar de MPB, o samba é o ritmo popular que identifica o Brasil no imaginário (inter)nacional - até porque, em essência, a globalizada bossa nova nada é mais do que uma estilização da batida do samba. Bom cantor carioca, nascido num dos berços do samba, Augusto Martins cria a sigla SPB, parte do título de seu álbum Samba Popular Brasileiro. O disco começa de forma esplêndida com belo e obscuro samba de Carlos Dafé, Passarela, lançado por Nana Caymmi em 1975 - no primeiro dos dois LPs que fez para a gravadora Cid - e registrado pelo compositor em 1979 no álbum Malandro Dengoso. Contudo, à medida que avança, o CD vai se tornando um desfile de obviedades. Em vez de pescar mais pérolas raras no baú do samba, em garimpo que poderia resultar em disco de fato importante, Martins solta sua voz afinada em temas já exaustivamente cantados. Por mais que a produção musical e os arranjos do violonista Josimar Monteiro procurem dar um toque de originalidade aos registros, como a batida do ijexá inserida com propriedade em Dois de Fevereiro (Dorival Caymmi, 1957), Samba Popular Brasileiro acaba soando como mais um dos tantos discos dedicados ao gênero. Mas, justiça seja feita, as abordagens são elegantes. Até porque Martins nunca cantou tão bem como neste CD em que põe sua voz em clássicos como o Samba do Avião (Tom Jobim, 1962) - que voa no sopro do trompete de Roberto Marques - e Feitio de Oração (Noel Rosa e Vadico, 1933). O registro dessa obra-prima de Noel e Vadico expõe a afinação exemplar do cantor neste disco que peca somente pelo repertório déjà vu. Até porque o time de músicos colaboradores é formado por craques como o violonista Zé Paulo Becker, convidado de Samba e Amor (Chico Buarque, 1969) e Você Não Entende Nada (Caetano Veloso, 1972). Outro destaque, dentro do repertório óbvio, é Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966), que, na gravação de Martins, soa menos solene, menos afro e mais samba. Enfim, o cantor é bom, os sambas são de linhagem nobre e os arranjos são elegantes. Só que a opção por repertório tão batido impede que Samba Popular Brasileiro seja o grande disco que Augusto Martins ainda não fez.

Luca disse...

Nana lançando samba de Dafé? Isso é novidade pra mim...

essa crítica tá incoerente, se diz que a interpretação do cara é boa, não pode ser só duas estrelas e meia. Aí é querer sujeitar o artista ao que você acha que tem ser o repertório...