Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


terça-feira, 31 de maio de 2011

Ora sensual, ora dark, 'Born This Way' não tira Gaga da pista de Madonna

Resenha de CD
Título: Born This Way
Artista: Lady Gaga
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * *

Foi muito barulho por nada assim tão novo para quem já conhece a dobradinha The Fame / The Fame Monster. O lançamento do segundo álbum de Lady Gaga, Born This Way, agitou a indústria fonográfica em escala mundial neste mês de maio de 2011 - com direito a pane na página da loja virtual Amazon no dia do lançamento. Forjada pela própria artista, hábil no manuseio das redes sociais como instrumentos de autopromoção, a expectativa em torno do disco foi tão alta que Born This Way, de certo modo, resulta decepcionante. Sim, o disco é bom. Gaga evoluiu como letrista e apresenta  pop dance de tom eventualmente épico, urdido com doses bem calculadas de sensualidade, sombras, batidas de eurodance, rock (em especial nos riffs da guitarra que turbina Electric Chapel), disco music (evocada especialmente em Marry the Night), religiosidade marqueteira (Black Jesus + Amen Fashion) e vibe gay (perceptível em Hair, de refrão grudento). E o fato é que, por mais que Gaga esteja no processo de construção de sua própria identidade musical, ainda é dificil ouvir seus discos sem fazer associações com Madonna. A rigor, Born This Way não tira Gaga da pista da Material Girl. E nem é por conta da já debatida semelhança (não tão grande assim, afinal) da faixa-título do álbum com Express Yourself. Tampouco essa associação se dá pela capacidade que Gaga tem de ser e gerar notícia - área no qual Madonna é mestra. Não, a questão é mais profunda. Madonna é ícone dos anos 80 e 90, mas, a rigor, nada criou de novo. Gaga já se impõe como um ícone dos anos 2000 sem também reinventar a roda no mundo pop, mas pelo raro conhecimento das leis desse mundo. Sim, ela sabe criar alguns refrões sedutores - como o de Judas, o fracassado segundo single do álbum, alvo de clipe provocador repleto de signos religiosos (qualquer semelhança mercadológica e ideológica com o vídeo de Like a Prayer também não terá sido mera coincidência) - e também sabe se apropriar de elementos de culturas alheias. Com sua aura flamenca, suas palavras em espanhol e sua latinidade que remete aos sons mexicanos, Americano é faixa que pode bem ser entendida como uma alfinetada no preconceito dos Estados Unidos contra os imigrantes, seus vizinhos que lutam para fazer parte do sonho norte-americano. Em latidude diversa, Scheiße e Government Hooker mergulham no universo techno sem diluir por completo a aura pop que envolve Born This Way. Ora sombrio (como em Bloody Mary), ora sensual (como em Heavy Metal Lover, faixa de textura eletrônica que contraria seu título), Born This Way acaba soando eventualmente repetitivo ao longo das 17 faixas de sua edição especial e mesmo das 14 de sua edição standard. Quem já ouviu The Edge of Glory, por exemplo, tem ideia do som apresentado em boa parte do álbum. Que não é ruim, vale repetir, mas parece já ter vindo ao mundo com uma impressão de déjà vu tamanha foi a expectativa fabricada pela artista. No resumo da ópera dance, Lady Gaga faz sua festa (inegavelmente animada em seus melhores momentos) sem causar a revolução que imagina - ou finge??? - estar fazendo no universo pop.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Foi muito barulho por nada assim tão novo para quem já conhece a dobradinha The Fame / The Fame Monster. O lançamento do segundo álbum de Lady Gaga, Born This Way, agitou a indústria fonográfica em escala mundial neste mês de maio de 2011 - com direito a pane na página da loja virtual Amazon no dia do lançamento. Forjada pela própria artista, hábil no manuseio das redes sociais como instrumentos de autopromoção, a expectativa em torno do disco foi tão alta que Born This Way, de certo modo, resulta decepcionante. Sim, o disco é bom. Gaga evoluiu como letrista e apresenta pop dance de tom eventualmente épico, urdido com doses bem calculadas de sensualidade, sombras, batidas de eurodance, rock (em especial nos riffs da guitarra que turbina Electric Chapel), disco music (evocada especialmente em Marry the Night), religiosidade marqueteira (Black Jesus + Amen Fashion) e vibe gay (perceptível em Hair, de refrão grudento). E o fato é que, por mais que Gaga esteja no processo de construção de sua própria identidade musical, ainda é dificil ouvir seus discos sem fazer associações com Madonna. A rigor, Born This Way não tira Gaga da pista da Material Girl. E nem é por conta da já debatida semelhança (não tão grande assim, afinal) da faixa-título do álbum com Express Yourself. Tampouco essa associação se dá pela capacidade que Gaga tem de ser e gerar notícia - área no qual Madonna é mestra. Não, a questão é mais profunda. Madonna é ícone dos anos 80 e 90, mas, a rigor, nada criou de novo. Gaga já se impõe como um ícone dos anos 2000 sem também reinventar a roda no mundo pop, mas pelo raro conhecimento das leis desse mundo. Sim, ela sabe criar alguns refrões sedutores - como o de Judas, o fracassado segundo single do álbum, alvo de clipe provocador repleto de signos religiosos (qualquer semelhança mercadológica e ideológica com o vídeo de Like a Prayer também não terá sido mera coincidência) - e também sabe se apropriar de elementos de culturas alheias. Com sua aura flamenca, suas palavras em espanhol e sua latinidade que remete aos sons mexicanos, Americano é faixa que pode bem ser entendida como uma alfinetada no preconceito dos Estados Unidos contra os imigrantes, seus vizinhos que lutam para fazer parte do sonho norte-americano. Em latidude diversa, Scheiße e Government Hooker mergulham no universo techno sem diluir por completo a aura pop que envolve Born This Way. Ora sombrio (como em Bloody Mary), ora sensual (como em Heavy Metal Lover, faixa de textura eletrônica que contraria seu título), Born This Way acaba soando eventualmente repetitivo ao longo das 17 faixas de sua edição especial e mesmo das 14 de sua edição standard. Quem já ouviu The Edge of Glory, por exemplo, tem ideia do som apresentado em boa parte do álbum. Que não é ruim, vale repetir, mas parece já ter vindo ao mundo com uma impressão de déjà vu tamanha foi a expectativa fabricada pela artista. No resumo da ópera dance, Lady Gaga faz sua festa (inegavelmente animada em seus melhores momentos) sem causar a revolução que imagina - ou finge??? - estar fazendo no universo pop.

Vitor disse...

Achei o melhor cd da Gaga, mas realmente passa longe da expectativa que ela criou dizendo, entre outras coisas, que estava escrevendo o Hino de sua geração

joeblack disse...

Olá, Mauro. Gosto muito do seu blog e do panorama geral que ele dá sobre a música, sem preconceitos. Gostaria de mostrar pra vc meu material. Sou cantor e produtor e lancei um EP digital. Me desculpe, mas esta foi a única forma que eu encontrei para entrar em contato com vc. Se puder dar um feedback, agradeço! falecomjoeblack@gmail.com.

Abraço.

/Diego Xavier disse...

Não costumam dizer que uma mentira contada várias vezes se torna verdade?

André Luís disse...

Hino da geração?! Gaga é puro (auto)marketing! Só sabe viver se exibindo exoticamente e fazer declarações polêmicas tolas.

Jama disse...

A comparação melhor não seria com a Cher, do que com a Madonna?