Mauro Ferreira no G1

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domingo, 1 de maio de 2011

Outra Teresa Cristina entra em cena para cantar Roberto com Os Outros

Resenha de show
Título: Teresa Cristina & Os Outros Cantam Roberto Carlos
Artista: Teresa Cristina & Os Outros (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 1º de maio de 2011
Cotação: * * * * 1/2

Como Zélia Duncan, Teresa Cristina também pode se transformar em outras. Quem viu a compositora de Cantar no palco do  Teatro Rival (RJ) interpretando marota o fox I Love You (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971) - aliás, revivido por Zélia no show Pelo Sabor do Gesto (2009) - testemunhou a inusitada transformação. Foi uma outra Teresa Cristina que entrou em cena para cantar o repertório de Roberto Carlos com o grupo indie carioca Os Outros em show iniciado já na primeira hora deste domingo, 1º de maio de 2011. Idealizado por ora para ter somente uma única apresentação dentro do projeto Rival  Mais TardeTeresa Cristina & Os Outros Cantam Roberto Carlos vai provavelmente voltar à cena e até ganhar merecido registro ao vivo. "Quero fazer esse show de novo", disse Teresa ao fim do bis, em sintonia com a vontade do público que lotou a pista e as mesas do Teatro Rival. O show é excelente. Tal excelência já começa pelo repertório. O cancioneiro de Roberto Carlos nos anos 60 e 70 é simplesmente irresistível. Tratado com misto de reverência e ousadia pelos Outros, criadores dos inventivos arranjos, esse repertório foi encarado com bravura por uma Teresa Cristina de canto mais exteriorizado, quente e roqueiro. A transformação da intérprete - verdade seja dita - começou em 2009 na gravação ao vivo do show que originou o CD e DVD Melhor Assim. Lá, Teresa já começou a se soltar no palco e até esboçou ar de diva em um ou outro número. Mas nada que se compare a essa outra intérprete que dividiu o palco do Rival com o grupo formado por Botika (voz), Eduardo Sodré (guitarra), Fabiano Ribeiro (bateria), Papel (guitarra), Vitor Paiva (baixo) e Yuri Villar (sopros). No primeiro número, Convite a Roberto Carlos (Chico da Silva, 1983), ainda era a Teresa habitual que estava em cena mostrando um samba desconhecido que romantiza a figura do Rei. Já no segundo, Ilegal, Imoral ou Engorda (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1976), Teresa já era outra, soltando a voz em música dos tempos em que Roberto Carlos era menos politicamente correto e, por isso mesmo, bem mais interessante. Como exemplificado em músicas como Do Outro Lado da Cidade (Helena dos Santos, 1969), os arranjos d'Os Outros flertam com o rock indie ao mesmo tempo em que evocam o som das Jovens Tardes de Domingo - sempre com toques inusitados como a citação de Congênito (Luiz Melodia) no início e no fim de À Janela (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1972) ou o latido de um cachorro simulado ao término de O Portão (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1974). Ou ainda a mistura de rock e galope nordestino que dá outra pegada a Quando (Roberto Carlos, 1967). Em total sintonia com o sexteto, Teresa exteriorizou a interpretação de Como 2 e 2 (Caetano Veloso, 1971) para acompanhar o tom vibrante do arranjo. Trata-se do melhor momento de um show repleto de bons momentos. E talvez por isso mesmo Como 2 e 2 tenha sido a única música repetida - já no segundo bis - na estreia do show. Grande surpresa do roteiro (além evidentemente do samba de Chico da Silva), O Moço Velho (Sílvio César, 1973) reitera a total interação entre cantora e banda. Arranjo e interpretação soam de início econômicos, mas vão ganhando crescente intensidade ao reviver um dos temas mais reflexivos do repertório gravado por Roberto nos anos 70. Na década de 60, o então Rei da Juventude cantou músicas mais ingênuas, algumas até pueris. Mas quem há de resistir a uma canção como Aquele Beijo que te Dei (Edson Ribeiro, 1965)? Ou a um tema tão sincero como E Por Isso Estou Aqui (Roberto Carlos, 1967)? Ninguém que estava no Teatro Rival resistiu. E foi por isso que o show transcorreu em clima de magia. Que quase virou catarse quando, pontuada somente pelo ukelele tocado por Vítor Paiva, Teresa Cristina encarou os versos de Detalhes (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971) com certa ironia, em interpretação que ostentou mais atitude e menos melancolia do que os registros habituais do Rei. Ironia também perceptível na abordagem pouco sensual de Proposta (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1973), um dos números em que a cantora usa uma rosa como elemento cênico. À vontade e feliz, Teresa não se intimidou em cena nem quando se atrapalhou com os versos de Nada Vai me Convencer (Paulo César Barros, 1969), número que ratificou o tom pop roqueiro do show. Em Um Leão Está Solto nas Ruas (Rossini Pinto, 1964), a cantora virou backing-vocal da banda e cedeu o microfone principal para o guitarrista Eduardo Sodré fazer seu  solo como cantor Na sequência, foi a vez de o vocalista Botika solar Muito Romântico (Caetano Veloso, 1977) e Sua Estupidez (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969). É fato que ambas as músicas já ganharam intérpretes bem mais afinados e expressivos que Botika. É fato também que o dueto do cantor com Teresa Cristina em As Curvas da Estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) derrapa ao dissipar toda a melancolia e o espírito soul desta obra-prima do Rei. É fato ainda que Cama e Mesa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981) soa deslocada no roteiro por expor um outro Roberto Carlos, menos inspirado e já no processo inicial de banalização de seu cancioneiro. Mas tudo isso são detalhes pequenos que vão sumir na longa estrada e que não tiram a grandeza do show em que Teresa Cristina se transforma em outra para cantar Roberto Carlos com Os Outros. No fim do bis, quando a turma manda Quero que Vá Tudo pro Inferno (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965), a magia se refaz no palco e na plateia. Detalhes à parte, o show é fantástico, sedutor, vibrante. Numa palavra já usada, irresistível. Teresa Cristina & Os Outros Cantam Roberto Carlos merece voltar à cena como deseja a cantora. E merece até um registro fonográfico ao vivo ou de estúdio. E que tudo mais vá pro inferno!!

13 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Como Zélia Duncan, Teresa Cristina também pode se transformar em outras. Quem viu a compositora de Cantar no palco do Teatro Rival (RJ) interpretando marota o fox I Love You (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971) - aliás, revivido por Zélia no show Pelo Sabor do Gesto (2009) - testemunhou a inusitada transformação. Foi uma outra Teresa Cristina que entrou em cena para cantar o repertório de Roberto Carlos com o grupo indie carioca Os Outros em show iniciado já na primeira hora deste domingo, 1º de maio de 2011. Idealizado por ora para ter somente uma única apresentação dentro do projeto Rival Mais Tarde, Teresa Cristina & Os Outros Cantam Roberto Carlos vai provavelmente voltar à cena e até ganhar merecido registro ao vivo. "Quero fazer esse show de novo", disse Teresa ao fim do bis, em sintonia com a vontade do público que lotou a pista e as mesas do Teatro Rival. O show é excelente. Tal excelência já começa pelo repertório. O cancioneiro de Roberto Carlos nos anos 60 e 70 é simplesmente irresistível. Tratado com misto de reverência e ousadia pelos Outros, criadores dos inventivos arranjos, esse repertório foi encarado com bravura por uma Teresa Cristina de canto mais exteriorizado, quente e roqueiro. A transformação da intérprete - verdade seja dita - começou em 2009 na gravação ao vivo do show que originou o CD e DVD Melhor Assim. Lá, Teresa já começou a se soltar no palco e até esboçou ar de diva em um ou outro número. Mas nada que se compare a essa outra intérprete que dividiu o palco do Rival com o grupo formado por Botika (voz), Eduardo Sodré (guitarra), Fabiano Ribeiro (bateria), Papel (guitarra), Vitor Paiva (baixo) e Yuri Villar (sopros). No primeiro número, Convite a Roberto Carlos (Chico da Silva, 1983), ainda era a Teresa habitual que estava em cena mostrando um samba desconhecido que romantiza a figura do Rei. Já no segundo, Ilegal, Imoral ou Engorda (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1976), Teresa já era outra, soltando a voz em música dos tempos em que Roberto Carlos era menos politicamente correto e, por isso mesmo, bem mais interessante. Como exemplificado em músicas como Do Outro Lado da Cidade (Helena dos Santos, 1969), os arranjos d'Os Outros flertam com o rock indie ao mesmo tempo em que evocam o som das Jovens Tardes de Domingo - sempre com toques inusitados como a citação de Congênito (Luiz Melodia) no início e no fim de À Janela (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1972) ou o latido de um cachorro simulado ao término de O Portão (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1974). Ou ainda a mistura de rock e galope nordestino que dá outra pegada a Quando (Roberto Carlos, 1967). Em total sintonia com o sexteto, Teresa exteriorizou a interpretação de Como 2 e 2 (Caetano Veloso, 1971) para acompanhar o tom vibrante do arranjo. Trata-se do melhor momento de um show repleto de bons momentos. E talvez por isso mesmo Como 2 e 2 tenha sido a única música repetida - já no segundo bis - na estreia do show.

Mauro Ferreira disse...

Grande surpresa do roteiro (além evidentemente do samba de Chico da Silva), O Moço Velho (Sílvio César, 1973) reitera a total interação entre cantora e banda. Arranjo e interpretação soam de início econômicos, mas vão ganhando crescente intensidade ao reviver um dos temas mais reflexivos do repertório gravado por Roberto nos anos 70. Na década de 60, o então Rei da Juventude cantou músicas mais ingênuas, algumas até pueris. Mas quem há de resistir a uma canção como Aquele Beijo que te Dei (Edson Ribeiro, 1965)? Ou a um tema tão sincero como E Por Isso Estou Aqui (Roberto Carlos, 1966)? Ninguém que estava no Teatro Rival resistiu. E foi por isso que o show transcorreu em clima de magia. Que quase virou catarse quando, pontuada somente pelo ukelele tocado por Vítor Paiva, Teresa Cristina encarou os versos de Detalhes (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971) com certa ironia, em interpretação que ostentou mais atitude e menos melancolia do que os registros habituais do Rei. Ironia também perceptível na abordagem pouco sensual de Proposta (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1973), um dos números em que a cantora usa uma rosa como elemento cênico. À vontade e feliz, Teresa não se intimidou em cena nem quando se atrapalhou com os versos de Nada Vai me Convencer (Paulo César Barros, 1969), número que ratificou o tom pop roqueiro do show. Em Um Leão Está Solto nas Ruas (Rossini Pinto, 1964), a cantora virou backing-vocal da banda e cedeu o microfone principal para o guitarrista Eduardo Sodré fazer seu solo como cantor Na sequência, foi a vez de o vocalista Botika solar Muito Romântico (Caetano Veloso, 1977) e Sua Estupidez (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969). É fato que ambas as músicas já ganharam intérpretes bem mais afinados e expressivos que Botika. É fato também que o dueto do cantor com Teresa Cristina em As Curvas da Estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) derrapa ao dissipar toda a melancolia e o espírito soul desta obra-prima do Rei. É fato ainda que Cama e Mesa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981) soa deslocada no roteiro por expor um outro Roberto Carlos, menos inspirado e já no processo inicial de banalização de seu cancioneiro. Mas tudo isso são detalhes pequenos que vão sumir na longa estrada e que não tiram a grandeza do show em que Teresa Cristina se transforma em outra para cantar Roberto Carlos com Os Outros. No fim do bis, quando a turma manda Quero que Vá Tudo pro Inferno (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965), a magia se refaz no palco e na plateia. Detalhes à parte, o show é fantástico, sedutor, vibrante. Numa palavra já usada, irresistível. Teresa Cristina & Os Outros Cantam Roberto Carlos merece voltar à cena como deseja a cantora. E merece até um registro fonográfico ao vivo ou de estúdio. E que tudo mais vá pro inferno!!

Estalactites hemorrágicas disse...

Eu tava lá
MUITO bom
MUUUUUUUUUUUUUUUIIIITO bom
Showzasso

Daniel disse...

Muito boa a crítica sobre o show,Mauro.Mas será que o rei deixaria a Teresa fazer o registro dele?Se por acaso deixar,aposto que exigirá a exclusão de "Que Tudo Mais Vá Pro Inferno"!Mas tomara que não!

Abs!

Eduardo disse...

Muito boa a crítica! Dá vontade de sair correndo pra ver o show.

Diogo Santos disse...

EMOÇÕES,CAMA E MESA,FERA FERIDA,AS BALEIAS,TODAS AS MANHÃS,NÊGA,EU E ELA,NOSSA SENHORA,ELE ESTÁ PRA CHEGAR,ALÔ,QUANDO DIGO QUE TE AMO
AMOR SEM LIMITE,O CONCAVO E O CONVEXO,LUZ DIVINA,DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO,VOCÊ NÃO SABE,ATRIZ,
QUANDO QUERO FALAR COM DEUS,
SE DIVERTE E JÁ NÃO PENSA EM MIM,
MEUS AMORES DA TEVEVISÃO ...

Quantas belas músicas o Rei tem de 80 pra cá né?

Luca disse...

Boa crítica mas cotação incoerente. Se o texto aponta números fracos com o vocalista do grupo, fala mal das 'Curvas de Santos' e fala de erro da cantora na letra, o show tinha que ganhar no máximo quatro estrelas, e olhe lá... Acontece que o Mauro protege certas cantoras, e Teresa é uma dessas protegidas por ele. Na paz...

Bia disse...

Mais meia, menos meia estrela, tanto faz.
Pena que não estava aí pra ter visto o show...
Abraço,
Bia

Ju Oliveira disse...

Valeu pela resenha Mauro! Agora é só esperar novas apresentações...

Diogo Santos disse...

Sou super fã do meu camarada Vitor Paiva - desde os tempos do Comentário Geral, da TVE. Tenho quase todos os livros dele e torço demais pelo seu sucesso!

Sergio disse...

"E por isso estou aqui" é de 1967, Mauro.
Sergio

Mauro Ferreira disse...

Tem razão, Sérgio. Grato por me alertar do erro, já corrigido. Abs, MauroF

Cássia disse...

Tomara que saia em CD e DVD.