Mauro Ferreira no G1

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domingo, 29 de maio de 2011

Registro do show de Gadú com Caetano resiste à exposição da cantora

Resenha de CD e DVD
Título: Multishow ao Vivo - Caetano e Maria Gadú
Artista: Caetano Veloso e Maria Gadú
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2 (CD) e * * * * (DVD)

Seis meses após o lançamento da primeira gravação ao vivo de Maria Gadú, as lojas recebem outro registro de show da cantora - desta vez, feito com ninguém menos do que Caetano Veloso. Originária do convite feito por operadora de TV paga aos cantores, para que se apresentassem juntos em festa, a turnê Duo acabou sendo perpetuada em DVD e CD duplo ao vivo intitulados Caetano e Maria Gadú e editados neste mês de maio de 2011 dentro da série Multishow ao Vivo. Por mais que a superexposição de Gadú esteja desgastando a obra e a imagem da artista, a gravação ao vivo do show se justifica, afinal, por se tratar do registro de uma turnê que junta uma cantora ainda novata - projetada em 2009, há apenas dois anos - com veterano compositor que é um dos pilares da chamada MPB. Para Gadú, Duo representa inegável elevação de status. Para Caetano, a turnê é uma oportunidade de se reconectar a essa MPB mais comportada - sem a sonoridade indie da BandaCê, mote de seus álbuns desde 2006 - e de se fazer ouvir pelo público amplo de Gadú, formado por gente que certamente ignorou os discos gravados pelo artista com a BandaCê. Em outras palavras, ela se beneficia da entidade artística encarnada por ele - e a figura de Caetano Veloso ainda se reveste dessa aura mítica - enquanto ele se beneficia da atual força comercial dela (cantora e compositora que se revelou especialmente inspirada em sua estreia fonográfica, mas que ainda está à espera de uma confirmação que somente vai vir - ou não - com seu segundo disco de estúdio). Gravado ao vivo em 19 de dezembro de 2010, em apresentação de Duo na sede carioca da casa Citibank Hall, Caetano e Maria Gadú se equilibra bem nessa balança que pesa tanto o lado comercial quanto o artístico. Musicalmente, é justo dizer que o show de vozes e violões - captado sob a direção de Rodrigo Vidal e Paul Ralphes - é belo. Duo resulta harmonioso (clique aqui para ler a resenha da apresentação carioca de 5 de dezembro) e conserva sua beleza plástica e musical no registro em DVD, que preserva a ordem original do roteiro ao enfileirar as 26 músicas do show e, nos extras, exibe encorpado making of com entrevistas e trechos de todas as apresentações da turnê Duo. Sim, é fato que o bloco solo de Gadú soa extremamente redundante, já que nem mesmo as fãs mais dedicadas da artista hão de encontrar algum rasgo de originalidade em novos registros ao vivo de músicas como EscudosBela Flor, Dona Cila e Tudo Diferente. Ainda que essas músicas sejam embaladas em formato voz & violão, e não com banda como no recente Multishow ao Vivo da cantora, o único real diferencial na atual abordagem da safra autoral de Gadú acaba sendo a voz de Caetano em Shimbalaiê, entoada pelo cantor sob o olhar emocionado e embevecido da compositora. A parte solo de Caetano pelo menos concilia boas surpresas (De Noite na Cama, Genipapo Absoluto) com obviedades (Sozinho, Desde que o Samba É Samba) enquanto prova que uma música de seu trabalho com a BandaCê, Odeio, ostenta melodia que se garante fora da embalagem indie. Mas é claro que o supra-sumo de Caetano e Maria Gadú são os 11 duetos, todos alocados no disco 1 do CD duplo. Beleza Pura, O Quereres, Sampa, Vaca Profana, Rapte-me, Camaleoa, Trem das Onze (Adoniran Barbosa) O Leãozinho, Odara, Nosso Estranho Amor, Vai LevandoMenino do Rio são os hits revividos em duos tão reverentes quanto sedutores. Irmanados no palco, Caetano e Gadú se harmonizam sob a perenidade de um dos cancioneiros mais belos da música brasileira. Em que pese o desgaste da música e da imagem da cantora, tudo parece dentro da ordem deste Multishow ao Vivo que eterniza a união inusitada de Caetano Veloso com Maria Gadú.

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Seis meses após o lançamento da primeira gravação ao vivo de Maria Gadú, as lojas recebem outro registro de show da cantora - desta vez, feito com ninguém menos do que Caetano Veloso. Originária do convite feito por operadora de TV paga aos cantores, para que se apresentassem juntos em festa, a turnê Duo acabou sendo perpetuada em DVD e CD duplo ao vivo intitulados Caetano e Maria Gadú e editados neste mês de maio de 2011 dentro da série Multishow ao Vivo. Por mais que a superexposição de Gadú esteja desgastando a obra e a imagem da artista, a gravação ao vivo do show se justifica, afinal, por se tratar do registro de uma turnê que junta uma cantora ainda novata - projetada em 2009, há apenas dois anos - com veterano compositor que é um dos pilares da chamada MPB. Para Gadú, Duo representa inegável elevação de status. Para Caetano, a turnê é oportunidade de se reconectar a essa MPB mais comportada - sem a sonoridade indie da BandaCê, mote de seus álbuns desde 2006 - e de se fazer ouvir pelo público amplo de Gadú, formado por gente que certamente ignorou os discos feitos pelo artista com a Banda Cê. Em outras palavras, ela se beneficia da entidade artística encarnada por ele - e a figura de Caetano Veloso ainda se reveste dessa aura mítica - enquanto ele se beneficia da atual força comercial dela (cantora e compositora que se revelou especialmente inspirada em sua estreia fonográfica, mas que ainda está à espera de uma confirmação que somente vai vir - ou não - com seu segundo disco de estúdio). Gravado ao vivo em 19 de dezembro de 2010, em apresentação de Duo na sede carioca da casa Citibank Hall, Caetano e Maria Gadú se equilibra bem nessa balança que pesa tanto o lado comercial quanto o artístico. Musicalmente, é justo dizer que o show de vozes e violões - captado sob a direção de Rodrigo Vidal e Paul Ralphes - é belo. Duo resulta harmonioso (clique aqui para ler a resenha da apresentação carioca de 5 de dezembro) e conserva sua beleza plástica e musical no registro em DVD, que preserva a ordem original do roteiro ao enfileirar as 26 músicas do show e, nos extras, exibe encorpado making of com entrevistas e trechos de todas as apresentações da turnê Duo. Sim, é fato que o bloco solo de Gadú soa extremamente redundante, já que nem mesmo as fãs mais dedicadas da artista hão de encontrar algum rasgo de originalidade em novos registros ao vivo de músicas como Escudos, Bela Flor, Dona Cila e Tudo Diferente. Ainda que essas músicas sejam embaladas em formato voz & violão, e não com banda como no recente Multishow ao Vivo da cantora, o único real diferencial na atual abordagem da safra autoral de Gadú acaba sendo a voz de Caetano em Shimbalaiê, entoada pelo cantor sob o olhar emocionado e embevecido da compositora. A parte solo de Caetano pelo menos concilia boas surpresas (De Noite na Cama, Genipapo Absoluto) com obviedades (Sozinho, Desde que o Samba É Samba) enquanto prova que uma música de seu trabalho com a BandaCê, Odeio, ostenta melodia que se garante fora da embalagem indie. Mas é claro que o supra-sumo de Caetano e Maria Gadú são os 12 duetos, todos alocados no disco 1 do CD duplo. As músicas Beleza Pura, O Quereres, Sampa, Vaca Profana, Rapte-me, Camaleoa, Trem das Onze, O Leãozinho, Odara, Nosso Estranho Amor, Vai Levando, Menino do Rio e Podres Poderes são revividas em duos tão simples quanto sedutores. Irmanados no palco, Caetano e Gadú se harmonizam sob a perenidade de um dos cancioneiros mais belos da música brasileira. Em que pese o desgaste da música e da imagem da cantora, tudo parece dentro da ordem deste Multishow ao Vivo que eterniza a união inusitada de Caetano Veloso com Maria Gadú.

Fabio disse...

Se o DVD e o CD tem quase que o mesmo registro, porque, respectivamente, um recebe 4 estrelas e o outro 3/2?!

Diogo Santos disse...

Brevemente veremos aqui uma nota sobre o novo DVD de Sandra de Sá.Advinha quem está na lista de convidados?

Luca disse...

Caetano com 'aura mítica'?? Agora você se superou, Mauro...

Rhenan Soares disse...

O enjoativo da Gadú é q ela não canta "do jeito dela", ela canta de um jeito só! Acompanho ela desde o my space, antes de lançar o CD. Não vi evolução nenhuma, n vi novidade nenhuma. Uma pena. O DVD vale pelo Caetano, que, somado á ela e aos violões, somente, dão um ótimo resultado no repertório.

Natival disse...

Mauro, "Podres poderes" não é um duo, é um solo de Gadu.

Mauro Ferreira disse...

Tem toda razão, Natival. Relacionei as músicas no embalo sem atentar para este detalhe. Grato pelo alerta. Abs, MauroF

Santana Filho disse...

OK, shimbalaiê para os dois...

Márcio Proença disse...

Por Márcio Proença - Blog Sombaratinho

Ultimamente o conformismo de nossos artistas mais notórios chega a incomodar a muitos de seus apreciadores mais exigentes. Parece que há uma ausência infinda de viceralidade, um fenômeno que se apresenta por décadas em discos e shows de grandes nomes da música brasileira. As regravações de suas obras mais conhecidas muitas das vezes são repletas de repetições e não servem para nada além da função de caça-níquel quer para os artistas, quer para as gravadoras.

O álbum duplo de Caetano Veloso e Maria Gadú "Multishow ao vivo" (Universal/2011) infelizmente não atende aos ouvidos mais atentos. A falta de criatividade e a mesmice imperam ali, mesmo em se tratando de dois grandes nomes da nossa dita EME PE BE. Se bem que isso já era previsto, pois Veloso há tempos não brinda seus fãs com um trabalho ao nível de seus anteriores. Trabalhos aqueles que sempre eram elogiadíssimos pela mídia e público. O baiano parece ter encontrado uma forma de estar sempre dando as caras, mas sempre sem inovações, sem ousadia e quando tenta, é um tanto quanto incompreendido até mesmo por apreciadores veteranos de sua obra.

Com repertório mais batido que massa de pão, os dois artistas não entusiasmam e praticamente não há uma recriação por parte de Veloso em excelentes composições de sua autoria como “O quereres” que também já foi regravado pelo próprio Caetano em seu disco intimista "Totalmente Demais" (Polygram/1986). Um artista de sua popularidade pode se dar ao luxo de fazer excelentes trabalhos bem contrários ao que vem apresentando há mais de uma década.

Para muitos – e para a dupla – era a oportunidade de ver dois artistas notórios fazendo um show com novidades e recriações vicerais, mas não é isso que vemos e sim um trabalho sem sal, feito para vender – se é que vende! – porque – fala sério! – regravar “Sozinho” (Peninha) é praticamente assumir que não quer sair mesmo de uma zona de conforto!

Ouvindo o disco 2, a parte do disco que é dividido por obras de Veloso e Gadú, vê-se que não é chato, é mais interessante que o disco 1 onde há praticamente composições de Caetano que peca por não interpretar o repertório da parceira chegando a ser deselegante apesar de que é ele quem dá o ar de sua graça em “Shimbalaiê” que há de se concordar, é um ponto alto do disco, pois ele tem uma boa voz para composições nesse estilo.

Caetano até surpreende em “Milagres do povo” (Caetano Veloso) – música que fez parte da trilha sonora da antiga minissérie global “Tenda dos Milagres” (Som Livre/1985); “Genipapo absoluto” (Caetano Veloso); “De noite na cama” (Caetano Veloso) regravada por Marisa Monte em seu disco “Mais” (EMI/1991) e pelo próprio Caetano em “Temporada de Verão - ao vivo na Bahia” (Polygram/1974);e “Odeio”(Caetano Veloso).

Já Maria Gadú apresenta uma pequena parte de seu repertório autoral, entretanto, parece não crescer nas interpretações de suas músicas gravadas por ela mesma em seus discos de estréia. Mas em "A história de Lilly Braun" (Chico Buarque/Edu Lobo) que fez parte da trilha da minissérie "Cinquentinha" (Som Livre/2010), dá um show de interpretação e violão. Todas essas apresentadas no disco seguidamente.

Vê-se pelo disco 2 que se o compositor de “Alegria, alegria” e Gadú trilhassem por esse caminho de um repertório menos popular e trabalhado os vocais, o disco poderia ter tido um rendimento mais criativo, menos repetitivo e todo o público agradeceria.