Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


terça-feira, 3 de maio de 2011

Salmaso desfila poesia nas belas melodias do CD 'Alma Lírica Brasileira'

Resenha de CD
Título: Alma Lírica Brasileira
Artista: Mônica Salmaso (com Nelson Ayres e Teco Cardoso)
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2

"Meu Carnaval é desfilar poesia / Na melodia de uma canção", avisa Mônica Salmaso em verso de Carnalvazinho (Meu Carnaval), tema de Lisa Ono e Mario Adnet que abre seu álbum Alma Lírica Brasileira. Trata-se de disco de trio, assinado por Salmaso com Nelson Ayres e Teco Cardoso. A sublinhar o canto preciso de Salmaso - que dispara sutil arsenal percussivo ao longo das 14 faixas - há somente o piano de Ayres e os sopros de Cardoso. É o suficiente para realçar o lirismo de cancioneiro irretocável que pesca pérolas como Promessa de Violeiro (Raul Torres e Celino), embalada na forma de toada, com direito a um tambor de reisado percutido pela intérprete. É fato que faixas como a valsa Lábios que Beijei (J. Cascata e Leonel Azevedo) e Melodia Sentimental (Heitor Villa-Lobos) reiteram a solenidade que pauta, em maior ou menor grau, o canto preciso de Salmaso. Mortal Loucura - belíssima melodia posta por José Miguel Wisnik em poema de Gregório de Matos (1636 - 1695) - roça até a arquitetura de um tema sacro. Tal solenidade alcança seu pico em Derradeira Primavera (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) - quase transformada numa peça de câmara - mas jamais desmerece um disco sedutor e refinado. Até porque há momentos mais descontraídos que deixam o álbum mais equilibrado. O piano de Ayres, as flautas de Cardoso e a frigideira de Salmaso sublinham a verve quase irônica do samba Meu Rádio e Meu Mulato (Herivelto Martins). Em Samba Erudito (Paulo Vanzolini), o mesmo piano de Ayres evoca gracioso o universo da música clássica em sintonia com o título do tema de Vanzolini, adaptador de Cuitelinho, o tema de domínio público recolhido por Antonio Xandó e regravado com lirismo por Salmaso. Além de tocar todos os pianos do disco, Ayres comparece como compositor da bela e inédita valsa Noite e do tema instrumental Veranico de Maio. Sempre entrosado, o trio consegue até recontar com suingue A História de Lily Braun (Chico Buarque e Edu Lobo) - ainda que Salmaso não traga na voz todo o molejo necessário para realçar o tom teatral dos versos do tema do balé O Grande Circo Místico (1983). Ao fim do álbum, quando o Trem das Onze (Adoniran Barbosa) passa mais silencioso por trilhos minimalistas, Alma Lírica Brasileira deixa a certeza de ser fiel à alma musical de uma das melhores cantoras brasileiras de todos os tempos. Com seu canto preciso solene, Mônica Salmaso faz folia ao desfilar poesia nas belas melodias reunidas no disco.

15 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Meu Carnaval é desfilar poesia / Na melodia de uma canção", avisa Mônica Salmaso em verso de Carnalvazinho (Meu Carnaval), tema de Lisa Ono e Mario Adnet que abre seu álbum Alma Lírica Brasileira. Trata-se de disco de trio, assinado por Salmaso com Nelson Ayres e Teco Cardoso. A sublinhar o canto preciso de Salmaso - que dispara sutil arsenal percussivo ao longo das 14 faixas - há somente o piano de Ayres e os sopros de Cardoso. É o suficiente para realçar o lirismo de cancioneiro irretocável que pesca pérolas como Promessa de Violeiro (Raul Torres e Celino), embalada na forma de toada, com direito a um tambor de reisado percutido pela intérprete. É fato que faixas como a valsa Lábios que Beijei (J. Cascata e Leonel Azevedo) e Melodia Sentimental (Heitor Villa-Lobos) reiteram a solenidade que pauta, em maior ou menor grau, o canto preciso de Salmaso. Mortal Loucura - belíssima melodia criada por José Miguel Wisnik sob poema de Gregório de Matos (1636 - 1695) - roça até a arquitetura de um tema sacro. Tal solenidade alcança seu pico em Derradeira Primavera (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) - quase transformada numa peça de câmara - mas jamais desmerece um disco sedutor e refinado. Até porque há momentos mais descontraídos que deixam o álbum mais equilibrado. O piano de Ayres, as flautas de Cardoso e a frigideira de Salmaso sublinham a verve quase irônica do samba Meu Rádio e Meu Mulato (Herivelto Martins). Em Samba Erudito (Paulo Vanzolini), o mesmo piano de Ayres evoca gracioso o universo da música clássica em sintonia com o título do tema de Vanzolini, adaptador de Cuitelinho, o tema de domínio público recolhido por Antonio Xandó e regravado com lirismo por Salmaso. Além de tocar todos os pianos do disco, Ayres comparece como compositor da bela valsa Noite e do tema instrumental Veranico de Maio. Sempre entrosado, o trio consegue até recontar com suingue A História de Lily Braun (Chico Buarque e Edu Lobo) - ainda que Salmaso não traga na voz todo o molejo necessário para realçar o tom teatral dos versos do tema do balé O Grande Circo Místico (1983). Ao fim do álbum, quando o Trem das Onze (Adoniran Barbosa) passa mais silencioso por trilhos minimalistas, Alma Lírica Brasileira deixa a certeza de ser fiel à alma musical de uma das melhores cantoras brasileiras de todos os tempos. Com seu canto preciso solene, Mônica Salmaso faz folia ao desfilar poesia nas belas melodias reunidas no disco.

Luca disse...

Ué, o Mauro não vai falar que a Monica tá a cara da Marisa na capa? Estranhei... Ele vê e ouve Marisa em tudo e em todas ...

lurian disse...

Mauro você não fez menção à única inédita e melhor música do disco: Noite (Nelson Ayres). Carnavalzinho chega a surpreender, pois ainda não a tinha visto cair no frevo. Ainda que o disco esteja bom e Mônica Salmaso tenha um canto preciso e afinadíssimo, tá mais que na hora da bela cantora sair da seara das regravações sem fim ou corre o risco de se tornar uma intérprete sem repertório autoral próprio. Salvo engano já se vão 3 discos praticamente sem lançar músicas. A alma lírica está bela, realçada, mas me dá impressão de dejá vu.

Mauro Ferreira disse...

Lurian, sorry, mas acho que vc não leu o texto com atenção. Eu mencionei 'Noite', sim, na resenha, ressaltando a beleza da música. A única faixa que acabou sendo omitida na crítica é 'Casamiento de Negros'. Abs, MauroF

Sarah Abreu disse...

Adorei a resenha. Assisti ao show e foi espetacular! Estou esperando meu cd chegar pelo correio! Parabéns pelo blog!

Tiago disse...

Não consigo gostar.

Diogo Santos disse...

'Casamiento de Negros' - ao menos ao vivo - é demais.

Estalactites hemorrágicas disse...

Já gostei mais

Ricardo Sérgio

Fabio disse...

Sono :(

KL disse...

há alguma coisa mais lugar-comum do que embalar bolachinha digital com foto "olhando para baixo", com ar "melancólico" e "intenso", em tons de sépia ou afins, redecorado por algum programa do tipo Photoshop? Se o som fizer jus a essa "capa", é bom nem perder tempo para conferir mais uma tributo à depressão "de luxo".

Anônimo disse...

Preguiça total. Repertório óbvio, cantora se levando a serio, vou dormir.

Douglas Carvalho disse...

Acho interessante como determinadas músicas depois de gravadas pela primeira vez ficam anos esquecidas e, de repente, todo mundo mresolve gravar ao mesmo tempo. Depois de Maria Gadú e Teresa Cristina (que, como era de se esperar, com sua despretenção, fez melhor do que a supervalorizada Gadú), é a vez de Mõnica Salmaso regravar "A História de Lili Braun".


Mas ainda bem que foi Mônica quem gravou. Ótima cantora que, graças a Deus, se leva a sério. Tá faltando isso no Brasil. Gente que leve as COISAS em geral à sério. A música então, tá sofrendo com a falta de compromisso do povo do jabá e dos "foge foge Mulher-Maravilha".

Vitor disse...

Até Suzana Vieira gravou "A História de Lili Braun". Ainda cantou ao vivo no Faustao pra tristeza dos telespectadores

Jorge Reis disse...

Monica, volta pra Sampa, sai correndo da Biscoito Fino, volta a ser brejeira, menos solene, mais leve, mais entusiasta...
continuo achando que seu casamento com a BF não deu samba, nem mpb, nem bossa, enfim, não deu em nada...
Continuo gostando e torcendo por vc.

P. M. Carv disse...

Não vou fazer coro com os comentários daqui não. Pra mim, "Alma Lírica" é um cd lindo. Repertório belíssimo, ainda que tenha músicas já batidas (como "Lili Braun" ou "Trem das Onze"). Talvez a interpretação da Mônica não seja tão apaixonada ou sentimental quanto a de outras cantores, mas eu acho primorosa. E acho o cd dela de um requinte impressionante.
Adorei o fato de ela ter recuperado músicas lindas, mas já esquecidas. E ainda por cima tem uma da Violeta Parra...
Bah, pra mim é demais! (em bom sentido)

As 4 estrelas e meia é nada menos do que justo.

Abraços,