Título: Guia
Artista: António Zambujo (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Solar de Botafogo (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 24 de maio de 2011
Cotação: * * * *
Show em cartaz no Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), até 25 de maio de 2011
É difícil não se arrepiar quando o cantor português António Zambujo fecha o bis de seu show Guia com interpretação quase a capella do fado Foi Deus, pontuada somente por acordes minimalistas do baixo do diretor musical Ricardo Cruz. Propagado pelas vozes dos maiores fadistas, o tema de Alberto Fialho Janes e S. Manuel prova que Zambujo tem mesmo o dom divino da voz. Contudo, o cantor lusitano não usa essa voz para seguir com purismo as tradições do fado. Ao contrário. Sem renegá-las, Zambujo vem dando um outro sentido ao gênero mais conhecido da música portuguesa. Inclusive em associações com ritmos brasileiros como a Bossa Nova. No show que estreou em 24 de maio de 2011 no Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), o artista mostrou que sustenta todo o peso e a dor do fado com sua voz, seu sentimento e seu violão que toca somente o essencial (assim como o baixo de Ricardo Cruz, único músico a acompanhar Zambujo em cena). Alocados na primeira das três partes do show, temas como Fadista Louco (outra composição de Alberto Janes) e Janela Virada p'ro Mar (música gravada pelo cantor em seu segundo disco, Por meu Cante, lançado em Portugal em 2004 e ainda inédito no mercado fonográfico brasileiro) carregam toda uma melancolia e uma angústia típicas do fado e valorizadas pela voz do intérprete. Só que há outros mares a serem navegados e, como Zambujo contou ao público que foi vê-lo no Solar de Botafogo em 24 de maio, sua vida musical começou a mudar quando ele tomou contato com a música brasileira através das letras de Vinicius de Moraes (1913 - 1980), dos discos de João Gilberto e das composições de Caetano Veloso e Chico Buarque. Aliás, tal como fez em seu quarto álbum, Guia (2010), Zambujo canta no show uma letra de Vinicius, Apelo (feita para música de Baden Powell), sobre melodia do Fado Perseguição (Carlos da Maia e Avelino de Souza) . Mote da segunda parte do roteiro, o apego de Zambujo à música brasileira faz com que o cantor também saiba encarar o fado com leveza. Nem tanto quando põe seu sentimento de fadista numa valsa doída de clima seresteiro como Lábios que Beijei (J. Cascata e Leonel Azevedo, 1937), mas sobretudo quando, na terceira parte do show, esboça humor ao cantar Zorro (João Monge e João Gil) em tom bossa-novista. Nesse terceiro e último bloco do roteiro, dedicado às músicas do álbum Guia, essa leveza se impõe em cena. O amor descompassa o coração, mas a vida é bela, como sentencia o Fado da Vida Bela (Pedro Luís e Ricardo Cruz). E belo é também o show em que António Zambujo sustenta com a voz o peso e a leveza do fado.
5 comentários:
É difícil não se arrepiar quando o cantor português António Zambujo fecha o bis de seu show Guia com interpretação quase a capella do fado Foi Deus, pontuada somente por acordes minimalistas do baixo do diretor musical Ricardo Cruz. Propagado pelas vozes dos maiores fadistas, o tema de Alberto Fialho Janes e S. Manuel prova que Zambujo tem mesmo o dom divino da voz. Contudo, o cantor lusitano não usa essa voz para seguir com purismo as tradições do fado. Ao contrário. Sem renegá-las, Zambujo vem dando um outro sentido ao gênero mais conhecido da música portuguesa. Inclusive em associações com ritmos brasileiros como a Bossa Nova. No show que estreou em 24 de maio de 2011 no Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), o artista mostrou que sustenta todo o peso e a dor do fado com sua voz, seu sentimento e seu violão que toca somente o essencial (assim como o baixo de Ricardo Cruz, único músico a acompanhar Zambujo em cena). Alocados na primeira das três partes do show, temas como Fadista Louco (outra composição de Alberto Janes) e Janela Virada p'ro Mar (música gravada pelo cantor em seu segundo disco, Por meu Cante, lançado em Portugal em 2004 e ainda inédito no mercado fonográfico brasileiro) carregam toda uma melancolia e uma angústia típicas do fado e valorizadas pela voz do intérprete. Só que há outros mares a serem navegados e, como Zambujo contou ao público que foi vê-lo no Solar de Botafogo em 24 de maio, sua vida musical começou a mudar quando ele tomou contato com a música brasileira através das letras de Vinicius de Moraes (1913 - 1980), dos discos de João Gilberto e das composições de Caetano Veloso e Chico Buarque. Aliás, tal como fez em seu quarto álbum, Guia (2010), Zambujo canta no show uma letra de Vinicius, Apelo (feita para música de Baden Powell), sobre melodia do Fado Perseguição (Carlos da Maia e Avelino de Souza) . Mote da segunda parte do roteiro, o apego de Zambujo à música brasileira faz com que o cantor também saiba encarar o fado com leveza. Nem tanto quando põe seu sentimento de fadista numa valsa doída de clima seresteiro como Lábios que Beijei (J. Cascata e Leonel Azevedo, 1937), mas sobretudo quando, na terceira parte do show, esboça humor ao cantar Zorro (João Monge e João Gil) em tom bossa-novista. Nesse terceiro e último bloco do roteiro, dedicado às músicas do álbum Guia, essa leveza se impõe em cena. O amor descompassa o coração, mas a vida é bela, como sentencia o Fado da Vida Bela (Pedro Luís e Ricardo Cruz). E belo é também o show em que António Zambujo sustenta com a voz o peso e a leveza do fado.
Zambujo é incrível. O "passageiro" do Rodrigo é maravilhoso! Nunca tive oportunidade assistí-los ao vivo, uma pena.
Zambujo não é o primeiro nem o último a fazer essa conexão Brasil-Portugal
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