Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


quinta-feira, 30 de junho de 2011

Filme documenta a caminhada punk dos Inocentes ao longo de 30 anos

Um dos nomes mais importantes da cena punk brasileira, o grupo paulista Inocentes é assunto de documentário que reconstitui a caminhada de Clemente e Cia. a partir de 1981, ano em que a banda começou a fazer seus primeiros ensaios. Dirigido por Duca Mendes (autor da foto que foca Clemente em gravação para o filme) e Carol Thomé, o documentário Inocentes 30 Anos tem lançamento previsto para agosto de 2011. O filme costura imagens antigas e novas.

Os dois primeiros álbuns individuais de Tosh são reeditados com bônus

A gravadora Sony Music vai lançar no mercado brasileiro, em julho de 2011, as reedições remasterizadas dos dois primeiros álbuns da carreira solo de Peter Tosh (1944 - 1987), cantor e compositor jamaicano revelado no grupo The Wailers (1963 - 1974). Discos de tom politizado, Legalize It (gravado em 1975, mas lançado em 1976) e Equal Rights (1977) voltam às lojas com inéditas faixas-bônus, extraídas das sessões de gravação dos álbuns. Os repertórios destas reedições incluem músicas até então disponíveis apenas em edições limitadas de Dub Plates (discos de acetato feitos sob encomenda) - como são os casos de Babylon Queendom e Blame The Yout, músicas inseridas em Equal Rights. Os encartes reproduzem textos  inéditos, assinados pelo jornalista Roger Steffens (no caso do texto de Legalize It) por Herbie Miller, historiador e produtor jamaicano (o texto do CD Equal Rights).

Montenegro põe nas lojas 'Canções de Amor', CD em que dueta com Zélia

Lançado apenas em formato digital em junho de 2010, o atual álbum de Oswaldo Montenegro - Canções de Amor, base do show homônimo que rodou o Brasil nesse ano de 2010 - ganha um ano depois edição em CD, posto nas lojas neste mês de junho de 2011 com distribuição da Microservice. No disco, o menestrel rebobina títulos pouco conhecidos de seu cancioneiro, caso de Se Puder Sem Medo, e faz dueto com Zélia Duncan em Sempre Não É Todo Dia. Tal como Zélia, aliás, o trovador estreou profissionalmente na carreira musical em Brasília (DF), embora tanto o compositor do hit Léo e Bia quanto a cantora não tenham nascido na Capital Federal.

Machline negocia reedição de discos do selo Pointer, aberto nos anos 80

José Maurício Machline negocia a reedição do catálogo do selo Pointer, aberto pelo empresário na primeira metade dos anos 80. Pelo selo, um dos pioneiros do mercado indie brasileiro, saíram álbuns de Rosa Maria (Garra, 1983), Leny Andrade (dois álbuns intitulados Leny Andrade, editados em 1984 e em 1985) e Joyce (Saudade do Futuro, 1985). Um dos títulos mais raros do acervo da Pointer é Entre Amigos, coletânea de gravações então inédita que foi lançada em 1985. Este disco abria com primorosa gravação de Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant), cantada por Gal Costa com arranjo do pianista Michel Legrand. 

Kelly Rowland revela títulos das faixas de seu terceiro álbum, 'Here I Am'

Enquanto continuam as especulações sobre a possibilidade de reunião do trio Destiny's Child, alimentadas nos últimos dias pelo moderado desempenho comercial do quarto álbum de Beyoncé Knowles (4, lançado oficialmente esta semana), Kelly Rowland anuncia os nomes das músicas de seu terceiro álbum, Here I Am, que tem lançamento programado para 26 de julho de 2011. O sucessor de Ms. Kelly (2007) marca a estreia de Rowland na gravadora Universal Motown. Diferentemente de seus dois antecessores, mais voltados para o rock, Here I Am investe essencialmente na dance music. Não por acaso, o primeiro single - Commander, lançado no iTunes em maio de 2010 - ostenta o nome do DJ David Guetta na produção e composição da faixa. No momento, o álbum já está sendo promovido com um segundo single, Motivation, no qual figura o rapper Lil Wayne. Recorrente em nove entre dez álbuns de cantoras norte-americanas, o time de produtores de Here I Am traz as grifes de The Dream, C. Tricky Stewart, StarGate e Darkchild. Eis as 12 músicas do terceiro álbum de Kelly Rowland:

1. I'm Dat Chick
2. Work It Man - com Lil Play
3. Motivation - com Lil Wayne
4. Lay It on me - com Big Sean
5. Feelin' me Right Now
6. Turn It up
7. All of the Night - com Rico Love
8. Keep It Between us
9. Commander
10. Down for Whatever
Faixas-bônus da Deluxe Edition de Here I Am:
11. Heaven & Earth
12. Each Other
13. Motivation (Rebel Rock Remix) - com Lil Wayne
14. Commander (Urban Remix) - com Nelly

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Fróes pega pela palavra em CD em que letras se impõem sobre melodias

Resenha de CD
Título: Um Labirinto em Cada Pé
Artista: Romulo Fróes
Gravadora: YB Music
Cotação: * * * 1/2

"Só faço samba, só faço samba", avisa Romulo Fróes, com certa ironia, em verso de Muro, samba feito pelo compositor paulista com seu parceiro Clima. A ironia vem do fato de em seu disco anterior, o duplo No Chão, Sem o Chão (2011), Fróes ter precisado plugar as guitarras para criar ambiência roqueira que o dissociasse do rótulo de sambista normalmente posto no artista desde seus primeiros discos, Calado (2004) e Cão (2006). Com letra que cita Ladeira da Preguiça, samba de Gilberto Gil, Muro se impõe na coesa safra de inéditas apresentada por Fróes em seu quarto álbum, Um Labirinto em Cada Pé, já nas lojas em edição da YB Music. Fróes não é exatamente um sambista, mas é também um sambista - como prova a base percussiva (à moda do samba tradicional) que sustenta Rap em Latim, tema de Nuno Ramos, cantado por Fróes em dueto com Arnaldo Antunes. Outro sinal da presença do samba no disco é a voz veterana de Dona Inah, que abre o disco cantando a capella os versos de Olhos da Cara (Nuno Ramos) que expressam profunda solidão. Letras embebidas em poesia, aliás, se impõem sobre melodias neste denso Um Labirinto em Cada Pé. Tema sólido que dialoga com os trabalhos de Caetano Veloso com a BandaCê, Boneco de Piche (Romulo Fróes e Clima) alude no título (e apenas no título) a Boneca de Piche (Ary Barroso e Luiz Iglésias) - sucesso de Carmen Miranda (1909 - 1955) nos anos 30 - sem lançar mão do tom lúdico deste tema da primeira era de ouro da música brasileira. Se há algo lúdico no álbum são os jogos de palavras dos versos de Quero Quero (Romulo Fróes e Nuno Ramos) que aludem à cocaína e incluem palavrão pouco usual em letras de música (tomar no cu). Contudo, no todo, Um Labirinto em Cada Pé  quase nunca brinca em serviço, expondo letras contundentes que parecem não indicar saída. "A mão direita quer a esquerda, o pé que samba quer o tombo, dentro do grito tem silêncio", sentencia o artista, inquieto, na funkeada Ditado (Romulo Fróes e Nuno Ramos), faixa pontuada pela guitarra roqueira de Guilherme Held. Guitarra que se faz ouvir com mais força ainda em Jardineira, parceria de Held com a trinca de compositores que assina o repertório do disco (Fróes, Clima e Nuno Ramos). E o fato é que todas as letras do álbum são pura poesia que resistem até sem as melodias tortas dos compositores. O Filho de Deus (Nuno Ramos) - faixa que traz no coro a voz de Nina Becker, responsável também pelos backing vocals de temas como Máquina de Fumaça (Romulo Fróes e Clima) - narra história cinematográfica que remete aos enredos urbanos criados por Aldir Blanc para os sambas de João Bosco. Dentro ou fora de sua heterodoxa roda de samba, o CD Um Labirinto em Cada Pé pega o ouvinte pela palavra em época em que poucos têm o que dizer.

Guetta lança seu quinto álbum, 'Nothing But the Beat', em 29 de agosto

Medalhão da vertente mais pop da dance music, o DJ e produtor francês David Guetta vai lançar seu quinto álbum de estúdio, Nothing But the Beat, em 29 de agosto de 2011, via EMI Music. O sucessor de One Love (2009) - CD que ultrapassou os três milhões de cópias vendidas no embalo de seis megahits mundiais - conta com extenso time de convidados. Se o primeiro single (Where Them Girls At, lançado em maio) juntou os rappers Flo Rida e Nicky Minaj, o segundo - Little Bad Girl - reúne Taio Cruz e Ludacris. Nothing But the Beat tem também intervenções de Akon, will.i.am, Timbaland, Usher, Jennifer Hudson, Dev e da australiana Sia.

Milton grava parceria de Pedro Luís e Zé Renato no disco solo de Pedro

Em fase final de gravação de seu primeiro disco solo, Tempo de Menino, Pedro Luís faz dueto com Milton Nascimento no CD. O mentor do Clube da Esquina pôs voz na faixa Embora, música composta por Pedro Luís em parceria com Zé Renato há cerca de três anos. A faixa traz ainda a voz da cantora Roberta Sá em trecho incidental. Produzido por Jr. Tostoi e Rodrigo Campello (produtor dos álbuns de Roberta), Tempo de Menino vai ser finalizado com masterização nos estúdios Abbey Road, em Londres, Inglaterra. O lançamento do CD está previsto para outubro.

Cozza grava Gilson Peranzzetta em CD produzido por Paulão Sete Cordas

Fabiana Cozza finalizou seu terceiro álbum. Gravado com produção e direção musical de Paulão Sete Cordas, o sucessor de O Samba É meu Dom (2004) e Quando o Céu Clarear (2007) tem lançamento previsto para setembro de 2011. No disco, a sambista paulista - vista em foto de Dani Gurgel - canta a Serenata de São Lázaro, parceria de Gilson Peranzzetta com Paulo César Pinheiro. Peranzzetta toca piano na faixa. O CD foi feito de maneira totalmente independente.

Em tempo:  há o projeto de um disco em dupla a ser gravado por Fabiana Cozza em parceria com o rapper paulista Emicida, de cujos shows a cantora vem participando nos últimos meses.

Palavra Cantada lança cinco músicas inéditas em DVD que traz 10 clipes

Dupla paulista de música infantil formada por Paulo Tatit e Sandra Peres, Palavra Cantada lança neste mês de junho de 2011 o DVD Vem Dançar com a Gente. Como já anuncia na capa, o DVD exibe 10 clipes produzidos pela TV Pingüim. Das 10 músicas que ganharam registro audiovisual, cinco já são conhecidas pelos fãs da dupla. São os casos de Bolacha de Água e Sal, Ciranda, O Carnaval das Minhocas, Pé com Pé e Ora Bolas. As outras cinco - De Gotinha em Gotinha, Vem Dançar com a Gente, Linhas e Letrinhas, Tchibum da Cabeça ao Bumbum e Vambora Tá na Hora - são inéditas. O DVD custa R$ 31, mas 1,5 mil cópias foram distribuídas gratuitamente pela dupla a escolas, bibliotecas e ONGs que trabalham com educação infantil.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Arlindo se equilibra (bem) entre batuques, partidos e sambas românticos

Resenha de CD
Título: Batuques e Romances
Artista: Arlindo Cruz
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * *

É ao som de um pagode - com samba batido na palma da mão - que termina o quinto álbum solo de Arlindo Cruz, Batuques e Romances, posto nas lojas neste mês de junho de 2011 pela Sony Music, a nova gravadora do sambista. Com mais de oito minutos, a derradeira faixa do disco junta em medley os partidos Batuqueiro (Arlindo Cruz, Fred Camacho e Marcelinho Moreira) e Meu Cumpadre (Élcio do Pagode e Didi do Cavaco). Ao encerrar o disco produzido por Leandro Sapucahy, o medley mostra que Arlindo Cruz - felizmente - continua no seu quintal, no seu lugar de grande sambista do Brasil. O título do CD sugere interação entre a batucada dos tantãs da turma do Cacique de Ramos - semente do samba do artista  - e o romantismo do samba mais radiofônico. Contudo, Cruz não desce ao tom rasteiro dos pagodes românticos que imperam nas rádios. Seu maior caso de amor é o samba, como ele explicita no tema que abre o disco, Como um Caso de Amor (André Renato e Ronaldo Barcellos). Verdade seja dita, o samba nem é dos melhores do repertório majoritariamente inédito e autoral de Batuques e Romances. O romantismo explode com lirismo popular em dois grande sambas, Quando Falo de Amor (Arlindo Cruz, Fred Camacho e Almir Guineto) e Meu Poeta (Arlindo Cruz, Jr. Dom e Zeca Pagodinho), este gravado com a voz de Zeca, compadre de Zeca e fiel parceiro. Em clima praieiro, o samba Pelo Litoral (Arlindo Cruz, Acyr Marques e Rogê) contagia e espanta as tristezas do amor enquanto a primorosa regravação de Meu Nome É Favela (Rafael Delgado) - arranjada com maestria por Ivan Paulo - exalta o povo e o cotidiano das comunidades com romantismo. Sim, o romantismo deste disco de Arlindo extrapola o terreno afetivo. Pode pregar também o amor pela origem suburbana. A paixão pode ser ainda pela fé na força dos valores positivos, propagados em O Bem (Arlindo Cruz e Délcio Luiz), outro belo samba deste disco que revolve as tradições do terreiro para evocar o jongo, ritmo seminal impresso em Mãe (Carlos Sena, Maurição e Elmo Caetano). Batuques e Romances apresenta repertório pautado pelo otimismo. O canto e o samba são remédios até para os males de amor, como exposto em Cantando Eu Aprendi (Arlindo Cruz, Maurição e Fred Camacho), um dos temas que não chegam a empolgar. Sim, há alguns sambas que soam inferiores à obra do compositor, caso de Nem Tanto à Terra, Nem Tanto ao Mar, outra parceria do trio formado por Arlindo com Maurição e Fred Camacho. Dos sambas menores, o ponto mais baixo é Você É o Espinho e Não a Flor (Arlindo Neto e Renato Moraes). Contudo, o saldo é positivo. Segunda parceria de Arlindo com Teresa Cristina, Oferendas reverencia Yemanjá com beleza, seguindo a linha afro da nascente obra da dupla. Já Bancando o Durão (Arlindo Cruz, Jr. Dom e Maurição) - samba sincopado situado em um salão de gafieira - se diferencia pela inusitada participação de Ed Motta, à vontade no universo popular de Arlindo. Sargento (Bada, Pietro Ribeiro e Willians Defensor) é partido alto que esboça crítica social com o mesmo bom-humor que aparece também nos versos de Cleptomaria, parceria do sambista com o sempre afiado Nei Lopes. Enfim, com seus batuques e seu romantismo impregnado de poesia popular, Arlindo Cruz apresenta disco de inéditas coerente com sua já longa caminhada pelos quintais cariocas.

Kassin produz Nação Zumbi e se prepara para lançar primeiro álbum solo

Um dos produtores fonográficos mais requisitados pelos artistas brasileiros nos últimos anos, Kassin - visto em foto de Chiara Banfi - inicia a produção do nono álbum da banda Nação Zumbi enquanto aguarda o lançamento de seu primeiro disco solo, assinado com seu nome (em 2005, ele lançou Free U.S.A., mas deu o crédito do trabalho ao projeto Artificial). Intitulado Sonhando Devagar, o CD solo de Kassin vai ser lançado no Brasil pela Coqueiro Verde Records, em julho de 2011, simultaneamente com sua edição no exterior. Potássio é uma das músicas do álbum em que Kassin grava duas músicas de Domenico Lancellotti (seu parceiro no trio + 2 ) e duas de Alberto Continentino. Donatinho pilota os teclados de uma faixa. Kassin canta no CD.

Terceiro CD ao vivo de Zélia apresenta quatro faixas gravadas em estúdio

Nas lojas no início de julho de 2011, em edição da gravadora Biscoito Fino, o terceiro CD ao vivo de Zélia Duncan, Pelo Sabor do Gesto - Em Cena, apresenta quatro faixas gravadas em estúdio. Todas já estavam no roteiro do show que vai originar o quinto DVD da cantora, mas Borboleta (parceria de Zélia com Marcelo Jeneci e Arnaldo Antunes), O Tom do Amor (parceria de Zélia com Moska), Por Isso Corro Demais (sucesso de Roberto Carlos em 1967 que Adriana Calcanhotto já reviveu em 1998 em seu álbum Maritmo) e Defeito 10: Cedotardar (tema de Tom Zé e Moacyr Albuquerque que Zé lançou em 1998 e que Thaís Gulin regravou em seu primeiro CD, editado no fim de 2006). Clique aqui para ler a resenha de Notas Musicais da gravação ao vivo feita por Zélia Duncan em 20 de março no Theatro Municipal de Niterói (RJ).

Show em tributo a Taiguara vira primeiro DVD da gravadora Joia Moderna

Às vésperas de pôr nas lojas seu segundo lote de lançamentos, a gravadora Joia Moderna parte para a edição de DVD. O primeiro vai ser gravado ao vivo no show A Voz da Mulher na Obra de Taiguara, agendado para a próxima sexta-feira, 1º de julho de 2011, no Auditório Simon Bolívar, no Memorial da América Latina, em São Paulo (SP). O DVD é um desdobramento do CD A Voz da Mulher na Obra de Taiguara, editado em fevereiro pelo selo do DJ Zé Pedro.

Single do Wilco anuncia edição do álbum 'The Whole Love' em setembro

O grupo norte-americano Wilco está lançando neste mês de junho de 2011 um single - com a inédita I Might e, no lado B, um cover de I Love my Label, de Nick Lowe - que anuncia o lançamento, programado para setembro, do oitavo álbum de estúdio da banda, The Whole Love. Sucessor de Wilco (2009), The Whole Love vai ser  o primeiro álbum do grupo a ser editado pelo selo do Wilco, dBpm. O CD apresenta músicas como Born Alone e Dawned on me.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Disco 'Uma Flor para Nelson Cavaquinho' desabrocha em tom adequado

Resenha de CD
Título: Uma Flor para Nelson Cavaquinho - 100 Anos
Artista: Vários
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * * 1/2

É difícil acertar o tom (geralmente menor) dos sambas de Nelson Cavaquinho (1911 - 1986), embebidos em melancolia e normalmente ambientados em clima soturno, não raro até mórbido. Por isso mesmo, o tributo Uma Flor para Nelson Cavaquinho - idealizado e produzido por Thiago Marques Luiz para a Lua Music sob a direção musical de Rovilson Pascoal e André Bedurê (arranjadores da maioria das 20 faixas) - merece saudação especial. Com exceção da veterana cantora de samba Milena, que desafina o time de convidados com interpretação exteriorizada que dilui a dor impressa em Luto (Nelson Cavaquinho, Sebastião Nunes e Guilherme de Brito), todos os cantores acertam o tom neste tributo ao centenário do compositor carioca, que completaria 100 anos em 29 de outubro de 2011. Uns cantam Nelson com mais reverência. Outros impõem seu estilo com propriedade sem desfigurar a obra do artista. E o resultado final é um disco que se ouve com prazer do início ao fim. A abertura já é matadora. O violoncelo de Jonas Mancaio cria clima fúnebre que se adequa a Quando Eu me Chamar Saudade (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito) e prepara a entrada de Alcione. Em instante de grande vigor vocal (já nem sempre comum...), a Marrom valoriza o samba em que Nelson pede as flores em vida através dos versos de seu parceiro Guilherme de Brito (1922 - 2006). Na sequência, Leci Brandão acerta a dose exata de melancolia contida em Palhaço (Nelson Cavaquinho, Oswaldo Martins e Washington Fernandes) enquanto Emílio Santiago esbanja classe ao amaciar Minha Festa (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito). Dona da primeira faixa menos reverente, a pianista e cantora Tânia Maria faz abordagem jazzy que cai bem sobre  Folhas Secas (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), um dos clássicos do compositor, samba imortalizado na voz de sua principal intérprete, Beth Carvalho, a quem o disco é dedicado. Beth, a propósito, defende bem um samba até então inédito em sua voz, A Mangueira me Chama (Nelson Cavaquinho, José Ribeiro e Bernardo de Almeida Soares), que adquire sentido todo especial se lembrado o recente (e já superado)  impasse da cantora com a escola de samba carioca à qual tanto Beth como Nelson são associados. Em seguida, Luiz Melodia - outro que, a exemplo de Emílio Santiago, sempre esbanja classe vocal - mantém o disco em alto patamar artístico ao escalar os acordes de Degraus da Vida (Nelson Cavaquinho, César Brasil e Antônio Braga). A faixa de Melodia é ambientada em clima de choro pelo bandolim e pelo cavaquinho tocados, respectivamente, por Estevan Sincovtiz e por Rovilson Pascoal. Vem, então, a leitura mais inusitada e arriscada do disco: a de Luz Negra (Nelson Cavaquinho e Amâncio Cardoso) por Arnaldo Antunes. O titã acentua o tom dark do samba em interpretação estilosa. Pouco usual, a pulsação do violoncelo de Jonas Moncaio dá ao arranjo eletroacústico - assinado por Arnaldo com os violonistas Chico Salém e Rovilson Pascoal - tom  que soa moderno e repagina o tema. Os defensores puristas do samba tradicional podem não gostar, mas Arnaldo soube criar em cima da obra sem anular sua forte personalidade artística e sem desrespeitar o samba. Na sequência, Verônica Ferriani adensa o samba Se Você me Ouvisse (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito) em outro grande momento do disco. A faixa justifica, enfim, os elogios comumente feitos à cantora. Também surpreendente, Benito Di Paula encara Rugas (Nelson Cavaquinho, Augusto Garcez e Ari Monteiro) somente com sua voz e seu piano, mostrando que sabe ir além de seu sambão joia. Já A Flor e o Espinho (Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha) não desabrocha a contento com Ângela RoRo, mas tampouco murcha. Por ironia, Quero Alegria (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito) - um dos poucos sambas de Nelson que recusam a tristeza - cai na voz doce de Teresa Cristina, cantora que carrega em seu canto a melancolia recorrente na obra do compositor. Com sua voz calorosa, Fabiana Cozza valoriza Pranto de Poeta (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito) com o mesmo rigor estilístico com que Rita Ribeiro - em instante inspirado - interpreta A Vida (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito). Igualmente rigorosa, Cida Moreira transforma Ninho Desfeito (Nelson Cavaquinho e Wilson Canegal) em peça de câmara. Por afinidade temática, Ninho Desfeito foi armado no CD em medley com Beija-Flor (Nelson Cavaquinho, Noel Silva e Augusto Thomáz Junior), samba ouvido na voz de Zezé Motta. Em disco no todo harmonioso, até Diogo Nogueira acha o tom certo de Cuidado com a Outra (Nelson Cavaquinho e Augusto Thomáz Junior). Cantor de maiores recursos e ritmo, Marcos Sacramento põe molejo em Dona Carola (Nelson Cavaquinho, Nourival Bahia e Walto Feitosa).  Com igual segurança, Filipe Catto - estranho no ninho do samba - sobe o morro e os tons de sua voz aguda para realçar com estilo a melancolia noturna de Duas Horas da Manhã (Nelson Cavaquinho e Ari Monteiro). Fechando o tributo, Zeca Baleiro encara Juízo Final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares) em interpretação que garante a sua entrada no céu ao lado da (grande) maioria dos intérpretes deste oportuno tributo ao samba dark de Nelson Cavaquinho.

Björk lança 'Crystalline', primeiro 'single' de seu sétimo álbum, 'Biophilia'

Björk vai lançar na próxima quinta-feira, 30 de junho de 2011, o single Crystalline, que dá o pontapé inicial na promoção do sétimo álbum de estúdio da artista islandesa, Biophilia. Sucessor de Volta (2007), Biophilia tem lançamento agendado para 26 de setembro, em edição do selo One Little Indian que vai chegar às lojas via Atlantic Records. Parcialmente composto num iPad, o álbum apresenta temas como Virus, Tesla, Cosmogony e Double Helix.

Influência do funk, Sly Stone volta e lança seu primeiro álbum em 29 anos

Um dos artistas mais influentes do funk norte-americano dos anos 60 e 70, o cantor e músico Sly Stone está de volta ao disco. Aos 68 anos, o mentor e líder do grupo Sly and the Family Stone se prepara para lançar em 16 de agosto de 2011 seu primeiro álbum em 29 anos. Sucessor de Ain't But the One Way (1982), I'm Back! Family and Friends contabiliza 11 faixas, gravadas com convidados como o guitarrista Jeff Beck, o tecladista Ray Manzarek (um dos fundadores do grupo The Doors) e Ann Wilson (a cantora do grupo Heart). Entre revivals de clássicos de sua obra, como Family Affair, Sly apresenta três músicas inéditas. Entre elas, His Eye Is on the Sparrow. Eis, na ordem, as 11 faixas de I'm Back! Family and Friends:

1. Dance to the Music - com Ray Manzarek
2. Everyday People - com Ann Wilson
3. Family Affair
4. Stand! - com Carmine Appice & Ernie Watts
5. Thank You (Fallettinme Be Mice Elf Agin) - com Johnny Winter
6. (I Want to Take You) Higher - com Jeff Beck
7. Hot Fun to the Summertimne - com Bootsy Collins
8. Dance to the Music
9. Plain Jane
10. His Eye Is on the Sparrow
11. Get Away

É reeditado livro subversivo de 1968, de poemas inspirados em Bethânia

Em 1968, Maria Bethânia já começava a se livrar do estigma de cantora de música de protesto - rótulo lhe posto à revelia em 1965 por conta de sua explosiva interpretação de Carcará (João do Vale e José Cândido) no teatralizado show Opinião - quando foi lançado um livro inspirado na cantora e considerado subversivo pelo regime militar da época. De autoria do jornalista e poeta paulista Reynaldo Jardim (1926 - 2011), o livro Maria Bethânia Guerreira Guerrilha expôs poemas incendiários inspirados na célebre performance teatral de Bethânia no Opinião. Nunca reeditado, o livro vai ser relançado neste ano de 2011 em edição organizada por Marcio Debellian e Ramon Mello. Com cotação alta em sebos reais e virtuais, pelo fato de ser muito raro, Maria Bethânia Guerreira Guerrilha vai voltar às livrarias em edição em fac-smile que respeitará o formato original do livro. O autor faleceu em 1º de fevereiro de 2011.

Quarto álbum de Ziggy sai no Brasil enquanto outros três são reeditados

Lançado em 14 de junho de 2011 no exterior, o quarto álbum solo de estúdio de Ziggy Marley, Wild and Free, já ganha edição brasileira pela Sony Music. No embalo, a gravadora repõe em catálogo no mercado nacional outros três discos do filho de Bob Marley (1945 - 1981). Love Is my Religion (2006), Family Time (2009) e Dancehall Originators Vol. 1 (2010) são os três títulos reeditados. O último é projeto especial na discografia do cantor de reggae. Já os dois primeiros pavimentaram - assim como o omitido Dragonfly (2003) - a caminhada fonográfica individual de Ziggy após a dissolução do grupo The Melody Makers. Trajetória continuada em Wild and Free, álbum produzido por Don Was na Califórnia (EUA) com fidelidade ao reggae e músicas como Personal Revolution, Welcome to the World, Reggae Is my Head e Elizabeth. Promovido pelo single Forward to Love, o álbum bate na velha tecla da liberação da maconha em sua música-título, Wild and Free, na qual figura o ator norte-americano Woody Harrelson.

Mario Adnet dá tom jazzístico ao cancioneiro de Jobim pela segunda vez

Em 2007, o violonista Mario Adnet deu tom jazzístico ao cancioneiro soberano de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) no aclamado CD Jobim Jazz. Quatro anos depois, o segundo volume do projeto, + Jobim Jazz, chega às lojas pela gravadora Biscoito Fino, seguindo a mesma trilha. Sem desfigurar as melodias e harmonias originais de Tom, Adnet abre espaço para o improviso em temas como Takatanga (tema do álbum Tide, de 1970), Mojave (do álbum Wave, de 1967), Boto (do álbum Urubu, de 1975) e Antigua (outro tema do álbum Wave). A seleção de Adnet - diretor musical e arranjador do projeto - inclui dois temas pouco ouvidos. O Homem é peça da Brasília - Sinfonia de Alvorada (1960). Já O Barbinha Branca - parceria de Jobim com Luiz Bonfá (1922 - 2001) - foi lançado em 1955 no álbum Luiz Bonfá. Para tocar Jobim no idioma livre do jazz, Adnet se cercou de músicos como o saxofonista Zé Canuto, o baterista Jurim Moreira, o guitarrista Ricardo Silveira e o baixista Jorge Helder. Dez!

domingo, 26 de junho de 2011

Sandra reúne Alcione, Caetano, Elba e Gadú em Africanatividade ao Vivo

Chegaram às lojas neste mês de junho de 2011 o CD e o DVD com que Sandra de Sá festeja três décadas de carreira. Gravado em show gratuito e ao ar livre realizado em 11 de setembro de 2010 na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro (RJ), AfricaNatividade - 30 Anos ao Vivo perpetua o espetáculo inspirado no álbum AfricaNatividade - Cheiro de Brasil (2010). A cantora recebe convidados como Alcione (em Copacabana, parceria recente de Sandra com Zé Ricardo), Caetano Veloso (em Sozinha, a música de Peninha que foi lançada por Sandra em 1996 com sucesso e que emplacou novamente na voz de Caetano em 1998), Elba Ramalho (em Imaginação), João Donato (no medley que junta Crioulo e Emoriô) e Maria Gadú (em Demônio Colorido, o primeiro sucesso de Sandra, defendido no festival MPB-80), entre outros nomes.

Emicida seduz 'manos' cariocas com rap consciente, rimado sem rancor

Resenha de show
Projeto: Viva Voz
Título: Emicídio Tour 2011
Artista: Emicida (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro do Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 25 de junho de 2011
Cotação: * * * *

"Para quem nunca foi a um show de rap, o que acabou de acontecer aqui se chama freestyle", disse Emicida, didático, para a plateia carioca que via o segundo dos dois shows que o rapper paulista fez neste fim de semana no projeto Viva Voz, do Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ). Freestyle é o momento de improviso dos shows de rap e, instantes antes, ao criar na hora versos sobre os figurinos da plateia da apresentação de 25 de junho de 2011, Emicida provou que sua fama de grande improvisador é justa. Sem concessões, o rapper paulista fez um show que começou bem monocórdio, só que foi crescendo e acabou seduzindo os manos cariocas. Não fosse pelo visual classe média do público, que incluía até o rapper carioca Marcelo D2, algum espectador dessituado poderia pensar que o show acontecia na Zona Leste de São Paulo (SP), celeiro do hip hop na periferia da cidade em que Leandro Roque de Olivieira nasceu em agosto de 1985. Com agilidade, sob as batidas e scratches de seu fiel escudeiro, o DJ Nyack, Emicida cuspiu seus versos e suas rimas sobre os duros cotidianos das comunidades. Como se ouviu em Triunfo, o ótimo tema que encerrou o show (antes do bis arrepiante em que a convidada Fabiana Cozza citou trecho da Suíte dos Pescadores, de Dorival Caymmi, entre versos de Pra Não Ter Tempo Ruim), as letras verborrágicas de Emicida são impregnadas de consciência social, mas o rapper não adota uma postura rancorosa em cena, procurando, ao contrário, ser simpático para se conectar com a plateia. Ele tampouco bate excessivamente na tecla da injustiça social.  Como mostraram os versos amorosos de Ela Diz, acompanhados em coro pelos manos cariocas que lotaram o teatro do Oi Futuro Ipanema em 25 de junho de 2011, seu rap tem também uma face romântica que expõe a mulher com dignidade. Esse tratamento respeitoso aparece sobretudo em Vacilão, tema que toma partido do lado feminino ao retratar separação de casal. Vacilão integra o EP Sua Mina Ouve meu Rap Tamem..., lançado em fevereiro de 2010. O EP é sucessor de Pra Quem Mordeu um Cachorro por Comida, Até que Eu Cheguei Bem Longe..., o CD/mixtape editado em 2009 que deu projeção a Emicida fora das fronteiras dos guetos periféricos onde se ouve e se consome hip hop. A exemplo de A Cada VentoVai Ser Rimando, incluídas no roteiro da apresentação carioca, boa parte do repertório do show veio desta gravação seminal, embora Emicida já esteja promovendo um terceiro disco, Emicídio, lançado no segundo semestre de 2010. Seja como for, seu show mostrou que continua havendo vida e versos inteligentes no rap brasileiro que caminha às margens periféricas da indústria da música. Emicida é sangue bom!!

Cozza defende o samba e cita Caymmi em show carioca do 'rapper' Emicida

Quando Emicida anunciou que ia chamar ao palco um convidado especial de seu show, grande parte do público que lotava o teatro do Oi Futuro Ipanema pensou que se tratava de Marcelo D2 - presença ilustre na plateia que foi conferir em 25 de junho de 2011 a segunda das duas apresentações do rapper paulista no Rio de Janeiro (RJ). Mas não era D2 o convidado especial de Emicida e, sim, a cantora paulista Fabiana Cozza. Com seu vozeirão grave e imponente, Cozza - vista com Emicida e o DJ Nyack (ao fundo) na foto de Mauro Ferreira - respondeu pelo refrão de Outras Palavras, tema romântico lançado pelo rapper em seu primeiro CD (ou mixtape, como ele prefere chamar), Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, Até que Eu Cheguei Longe... (Laboratório Fantasma, 2009). Na sequência, a cantora assumiu os versos do rap-samba Quero Ver Quarta-Feira cantados por Mart'nália na gravação deste novo single de Emicida, lançado em março de 2011. O tema protesta contra a industrialização do Carnaval, criado e desenvolvido por trabalhadores das comunidades, mas estrelado por gringos e globais que se apropriam da folia e caem fora antes da quarta-feira. "Barracão / Eu ainda vejo o mesmo barracão / Mas o espírito, não / Faz pensar que não valeu / Faz pensar que quem morreu / Morreu em vão", dizem os versos repetidos várias vezes por Cozza. Convocada para o bis, a cantora paulista ainda protagonizou o momento mais arrepiante do show ao citar trecho da letra da Suíte dos Pescadores, de Dorival Caymmi (1914 - 2008), em meio aos versos de um dos temas mais irados de Emicida, Pra Não Ter Tempo Ruim, outro tema de Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, Até que Eu Cheguei Longe..., a gravação que deu projeção a Emicida fora do universo do hip hop. "Adeus, adeus / Pescador, não se esqueça de mim / Vou rezar pra ter bom tempo, meu nego / Pra não ter tempo ruim", cantou Cozza, inserindo os versos de Caymmi no mundo das comunidades ainda envolvidas na guerrilha urbana do cotidiano.  Com ou sem Emicida,  Fabiana Cozza é garantia de tempo bom.

Segundo CD de Camelo, 'Toque Dela' sai em julho em Espanha e Portugal

Lançado no mercado brasileiro em abril de 2011, o segundo álbum solo de Marcelo Camelo, Toque Dela, vai ser editado em Espanha e Portugal em julho, pela gravadora Universal Music.

Grupo que agrega Jagger e Joss, SuperHeavy lança álbum em setembro

O primeiro álbum do grupo SuperHeavy vai ser lançado em setembro de 2011. O primeiro single é Miracle Worker. Projeto anunciado em maio, o grupo SuperHeavy agrega Mick Jagger, Dave Stewart (do duo Eyrythmics), Joss Stone, Damian Marley e o produtor indiano A.R. Rahman (compositor das trilhas sonoras dos filmes Quem Quer Ser um Milionário? e 127 Horas). Pautado pela ideia de miscigenação de estilos e culturas musicais, o álbum foi gravado entre Estados Unidos, França, Chipre e Índia. O repertório mistura rock, soul, balada e reggae.

sábado, 25 de junho de 2011

Com elegância, Marina expõe angústias do CD 'Clímax' em show estiloso

Resenha de show
Título: Clímax
Artista: Marina Lima (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro do Sesc Vila Mariana (São Paulo, SP)
Data: 24 de junho de 2011
Cotação: * * * *
Em cartaz em 25 e 26 de junho de 2011 no teatro do Sesc Vila Mariana em São Paulo (SP)
Agenda da turnê Clímax em 2011:
14 de julho - Macaé (RJ)
15 de julho - Campos (RJ)
16 de julho - Itaperuna (RJ)
23 de julho - Nova Friburgo (RJ)
6 de agosto - Rio de Janeiro (RJ) 
12 de agosto - São Paulo (SP)
7 de outubro - Porto Alegre (RS)
25 de novembro - Natal (RN)
26 de novembro - Recife (PE)
3 de dezembro - São Paulo (SP)

Em sua estreia nacional, na apresentação que lotou o Sesc Vila Mariana de São Paulo (SP) em 24 de junho de 2011, os momentos iniciais do novo show de Marina Lima, Clímax, deixaram impressão ruim. Embora a artista tenha entrado elétrica no palco para cantar três hits em sequência, a voz - ainda fria - pareceu lhe faltar. Foi difícil se empolgar com Fullgás (Marina Lima e Antonio Cícero, 1984), À Francesa (Cláudio Zolli e Antonio Cícero, 1989) e Virgem (Marina Lima e Antonio Cícero, 1987). Parecia que Clímax era show trivial como Topo Todas (2007). Contudo, essa impressão negativa foi se diluindo a partir do quarto número, Não me Venha Mais com o Amor (Marina Lima e Adriana Calcanhotto, 2010), ode febril aos prazeres do sexo sem envolvimento romântico. A voz e o show começaram a esquentar. A partir daí, Clímax foi crescendo e seduzindo o ouvinte em ambiente de prazer. Com elegância, alguma teatralidade e alguns sucessos (estrategicamente posicionados no roteiro entre as músicas do recém-lançado álbum de inéditas que norteia e batiza o show),  Marina expõe em cena as angústias existenciais e afetivas que pautam músicas novas e antigas de repertório que, com maior ou menor inspiração, sempre esbanjou estilo. A cenografia arquitetada pelo diretor Isay Weinfel contribui para a criação de atmosfera charmosa, reiterada no palco pela sonoridade moderna e contemporânea urdida por Marina com os dois hábeis músicos que a acompanham em cena. O guitarrista Edu Martins e o baterista Alex Fonseca (responsável também pelas recorrentes programações eletrônicas) conseguem criar um som antenado - às vezes impregnado de uma crueza - que sintoniza a poética urbana típica da obra da artista. Instrumentista de múltiplas habilidades, Martins eventualmente deixa a guitarra e pilota outros instrumentos, como os teclados de #SPFeelings (Marina Lima, 2010), retrato da incessante efervescência de São Paulo, feito com ruídos e paradoxal clima bossa-novista evocado pelo violão bissexto tocado pela própria Marina, segura do que tem a mostrar. "Pode não parecer, mas é um samba", garante a compositora antes de cantar A Parte que me Cabe (Marina Lima, 2010), pseudosamba formatado como balada. Uma bela balada, aliás, exemplo do vigor da safra de inéditas autorais de Clímax. Tão bonita que nem dá para sentir no show a falta da voz de Vanessa da Mata, elemento controvertido do disco. Em contrapartida, a canção Pra Sempre - delícia pop radiofônica que Marina compôs com Samuel Rosa - se ressente no palco da ausência da voz e do violão do vocalista do Skank, mais íntimo do universo da canção do que Marina. Mas são detalhes de show feito no tempo da delicadeza em Call me (Tony Hatch, 1965) - sucesso do cantor Chris Montez - e arquitetado com grande apuro visual. Dos elementos usados pelo diretor Isay Weinfeld para compor a cenografia, apenas o coração gigante que aparece no palco durante O Chamado (Marina Lima e Giovanni Bizzotto, 1993) pareceu fora de compasso, destoando da elegância visual de Clímax. Já a imagem da chuva projetada em Me Chama (Lobão, 1984) dá charme e clima todo especial à balada cantada por Marina com propriedade. A teatralidade é ainda maior em Deixe Estar (Marina Lima e Antonio Cícero, 1998), número de belo efeito cênico em que, vestida com túnica que cobre seu figurino estiloso, Marina simula desorientação ao vagar pelo palco vazio e escurecido.  Em Pra Começar (Marina Lima e Antonio Cícero, 1986), o charme visual reside nos óculos escuros usados pela cantora durante o número, de forte textura eletrônica, embora a pegada do arranjo original da música - hit do primeiro disco ao vivo de Marina - seja reconhecível na releitura. Veneno (Nelson Motta sobre música de Alfredo Polacci, 1984) embriaga os sentidos pela sensualidade, com a cantora exalando fumaça em um canto do palco, em jogo cênico que, na estreia nacional de Clímax, teve outro belo lance com as marcações teatrais seguidas por Marina e a convidada Karina Buhr durante o dueto em Desencantados (Marina Lima, Karina Buhr, Edgard Scandurra e Alex Fonseca, 2010), outro ponto alto do show e da safra de inéditas. Na sequência, LEX (My Weird Fish) teve avião que voou pelo palco em alusão à rota Brasil-Portugal seguida por esse tema que cita música do Radiohead e o afro-samba Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966). E veio, então, a grande surpresa do roteiro: In My Life (John Lennon e Paul McCartney, 1965), em abordagem melodiosa e reverente. É a primeira vez que Marina canta Beatles. E o fato de In My Life estar situada no roteiro entre LEX e a antenada #SPFeelings sinaliza que, entre luzes e suas sombras, Marina conecta presente e passado sem sair de sua trilha e de seu clima para chegar ao seu Clímax.  

Cenografia do diretor Isay Weinfeld realça o estilo de Marina em 'Clímax'

Arquiteto paulista que atua como cenógrafo, Isay Weinfeld é o diretor de Clímax, show estreado por Marina Lima na noite de ontem, 24 de agosto de 2011, no teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP). A escolha de Weinfeld se revelou extremamente feliz, pois, além de dirigir o show, o artista criou engenhosa cenografia que realça o estilo e a modernidade da música de Marina. Além de outros elementos cênicos, o cenário - construído por Fernando Bretas com a colaboração de Marcelo Alvarenga e Felipe Hess - é formado essencialmente por quatro painéis dispostos e iluminados de formas variadas à medida que a cantora apresenta o roteiro de Clímax. O deslocamento dos painéis em cena permite a exibição de imagens criadas para os números, como a imagem de mar exibida durante a música Charme do Mundo (Marina Lima e Antonio Cícero) e vista na foto de Mauro Ferreira. A cenografia de Weinfeld valoriza extremamente Clímax, dando charme adicional ao show em que Marina expõe suas angústias.

Marina surpreende no show 'Clímax' ao cantar Beatles pela primeira vez

Canção creditada a John Lennon (1940 - 1980) e a Paul McCartney, mas a rigor composta efetivamente apenas por Lennon e lançada pelos Beatles no álbum Rubber Soul (1965), In my Life é a maior surpresa do roteiro do show Clímax, de Marina Lima. É a primeira vez que Marina inclui música dos Beatles em disco e show. In my Life integra repertório que inclui outra canção de 1965 - Call me (Tony Hatch), sucesso do cantor Chris Montez - e Veneno, a versão de Nelson Motta para Veleno,  tema do compositor italiano Alfredo Polacci. A cantora - vista em foto de Mauro Ferreira - gravou Veneno pela primeira vez em 1984, no álbum Fullgás. Eis o roteiro seguido por Marina Lima na estreia nacional do show Clímax, que lotou o teatro do Sesc Vila Mariana -  em São Paulo (SP) -  na noite de ontem, 24 de junho de 2011:

1. Fullgás (Marina Lima e Antonio Cícero)
2. À Francesa (Claudio Zolli e Antonio Cícero)
3. Virgem (Marina Lima e Antonio Cícero)
4. Não me Venha Mais com o Amor (Marina Lima e Adriana Calcanhotto)
5. A Parte que me Cabe (Marina Lima)
6. O Chamado (Marina Lima e Giovanni Bizzotto)
7. Call me (Tony Hatch) 
8. Me Chama (Lobão)
9. Difícil (Marina Lima e Antonio Cícero)
10. Deixe Estar (Marina Lima e Antonio Cícero)
11. Charme do Mundo (Marina Lima e Antonio Cícero)
12. Doce de Nós (Marina Lima)
13. Pra Começar (Marina Lima e Antonio Cícero)
14. Veneno (Veleno) (Alfredo Polacci em versão de Nelson Motta)
15. Desencantados (Marina Lima, Karina Buhr, Edgard Scandurra e Alex Fonseca)
16. LEX (My Weird Fish) (Marina Lima) - com citação de Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes)
17. In my Life (John Lennon e Paul McCartney)
18. #SPFeelings (Marina Lima)
Bis:
19. Pra Sempre (Samuel Rosa e Marina Lima)
20. Mesmo que Seja Eu (Roberto Carlos e Erasmo Carlos)

Antenada, Marina toca violão para captar 'feeling' de SP no show 'Clímax'

Artista identificada com a guitarra, instrumento que simboliza a atitude pop roqueira de sua música, Marina Lima se permite tocar violão no show Clímax, cuja estreia nacional aconteceu na noite de ontem, 24 de junho de 2011, em apresentação no Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP). Emoldurada por um cenário metálico que reproduz antenas, Marina - vista em foto de Mauro Ferreira - sentou e tocou violão em clima bossa-novista enquanto cantou #SPFeelings, faixa do recém-lançado álbum Clímax em que capta sentimentos e sensações de São Paulo, a cidade que abriga a cantora e compositora carioca desde 2010. #SPFeelings encerrou o show.

'Desencantados' com Buhr e Marina encanta na estreia do show 'Clímax'

Boa surpresa da estreia nacional do show Clímax, de Marina Lima, a participação de Karina Buhr na música Desencantados resultou em número encantador da apresentação que lotou o teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP), na noite de ontem, 24 de junho de 2011. O show reproduz com fidelidade o arranjo ouvido no recém-lançado CD Clímax. Parceria de Buhr com Marina Lima, Edgard Scandurra e Alex Fonseca (o baterista que divide o palco com Marina Lima e o guitarrista Edu Martins), Desencantados é uma das músicas mais bonitas do disco e se impõe no roteiro do show pelo belo jogo cênico armado pelo diretor e cenógrafo do show, Isay Weinfeld. No início do número, Marina e Buhr - vistas em foto de Mauro Ferreira - se posicionam em extremidades opostas do palco. À medida que a música avança, as cantoras se aproximam, se abraçam (de costas para a plateia) e terminam a canção novamente afastadas na posição inicial, em um movimento que simboliza a desilusão com o amor abordada na letra.

Música de 1998, 'Deixe Estar' volta à cena em número teatral de 'Clímax'

Música lançada por Marina Lima em 1998 no álbum Pierrot do Brasil, Deixe Estar - parceria da artista com Antonio Cícero - reaparece no show Clímax em número de efeito teatral que remete ao jogo cênico armado pelo diretor Enrique Diaz no show Sissi na Sua (1999). Em momento em que os músicos e os instrumentos são escondidos pelas cortinas que ocultam o cenário, Marina - envolvida em túnica que cobre seu figurino, como visto na foto de Mauro Ferreira - simula desorientação ao caminhar pelo palco quase nu e escurecido, em sintonia com as angústias expressadas pelos versos de Cícero. Deixe Estar é o número mais teatral do show dirigido por Isay Weinfeld. Tal número ainda precisa de maturação - até pelo fato de a subsequente apresentação da banda pela cantora quebrar o clima repentinamente - mas foi um dos destaques da estreia nacional do show Clímax na noite de ontem, 24 de junho de 2011, em apresentação que lotou o excelente teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP).

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Não... Manuela Rodrigues não é uma qualquer em 'Uma outra qualquer por aí'

Resenha de CD
Título: Uma Outra Qualquer por Aí
Artista: Manuela Rodrigues
Gravadora: Garimpo Música
Cotação: * * * * 1/2

 Oito anos após Rotas (2003), Manuela Rodrigues mostra com seu segundo excelente álbum, Uma outra qualquer por aí, que não é uma qualquer como diria Alcione, marrom como esta cantora baiana de som moderno que passa longe da batida já industrializada da axé music - ainda que o disco traga regravação estilosa de sucesso do Olodum. Basta dizer que a faixa que nomeia o álbum produzido pela própria Manuela Rodrigues com Tadeu Mascarenhas, Uma outra qualquer por Aí, é da lavra dos inspirados paulistas Romulo Fróes e Clima. Fróes ainda assina e canta com a artista Por um fio, canção cool alocada como faixa-bônus ao fim do disco. Sim, além de ser boa cantora de voz aguda e segura, Manuela Rodrigues se revela compositora igualmente talentosa. É dela o samba Barraqueira, lançado por Márcia Castro em seu CD Pecadinho (2007) e agora regravado com muita propriedade pela própria autora com efeitos e samples do DJ Mauro Telefunksoul, coprodutor da faixa. Ainda dentro do universo do samba, mas em formato mais tradicional, Vende-se um poema expõe o humor irônico dos versos do poeta baiano Álvaro Lemos, musicados por Manuela e cantados na companhia do autor. Há verve também em Profissional liberal, tema autoral em que Manuela perfila os que abriram mão de cumprir expediente. O arranjo - que simula com samples o peso de uma orquestra sinfônica em determinadas passagens - é exemplo da sonoridade moderna e personalíssima de Uma outra qualquer por aí. CD que abre com Genius (Manuela Rodrigues e Tadeu Mascarenhas), faixa-vinheta instrumental urdida com sons do brinquedo homônimo da Estrela. Tal como no show Reverse, apresentado pela cantora em 2007, Genius introduz Neurose, canção autoral de Manuela que se conecta com a modernidade contemporânea da obra de artistas como Adriana Calcanhotto e Tulipa Ruiz (o mesmo podendo ser dito de Doce de limão, de Leandro Morais). Menos cool, Moça de família é tema autoral cheio de atitude, com letra contundente escrita na espivitada linha moleca do samba Barraqueira. Sim, a artista tem atitude. Mesmo que o CD apresente uma ou outra faixa melodicamente menos sedutora, como Desencanto (parceria de Manuela Rodrigues com Leandro Morais), Uma outra qualquer por aí é álbum que contradiz seu título porque, entre tantas cantoras com pouco ou nada a dizer, Manuela Rodrigues apresenta um disco com estilo e com letras tão expressivas quanto seu som. "Sou ainda canção / Esse é meu fazer / Exclusivo exercer do meu grato querer", poetiza a artista em versos do samba torto Teve reflexo. E a regravação camerística de Berimbau (Pierre Onasis, Marquinhos e Germano Meneghel) - sucesso do grupo afro-baiano Olodum, repaginado em registro de tons épicos que ultrapassa os oito minutos e  evidencia a letra impregnada de consciência social e orgulho da negritude - é estratégica para mostrar que Manuela Rodrigues não nega a raça e a origem, mas se permite construir sua identidade musical fora do caldeirão fervente do pop afro-baiano. Axé para esta artista que não é uma qualquer no populoso país das cantoras e que - por isso mesmo - merece ser muito ouvida além das fronteiras de sua Bahia natal, porque sua bela música ignora tais fronteiras.

Álbum feito por James Taylor na Apple em 1968 é reeditado com bônus

Simultaneamente com a edição no mercado nacional da coletânea da Apple Records Come and Get It, a EMI Music lança no Brasil neste mês de junho de 2011 a edição remasterizada do álbum James Taylor, o único feito pelo cantor e compositor norte-americano James Taylor na gravadora dos Beatles. Produzido por Paul McCartney e lançado originalmente em dezembro de 1968, ano em que os Fab Four abriram a Apple, o álbum James Taylor volta ao catálogo em embalagem digipack, com quatro faixas-bônus. As novidades são as versões demo de Sunny Skies e de Let me Ride - músicas não incluídas no repertório do álbum original - e as versões em mono das faixas Sunshine Sunshine e Carolina on my Mind (o tema que projetou o disco).

Volume 2 de 'MPB-Z' compila mais 17 sucessos produzidos por Mazzola

Em 2007, ao completar 30 anos de atuação nos bastidores e estúdios da indústria fonográfica brasileira, o produtor Marco Mazzola lançou a coletânea MPB-Z 30 Anos - 30 Sucessos by Marco Mazzola. Decorridos quatro anos, o produtor põe no mercado neste mês de junho de 2011, por sua gravadora MZA Music, o segundo volume da compilação. MPB-Z 2 by Marco Mazzola reúne 17 gravações pilotadas pelo produtor. A seleção inclui fonogramas de Ivete Sangalo (Sá Marina, faixa do primeiro álbum solo da cantora, editado em 1999), RPM (Olhar 43), Chico César (À Primeira Vista), João Bosco (As Mil e Uma Aldeias), Chico Buarque (O Meu Guri), Milton Nascimento (Canção da América), MPB-4 (O Pato) e Raul Seixas (Gospel). Vale destacar ainda a já rara gravação de Só Chamei Porque te Amo, versão de I Just Called to Say I Love You (Stevie Wonder) entoada pela cantora baiana Carla Visi em dueto com Gilberto Gil. A faixa promoveu o injustiçado álbum Carla Visita Gilberto Gil - Só Chamei Porque te Amo, editado pela MZA Music em 2001 - sem a repercussão a que fazia jus este bonito tributo a Gil.