Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ainda rude, Plebe chega ao DVD com as músicas e a atitude dos anos 80

Resenha de CD e DVD
Título: Rachando Concreto ao Vivo em Brasília
Artista: Plebe Rude
Gravadora: Coqueiro Verde Records
Cotação: * * *

Há 25 anos, a Plebe Rude debutou em disco com EP - ou miniLP, para usar o termo criado pela gravadora EMI Music na época - gravado em 1985 com sete músicas. Corrosivo, O Concreto já Rachou (1986) expôs com alguma mordacidade parte da podridão que o reino de Brasília (DF) exportava para um Brasil corroído por inflação, corrupção e injusta distribuição de renda. Decorridos 25 anos da chegada às lojas desse histórico EP de ideologia punk, a Plebe Rude põe no mercado seu primeiro DVD, cujo título Rachando Concreto ao Vivo em Brasília alude explicitamente ao seu incendiário disco de estreia. E essa alusão significa tanto a preservação da atitude da banda - intacta - como a constação de que, de lá para cá, a Plebe Rude nunca mais produziu um disco tão significativo quanto O Concreto Já Rachou. Tanto que todas as sete músicas do EP - Brasília, Proteção, Minha Renda, Seu Jogo, Johnny Vai à Guerra (Outra Vez), Sexo e Karatê e o hit Até Quando Esperar? (de refrão memorável, repetido pelo público) - foram alocadas no roteiro que contabiliza 21 números. Excessos de pretensão e exaltação de egos ajudaram a implodir a carreira fonográfica da banda após o lançamento dos álbuns Nunca Fomos Tão Brasileiros (1987) e Plebe Rude (1998). Já rachada, a banda  chega ao DVD e aos 30 anos - a Plebe se reuniu lá pelos idos de 1981 - com metade de sua formação original. Permaneceram seus mentores Philippe Seabra (voz e guitarra) e André X (baixo). Debandaram o baterista Gutje (substituído por Txotxa, egresso do Maskavo Roots) e Jander Bilaphra, que fazia com com Philippe um jogo de vozes e guitarras que ora é armado (sem o mesmo impacto) com Clemente (líder do lendário grupo punk Inocentes) neste show captado por câmeras de alta definição em 12 de setembro de 2009 na Ermida Dom Bosco, às margens do Lago Paranoá. Editado em CD e em DVD, Rachando Concreto ao Vivo em Brasília expõe a Plebe ainda rude, mas já sem aquela ira punk que se ajusta melhor a jovens de 20 e poucos anos. E o fato é que a banda hoje cativa mais pela atitude (sempre íntegra) do que por músicas que já ostentam menor poder de fogo. Impressão reiterada pela inédita Tudo que Poderia Ser (Philippe Seabra) incluída no roteiro que somente se afasta da trilha autoral quando a Plebe reverencia as bandas Escola de Escândalos (Luzes, sobre iniciação sexual) e Cólera (Medo). Filmado sob a direção de Rodrigo Ginaetto, o show começa ainda no entardecer e avança pela noite de Brasília (DF). Cantar músicas como Censura e A Ida no Distrito Federal ainda tem todo um significado especial para os plebeus e, por isso, Brasília vira tópico à parte nas entrevistas dos extras, que exibem também os clipes de Vote em Branco (controvertida música do último álbum de estúdio da Plebe Rude, R ao Contrário, editado em 2006), The Wake (versão em inglês de A Ida), O Que se Faz e R ao Contrário. Enfim, a Plebe Rude sempre teve a fama de soar mais contundente no palco do que no estúdio. Portanto, um registro audiovisual da banda - mesmo tardio - é bem-vindo por perpetuar show de um grupo que se conserva fiel à sonoridade e à ideologia semeada há 30 anos no árido Planalto Central.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Há 25 anos, a Plebe Rude debutou em disco com EP - ou miniLP, para usar o termo criado pela gravadora EMI Music na época - gravado em 1985 com sete músicas. Corrosivo, O Concreto já Rachou (1986) expôs com alguma mordacidade parte da podridão que o reino de Brasília (DF) exportava para um Brasil corroído por inflação, corrupção e injusta distribuição de renda. Decorridos 25 anos da chegada às lojas desse histórico EP de ideologia punk, a Plebe Rude põe no mercado seu primeiro DVD, cujo título Rachando Concreto ao Vivo em Brasília alude explicitamente ao seu incendiário disco de estreia. E essa alusão significa tanto a preservação da atitude da banda - intacta - como a constação de que, de lá para cá, a Plebe Rude nunca mais produziu um disco tão significativo quanto O Concreto Já Rachou. Tanto que todas as sete músicas do EP - Brasília, Proteção, Minha Renda, Seu Jogo, Johnny Vai à Guerra (Outra Vez), Sexo e Karatê e o hit Até Quando Esperar? (de refrão memorável, repetido pelo público) - foram alocadas no roteiro que contabiliza 21 números. Excessos de pretensão e exaltação de egos ajudaram a implodir a carreira fonográfica da banda após o lançamento dos álbuns Nunca Fomos Tão Brasileiros (1987) e Plebe Rude (1998). Já rachada, a banda chega ao DVD e aos 30 anos - a Plebe se reuniu lá pelos idos de 1981 - com metade de sua formação original. Permaneceram seus mentores Philippe Seabra (voz e guitarra) e André X (baixo). Debandaram o baterista Gutge (substituído por Txota, egresso do Maskavo Roots) e Jander Bilaphra, que fazia com com Philippe um jogo de vozes e guitarras que ora é armado (sem o mesmo impacto) com Clemente (líder do lendário grupo punk Inocentes) neste show captado por câmeras de alta definição em 12 de setembro de 2009 na Ermida Dom Bosco, às margens do Lago Paranapoá. Editado em CD e DVD, Rachando Concreto ao Vivo em Brasília expõe a Plebe ainda rude, mas já sem aquela ira punk que se ajusta melhor a jovens de 20 e poucos anos. E o fato é que a banda hoje cativa mais pela atitude (sempre íntegra) do que por músicas que já ostentam menor poder de fogo. Impressão reiterada pela inédita Tudo que Poderia Ser (Philippe Seabra) incluída no roteiro que somente se afasta da trilha autoral quando a Plebe reverencia as bandas Escola de Escândalos (Luzes, sobre iniciação sexual) e Cólera (Medo). Filmado sob a direção de Rodrigo Ginaetto, o show começa ainda no entardecer e avança pela noite de Brasília (DF). Cantar músicas como Censura e A Ida no Distrito Federal ainda tem todo um significado especial para os plebeus e, por isso, Brasília vira tópico à parte nas entrevistas dos extras, que exibem também os clipes de Vote em Branco (controvertida música do último álbum de estúdio da Plebe Rude, R ao Contrário, editado em 2006), The Wake (versão em inglês de A Ida), O Que se Faz e R ao Contrário. Enfim, a Plebe Rude sempre teve a fama de soar mais contundente no palco do que no estúdio. Portanto, um registro audiovisual da banda - mesmo tardio - é bem-vindo por perpetuar show de um grupo que se conserva fiel à sonoridade e à ideologia semeada há 30 anos no árido Planalto Central.

Anônimo disse...

O Concreto já Rachou - o EP - é dos lançamentos mais clássicos dos anos 80.

Felipe dos Santos disse...

Tenho muito carinho pela Plebe.

Não sou o fã mais ardoroso (jamais fui a um show), mas tenho toda a obra. E invejo a honestidade da banda, a fidelidade canina a seus princípios.

Philippe Seabra ainda não recebeu o valor que merece, em minha opinião. Uma das personalidades mais lutadoras e notáveis que o rock daqui tem.

Lamento demais que a formação áurea tenha se perdido por tantos problemas (egotrips - principalmente de Philippe -, pretensão, falta de foco, decisões erradas, crise com a EMI...).

Jander, até hoje, ainda se magoa com o fato de ter sido posto para fora da banda, por telefone. Mas, pelo menos, ainda continua em paz com os remanescentes, hoje, como diretor de palco e roadie de Nando Reis.

Sobre o disco, concordo. A banda até tenta mostrar que está viva e ativa (e até consegue), só que sempre acaba recaindo nos sucessos d'"O Concreto..." (e do "Nunca fomos..." também).

Só corrigindo, Mauro; o nome do baterista original da Plebe é grafado "Gutje", o baterista atual é "Txotxa" (não Txota), e o lago onde o disco foi gravado é "Paranoá".

Felipe dos Santos Souza

Miyage disse...

"O Concreto Já Rachou" é uma joia rara, pungente, certeira.
O segundo disco, "Nunca Fomos Tão Brasileiros", tem suas preciosidades também, como "Censura", devidamente recuperada neste show.
Mas pouca gente dá valor ao terceiro LP, "Plebe Rude", muitas vezes indevidamente resumido pelas resenhas a uma pré-história dos encontros entre o rock de Brasília e os ritmos nordestinos, mistura tão bem trabalhada pelos Raimundos. Esse disco traz músicas diretas e eficazes como "Plebiscito" e sons diversificados, como o pós-punk típico de "Um Outro Lugar", a tonalidade sombria (quase gótica) de "Longe" e as belas melodias de "O Traço Que Separa" e "Modifique O Verbo". "A Serra" já vale esta obra tão subestimada.
Longa vida à Plebe!

Mauro Ferreira disse...

Felipe, gratíssimo por me alertar dos erros de grafias dos nomes, todos já corrigidos. Abs, MauroF